Segunda-feira foi cansativa e, por volta da hora da partida, eu me vi desejando que Inácio parecesse continuar insistindo em sair comigo. Chame-me de idiota, mas fiquei desapontada quando ele não apareceu, nem nos dias seguintes. Na sexta-feira, quando verificamos que tudo estava em ordem dentro de nossas seções, Amanda me disse que na noite seguinte ela iria a uma festa com pessoas que poderiam impulsionar sua carreira de modelo.
— Espero ter sorte.
— Você vai ter e em poucos meses você estará em uma passarela, vestindo as roupas dos grandes designers — eu encorajei.
— Gostaria de se juntar a mim? — Pergunta de repente e olhei para ela sem saber se aceitava ou não.
— Onde estamos? — Ele sorriu para mim e eu sorri de volta para ela. A verdade é que a conheço muito pouco e eu gostei de ser considerada. Também Amanda gostava muito de mim.
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Esse foi um dos meus dois sábados gratuitos por mês e, pela primeira vez em muito tempo, tive o prazer de fazer compras e fiz isso em uma loja de segunda mão, onde encontrei um vestido preto equipado com as costas expostas que eu amava. Foi perfeito para ir com Amanda para aquela festa e eu paguei muito pouco por isso. Eu também comprei um par de sapatos e me certifiquei de que eles estavam confortáveis.
Pouco antes de sair de casa para encontrar Amanda, Edson bateu na minha porta e, quando eu abri, ele olhou para mim com a boca aberta. Foi a primeira vez que eu me vi tão bem preparada, eu estava acostumada a me ver em roupas de trabalho ou roupas confortáveis andando pela casa.
— Vai sair com alguém? — Reparei numa certa acrimônia no seu tom.
— Sim, com uma amiga do trabalho.
— Por que não me falou nada? — Ele cruzou os braços sobre o peito, um peito que era pequeno, comparado com o do Inácio.
— Você me diz quando você está indo para a festa? — Apertou seus lábios — Não é verdade?
— Só espero que, se te levar, não largue a língua e acabe revelando o meu grande segredo com quem não devia.
Olhei para ele surpreso, tanto pelo tom quanto pela atitude. Ele entendeu e ficou surpreso ao me ver ir a uma festa pela primeira vez desde que cheguei à cidade, mas de forma alguma ele iria tolerar esse tom paterno, repreende-te. O único pai que eu tinha estava morto e eu tinha certeza de que, com o pouco que ele se importava, ele teria se importado se eu saísse para festa.
— Fico lisonjeado com a sua confiança em mim — soltou-o com ironia, deixando-o sozinho para ir à procura do casaco.
— Não que eu não confie em você, mas… — Ignorei o seu tom de arrependimento e a sua cara de cão espancada.
— Mas, nada. Vou à festa e não preciso de pedir permissão a ninguém. Caso não se lembre, não tenho pai, nem mãe, e ninguém a quem prestar contas pelas minhas ações —empurrei-o gentilmente para fora do meu apartamento e fechei, sem olhar para ele nem uma vez.
Eu gostaria naquele momento de ter percebido que sua atitude era o produto do ciúme e não sua preocupação com a minha segurança.
Determinada a não deixar essa discussão boba estragar minha noite, peguei um táxi e dei o endereço que Amanda me deu na noite anterior. Quando cheguei, ela estava esperando por mim na porta para entrarmos juntos. Entregamos nossos casacos na recepção e assim que colocamos os pés na sala de estar, um cara parecido com o galã de novela se aproximou de Amanda, a pegou pela cintura e a beijou de uma maneira que estava longe de ser decente.
— Você parece bom, mas você deveria ter feito mais impressionante, então você não vai impressionar ninguém. — O sorriso de minha amiga desapareceu.
— Menos, é mais — eu disse, chamando a atenção daquele idiota que até agora não me havia reparado.
— E quem é você? — Perguntado num tom suave.
— Ela é a amiga que eu disse que viria comigo — Amanda respondeu em um tom submisso de que eu não gostei um pouco.
— Também está interessada em ser modelo?
— Não.
O idiota estava prestes a dizer algo com o qual ele certamente pretendia me convencer a perseguir um sonho que não me interessava, quando os braços se envolviam em minha cintura por trás. O cheiro inebriante que soltou o corpo que ficou preso às minhas costas me deixou fora de ação por alguns segundos.
Assim que consegui reagir, virei o rosto ligeiramente e encontrei o sorriso de Inácio. Eu estava prestes a dar-lhe um empurrão para afastá-lo, mas seu olhar de advertência o fez entender que algo estava errado.
— Quanto tempo sem te ver? — O idiota sorriu nervosamente. — Marcos e eu recebemos o convite para a tua festa de noivado, mas ao ver beijando o amigo da minha namorada, decidi ir lá perguntar se o noivado continua de pé.
A mão de Amanda bateu no rosto daquele cara violentamente enquanto Inácio ria, aproveitando o show.
— Acabei de liberar seu amigo, de se tornar o amante do idiota — sussurrou no meu ouvido, vibrando todas as células do meu corpo —, você está em dívida comigo.
— Não me diga.
— Você diz — me corrigiu —, eu odeio que você me trate de você, você me faz sentir velho.
— Não me diga — repeti, tutando-o finalmente.
— Um compromisso será suficiente para pagar a sua dívida.
— Então, e se eu recusar?
— Não faça isso — ele me perguntou, segurando as mãos apertadas em volta da minha cintura.
Eu estava morrendo de vontade de aceitar, então, ignorando todas as razões pelas quais isso não me permitia criar laços duradouros com as pessoas, acabei desistindo.
— Quando? — Ele sorriu para mim como se tivesse acabado de lhe dar o céu e as estrelas.
— Está tudo bem para você amanhã? — Eu assenti.
Quando nos olhamos, o show que Amanda estava dando ficou em segundo plano. Ele não podia e não queria parar de me olhar nos olhos. Quando minha amiga ficou satisfeita com todos os t***s que deu ao idiota, ela nos pediu para levá-la para casa e assim que a deixamos lá, Inácio me levou para minha casa.
— Vou contar as horas que faltam para o nosso primeiro encontro — disse-me enquanto estendeu a mão para sair do carro.
— Primeiro e último — corrigi-o.
“Quem você quer enganar, um compromisso não será suficiente”, cantarolou minha consciência e muito para meu arrependimento, eu concordei. No fundo, eu queria que o primeiro encontro fosse seguido por um segundo, um terceiro e até um quarto.
— Veremos — sussurra, a colocar um beijo suave perto do canto da minha boca.
Eu não fiquei para ver seu carro se perder no final da rua, eu não queria mais inflar seu ego, mas quando minha cabeça tocou o travesseiro e meus olhos se fecharam, eu tive meu primeiro sonho com ele.
Inácio.Eu não sabia o que esperar daquele primeiro encontro com Thalia, mas eu faria o que fosse preciso para impedi-la de rejeitar um segundo. Nosso encontro na noite anterior foi obra do acaso, Paulo estava envolvido com sua amiga, me deu a desculpa perfeita para me aproximar dela e, aliás, salvar sua amiga de se tornar a amante do turno daquele idiota. Eu ainda podia sentir o calor de sua pele, o cheiro delicioso que seu cabelo emitia e o ritmo acelerado de sua respiração.Eu gostei, eu não tinha dúvidas, mas as palavras que ela me disse no dia em que me encharcou e com a palavra na boca naquela cafeteria estavam frescas na minha memória. Talvez por isso tenha preferido não entrar na loja na semana anterior. Juro que estava prestes a desistir de meus esforços para conseguir um encontro com ela, mas o destino queria que nos víssemos novamente e eu tomei como o sinal de que eu precisava para continuar.— O que está fazendo acordado tão cedo no domingo? — Marcos perguntou assim que p
ThaliaInácio não apareceu na loja a semana toda e tão pouco ligou e eu pensei que depois do nosso primeiro encontro ele não teve mais vontade. Eu não sabia se deveria ficar aliviada ou desapontada, por não ter que mentir e pular coisas da minha vida anterior e desapontado porque eu realmente pensei que queria outro encontro.— Que planos tem para esta noite? — Celina perguntou-me, a quem já considerava minha amiga.—Chuveiro quente, jantar e cama —Eu respondi, como se esse fosse o melhor plano do mundo para uma noite de sábado.—Vamos comer algo delicioso quando o nosso dia acabar ... Ou talvez —sussurrou, olhando por cima do ombro.— Por que não?—Porque tenho outros planos, alguns que tenho bastantes.A própria bruxa drenou o caroço no momento em que senti a presença do Inácio atrás de mim. Eu me virei lentamente, acreditando que fazer dessa maneira faria o impacto de vê-lo novamente menos, mas eu estava completamente errada. Eu tinha certeza de que meu coração sempre pularia uma
Inácio.A vida tem uma maneira muito cruel de fazer você ver a realidade e tirar seus sonhos. Só a dor que senti anos atrás, quando soube que minha mãe estava morta, era comparável ao que senti quando descobri que a mulher que amava roubou o projeto em que eu havia planejado por meses, para dá-la ao amante.Um negócio relacionado à empresa que meu pai herdou de meu irmão e de mim, me forçou a ficar na França por mais de uma semana. Durante nossas ligações noturnas, Thalia parecia um pouco desconfortável, como se algo o preocupasse e, pouco antes de cortar, ele me disse que tinha algo muito importante para me dizer, mas que não podia fazer isso pelo telefone, que me contaria assim que voltasse. No meu regresso à Inglaterra, nem tive tempo de falar com ela, pois uma chamada dos organizadores do concurso obrigou-me a viajar. A pessoa que me ligou disse-me que eu deveria relatar a primeira coisa no dia seguinte ao escritório do diretor do museu para discutir um assunto muito importante.Q
Ele já havia perdido a conta dos copos que bebia, tentando esquecer pelo menos por um momento a traição da mulher que ama. Inácio nunca se permitiu sentir amor por uma mulher até que ela cruzou seu caminho, com seu rosto angelical e sua voz doce. Seu amor por aquela mulher era tão grande que ele se permitiu imaginar uma vida inteira ao seu lado. Acreditando sinceramente que poderia seguir os passos de seu irmão mais velho e formar uma família feliz, seus sonhos e objetivos profissionais empalideceram na frente de seus sonhos com ela.— Maldito mentirosa! — Gritou, atirando a garrafa contra a parede e vendo como ela se partiu em milhares de pedaços e o licor molhou o tapete.— Inácio! Para!Marcos o parou antes de pegar outra garrafa do frigobar. Até então, ele deixara de processar a dor da traição sem intervir.— Por que não me disse que amar tanto doía? — Murmurou com um olhar perdido.— Amar não faz mal, meu irmão—respondeu sentado ao lado —, o que dói é que você falhou.— Devo ter
França, três anos antes de tudo...Minha vida mudou e não exatamente para melhor quando minha mãe faleceu tentando trazer para o mundo meu irmão que eu tanto desejava. Papai caiu em uma depressão profunda e, embora ele me amasse, preferiu não me ver. Parecia tanto com minha mãe que minha presença o fez lembrar o que ele perdeu. Pensei que, com o tempo, ele pararia de ver minha mãe em mim e retomaríamos o bom relacionamento que sempre tivemos, mas isso não aconteceu. Nem um mês se passou quando sua irmã viúva se mudou para nossa casa e assumiu o controle de tudo.Eu, que era uma filha amada e mimada por meus pais, de um dia para o outro eu estava trancada em um internato. Quando o pai anunciou a sua decisão de me mandar para a Inglaterra, não pude ignorar o sorriso sorrateiro da infeliz da minha tia. Eu não tinha dúvidas de que ela plantou a ideia de me mandar para aquele internato com a desculpa de que eu teria uma boa educação e seria bem atendida. Lembro-me de chorar até adormecer,
Thalia.As horas de voo, somadas à rota entre o aeroporto, só serviram para fazer minha mente imaginar os piores cenários. A esperança era uma daquelas emoções que raramente me permitiam sentir. Quando o carro parou na porta da clínica, eu torci o gesto quando vi minha tia.— Como está? — Perguntei sem sequer cumprimentá-la.— Vou ignorar a tua má educação, mas só que desta vez —avisou-me, virando as costas para mim para segui-la.Naquela hora, eu a odiava muito mais do que antes, ela era a culpada por se afastar do meu pai e ninguém me faria acreditar no contrário. Segui-a por um longo corredor até chegar a uma sala onde um médico estava esperando por nós e, a julgar pela expressão sombria em seu rosto, ela não tinha nada de bom a dizer.— Esta é a sua filha, —acabou de chegar e o homem.— Vai recuperar? O médico olhou para a minha tia, como se pedisse permissão para me dar informações sobre a condição do meu próprio pai. Eu odiava o controle que a bruxa exercia sobre todos ao seu r
Thalia.Uma semana após o funeral, eu estava há poucos minutos para saber sobre o último testamento do meu pai. Eu não me sentia segura, muito menos confiante, algo me dizia que era impossível para mim colocar em minhas mãos jovens a herança acumulada pelos meus pais.— Vamos começar? — disse o advogado, arrumando os óculos.Além da minha tia, os funcionários mais velhos da casa estavam presentes no escritório, quatro ao todo, incluindo minha babá, que me olhou com preocupação. Isso deve ter sido suficiente para eu perceber que eu não ia gostar do conteúdo desse testamento.— Eu, Taylor Fontes, em pleno uso das minhas faculdades mentais, decidi distribuir a minha herança da seguinte forma: aos meus fiéis funcionários será atribuída a soma de cem mil euros, uma soma que espero que os ajude a ter uma velhice tranquila e desfrutar da sua família.Minha tia apertou os lábios, como se não gostasse que os funcionários recebessem uma quantia que lhes permitisse melhorar suas vidas e poder ce
Thalia.— Como chegou aqui? — Edson perguntou assim que entrei no apartamento dele.— Eu consegui — eu sorri, me acomodando em seu confortável sofá — Começo na segunda-feira.Naquela manhã, eu tive uma entrevista de emprego em uma das lojas de luxo no ringue e, graças ao meu inglês fluente, eu consegui o lugar disponível como vendedora naquela loja. O salário não era ruim e, se eu adicionasse as comissões, teria dinheiro suficiente para viver bem durante o ano e meio que faltava para completar 24 anos.— Estou contente por você. — ter dito num tom plano e sem alegria.— Não parece.— Estudou para gerir o negócio da sua família, não para vender roupas, mesmo caras.Edson não concordou comigo à procura de um emprego, ele disse que ele poderia manter-nos ambos perfeitamente até que chegou a minha hora de voltar para França, mas eu não queria abusar de sua boa vontade, fazendo-me mantido. Durante o primeiro ano na Inglaterra, preferi não tentar um emprego, temendo ser descoberta, mas, dep