Os dias passaram tão rápido que Natália não teve tempo de preparar seu coração para a ausência de Stelio num dos dias mais importantes de suas vidas.
Ela tentou não dar tanta importância mas seu coração teimava em não ouvir a voz da razão.
" Eu sei que não estás feliz com isto, mas juro compensar-te quando voltar. "Stélio falou notando o desconforto dela enquanto arrumava sua mala.
"Tenho certeza que o farás. "Natália falou desanimada.
Stélio aproximou-se dela e a abraçou por trás beijando levemente seu pescoço.
"E não vou para tão longe, são apenas algumas horas de viagem . Estarei de volta num piscar de olhos. " Ele falou tentando tranquiliza-la.
Ela permaneceu em silencio sem saber o que dizer. Ele a virou lentamente para que pudesse olhar em seus olhos.
"Natália, o que se passa? Nunca agiste assim antes."
"Nunca antes tiveste que viajar no nosso aniversário. E eu tinha grandes planos desta vez. Tu trabalhas tanto e quase nunca temos tempo de ficar a sós. Chegas cansado e sais cedo. Sinto que estamos a afastar-nos."
"Podemos fazer a viagem em outra ocasião. " Ele falou ligeiramente irritado e afastou-se .
Natália soltou um longo suspiro de frustração e voltou sua atenção a mala de Stélio. Ela terminou de arrumar e foi a cama. Stélio havia saído do quarto depois da conversa e só retornou horas depois. Natália ficou quieta fingindo dormir quando o ouviu entrar no quarto. Ele entrou na cama e virou-se para o lado , adormecendo de imediato.
O dia começou cedo na casa, pois Stélio queria fazer-se a estrada logo pela manhã. Despediram-se com um beijo e ele prometeu ligar logo que chegasse ao destino. Natália preparou-se para o trabalho e saiu meia hora depois. Toda a manhã, ela esperou pela chamada, ansiosa. Ao meio –dia ela decidiu ligar mas o celular de Stélio estava desligado. Ligou para Laura em seguida.
"Oi Naty!"Laura falou logo que atendeu a chamada.
"Olá!"Respondeu Natália bastante desanimada.
"Hum...pelos vistos ele fui em frente com a viagem."
"Infelizmente não havia como esquivar-se desta viagem. Ele explicou-me que não podia ir outro em seu lugar."
Houve uma breve pausa , e depois Laura falou animada.
"Tenho uma ideia, mas não sei se vais gostar."
Laura sendo Laura , e suas ideias malucas. Natália as vezes se questionava como elas era tão amigas sendo tão diferentes.
"Fala."Natália incentivou.
"Podias surpreende-lo indo ao seu encontro. Juntavam o útil ao agradável. O trabalho e a vossa comemoração."
A ideia não era tão absurda, Natália pensou. Era a oportunidade perfeita, nem ela sabia como não havia pensado nisso antes.
"Gostei dessa ideia. Obrigada Laura." Ela falou sorridente."Sempre as ordens."Laura falou entre risos.
A chamada terminou e Natália logo começou a pensar num plano. Mas primeiro precisava do endereço do lugar onde Stélio estava hospedado e para isso teria de ir até seu trabalho para ter essa informação.
Pediu a Ana para substitui-la uma vez mais e saiu para colocar seu plano em acção. Quando estacionou seu carro em frente ao edificio onde Stélio trabalhava seu humor estava bem melhor. Entrou e caminhou até a recepção bastante confiante.
"Boa tarde!"Natália cumprimentou esboçando um sorriso.
"Natália, a que devemos a honra?"Uma das recepcionistas falou sem esconder a surpresa em vê-la ali.
Realmente era de estranhar sua presença ali uma vez que Stélio estava em viagem.
"Preciso de um favor. Podem dar-me o endereço do hotel onde o Stélio está hospedado?"
As duas mulheres entre olharam-se e depois viraram-se para Natália.
"Não entendi." Respondeu a mesma recepcionista que falou com ela logo que chegou.
"Por favor meninas. Sei que é estranho, mas é nosso aniversário e pensei surpreende-lo na sua viagem de trabalho e comemorarmos por lá."Natália falou olhando para elas com um olhar de súplica.
"Mas, o Stélio não viajou a trabalho. Ele pediu alguns dias de férias." A mesma recepcionista respondeu confusa.
A outra baixou a cabeça evitando olhar para Natália.
Natália estava mais confusa que a recepcionista, e tentava entender o que acabava de ouvir.
"Férias??"Natália repetiu mais para si que para elas.
"Sim. " A recepcionista respondeu .
"Obrigada."Natália falou e começou a afastar-se do balcão indo em direcção a saída. Chegou ao seu carro e ainda não conseguia entender porque Stélio mentiria para ela sobre essa viagem.
Destrancou o carro e quando abriu a porta ouvia alguém chamar por ela. Virou-se e viu a outra recepcionista caminhar apressada em sua direcção.
A mulher estava ofegante quando a alcançou e precisou de alguns instantes para recuperar antes de falar.
" O que vou dizer-te agora não é agradável mas acho que precisas saber." Ela anunciou olhando nos olhos de Natália.
Natália não disse uma única palavra, cruzou os braços esperando ouvir seja la o que for que a mulher tinha a dizer. Mas nada a preparou para o que iria ouvir de seguida.
"Stélio tem um caso, com uma colega de trabalho. Eles tem sido bastante discretos mas, não existe crime perfeito e ha uns dias os ouvi falar nesta viagem. Não acho justo o que ele fez e desculpa por estar a contar-lhe desta forma. "
O cérebro de Natália congelou e ela não conseguia pensar nem dizer nada. Ficou ali parada em silencio por alguns minutos e a recepcionista começou a ficar preocupada.
"Natália??" Ela falou tocando em seu ombro.
"Me desculpe. Eu preciso ir."Natália falou e entrou no carro sem dar tempo a outra mulher de falar mais nada.
Ligou o carro e manobrou para fora do estacionamento. Ela esta em piloto automático, como se aquelas palavras a tivessem colocado e um estado dormente. Ela trabalhou o resto do dia como se nada tivesse acontecido, como se tudo estivesse bem no mundo. Ela sabia que no minuto que parasse para analisar tudo que ouviu não conseguiria segurar suas emoções.
Natália chegou a casa , e fez sua rotina normal. Tomou seu banho, jantou com seus filhos e ficou com eles em frente a TV até eles desaparecerem cada um para o seu respectivo quarto. Laura havia ligado inúmeras vezes mas Natália não atendeu pois sabia qual era o assunto. Ela não se sentia preparada para encarar a verdade.Foi a cama , cansada e sem ânimo para mais nada. Ouviu seu celular vibrar quando entrava debaixo dos lençóis e quando olhou para o ecrã viu uma mensagem do Stélio.Stélio: Oi Naty. Desculpa só dar-te noticias minhas tão tarde. Tive problemas com o carro e ele decidu parar no meio do nada. Não tinha sinal para poder avisar-te .Ela olhou para o celular , pensando se respondia ou não. Pois, agora, tudo soava a falso, a mentira.Natália: Que bom que chegaste bem. Bom descanso.Ela respondeu e colocou o celular na mesinha de cabeceira. Virou para o lado e fechou seus olhos. Ap
Depois que conseguiu controlar a tosse , Stélio pegou o copo de água e deu um grande gole, tentando ganhar tempo.Natália o olhava atentamente, sem dizer nada. Ele sabia que não tinha como escapar da conversa, mas não sabia se continuava a mentir ou se assumia a culpa. Decidiu testar a temperatura primeiro e decidir depois como fazer.“ Que raio de brinde é esse Naty? “Ele falou sem olhar para ela.Natália sorriu mas sua vontade era gritar com ele por estar a fingir não ter entendido a indirecta.“Tens certeza que não sabes? É assim que queres que esta conversa comece?”Ela falou muito segura de si.Ele bebeu mais alguns goles de água sentindo-se intimidado pela sua mulher pela primeira vez na vida. Natália sempre foi amável, meiga e as vezes parecia uma mulher frágil. A mulher sentada a sua frente não era a Natália que ele estava habituado a manipular.“ Não queria que descobrisses desta forma. “Ele falou depois de uma pausa de vários minutos.<
Depois de quatro dias em silêncio, Stélio ligou para Natália. Ela olhou para o ecrã por alguns instantes decidindo se atendia ou não. Depois de quatro dias ela não sentia vontade nenhuma de falar com ele. Mas precisava resolver logo esta situação pois os filhos começavam a perguntar porque o pai não regressava."Alô!" Natália atendeu a chamada casualmente."Oi Naty. Como estás? "Stélio perguntou hesitante."Diz logo o que queres? "Ela falou dispensando as boas maneiras.Houve um breve silencio e Stélio respirou fundo."Será que podemos conversar, depois do trabalho?""Tudo bem. Onde te encontro?""Pensei que podia ser em nossa casa.""Não. Os miúdos não sabem que já voltaste. Prefiro que seja em outro lugar."Natália queria conversar com seus filhos com mais calma. E para isso precisava recompor-se do choque, e da raiva. E claro , depois de ter uma conversa definitiva com Stélio." Pode ser no restaurante onde comemoramos n
Os dias que seguiram foram os mais difíceis. Natália esperou que Stélio procurasse os filhos para explicar o que aconteceu , mas ele não o fez. E ela teve que lidar com as perguntas que não paravam. No trabalho era Fred que a questionava pois Stélio continuava a não atender suas chamadas. Natália sentia-se sufocada e não conseguiu mais segurar e quando deu por ela chorava inconsolável nos braços de Fred.Ele a levou para seu gabinete e a colocou sentada em uma cadeira, tentando acalma-la. Ele não disse nada por todo tempo que ela chorou e esperou pacientemente até que ela conseguiu controlar o choro."Me desculpe" Natália falou envergonhada.Fred entregou-lhe um copo com água e ela bebeu toda sem parar para respirar."Agora, queres me explicar o que se passa?"Fred falou tirando o copo das mãos de Natália." Estamos separados, nosso casamento acabou."Ela falou com a voz ligeiramente trémula."Porquê? O que acont
Natália detestava seus dias de folga. Sem a distracção do trabalho ela precisava inventar sempre algo para se ocupar. E as vezes não havia nada para fazer. Seus filhos já haviam passado da idade de achar que passar a tarde com a mãe era o melhor dos programas. Cada um estava sempre no seu quarto ou na rua com seus amigos.Ela acabava por arrumar até o que já estava arrumado só para ter uma ocupação. E foi numa dessas arrumações que ela encontrou os recibos de pagamentos à agência de viagens. A agência recusou-se a reembolsar o dinheiro mas deram opção de ela poder escolher outra viagem no valor pago. Depois da conversa com Laura há algumas semanas ela começou a pensar seriamente em seguir seu conselho. E encontrar aqueles recibos era um sinal de que devia mesmo ir em frente com essa ideia.Ligou para agência para entender melhor que opções que tinha. Quando desligou a chamada ela estava animada. Largou as arrumações e saiu de casa, indo directo a cl
Duas semanas passaram num piscar de olhos, mas Natália estava feliz quando regressou a casa. Tinha saudades dos seus filhos e do seu cantinho.Soltou um longo suspiro quando deixou as malas no meio do quarto e atirou-se para a cama e permaneceu deitada olhando para o tecto por alguns minutos.Uns dias longe de tudo era realmente o que ela precisava. Sentia-se feliz e revigorada para enfrentar a vida. E sabia que Stélio a esperava furioso, depois que teve notícias do advogado dela. A única chamada que recebeu dele durante a viagem foi aos gritos e Natália conseguiu manter-se calma o tempo todo, o que só o enfureceu mais.Mas de resto a viagem correu a mil maravilhas, visitou tantos lugares bonitos , conheceu pessoas diferentes e fez novas amizades. Mas precisava voltar para seus filhos e para a sua vida.Pegou no celular e ligou para Laura.“Olá Naty”Laura falou bem humorada.“Olá meu amor, estou de volta.”Natália respondeu animada.“Oba,
“ Olá rapazes! Não mereço nem um abraço?” Natália falou abrindo seus braços para receber um abraço dos seus filhos.“ Mãe??!!” Yuran falou aproximando-se dela devagar.Leandro fez o mesmo e juntaram-se em um abraço de grupo.“ Senti tantas saudades vossas.” Ela falou ignorando Stélio que a olhava dos pés a cabeça sem conseguir crer no que via.“ Nós também mãe. Estas linda!” Leandro falou sorrindo.“ Obrigada filho. Vão deixar vossas mochilas. Quero saber tudo que fizeram enquanto estive ausente.”Eles obedeceram, deixando-a sozinha com Stélio.“ Obrigada por teres ficado com eles. “ Ela falou tentando quebrar o gelo.“ Não foi nada, eles são meus filhos também.” Ele falou sem desviar seus olhos dela.“ Claro.”E instalou-se um silencio constrangedor entre eles. Stélio nem pestanejava e Natália começava a sentir-se desconfortável.“ Ham…então , até a próxima.” Ela falou dando a entender que era hora de ele ir embor
Natália não esperava encontrar tanta gente no mesmo lugar, primeiro porque o lugar não parecia nada de especial e por ser dia de semana. Mas quase não dava para andar a vontade. Procuraram por uma mesa e estava a mostrar-se uma missão impossível.Passaram por várias que estavam ocupadas e Natália olhava em redor frustrada. Quando virou-se para falar com Laura viu sua amiga em conversa com um homem. Instantes depois Laura aproximou-se dela esboçando um sorriso.“ Arranjei uma mesa. “Ela falou animada.Natália franziu a testa , desconfiada.“Não faças essa cara o bom samaritano é capaz de mudar de ideias. “Laura falou passando a mão pela testa de Natália tentando desfazer as rugas.“Não sei se é boa ideia...”“Para com isso. Preciso ensinar-te a ser solteira. Só te perdoo porque casaste cedo demais e o noivo era meu irmão. “Laura falou pegando Natália pela mão e arrastando-a até a mesa dos seus novos amigos.“ Ola, eu sou a Laura e esta é a minh