CAPÍTULO 6

Segunda-feira foi cansativa e, por volta da hora da partida, eu me vi desejando que Inácio parecesse continuar insistindo em sair comigo. Chame-me de idiota, mas fiquei desapontada quando ele não apareceu, nem nos dias seguintes. Na sexta-feira, quando verificamos que tudo estava em ordem dentro de nossas seções, Amanda me disse que na noite seguinte ela iria a uma festa com pessoas que poderiam impulsionar sua carreira de modelo.

— Espero ter sorte.

— Você vai ter e em poucos meses você estará em uma passarela, vestindo as roupas dos grandes designers — eu encorajei.

— Gostaria de se juntar a mim? — Pergunta de repente e olhei para ela sem saber se aceitava ou não.

— Onde estamos? — Ele sorriu para mim e eu sorri de volta para ela. A verdade é que a conheço muito pouco e eu gostei de ser considerada. Também Amanda gostava muito de mim.

******

Esse foi um dos meus dois sábados gratuitos por mês e, pela primeira vez em muito tempo, tive o prazer de fazer compras e fiz isso em uma loja de segunda mão, onde encontrei um vestido preto equipado com as costas expostas que eu amava. Foi perfeito para ir com Amanda para aquela festa e eu paguei muito pouco por isso. Eu também comprei um par de sapatos e me certifiquei de que eles estavam confortáveis.

Pouco antes de sair de casa para encontrar Amanda, Edson bateu na minha porta e, quando eu abri, ele olhou para mim com a boca aberta. Foi a primeira vez que eu me vi tão bem preparada, eu estava acostumada a me ver em roupas de trabalho ou roupas confortáveis andando pela casa.

— Vai sair com alguém? — Reparei numa certa acrimônia no seu tom.

— Sim, com uma amiga do trabalho.

— Por que não me falou nada? — Ele cruzou os braços sobre o peito, um peito que era pequeno, comparado com o do Inácio.

— Você me diz quando você está indo para a festa? — Apertou seus lábios — Não é verdade?

— Só espero que, se te levar, não largue a língua e acabe revelando o meu grande segredo com quem não devia.

Olhei para ele surpreso, tanto pelo tom quanto pela atitude. Ele entendeu e ficou surpreso ao me ver ir a uma festa pela primeira vez desde que cheguei à cidade, mas de forma alguma ele iria tolerar esse tom paterno, repreende-te. O único pai que eu tinha estava morto e eu tinha certeza de que, com o pouco que ele se importava, ele teria se importado se eu saísse para festa.

— Fico lisonjeado com a sua confiança em mim — soltou-o com ironia, deixando-o sozinho para ir à procura do casaco.

— Não que eu não confie em você, mas… — Ignorei o seu tom de arrependimento e a sua cara de cão espancada.

— Mas, nada. Vou à festa e não preciso de pedir permissão a ninguém. Caso não se lembre, não tenho pai, nem mãe, e ninguém a quem prestar contas pelas minhas ações —empurrei-o gentilmente para fora do meu apartamento e fechei, sem olhar para ele nem uma vez.

Eu gostaria naquele momento de ter percebido que sua atitude era o produto do ciúme e não sua preocupação com a minha segurança.

Determinada a não deixar essa discussão boba estragar minha noite, peguei um táxi e dei o endereço que Amanda me deu na noite anterior. Quando cheguei, ela estava esperando por mim na porta para entrarmos juntos. Entregamos nossos casacos na recepção e assim que colocamos os pés na sala de estar, um cara parecido com o galã de novela se aproximou de Amanda, a pegou pela cintura e a beijou de uma maneira que estava longe de ser decente.

— Você parece bom, mas você deveria ter feito mais impressionante, então você não vai impressionar ninguém. — O sorriso de minha amiga desapareceu.

— Menos, é mais — eu disse, chamando a atenção daquele idiota que até agora não me havia reparado.

— E quem é você? — Perguntado num tom suave.

— Ela é a amiga que eu disse que viria comigo — Amanda respondeu em um tom submisso de que eu não gostei um pouco.

— Também está interessada em ser modelo?

— Não.

O idiota estava prestes a dizer algo com o qual ele certamente pretendia me convencer a perseguir um sonho que não me interessava, quando os braços se envolviam em minha cintura por trás. O cheiro inebriante que soltou o corpo que ficou preso às minhas costas me deixou fora de ação por alguns segundos.

Assim que consegui reagir, virei o rosto ligeiramente e encontrei o sorriso de Inácio. Eu estava prestes a dar-lhe um empurrão para afastá-lo, mas seu olhar de advertência o fez entender que algo estava errado.

— Quanto tempo sem te ver? — O idiota sorriu nervosamente. — Marcos e eu recebemos o convite para a tua festa de noivado, mas ao ver beijando o amigo da minha namorada, decidi ir lá perguntar se o noivado continua de pé.

A mão de Amanda bateu no rosto daquele cara violentamente enquanto Inácio ria, aproveitando o show.

— Acabei de liberar seu amigo, de se tornar o amante do idiota — sussurrou no meu ouvido, vibrando todas as células do meu corpo —, você está em dívida comigo.

— Não me diga.

— Você diz — me corrigiu —, eu odeio que você me trate de você, você me faz sentir velho.

— Não me diga — repeti, tutando-o finalmente.

— Um compromisso será suficiente para pagar a sua dívida.

— Então, e se eu recusar?

— Não faça isso — ele me perguntou, segurando as mãos apertadas em volta da minha cintura.

Eu estava morrendo de vontade de aceitar, então, ignorando todas as razões pelas quais isso não me permitia criar laços duradouros com as pessoas, acabei desistindo.

— Quando? — Ele sorriu para mim como se tivesse acabado de lhe dar o céu e as estrelas.

— Está tudo bem para você amanhã? — Eu assenti.

Quando nos olhamos, o show que Amanda estava dando ficou em segundo plano. Ele não podia e não queria parar de me olhar nos olhos. Quando minha amiga ficou satisfeita com todos os t***s que deu ao idiota, ela nos pediu para levá-la para casa e assim que a deixamos lá, Inácio me levou para minha casa.

— Vou contar as horas que faltam para o nosso primeiro encontro — disse-me enquanto estendeu a mão para sair do carro.

— Primeiro e último — corrigi-o.

“Quem você quer enganar, um compromisso não será suficiente”, cantarolou minha consciência e muito para meu arrependimento, eu concordei. No fundo, eu queria que o primeiro encontro fosse seguido por um segundo, um terceiro e até um quarto.

— Veremos — sussurra, a colocar um beijo suave perto do canto da minha boca.

Eu não fiquei para ver seu carro se perder no final da rua, eu não queria mais inflar seu ego, mas quando minha cabeça tocou o travesseiro e meus olhos se fecharam, eu tive meu primeiro sonho com ele.

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