CAPÍTULO QUATRO

Domenica acorda nua, e em seu corpo há sangue e lama.

Olhando ao redor, percebe que está perto do orfanato e o sol ainda não começou a nascer.

"O que aconteceu comigo?"

"Cadê minha bolsa? Minhas roupas?"

Ela se esgueira pelos cantos para que ninguém a veja, não quer chamar a atenção. Estava indo tudo bem, até ela conseguir abrir a porta e se deparar com a irmã Dulce, que a estava esperando no escuro.

— Criança?! O que aconteceu com você? - conhecendo sua voz, Domenica cai de joelhos e chora. Confusa com o que acontecera com ela.

— Não sei irmã! - suas palavras e lágrimas se misturavam. As lembranças do que aconteceu a atingem como facas.

"O sangue... o sangue, era de um animal."

"Eu comi um animal?"

"Espera!"

"Eu me tornei um cachorro gigante. Estou ficando louca, é a única explicação."

— Você não se lembra de nada? -Dulce pergunta.

— Algumas coisas estão vindo à minha mente. Mas é impossível ser real. Comi um animal!!! E virei um cachorro gigante?? Isso é loucura...- irmã Dulce não se surpreende quando Domenica diz essas palavras, como se já soubesse que seria possível.

— Quantas vezes isso já aconteceu, meu amor?

— Foi a primeira vez, irmã. Isso nunca tinha acontecido comigo antes. O que pode ser? Estou ficando louca?

— Calma! Tudo tem uma explicação, criança! Já ouvi falar deles anteriormente. Presenciei alguns acontecimentos referente a isso.

— Eles? Isso? O quê?

— Não sei muito, mas vou contar o pouco que sei. E acho que pode te ajudar de alguma forma. Mas antes disso, quero que tome um banho primeiro e descanse um pouco.

— Não vou poder descansar sem saber o que está acontecendo comigo! -Domenica altera seu tom de voz.

— Então pelo menos tome um banho. Não precisamos que ninguém te veja assim.

Olhando para si, ela cai na real.

"Seria estranho alguém me ver nua e coberta de sujeira e sangue."

Domenica faz o que Dulce diz e mergulha na banheira velha que tem em seu quarto. Fecha seus olhos torcendo para que tudo aquilo seja um sonho.

"Não! Isso foi real."

Com força ela esfrega sua pele para tirar o sangue, a força é tanta que sua pele branca fica vermelha a ponto de sangrar. Enche sua escova de dente com muita pasta.

"Eu sinto o gosto de sangue em minha boca. Como se comesse uma carne crua."

Ela sente ânsia.

Se seca rapidamente e vai ao encontro de Dulce, que entra com um lanche e o coloca sobre a cama.

"Ela é tão preciosa. Me recebeu neste lugar quando pensei que nunca mais teria ninguém para amar."

Seus pais tinham acabado de morrer e Domenica não tivera ninguém para lhe acolher. Fora levada e entregue as irmãs que a receberam com todo amor.

Muitos em sua volta a temiam, seus cabelos completamente brancos e olhos claramente azuis assustavam. Era como um fantasma, assim as crianças se referiam a ela. A aberração. Foi com Dulce que ela aprendera a se aceitar e ver a beleza onde muitos não viam.

— Aqui, minha querida. Coma um pouco.

— Eu como mais tarde. Já fiz o que mandou, agora estou pronta para ouvi-la. Me conte o que sabe!

Dulce segura suas mãos.

— Criança. Já aconteceu de algumas pessoas nos procurarem falando sobre esse tipo de acontecimento. Foi um susto para as irmãs mais antigas também. Porque não sabíamos o que era aquilo e porque acontecia. Mas sempre era na lua cheia, pessoas que sempre foram normais de repente se tornavam lobos e atacavam animais na região. E nunca mais eram vistos.

Domenica ouve cada palavra.

— Isso é o que sei. Nunca tentei saber o porquê. Mas sim, existem pessoas que se transformam em lobos.

--O quê? Isso é uma piada?

"Eu só posso estar ficando louca."

--Não, minha filha. Eu vivi muito neste mundo, então também ouvi muitas coisas. Sabe que não mentiria para você.

"Isso não existe."

--O quê? Isso não existe! Devo estar apenas mal e alucinando.

— Bom, sempre te disse que você era uma garota especial.

"Especial ok. Mas uma loba?"

— Mas...

— Gostaria de poder ajudá-la com algo mais. Mas isso é tudo que eu sei, meu amor. Agora descanse um pouco que daqui a pouco dará a hora para você ir trabalhar.

Olhando no relógio, Domenica se da conta do que Dulce acabara de dizer. Tem pouco tempo antes do relógio despertá-la para o trabalho.

"Se eu me deitar para dormir não acordarei a tempo. E chegar atrasada no segundo dia de trabalho não é uma opção."

Ela se deita, mas sem fechar os olhos. Fica olhando para o teto tentando entender tudo o que ouviu e o que aconteceu.

"Como isso pode ter acontecido comigo?"

"Será que é por isso que sou assim?"

Ela se refere aos seus cabelos brancos, seus olhos muito claros.

"Não pode ser real." "Minha boca está amarga. Que nojo."

Ela corre para o banheiro para vomitar.

"Me afundar em trabalho é a única forma de me livrar deste pesadelo."

É isso que ela faz.

Reforça a maquiagem para esconder suas olheiras.

"Estou cansada. Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim."

Seu corpo dói. Mas com coragem ela segue para a empresa.

Na chegada cumprimenta a todos e vai para sua mesa.

"O senhor Valentim não chegou. Quem bom."

"Seria perfeito se ele não viesse hoje."

Quando estava terminando seu pensamento, o elevador se abre.

"Ele parece uma parede de tão grande."

Valentim com um terno sob medida preto que realçava seu corpo atlético.

— Bom dia, senhorita. - ele a cumprimenta, mas parece inquieto.

— Bom dia, senhor presidente!

"Que cheiro é esse? É do presidente. Ontem estava bom, mas hoje parece mais forte."

O olfato de Domenica se intensifica.

Seu telefone de mesa toca.

— Eu preciso de um café! - a voz de Valentim do outro lado do telefone.

— Ok, senhor. - rapidamente ela faz o que é pedido.

Tremendo, ela entra na sala e ele está sentado observando cada movimento que ela faz.

"Parece que ele sabe de algo que não sei."

— Você trocou seu perfume hoje, Domenica?

--O quê? Não entendi, senhor!

— Você está com um cheiro diferente hoje. Você deve ter mudado de perfume!

— Não senhor! É o mesmo que usei ontem! Se não gostar, posso trocar, senhor.

— Não, imagina! Ele é perfeito! Continue com ele.

"Por favor."

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo