Astris O som metálico dos talheres batendo nos pratos se misturava ao aroma rico dos assados e dos vinhos finos.A sala de jantar do palácio estava iluminada por velas douradas, lançando sombras tremeluzentes sobre as paredes decoradas com tapeçarias luxuosas.Era um jantar comum.Ou, pelo menos, deveria ser.Mas eu simplesmente não conseguia parar de rir.O riso veio de repente, baixo no início, mas logo cresceu, ecoando pelo grande salão.Os servos desviaram os olhos rapidamente, tentando fingir que não ouviam, mas o som chamou a atenção do meu pai.Ele pousou a taça de vinho sobre a mesa e arqueou uma sobrancelha em minha direção.— Astris, querida, o que há de tão engraçado?Minha mãe também ergueu os olhos, curiosa.Eu limpei os cantos dos olhos, respirando fundo para tentar conter a diversão.— Estava apenas me lembrando do pequeno presentinho que enviei para a querida alcateia que está abrigando minha irmã.O sorriso do meu pai cresceu.— Ah… então finalmente tomou alguma atit
Zane Quimby - ALFA A brisa da noite soprava suavemente sobre a sacada, carregando consigo o cheiro das árvores e o frescor do orvalho.O céu estava limpo, pontilhado por estrelas, e a lua cheia iluminava a paisagem com um brilho prateado, era como se a própria deusa nos olhasse naquele exato momento, nos abençoasse.Mas eu não conseguia aproveitar nada disso.Porque meu peito ainda estava apertado, pensando em como as coisas seriam dali para frente.Minha mente ainda estava consumida pelo medo.E, bem ao meu lado, estava a razão para isso.Elena.Ela parecia tranquila, os olhos voltados para a imensidão do céu, os cabelos brilhando sob a luz da lua, sem nenhuma preocupação visível em seu rosto.Eu queria poder me sentir como ela.Queria poder acreditar que tudo ficaria bem.Mas não conseguia.— Eu tenho medo de perder você.Minha voz soou mais baixa do que eu pretendia, porque sinceramente eu não queria admitir aquilo em voz alta. Não queria desencorajar a mulher da minha vida.Elena
Davian Deane. A primeira coisa que senti ao acordar foi o cheiro.E que merda de cheiro.Fedia a sangue podre, um cheiro ferroso e forte que grudava no ar como se fosse parte dele.E, claro, tinha o detalhe maravilhoso de que eu estava acorrentado.Ótimo.Eu abri os olhos devagar, minha cabeça ainda latejando pelo maldito dardo que tinham me dado.As paredes de pedra ao meu redor eram frias e úmidas, o chão era coberto por sujeira, e havia algo escuro e seco nas fendas entre as pedras.Eu não queria pensar muito sobre o que era aquilo.Um grunhido fraco me fez virar o rosto e só então percebi Dellan, caído a poucos metros de mim, ainda desacordado.— Dellan, seu idiota, acorda. — murmurei, mas ele nem se mexeu.Suspirei pesadamente, tentando puxar as correntes. Elas estavam firmes.Porque, claro, não bastava só me jogarem nessa cela fedendo à morte.Eles tinham que me acorrentar também.E foi aí que ela apareceu.Astris.Ela surgiu na entrada da cela como uma sombra elegante e perigo
Elena Winslow Quimby. O silêncio entre mim e Zane era denso.Carregado de tensão.Eu já tinha tomado minha decisão há muito tempo e tudo que eu estava esperando era um bom motivo, um bom motivo além do óbvio, das ameaças e da forma desrespeitosa com que aquela maldita alcateia tratava a própria deusa que os regia.Mas, obviamente, Zane não ia aceitar a minha decisão, sem uma briga.— Elena… — Zane começou, sua voz grave, exausta. — Nós precisamos pensar nisso com calma.Cruzei os braços, sem paciência.— Eu já pensei. — Minha voz saiu firme. — Nós vamos pegar os exércitos e ir até o reino de Elaris.Zane passou as mãos pelos cabelos, claramente tentando conter sua frustração.— E você acha mesmo que eu vou deixar você fazer isso?Eu dei um passo à frente, meu olhar se fixando no dele.— E você acha mesmo que pode me impedir?Houve um momento de silêncio.Ele sabia a resposta.E eu também.Mas, como esperado, ele tentou de novo.— Elena…— Esse exército não é só seu, Zane. — Minha voz
Davian Deane Eu tentei.Eu realmente tentei.Mas nada, absolutamente nada, funcionava.A cela estava trancada com algum tipo de encantamento.Toda vez que eu tentava me transformar em sombra para escapar, sentia uma barreira invisível me puxando de volta, como se estivesse preso em uma armadilha mágica.Eu já tinha tentado forçar as correntes, chutado as grades, até usado minha própria força bruta para tentar derrubar a porcaria da porta.Nada.E foi aí que a realidade finalmente me atingiu.— Isso é sério? Agora eu que sou a porcaria da donzela em perigo?Eu soltei um suspiro exasperado, apoiando a cabeça na parede fria de pedra atrás de mim.Isso me lembrava tanto da vez em que Zane foi feito prisioneiro que quase doía de ironia.Eu zombei tanto dele naquela época.E agora?O universo decidiu que era minha vez.Minha expressão azedou ainda mais.Então, um movimento ao meu lado me fez desviar o olhar.Dellan soltou um gemido baixo, se mexendo no chão antes de abrir os olhos lentamen
Astris Os dias estavam passando.E nada.Nenhuma resposta da alcateia de Zane.Nenhuma tentativa de negociação.Nenhuma palavra de Elaris.Isso estava começando a me irritar.Eles realmente achavam que podiam me ignorar?Que podiam simplesmente se esconder e esperar que eu desistisse?Que tolos!Se não queriam se mover, então eu mesma os faria agir.***Os corredores das masmorras eram frios, úmidos e impregnados com o cheiro de decomposição e ferrugem.O som dos meus passos ecoava pelas paredes de pedra enquanto eu caminhava, acompanhada por dois guardas, um de cada lado.Em minha mão, segurava algo pequeno e afiado.Uma faca.Eu girava o cabo entre os dedos conforme avançava, sentindo a lâmina deslizar suavemente contra a minha pele.Quando cheguei diante da cela, parei e observei os dois prisioneiros.Dellan estava sentado contra a parede, de olhos fechados, como se tentasse ignorar a imundície ao seu redor.Já Davian…Ele estava sentado no chão, os braços pesados pelas correntes
Davian Deane. A dor era insuportável.A cada batida do meu coração, o buraco onde antes estava meu olho latejava como se alguém estivesse enfiando uma lâmina quente ali repetidamente, como se desejasse me torturar de uma forma contínua e irritante.Já fazia quase um dia inteiro.E nada tinha diminuído o tormento.Dellan tentou ajudar. Tentou estancar o sangue, tentou limpar o ferimento com o pouco de água suja que tínhamos, tentou até falar merda para me distrair.Mas nada funcionava.Porque, no fim das contas…Uma parte do meu corpo tinha sido arrancada.E, claro, nem mesmo um maldito remédio me deram para aliviar a dor. Nem mesmo um único segundo de anestesia, eu não conseguia adormecer e a dor não era forte o suficiente para me apagar.Era como se eu estivesse condenado a agonizar, divertir aqueles desgraçados que haviam nos capturado e jogado ali.Não que eu esperasse que eles fizessem algo para ajudar.Se eu achava que eles me deixariam confortável depois do que fizeram?Eu seri
Elena Winslow QuimbyO campo de batalha estava um caos.Espadas se chocavam, uivos ecoavam pelo ar, e o cheiro de sangue e magia pairava sobre tudo como um nevoeiro sufocante.Meus movimentos eram calculados, rápidos, cortando qualquer inimigo que ousasse cruzar meu caminho.E Zane?Ele não saía do meu lado por nada.Cada golpe meu era acompanhado por um golpe dele, como se estivéssemos em perfeita sincronia.Então…Algo mudou.Uma luz intensa explodiu no meio do campo.Brilhante.Cegante.Minha visão se preencheu por um brilho dourado ofuscante, e quando consegui piscar e me recompor, o que vi fez meu coração parar.Meus homens.Meus guerreiros.Eles estavam…Se desfazendo.Transformando-se em pó.Cada fibra do meu corpo gelou.— O que…?Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele apareceu.No meio da destruição.Caminhando tranquilamente pelo campo, como se fosse o dono do mundo.Um homem loiro, com um sorriso preguiçoso nos lábios e uma aura dourada ao seu redor.E