O Beijo InesperadoUma noite, enquanto estamos na sala, uma discussão começa. Como sempre. Mas dessa vez, há algo diferente.— Você me provoca o tempo todo, Alexandro! Digo, exasperada.— E você gosta. Ele rebate.— Você é insuportável!— E você é irresistível.Antes que eu possa reagir, ele me puxa e me beija.O mundo desaparece. O tempo para.Quando nos afastamos, estou sem fôlego.— Isso... não devia ter acontecido. Murmuro, confusa.Ele toca meu rosto.— Mas aconteceu.E agora, eu não sei mais o que fazer.A noite está fria, e o silêncio na sala é apenas uma ilusão temporária. Sei que a tranquilidade nunca dura muito quando Alexandro está por perto.Estou sentada no sofá, tentando ler, mas sinto seu olhar sobre mim. Ele está encostado na lareira, segurando um copo de uísque. O brilho dourado do líquido reflete nas chamas, mas sua atenção está fixada em mim.— Desde quando você tem essa mania de ignorar as pessoas? Sua voz corta o silêncio.Solto um suspiro e fecho o livro com mai
Rastros de um Erro.AdrianoA casa de Alexandro está silenciosa quando chego. O sol poente lança ton dourados sobre a fachada imponente, e a brisa fria do fim da tarde agita as copas das árvores do extenso jardim. Seguro a pasta contra o peito, sabendo que a conversa que estou prestes a ter não será fácil.Sebastião, chefe de tecnologia e segurança da empresa, me recebe na porta.— Ele está no escritório. Contra as recomendações médicas, mas você o conhece...Eu conheço. Alexandro nunca foi de aceitar fragilidade. Desde que acordou após o acidente, sua frustração tem sido evidente. Ele não se lembra das últimas semanas antes do ocorrido, e isso o consome.O escritório exala uma austeridade que combina perfeitamente com ele. Móveis escuros de madeira nobre, prateleiras repletas de livros estratégicos e uma lareira apagada que parece tão fria quanto seu olhar nos últimos tempos.Ele está de costas para a porta quando entro, o olhar fixo na parede, os ombros ainda mais rígidos do que o
Ecos do PassadoAlexandroA ponta dos meus dedos desliza sobre os papéis espalhados na mesa, mas os números e nomes diante de mim são apenas borrões. Fecho os olhos, tentando forçar minha mente a preencher as lacunas das semanas que antecederam o acidente. Nada. Apenas um vazio irritante e claustrofóbico.— Os desfalques começaram pequenos. Adriano diz, sua voz firme, mas preocupada. — Depois do seu acidente, alguém ficou mais ousado.Meus olhos encontram os dele.— Você acha que eu estava envolvido?Ele não responde de imediato. O silêncio diz mais do que qualquer palavra.— Acho que alguém pode ter te manipulado. Você estava tocando o projeto dos hotéis com foco total. Pode ter assinado algo sem perceber.Fecho a mão em um punho, sentindo a tensão latejar em meu ombro lesionado.— Eu nunca cometeria um erro desses.Adriano se inclina sobre a mesa, os olhos analisando minha expressão.— Então precisamos descobrir quem fez isso.Respiro fundo e olho para o teto. Sinto um cansaço exau
Prisioneira do PassadoAriaO brilho da cidade se espalha pela janela do meu quarto, mas minha mente está longe dali. Está presa no passado, em uma noite que só eu lembro.Alexandro esqueceu.E isso me destrói.Eu aperto os lençóis entre os dedos, tentando conter as lembranças, mas elas vêm como uma tempestade, intensas e avassaladoras.A Noite Que Mudou TudoTínhamos acabado de fechar um dos maiores contratos da empresa. Um acordo que levaria nossa expansão para um novo nível. O clima era de vitória, e, por insistência dos outros executivos, saímos para comemorar.Uma boate luxuosa. Luzes pulsantes. Música alta. Taças tilintando.Eu me lembro do cheiro do uísque na pele de Alexandro, da forma como seus olhos estavam mais brilhantes do que o normal. Do jeito que ele me olhava naquela noite.Sempre houve algo entre nós, uma tensão elétrica, um limite invisível que nunca cruzamos. Mas naquela noite, embriagados pelo sucesso e pelo álcool, cruzamos sem hesitar.Ele não tirava os olhos de
O Peso do Silêncio AlexandroUma semana depois…O relógio marca exatamente oito da manhã quando a campainha toca. Respiro fundo antes de abrir a porta do escritório. Sei que preciso manter a postura, esconder o caos que minha mente se tornou.Adriano e Aria entram, cumprimentando-me com olhares cautelosos. Desde o acidente, as reuniões semanais têm sido um fardo. Não porque não confie neles, mas porque preciso fingir que tudo está sob controle. Fingir que me lembro das decisões que tomei antes de capotar aquele maldito carro.Aria deposita uma pilha de documentos sobre a mesa e cruza os braços.— Vamos direto ao ponto. O investimento nos hotéis está avançando, mas os fornecedores começaram a pressionar por pagamentos antecipados.Minha mandíbula se contrai.— E desde quando fazemos pagamentos antecipados?— Desde que você aprovou — Adriano responde, observando-me de perto.Meu sangue gela. Eu assinei isso? Tento vasculhar minha memória, mas não encontro nada além do vazio sufocante.
Sombras na EngrenagemAdrianoVolto para o meu escritório com os relatórios que levei para a reunião com Alexandro. Algo não bate. O dinheiro não desapareceu de forma aleatório.Há um padrão. Pequenos valores foram desviados ao longo de meses, sempre mascarados como pagamentos legítimos. Mas agora, com Alexandro afastado, a operação se tornou mais ousada.Abro a planilha mais uma vez, cruzando os dados. Empresas fantasmas, notas fiscais alteradas, transferências fracionadas. Quem fez isso sabe exatamente como ocultar rastros.Pego o telefone e ligo para Sebastião, chefe de tecnologia e segurança da empresa.— Preciso que você analise todas as transações financeiras dos últimos seis meses. Quero saber para onde foi cada centavo.Ele hesita.— Você acha que é algo interno?Respiro fundo.— Acho que estamos lidando com algo muito bem planejado.Após desligar, sinto um peso se instalar em meu peito. Isso não é só um erro de contabilidade. É uma engrenagem funcionando há meses, talvez ano
Ciúmes e Enganos.Alexandro.A manhã começa mais uma vez com aquela sensação sufocante de que não tenho controle sobre nada. As reuniões domiciliares se tornaram uma rotina insuportável. Enquanto Adriano e Aria discutem estratégias e relatórios, meu corpo se contorce com a crescente irritação. O que diabos eu estou fazendo aqui? Não me lembro de nada relevante, mas sou obrigado a fingir que tenho o controle total.Hoje, Aria parece ainda mais distante, focada demais nos papéis que apresenta e não me olhando diretamente. Minha paciência já está no limite.— Então, vamos começar, Adriano. O que temos aqui? Falo, a voz mais ríspida do que gostaria, forçando um controle que não sinto.Adriano responde sem hesitar, mas noto a tensão em seus ombros. Ele também está ciente de que algo não está certo, mas ainda não sabe o que exatamente.— Como já discutimos, o projeto dos hotéis está avançando. Mas precisamos tomar cuidado com os fornecedores. Eles estão começando a se sentir inseguros, e a
Engrenagens Quebradas e SegredosAlexandro Enquanto ela organiza seus papéis e se prepara para sair, percebo Catarina na porta. Ela parece preocupada, e algo no olhar dela me diz que ela sabe mais do que está revelando.As palavras caem como pedras na sala silenciosa. Aria sente seu rosto esquentar, mas nada diz. Ela apenas finge não se importar, mas por dentro está se destruindo. Ela quer gritar, quer sair dali, mas se mantém firme.Após a reunião, Alexandro se afasta para o quarto. Sua cabeça está cheia de frustração, mas algo na conversa ainda não sai de sua mente. Aria parece mais distante do que nunca, e isso o está corroendo por dentro. Ele não sabe o que está acontecendo, mas sabe que precisa controlar. Não pode deixar que ela e Adriano tirem ainda mais o controle de suas mãos.Mas o ciúmes, esse ciúmes que o consome, parece ser a única coisa que ele pode controlar.No andar de cima, Aria se sente cada vez mais desconfortável. Desde que começou a sentir os primeiros sinais d