CAPÍTULO TRÊS

— Valentim?!! - quando seu pai diz seu nome, Domenica vira seu rosto para Valentim e a rapidez de seu movimento faz seu cabelo que estava no coque se soltar revelando o comprimento dele. Que não é nada pequeno.

— Valentim, essa é Domenica! Ela é a mais nova contratada que irá substituir minha secretária, ela irá ajudá-lo a partir de hoje.

“Ela é uma funcionária nova?”

"Ela vai trabalhar comigo?"

— Pai, nunca imaginei que você contrataria alguém tão diferente assim. - ele diz apontando para o cabelo de Domenica.

— O que aconteceu para mudar sua concepção disso?

— Eu sei. No começo estranhei esse cabelo todo branco e enquanto estávamos caminhando pela empresa, não resisti em perguntar se era natural.

— E então? - Valentim olha para Domenica.

— Olá senhor! Prazer. Eu nasci assim mesmo. Não me pergunte o porquê ou come, que eu também não sei dizer.

— Voltando ao assunto. Não a contratei referente a sua imagem, mesmo porque seu currículo não tinha foto. O que pedi foi que a pessoa nunca tivesse trabalhado antes. E Domenica tem o que estou procurando para te ajudar aqui na empresa. Será ótimo para você também que estará iniciando seu processo como presidente. Espero que vocês se deem bem. Não vou mentir, o cabelo dela me chamou a atenção. Ela é bem diferente das auxiliares que temos aqui, mas depois de um tempo você acostuma.

O alívio que Domenica sente após o discurso do presidente tira um peso de seus ombros.

“Não serei demitida devido à minha aparência.”

Valentim não presta atenção em nada que seu pai fala, e ele foi se aproximando cada vez mais de Domenica, seu cheiro foi ficando mais intenso, o que soava estranho dentro dele.

“Ela não é um lobo. Eu saberia se ela fosse."

— Espero que possamos nos dar bem! - Valentim diz.

“E como eu espero!”

Valentim estende a mão para cumprimentá-la.

— Espero poder ajudá-lo no que precisar, senhor.

O toque de uma mão na outra libera choques em ambas, o que os fazem se entreolharem.

"O que foi isso?" - esse pensamento reflete em ambos. Eles se questionam em segredo.

“Minha conexão é com uma humana?”

Se isso realmente acontecesse, seria um problema para Valentim. Ele como puro-sangue (filho legítimo dos lobos) não poderia ficar com uma humana. Seus pensamentos confusos são interrompidos por Kalua.

— Valentim!? Eu já estava esquecendo. Nádia virá na empresa para vocês se conhecerem pessoalmente, espero muito que se deem bem. Para o melhor de todos. Se é que você me entende.

— Pai! Acho que hoje não seria um bom dia para encontrar alguém.

— Você não precisa achar nada, Valentim! Você conhece suas obrigações!

O que Kalua quer dizer... é sobre o casamento arranjado que está preparando de Valentim com Nádia Holden.

Existem apenas duas matilhas respeitadas em todo o mundo. Do senhor Kalua que está em Wilord e a do senhor Holdem que fica em Countryturgid, um país ao norte.

O conselho dos lobos percebera que muitos deles estavam se casando com humanos e, assim, acabavam deixando o bando. Longe das matilhas, pode acontecer que os filhos desses relacionamentos lobo/humano acabem não se transformando ou quando o fazem por não crescerem sob as regras de uma matilha, acabam se tornando rebeldes e usando seus talentos para prejudicar os outros, colocando em risco a identidade dos lobos.

Sem saber que ordens obedecer, acabam perdidos.

E a decisão mutua é unir as duas maiores matilhas e assim os lobos rebeldes, aqueles que se dizem sem causa, saberão a quem seguir.

Mas uma novidade ainda estava para entrar no caminho deles, na última reunião do conselho ficaram sabendo que uma nova matilha composta por cães vadios (eles se referem assim a lobos meio sangue. Apenas o pai ou mãe é lobo).

Muitos lobos pensam, como Kalua, que um vira-lata não pode se juntar a uma matilha de raça pura, o que leva esses "cães vadios" a serem discriminados.

A criação da nova matilha é uma ameaça para todos pois pode deixa-los expostos.

Nunca passou pela cabeça de Valentim que ele teria que se casar com alguém escolhido por seu pai. No entanto, ele acredita que Nádia possa ser a sua destinada companheira.

— Alguns estranhos do grupo novo, está causando grandes problemas!

"O que meu pai está falando?”

Vendo que Valentim não entende o que disse.

— Domenica?! Deixe-nos sozinhos por um momento, por favor! -Kalua pede.

— Claro senhor! - Domenica sai deixando-os sozinhos.

"Nossa!!! O que aconteceu quando toquei a mão dele?"

"Como vou me concentrar tendo um chefe como ele?" -Domenica se vê perdida em pensamentos.

Após a saída de Domenica:

— O que você quis dizer com aquilo, pai?

— Aqueles vadios do novo bando estão fazendo uma tremenda bagunça por onde passam. Atacam humanos por prazer e não têm interesse em manter nosso segredo guardado. Precisamos nos livrar deles logo. E a melhor maneira que Holden e eu podemos encontrar para acabar com isso, como você já sabe, é você e Nádia se tornarem Alfa e Luna.

Do lado de fora da sala, Domenica sentada em sua mesa está pensativa. Quando seus olhos se encontraram com os de Valentim, ela se sentiu estranha, com uma sensação de pertencimento. Ela sabia que ali seria o seu lugar, o lugar onde ela poderia crescer. Ela sentia.

Ali na mesa esperando e organizando suas coisas, uma mulher ruiva com cabelos curtos enrolada em um vestido a vácuo preto sai do elevador, passa por ela e a grávida, e simplesmente entra sem bater a porta.

"Que mulher mal-educada."

— Não se preocupe, Domenica, o senhor Kalua disse que uma mulher iria vir falar com ele.

"Esta deve ser a mulher que ele comentou na sala."

A conversa dos três no escritório demora mais do que o esperado. Domenica começa a assumir seu posto e ajudar a outra secretária. Não vendo como o tempo passou rápido. Era a hora de ir. A escuridão já havia descido sobre a terra.

A lua cheia pairava sobre sua cabeça, iluminando seu caminho para o orfanato onde ela cresceu e ainda vive. Ela não queria deixar o orfanato e simplesmente ir embora, por mais que já tivera alcançado a maioridade. Domenica criou amor pelas irmãs que a criaram e por cada criança e adolescente que chegava ao orfanato. Lá ela criou suas raízes. Com crianças que, como ela, acabaram ficando para trás na vida de alguém.

O caminho que Domenica fizera até o orfanato sempre fora tranquilo, com pressa para relatar o seu dia para Dulce ela corta caminho passando por um dos parques que circundam o convento. Cheio de árvores que cobriam o céu acima, fazendo com que apenas os postes iluminassem o caminho.

De relance, ela olha para a lua brilhante e cai se contorcendo de dor.

Uma dor que ela nunca sentira antes, como se seus ossos estivessem sendo quebrados, sua pele rasgada, seus dentes arrancados.

Essa é a melhor foma de descrever a sensação daquele momento. Com sua queda e arrastando-se pela terra, ela fica completamente suja. Lapsos de memória e pensamento a atingiram como flechas como se um animal sedento quisesse sair dela.

Um escuro.....

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