Natália linda , alegre, jovem e cheia de sonhos e planos. Uma carreira de médica, uma família feliz e um lar aconchegante. O primeiro ponto estava bem encaminhado, pois ela era das melhores alunas em sua turma. Aos dezoito anos ela estava no primeiro ano da faculdade e seus olhos brilhavam a cada aprendizado. O segundo ponto, era bem mais difícil. Ela alimentava uma paixão há anos por Stélio. Ele era o irmão mais velho de sua melhor amiga, Laura.
Sempre que o via, suspirava pelos cantos e sonhava com o dia que finalmente teria coragem de falar-lhe sobre seus sentimentos.
A oportunidade surgiu na festa de aniversário de Laura. Passou praticamente a festa toda hesitando e , Laura cansada de vê-la desesperado decidiu ajudar sua amiga.
"Toma" ela falou entregando um copo a Natália.
"O que é isso?"Natália perguntou segurando no copo.
"É uma poção mágica para dar coragem. Tu bem precisas."
Natália olhou pro liquido por alguns instantes e depois virou o copo engolindo de uma vez todo o líquido. Enquanto descia pela garganta , ela sentiu o líquido queimar e fez um som tentando aliviar a sensação.
"A sério o que era aquilo?" Ela perguntou a sua amiga.
"Whisky. Agora espera um pouco ele fazer efeito e depois vais lá."
"Não sou capaz. Ele vai rir-se de mim." Natália protestou.
"Ao menos irás acabar com essa paixão boba e seguir em frente."
"Vou precisar de mais poção. " Natália falou nervosa.
"É para já. "
Laura desapareceu por uns instantes e voltou com outro copo. E Natália repetiu o processo, líquido goela abaixo e a garganta a queimar novamente.
"Agora, vai la."Laura falou animada.
Ela respirou fundo começou a caminhar, dando passos decididos com foco no seu alvo.
Stélio franziu a testa quando a viu caminhar até onde ele estava com um grupo de amigos seus. Mas não esperou ela chegar e logo caminhou ao seu encontro e segurou-a pelo braço arrastando-a para longe do grupo.
"O que pensas que estás a fazer?"Ele falou, irritado.
"Eu ..ham..." As palavras saiam sem coerência alguma .
"Volta pro teu grupinho. E não saias de lá." Ele falou irritado e praticamente empurrando-a de volta pra direcção em que veio.
Ele nem a deixou falar e já caminhava de volta pro grupo de seus amigos novamente. Ela o viu afastar-se e sua vontade era de soltar toda sua raiva , mas segurou-se e voltou para onde Laura e outras amigas estavam.
"Então??" Laura perguntou logo que ela sentou na cadeira vaga do lado da sua amiga.
"Ele nem me deixou falar, e me mandou de volta para o meu grupinho" Natália falou irritada.
'Hum..." Laura murmurou , pensativa.
"O que foi?"
"Tenho uma ideia. Sei que não vais gostar, mas pode ser que essa seja a única maneira de saber se és invisível para ele ou não."
Sempre que Laura tinha uma ideia, nunca era do agrado de Natália. Laura era um pouco louca e sua imaginação não conhecia limites.
"Tenho certeza que não vou gostar. Mas fala, estou desesperada."
" Podes beijar o Fred e garantir que ele veja."
" Fred não. Ele é o melhor amigo do teu irmão. "
"Exactamente por isso. "
Natália abanou a cabeça e levantou-se da mesa caminhando para o interior da casa. Ela trancou-se no banheiro por alguns minutos até sentir que toda a sua raiva por Stélio havia desaparecido. Quando caminhava de volta ,esbarrou em Fred que a segurou impedindo sua queda.
"Esta tudo bem Natália?" Ele perguntou com um sorriso.
"Sim. Obri..." Não pode terminar a frase pois no instante seguinte sentiu um empurrão que a desequilibrou e ela e Fred estavam no chão no segundo seguinte. Ela e Fred soltaram uma gargalhada vendo a situação em que se encontravam que foi cortada com a voz irritada de Stélio.
"O que se passa aqui?"
Natália levantou-se como se o chão estivesse em chamas e Fred a seguiu , mas sem pressa.
"Nada, apenas um acidente. "Fred respondeu encarando seu amigo.
Stélio olhou para Fred e depois para Natália e caminhou até ela segurando sua mão e a arrastando consigo até uma sala que era usada como escritório. Ele fechou a porta e olhou para ela.
"Eu disse-te para ficares longe. " Stélio falou zangado.
"Tu não mandas em mim. Não és meu irmão para fazeres comigo o que fazes com Laura."Natália o enfrentou pela primeira vez em sua vida.
Em outra ocasião ela teria baixado a cabeça e concordado com todo que ele dizia.
Afinal a poção era mesmo mágica. Ela pensou.
"Exactamente por eu não ser teu irmão que devias te manter longe Natália. "
Mal as palavras saíram da sua boca ele acabou com a distancia que havia entre eles e a beijou.
Era seu primeiro beijo e não podia ser mais perfeito. Sua mente ficou em branco naquele instante e entregou-se ao momento , sem pensar nas suas inseguranças , sua inexperiência ou o facto de não saber o porquê Stélio a beijava.
"Tu devias correr atrás dos miúdos da tua idade. " Ele falou depois que interrompeu o beijo.
"Mas é a ti que eu quero." Ela falou e encheu-se de coragem para beija-lo novamente.
Ele não a rejeitou, mas puxou-a mais para ele , beijando-a com bastante vigor e entrega.
O destino e Laura, deram um empurrão para que Natália alcançasse o ponto número dois da sua lista . Sim , Laura, pois foi ela que empurrou Natália e fez com que caísse por cima de Fred no exacto momento que seu irmão entrava na casa.Depois daquele beijo, Natália e Stélio não largaram-se mais. A relação dos dois era cobiçada por muitos e odiada por alguns. Mas como a vida não é só alegrias, com o passar do tempo vieram também tristezas e obstáculos. E o primeiro bateu a porta quando Natália passou mal durante uma aula e teve que ser examinada por um dos seus docentes.Depois de exames eis que a encaminham para outra médica."Olá Natália, como te sentes?" A médica falou esboçando um sorriso."Bem melhor" Ela respondeu com a voz trémula."Tens namorado? "A m&ea
Muitos anos depois...Os anos passaram, algumas coisas haviam mudado e outras permaneciam iguais. O amor amadureceu e deu lugar a cumplicidade e companheirismo.Eles eram um casal invejável. A forma como Stélio tratava Natália e tomava conta de sua família era um exemplo para todos os seus amigos e familiares.Depois da gravidez não planeada, a vida de Natália mudou drasticamente . Interrompeu os estudos durante a gestação. Depois que o Yuran nasceu ficou mais difícil regressar as aulas. O emprego de Stélio exigia demais dele e quando este chegava a casa mal se aguentava, quanto mais cuidar do bebé para que ela pudesse estudar. As coisas foram se complicando quando as contas começaram a apertar e Natália teve que arranjar um emprego para ajudar com as despesas. Conseguiu um trabalho em uma clínica privada como recepcionista, gra&c
Os dias passaram tão rápido que Natália não teve tempo de preparar seu coração para a ausência de Stelio num dos dias mais importantes de suas vidas.Ela tentou não dar tanta importância mas seu coração teimava em não ouvir a voz da razão." Eu sei que não estás feliz com isto, mas juro compensar-te quando voltar. "Stélio falou notando o desconforto dela enquanto arrumava sua mala."Tenho certeza que o farás. "Natália falou desanimada.Stélio aproximou-se dela e a abraçou por trás beijando levemente seu pescoço."E não vou para tão longe, são apenas algumas horas de viagem . Estarei de volta num piscar de olhos. " Ele falou tentando tranquiliza-la.Ela permaneceu em silencio sem saber o que dizer. Ele a virou lentamente para que pudesse olhar em seus olhos."Natália, o que se passa? Nunca agiste assim antes.""Nunca antes tiveste que viajar no nosso aniversário. E eu tinha grandes planos desta vez. Tu trabalhas tanto e quase nunca temo
Natália chegou a casa , e fez sua rotina normal. Tomou seu banho, jantou com seus filhos e ficou com eles em frente a TV até eles desaparecerem cada um para o seu respectivo quarto. Laura havia ligado inúmeras vezes mas Natália não atendeu pois sabia qual era o assunto. Ela não se sentia preparada para encarar a verdade.Foi a cama , cansada e sem ânimo para mais nada. Ouviu seu celular vibrar quando entrava debaixo dos lençóis e quando olhou para o ecrã viu uma mensagem do Stélio.Stélio: Oi Naty. Desculpa só dar-te noticias minhas tão tarde. Tive problemas com o carro e ele decidu parar no meio do nada. Não tinha sinal para poder avisar-te .Ela olhou para o celular , pensando se respondia ou não. Pois, agora, tudo soava a falso, a mentira.Natália: Que bom que chegaste bem. Bom descanso.Ela respondeu e colocou o celular na mesinha de cabeceira. Virou para o lado e fechou seus olhos. Ap
Depois que conseguiu controlar a tosse , Stélio pegou o copo de água e deu um grande gole, tentando ganhar tempo.Natália o olhava atentamente, sem dizer nada. Ele sabia que não tinha como escapar da conversa, mas não sabia se continuava a mentir ou se assumia a culpa. Decidiu testar a temperatura primeiro e decidir depois como fazer.“ Que raio de brinde é esse Naty? “Ele falou sem olhar para ela.Natália sorriu mas sua vontade era gritar com ele por estar a fingir não ter entendido a indirecta.“Tens certeza que não sabes? É assim que queres que esta conversa comece?”Ela falou muito segura de si.Ele bebeu mais alguns goles de água sentindo-se intimidado pela sua mulher pela primeira vez na vida. Natália sempre foi amável, meiga e as vezes parecia uma mulher frágil. A mulher sentada a sua frente não era a Natália que ele estava habituado a manipular.“ Não queria que descobrisses desta forma. “Ele falou depois de uma pausa de vários minutos.<
Depois de quatro dias em silêncio, Stélio ligou para Natália. Ela olhou para o ecrã por alguns instantes decidindo se atendia ou não. Depois de quatro dias ela não sentia vontade nenhuma de falar com ele. Mas precisava resolver logo esta situação pois os filhos começavam a perguntar porque o pai não regressava."Alô!" Natália atendeu a chamada casualmente."Oi Naty. Como estás? "Stélio perguntou hesitante."Diz logo o que queres? "Ela falou dispensando as boas maneiras.Houve um breve silencio e Stélio respirou fundo."Será que podemos conversar, depois do trabalho?""Tudo bem. Onde te encontro?""Pensei que podia ser em nossa casa.""Não. Os miúdos não sabem que já voltaste. Prefiro que seja em outro lugar."Natália queria conversar com seus filhos com mais calma. E para isso precisava recompor-se do choque, e da raiva. E claro , depois de ter uma conversa definitiva com Stélio." Pode ser no restaurante onde comemoramos n
Os dias que seguiram foram os mais difíceis. Natália esperou que Stélio procurasse os filhos para explicar o que aconteceu , mas ele não o fez. E ela teve que lidar com as perguntas que não paravam. No trabalho era Fred que a questionava pois Stélio continuava a não atender suas chamadas. Natália sentia-se sufocada e não conseguiu mais segurar e quando deu por ela chorava inconsolável nos braços de Fred.Ele a levou para seu gabinete e a colocou sentada em uma cadeira, tentando acalma-la. Ele não disse nada por todo tempo que ela chorou e esperou pacientemente até que ela conseguiu controlar o choro."Me desculpe" Natália falou envergonhada.Fred entregou-lhe um copo com água e ela bebeu toda sem parar para respirar."Agora, queres me explicar o que se passa?"Fred falou tirando o copo das mãos de Natália." Estamos separados, nosso casamento acabou."Ela falou com a voz ligeiramente trémula."Porquê? O que acont
Natália detestava seus dias de folga. Sem a distracção do trabalho ela precisava inventar sempre algo para se ocupar. E as vezes não havia nada para fazer. Seus filhos já haviam passado da idade de achar que passar a tarde com a mãe era o melhor dos programas. Cada um estava sempre no seu quarto ou na rua com seus amigos.Ela acabava por arrumar até o que já estava arrumado só para ter uma ocupação. E foi numa dessas arrumações que ela encontrou os recibos de pagamentos à agência de viagens. A agência recusou-se a reembolsar o dinheiro mas deram opção de ela poder escolher outra viagem no valor pago. Depois da conversa com Laura há algumas semanas ela começou a pensar seriamente em seguir seu conselho. E encontrar aqueles recibos era um sinal de que devia mesmo ir em frente com essa ideia.Ligou para agência para entender melhor que opções que tinha. Quando desligou a chamada ela estava animada. Largou as arrumações e saiu de casa, indo directo a cl