CAPÍTULO 88 Valéria Muniz Acordei com o barulho da porta, e a voz suave de Abel me chamando. — Val! — em seguida apalpei o criado, procurando por meus óculos. — O que foi, pequeno? — perguntei. — Eu estou com medo, Val! — sentei na cama, ele veio até a mim. — Porque está com medo? Não conseguiu dormir? — perguntei enquanto ele vinha no meu colo, segurando no meu pescoço. — Ah, como senti falta desse abraço! — Adam disse que Aaron está nessa cidade. Ele sabe atirar, eu não! Estou com medo, Val! — falou escondendo o rosto em mim, me apertando forte. — Então foi ele quem ensinou o Adam a segurar uma arma? — Theodoro perguntou com a voz agitada, de repente ouvi passos, e a voz do Adam vindo da porta. — É que Abel não presta pra isso, é fraco como a Val, não gosta de armas. Eu e Raquel já sabemos lidar com as armas, mas ele só chora e não segura, por isso apanha do Aaron! — meu coração apertou, pois sabia que era verdade. — Eu não acredito no que estou ouvindo! Aaron é
CAPÍTULO 89 Theodoro Almeida Vendo o que eu vi essa noite, penso que tive sorte... o dono do orfanato em que cresci, era um homem bom, enquanto Aaron estava prestes a destruir esses dois meninos, e Raquel indo no seu impulso. Ainda bem que Valéria não viu as marcas que eu vi nas crianças, e espero que desapareçam com o passar do tempo, para que não tenham tantos traumas, e quando Valéria voltar a ver, não sofra tanto, por que doeu em mim. Tratei de tirá-los logo do quarto, para distraí-los, Edineia havia feito comida, e fiquei muito feliz em servir os meninos, como eu quis desde pequeno, que meus pais biológicos me buscassem, ou alguma família boa me adotasse, porém todos os anos da minha vida passei esperando, Rogério me educou, me ajudou a ser o homem que sou, mas o calor de uma família, nunca tive. Talvez seja isso que tenha me feito me apegar à Anelise e sua família, cheguei até a confundir sentimentos, mas hoje não confundo mais. — Essa comida é muito gostosa! — A
CAPÍTULO 90 Theodoro Almeida O tenente Soares deu um passo à frente: — Aqui o único sem educação é você, seu moleque! — falou direcionando para o Adam, eu iria afastar as crianças e me impor, porém ouvimos uma voz mais grossa: — Ora, ora... o menino tem fibra, gostei dele! — era o coronel, e ambos batemos continência, o outro tenente perdeu todo o equilíbrio quando o coronel se direcionou pra ele — Não tente estragar a criança, tenente Soares! — De forma alguma, senhor! — ele respondeu, como se não tivesse acontecido nada. — Esse é o meu cunhado, Adam... e também tem o menor, o Abel! — os apresentei, o coronel ficou olhando. — Olá crianças, estão gostando do quartel? Boa tarde senhora Almeida! — ele cumprimentou, e Adam fez cara feia ainda olhando o tenente Soares, e o cutuquei. — Boa tarde, senhor... — Valéria o cumprimentou, provavelmente não percebeu que fosse o coronel. Adam então olhou para o coronel e manteve o semblante sério. — Aqui é bem legal, todos com
CAPÍTULO 91 Valéria Muniz Ao ouvir falarem em "cachorro”, eu estremeci, fiquei tonta, senti como se até o sangue, sumisse do meu corpo. Já tinha ficado em choque no quartel, quando ouvi que os meninos estavam com um, mas ao imaginar que Theodoro havia trazido um para dentro de casa, me tirou os sentidos. — VAL! VAL, FICA COMIGO! — ouvi Theodoro me chamando, o meu corpo amoleceu, senti os braços fortes dele, me segurarem, e ele me carregou. — Val, o bebê é bonzinho, não é como o Caleb! — voltei a respirar e senti trancar novamente ao ouvir aquele nome. — CALE A BOCA, ABEL! NÃO SABE QUE A VAL NÃO PODE OUVIR O NOME DAQUELE CACHORRO DO AARON? — Adam gritou, mas eu estava em choque, agarrei a roupa do Théo com as minhas últimas energias, tremendo, tentando me esconder dele, nele... — Minha menina, pelo amor de Deus, me diz o que está acontecendo. O que está sentindo? Vou te levar para o hospital! — Theodoro me falava repetidamente. — e balancei a cabeça com dificuldades.
CAPÍTULO 92 Valéria Muniz Eu recebi o abraço do Abel, que praticamente deitou sobre mim, e pela primeira vez, senti um toque de carinho espontâneo de Adam pra mim, quando ele tocou na minha mão. — Fica calma, Val! O cachorrinho é tão fofo... eu sei que não pode ver, mas posso ser seus olhos, e dizer que é pequenininho, peludinho, branco com algumas cores discretas. Ele já abre os olhos, e é uma fofurinha ao andar. — Ah, é? — Sim, ele ainda nem latiu! — Abel completou. — Théo? — o chamei. — Ele foi na cozinha, Val. — Adam falou. — Já voltei. Sente-se dona Valéria, talvez tenha desmaiado porque não comeu direito. Eu trouxe uma bandeja, com as coisas que Edineia deixou pronta. — senti Abel saindo de cima de mim, me sentei melhor. — Obrigada. Mas, será que não vou derrubar na cama? — Não, o serviço veio completo. Me ajudem meninos, do que ela mais gosta? Vou alimentá-la! — De queijo! — Adam disse. — Ah, então vou começar com isso! — a voz do Théo era animada.
CAPÍTULO 93 Valéria Muniz — O cachorro na verdade, o animal, ele adquire a personalidade do dono. Se o dono for uma pessoa de boa índole, certamente o animal também será, caso contrário o dono seja uma pessoa ruim, o cachorro será agressivo, fará o que o dono faz. Tudo depende do adestramento que foi dado para o cachorro. — Emília me explicou, comecei a entender melhor. — Realmente, parecia que o Caleb era igualzinho o jeito do Aaron. — Val, esperimente tentar se aproximar do filhote. Comece a tocar, brincar com ele, dar amor ao cachorro. Não deixe que ninguém grite com ele, que bata ou que o deixe irritado, e você verá como ele vai ficar parecido com você e até as crianças... todos que estão na casa, na verdade, terão um cachorro dócil. Bom, eu sei que você tem medo, porém para vencer precisará tentar, pode ser aos poucos, mas se permita dar uma oportunidade. — E, se eu não conseguir? — Tenta novamente. Um passo de cada vez, e lembre-se: Aquele filhote na sua casa, não
CAPÍTULO 94 Valéria Muniz (Dias depois) Os dias foram passando, e com isso fomos nos adaptando à nossa nova vida de casal com as crianças. Observo com surpresa como Theodoro sabe lidar com Adam; a cada dia, noto que ele se assemelha mais a nós do que a Aaron. De vez em quando, consigo perceber através do barulho que Adam exagera nas brincadeiras. Quando ouço um pequeno rosnado do Snoopy, imediatamente o repreendo, e ele obedece, mostrando uma obediência que me alegra. Hoje marca o início da jornada escolar das crianças. Adam ingressou no colégio militar, considerado o melhor pela opinião de Théo, enquanto Abel continua no fundamental, frequentando uma ótima escola. Hoje também, é o dia da consulta ao oftalmologista, e Theodoro saiu mais cedo do quartel para me acompanhar, prometendo uma surpresa que desperta minha curiosidade. Estou ansiosa para descobrir do que se trata. . Na consulta, apresentei todos os exames para o médico, inclusive os que Ezequiel me entregou. El
CAPÍTULO 95 Theodoro Almeida Eu não sei o que aquele judeu pensa, pra achar que pode ficar na cola da Valéria, porque já estou ficando irritado. Pensei que ficaria na dele, mas pelo visto, estou muito enganado, ele viu algo nela do que eu vejo, mas graças a Deus, eu cheguei antes, e não vou deixá-lo se aproximar. Nunca tive algo só meu na vida, e se ganhei ela de presente, não vou arriscar perder, cuidarei da minha menina pra sempre. . Não consegui evitar ficar inquieto, e mesmo sem ver, Valéria percebeu: — Acho que não vou mais ganhar a surpresa, né? Você parece chateado! — suas palavras me trouxeram de volta, olhei pra ela dentro do carro, coloquei a mão na cabeça, já estava esquecendo que a levaria em outro lugar. — Não estou chateado, é impressão sua. Só estou um pouco incomodado com esse cara, ele se acha o todo-poderoso, porque tem dinheiro, mas o que eu tenho, com certeza ele não tem! Sou um homem correto, mostro a minha cara para o mundo, não tentei esconder de ni