CAPÍTULO 4

Thalia.

— Como chegou aqui? — Edson perguntou assim que entrei no apartamento dele.

— Eu consegui — eu sorri, me acomodando em seu confortável sofá — Começo na segunda-feira.

Naquela manhã, eu tive uma entrevista de emprego em uma das lojas de luxo no ringue e, graças ao meu inglês fluente, eu consegui o lugar disponível como vendedora naquela loja. O salário não era ruim e, se eu adicionasse as comissões, teria dinheiro suficiente para viver bem durante o ano e meio que faltava para completar 24 anos.

— Estou contente por você. — ter dito num tom plano e sem alegria.

— Não parece.

— Estudou para gerir o negócio da sua família, não para vender roupas, mesmo caras.

Edson não concordou comigo à procura de um emprego, ele disse que ele poderia manter-nos ambos perfeitamente até que chegou a minha hora de voltar para França, mas eu não queria abusar de sua boa vontade, fazendo-me mantido. Durante o primeiro ano na Inglaterra, preferi não tentar um emprego, temendo ser descoberta, mas, depois de todo o tempo sem que minha tia encontrasse o meu paradeiro, perdi o medo e o desejo de sair e fazer algo útil.

— Posso te emprestar o dinheiro que precisar até recuperar a tua herança, tenho a certeza de que me pagará todos os últimos centavos. — Ele olhou para mim esperançosamente, mas a minha decisão foi tomada.

— Aprecio, mas quero trabalhar e vou — O meu tom não admitiu réplica.

O dinheiro não era eterno e do que retirei do cartão de débito que a minha tia me deu quando saí da França, restavam somente 200 euros. Do dinheiro que retirei da minha conta poupança, não havia tocado num centavo, tinha-o bem guardado em caso de emergência.

No caso de você perguntar, Edson e eu não moramos no mesmo apartamento, embora vivemos no mesmo edifício. Éramos colegas de quarto por alguns meses, mas era impossível adormecer quando coloquei uma de suas conquistas em casa e seus gemidos me impediram de dormir à vontade.

 Quando um dos apartamentos no andar de baixo estava livre, eu vi o céu aberto e falei com o gerente do prédio para alugá-lo para mim. Edson estava tão incomodado com a minha mudança que ele não falou comigo por uma semana, mas quando a raiva passou, nos tornamos amigos como sempre.

— Você gosta de macarrão?

— Claro — respondi com um sorriso —, nunca rejeitaria um prato de massa preparado pelo meu melhor amigo.

Alimentando-me era a sua maneira de resolver as discussões e, entre continuar a lutar e comer algo delicioso, ele preferiu o segundo mil vezes. Edson me fez sentir amada e protegida, eu o via como aquele irmão mais velho que eu não tinha e não havia dia em que eu não agradecesse por tê-lo em minha vida. Desde que saí de França, ela cuidou de mim e se certificou de que eu me sentia confortável em seu apartamento e com sua companhia. A primeira coisa que eu faria assim que recebesse minha herança de volta seria compensar ele e minha babá, como eles mereciam.

Na segunda-feira, acordei cedo e vesti-me e fiz as pazes, como me indicam as instruções dadas pelo chefe da loja. Apesar da simplicidade do uniforme, era elegante e confortável. Verifiquei a minha mala, certificando-me de que não me esquecia de nada e, quando saí de casa, com o firme propósito de ter um grande dia.

Cheguei à loja com tempo suficiente para me apresentar aos meus colegas de trabalho, alguns deles ficaram felizes em ter ajuda extra, não os outros cinco. Logo depois, uma das garotas legais me disse que mais uma vendedora significava menos comissões. O trabalho era basicamente aconselhar potenciais compradores e tornar sua experiência na loja agradável. Sendo novo, eu tive que aceitar de bom grado ser enviado para a seção masculina.

De manhã, atendi dois clientes, o primeiro deles um homem com mais de cinquenta anos que me via como uma potencial candidata para ser sua amante e não se incomodou em propor isso.  Rejeitei sua grande oferta, mas fiz isso sem fazer o escândalo que o velho merecia.

— Fico lisonjeada — sorri falsamente, baixando a voz —, mas a minha última namorada foi infiel e colocou com uma doença que me impede… bem…

Eu quase deixei de lado o riso quando vi seu rosto horrorizado. Ela estava faltando pés para sair da loja e, embora ela não tenha comprado nada ou alcançado a minha primeira comissão, eu poderia estar satisfeito.

O segundo cliente era um jogador da Inter de Milão que precisava de um terno elegante e um par de camisas para montá-lo. Ele foi muito gentil e aceitou de bom grado as minhas sugestões. Quando saiu da loja, não o fez com um, mas com dois fatos e cinco camisas que iam bem com qualquer um deles, além de um par de gravatas e meias.

— Nada mal para o seu primeiro dia — o caixa disse-me, com um piscar de olhos.

Na hora do almoço, tive a oportunidade de conhecer melhor as garotas legais. Celina e Amanda. Aqui foi uma das grandes capitais da moda e, portanto, o lugar ideal para perseguir esse sonho em particular.

— E o jogador de futebol? — A Celina me perguntou.

— Foi ótimo.

— Nem toda a gente é assim, há alguns com uma mão demasiado longa — Amanda comentou.

— Espero não ter que lidar com um desses, já tive o suficiente com o velho que me propôs ser sua amante.

Elas riram em voz alta, como me livrei do velho.

Passei boa parte da tarde atendendo a uma mulher que não se decidia por uma camisa. Entre conversa e conversa, ela me disse estar economizando há meses para dar esse presente ao marido e que não poderia estar errada em escolher. No final, ela saiu com a promessa de voltar no dia seguinte. Era quase hora de sair quando um dos homens mais bonitos que eu havia visto desde que eu estava na cidade entrou na loja. Inglaterra era a cidade com os homens mais bonitos por metro quadrado, mas este tinha um ar exótico que poderosamente chamou minha atenção.

— Boa tarde! — cumprimentei-o com o meu melhor sorriso — Como posso ajudá-los?

— Em muitas coisas — respondeu com imprudência, olhando para mim da cabeça aos pés —, mas por enquanto uma camisa será suficiente.

— Alguma cor especial? — Perguntei, ficando sério.

— Aceito sugestões.

Virei as costas para eles e fui procurar as cores que eu achava que lhe convinha. Um deles me seguiu e me observou cada um dos meus movimentos de perto, fazendo-me sentir nervosa. No entanto, seus olhares atrevidos e sorrisos, longe de me fazer sentir nojo, me deixaram lisonjeada.

— Você é nova — foi afirmação.

— Comecei hoje — respondi, mostrando-vos a minha primeira sugestão.

— Eu gosto, mas é branco.

— O branco é sóbrio, elegante, vai bem com tudo — respondi, num tom persuasivo.

— Tem razão, mas no meu trabalho o alvo fica sujo muito facilmente.

— Nesse caso, vou procurar outra cor. — Virei as costas a ele mais uma vez e fui em busca das camisas em cores escuras.

— Não quero saber que trabalho? — Virei para ele, que estava muito perto da minha, para que eu pudesse apreciar o pequeno corte na sobrancelha direita.

— Não.

— De qualquer forma, vou dizer — Ele sorriu e pela primeira vez na minha vida senti as minhas pernas tremerem ao sorriso de um homem — Sou arquiteto.

— Bom para você. — respondi rapidamente, colocando distância entre nós.

Tirei uma camisa preta do cabide e, quando mostrei a ele, soltou uma risada que ecoou em todos os cantos do meu corpo.

— Preto? — Ele arqueou a sobrancelha.

— Com essa cor, a sujeira não é perceptível.

— Vou levar.

Eu o levei até o caixa e, por alguma estranha razão, fiquei ao lado dele enquanto pagava pela camisa feliz. Descobri que o nome dele era Inacio Montes. Suspirei, não sei se é um alívio, quando ele entrou pela porta da loja e saiu.

— Ele gostou de você, e vai voltar uma e outra vez só para te ver.

As palavras do meu parceiro tornara-se realidade três dias depois, quando Inacio entrou na loja e me procurou. Desta vez, ele queria uma jaqueta formal e demorou a decidir-se enquanto tentava saber mais sobre mim.

— Você concordaria em tomar um café comigo? — Ele perguntou, apontando para a jaqueta azul-marinho.

— Não — respondi, quando estava mesmo a morrer para dizer sim.

— Voltarei quantas vezes for necessário até que diga sim — ele prometeu-me e eu acreditei nele. E o que é pior, queria que ele cumprisse a sua promessa.

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