Natália chegou a casa , e fez sua rotina normal. Tomou seu banho, jantou com seus filhos e ficou com eles em frente a TV até eles desaparecerem cada um para o seu respectivo quarto. Laura havia ligado inúmeras vezes mas Natália não atendeu pois sabia qual era o assunto. Ela não se sentia preparada para encarar a verdade.

Foi a cama , cansada e sem ânimo para mais nada. Ouviu seu celular vibrar  quando entrava debaixo dos lençóis e quando olhou para o ecrã viu uma mensagem do Stélio.

Stélio:  Oi Naty. Desculpa só dar-te noticias minhas tão tarde. Tive problemas com o carro e ele decidu parar no meio do nada. Não tinha sinal para poder avisar-te .

Ela olhou para o celular , pensando se respondia ou não. Pois, agora, tudo soava a falso, a mentira.

Natália: Que bom que chegaste bem. Bom descanso.

Ela respondeu e colocou o celular na mesinha de cabeceira. Virou para o lado e fechou seus olhos. Apesar do cansaço não foi fácil adormecer. Ela virou e revirou na cama até os primeiros raios de sol espreitarem pela janela. Frustrada, levantou da cama e deu inicio ao seu dia.

Quando preparava-se para sair ouviu batidas na porta e ouviu vozes na sala. Logo reconheceu a voz de Laura que conversava animada com seus sobrinhos. Ela teria que enfrentar seus demónios mais cedo do que queria. Respirou fundo e saiu do quarto, indo em direcção a sala.

Logo que entrou na sala olhou para seus filhos e franziu a testa.

“Não estão atrasados?”

Os dois imediatamente despediram-se de Laura com um beijo no rosto e saíram apressados.

“Tadinhos, eles  atrapalharam-se quando viram sua tia preferida. “ Laura falou num tom de brincadeira.

“Imagino. Mas acho que é cedo para visitas de cortesia.”Natália falou mal humorada.

“Não atendes minhas chamadas, então a montanha veio a Maomé. Não devias estar a arrumar a mala para ir a um certo lugar?” Laura falou olhando sua amiga dos pés a cabeça.

“Mudança de planos. Não posso sair do trabalho agora.”Natália falou sem olhar para Laura.

“Mentes tão mal. Deixe isso para os profissionais.”Laura falou entre risos.

“ Tens toda a razão. Há realmente bons profissionais nessa área, que mentem com a cara mais lavada .”Natália falou magoada.

Laura a olhou por alguns instantes e depois segurou sua mão  levando-a até ao sofá. As duas sentaram-se e  Laura olhou para sua amiga , com uma expressão bem séria em seu rosto.

“Queres dizer-me o que se passa?”

“Não posso.”Natália falou soltando um suspiro em seguida.

“ Como não podes. Que diabos se passa Natália? Ontem deixei-te feliz da vida e hoje encontro-te nesse estado e já não vais viajar. Diz-me o que esta a passar-se.” Laura falou irritada.

“Ele é teu irmão...não seria correcto...Droga!!”

“Natália, fale de uma vez.”

Natália ponderou por alguns instantes , antes de decidir desabafar. Afinal de contas ela era irmã de Stélio , mas Natália não confiava em mais ninguém. Que dilema!

“Acho que Stélio é infiel.”Natália falou e desviou seu olhar para o outro lado.

“Achas, ou tens provas? “Laura insistiu.

“Ele mentiu-me Laura. Ele não viajou a trabalho e pediu férias no trabalho.” Ela deixou de fora a conversa que teve com a recepcionista pois não tinha certeza absoluta da veracidade dos factos por ela contados.

Laura levantou-se e caminhou pensativa pela sala. Tudo que ela havia lutado para segurar começava a querer sair, e as lágrimas se formavam em seus olhos dificultando sua visão.

“Não acredito nisto. “Laura murmurou.

“ Sabia que não acreditarias. Ele é teu irmão.”Natália falou angustiada e as lágrimas escorriam livremente pelo seu rosto.

Laura virou-se e seus olhos estavam carregados de fúria.

“Eu vou mata-lo.”Ela falou e pegou no celular.

“Não, não ligues para ele.”Natália falou imaginando qual era a intenção de Laura.

“Porquê não? Ele não pode achar que faz uma coisa destas e sai impune. Não mesmo.” Laura parecia mais ultrajada que Natália.

Natália estava grata por sua lealdade, mas não queria que ela brigasse com seu irmão.  Além do mais, esta era uma luta que Natália precisava travar sozinha.

“Eu quero  falar com ele primeiro. Vou esperar que regresse e iremos colocar tudo em pratos limpos. “Natália falou determinada.

Laura deixou o celular na mesa de jantar e voltou a sentar-se do lado de Natália.

“Esta bem, mas chame-me quando chegar a parte em que lhe partimos a cara. Quero ser eu a dar o primeiro golpe. “

Natália abraçou-a  como forma de agradecer pelo seu apoio.

As duas saíram para o trabalho e trocaram mensagens durante todo dia. Natália sabia que Laura estava a controlar-lhe para ter certeza que ela estava bem. E ela não se importou.

Os dias passaram e Natália permaneceu firme, esperando seu esposo regressar da sua viagem.  O dia do aniversário de casamento foi o mais difícil de todos. Ela acordou pela manhã e não conseguiu segurar seu tristeza e mágoa. Chorou na cama e chorou durante o banho. Felizmente seus filhos haviam saído mais cedo e não a viram com o rosto inchado e os olhos vermelhos de tanto chorar.

Stélio fez o seu papel, ligando e enviando mensagens para ela.  Ela respondeu sem denunciar seu estado emocional.

Quando finalmente o dia do regresso chegou, Natália fez questão de organizar um jantar romântico, mandou os filhos para a casa da sua mãe e esperou pacientemente por seu amado.

A porta abriu e Stélio gritou seu nome , anunciando sua chegada. Ela saiu da cozinha e foi até a porta recebe-lo como uma boa esposa deve fazer.

Ele tomou seu banho e trocou de roupa, regressando a sala para que pudessem jantar. A conversa começou banal e quando stélio ergueu sua taça propondo um brinde, Natália viu a oportunidade de introduzir a boa nova que tanto esperou para partilhar.

“ À nossa felicidade e que venham muitos mais anos de amor e cumplicidade." Stélio falou sorrindo.

Ela ergueu a taça e tocou levemente na taça de Stélio antes de falar.

“À um futuro sem maridos mentirosos e infiéis que regressam a casa com a cara mais lavada depois de uma semana comendo uma vadia qualquer.”  Ela sorria enquanto pronunciava cada palavra.

Stélio que já havia levado a taça a boca engasgou-se com o líquido. Natália encostou-se a cadeira esperando ouvir que mentiras ele contaria agora.