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O paraíso de Destiny
O paraíso de Destiny
Por: Nikka fuza
Uma viagem cansativa

Ethan

Eu não podia acreditar que estava embarcando de uma vez, aquela viagem havia se tornado um inferno. Na teoria, era para eu desembarcar no aeroporto de Lihue, Hawaii, treze horas depois de ter embarcado em Boston, onde eu vivia. Porém, após uma série de atrasos, escalas, e uma espera de sete horas no Aeroporto Internacional de Los Angeles pelo último voo da noite, meu único desejo era que as próximas seis horas passassem depressa para que eu pudesse tomar um banho, dormir em uma boa cama, e quem sabe, demitir minha assistente por toda aquela confusão.

Apesar da exaustão eu tinha consciência de que não conseguiria dormir no avião, eu nunca conseguia. Ignorei o sorriso da comissária que me recebeu, e fui até minha poltrona, observando a aeronave deserta.

A grande maioria das pessoas que embarcaram seguiram para a primeira classe, eu me acomodei em meu lugar abrindo o livro que trouxe para me distrair durante a viagem, me concentrando na leitura.

Após alguns minutos, notei uma movimentação ao meu lado, desviei minha atenção do meu livro por um momento e pude ver uma jovem mulher que se esticava para guardar a mala no compartimento superior, seus cabelos castanhos caiam em ondas até metade de suas costas, ela tinha um belo corpo, pequeno e magro, mas não de maneira excessiva. Suas curvas eram proporcionais à sua estatura, com uma bela bunda destacada pela calça justa que ela vestia.

— A senhorita precisa de ajuda? — A comissária se aproximou ao notar a dificuldade da mulher.

— Não é necessário, eu só preciso alcançar — Ela garantiu virando o rosto, permitindo que eu tivesse uma visão de seu perfil.

Era uma bela mulher.

Não pensei muito antes de me levantar e fechar a porta do compartimento que ela tinha dificuldade em alcançar. Ela se virou em minha direção parecendo surpresa, antes de sorrir.

— Obrigada.

Seu rosto era de uma beleza incomum, a pele bronzeada, nariz fino e uma boca bem desenhada. Seus olhos verdes bem marcados pela maquiagem, exibiam um brilho de astúcia e alegria, que me deixou um pouco desconfortável enquanto me avaliava.

— Não tem de que — Eu garanti, me acomodando mais uma vez em meu assento.

Eu voltei a me concentrar no livro e esquecer a presença daquela mulher. O voo em si estava vazio, além de nós dois, tinha apenas meia dúzia de passageiros espalhados pela cabine da classe econômica, e para meu alívio, não demoramos a decolar.

— Eu odeio decolagens — A voz feminina fez com que eu desviasse mais uma vez a atenção do meu livro.

— Como? — Eu franzi o cenho enquanto a jovem me observava com curiosidade.

— Eu disse que odeio decolagens — Ela repetiu, mexendo em sua bolsa.

Por que ela está falando comigo?

— Você não se incomoda? — Ela insistiu ao notar que eu não falaria nada.

Eu ergui mais uma vez meus olhos em sua direção, sendo presenteado com um de seus sorrisos exuberantes.

— Não — dei de ombros antes de voltar a ler.

— Ok — Ela soltou baixo.

Creio que agora ela desistirá de tentar conversar. Sim, ela é bonita, mas não estou no meu melhor humor no momento, e não me sinto tão à vontade conversando com estranhos.

Eu me permiti absorver mais uma vez pela leitura, esquecendo a presença daquela estranha mulher, porém aquilo não durou mais do que uma hora. Um barulho acabou atraindo minha atenção, eu olhei de novo em direção a ela, apenas para vê-la se endireitar, segurando uma câmera fotográfica.

Ela só pode estar brincando comigo!

— Desculpe, você acabou de tirar uma foto minha? — Eu respirei fundo.

— Sim, você quer ver? — Ela ofereceu com naturalidade.

— Não, e você não pode tirar foto de estranhos — Eu tentei manter minha voz baixa, dedicando minha total atenção a ela pela primeira vez desde que entramos no avião.

— Estranho é uma palavra muito forte, eu prefiro o termo "desconhecido" — Ela me provocou — Além disso foi apenas uma foto, não pude resistir, é o que eu faço.

Eu desci meus olhos até a grande câmera que descansava em suas pernas. Aquilo deve ter custado uma fortuna, na poltrona ao seu lado um estojo estava aberto.

— Você é fotógrafa? — Eu questionei com curiosidade.

— Sim — Ela respondeu sem convicção após uma leve consideração — Creio que o termo possa ser aplicado, e eu posso te dar a foto, se você quiser.

— Eu ainda prefiro que você apague a foto — Eu pedi, voltando minha atenção para meu livro.

— O que você está lendo? — Ela perguntou, fazendo com que eu lhe lançasse um olhar exasperado — É a última pergunta, eu prometo.

Eu me limitei a erguer a capa do livro para que ela mesmo conferisse, torcendo para que me deixasse em paz depois disso.

— Victor Hugo... Isso sim é uma surpresa — Ela franziu o cenho antes de erguer os olhos em direção aos meus — Eu nunca adivinharia.

A garota encostou na poltrona, de e passou a concentrar sua atenção em sua câmera, demonstrando que de fato não falaria mais nada. Eu agradeci mentalmente e voltei a ler, mas não conseguia mais me concentrar nas palavras ali escritas.

— Por que não? — Eu questionei, chamando a atenção da mulher.

— Por que não o que? — Ela me olhou confusa.

— Por que você não adivinharia? — Eu fechei o livro.

— Você já se olhou no espelho? — Ela zombou.

— Qual o problema? — Eu avaliei o modo como estava vestido, uma calça social escura com uma camisa branca sem gravata.

— Você parece mais um executivo entediado do que alguém que está prestes a passar as férias em um lugar incrível — Ela explicou.

— E quem disse que estou de férias? — Eu ergui uma sobrancelha.

— Então você é um executivo entediado? — Seu sorriso aumentou com o brilho em seu olhar.

— O que você acha que eu deveria estar lendo? — Eu decidi ignorar a provocação.

— Algum livro sobre a dominação mundial no mundo financeiro? Não sei, qualquer coisa menos o corcunda de Notre Dame — Ela franziu a testa voltando a mexer na câmera.

— Esse livro não existe, além disso, o corcunda de Notre Dame é um clássico — eu não pude conter um meio sorriso perante aquela ideia absurda.

Ela não pensou antes de apontar a câmera em minha direção e tirar outra foto.

— Essa ficou ótima, você devia sorrir mais vezes — Ela sorriu.

— E você não deveria tirar fotos de desconhecidos — Eu revirei os olhos, voltando a abrir o livro, apesar de não conseguir me concentrar.

— Sinto muito Sr Executivo, não tirarei mais nenhuma foto — Ela prometeu.

— Obrigado.

— Se você não está indo de férias para Kauai, está indo fazer o que? — Ela prosseguiu no assunto, me fazendo fechar o livro de novo.

— É uma viagem a trabalho, minha empresa está me enviando e...

— Eu não sabia que contadores eram enviados a trabalho para o Hawaii — Ela franziu o cenho, se acomodando de lado na poltrona, a reclinando enquanto me observava.

— Por que você pensa que eu sou um contador? — Eu ergui uma sobrancelha, notando uma reação perante aquele gesto.

Ela gostou disso?

— Na verdade eu pensei na profissão mais chata que eu poderia imaginar e... — Ela deu de ombros.

— Eu não sou contador, na verdade eu trabalho com publicidade.

Aos vinte e oito anos eu era o mais jovem publicitário do grupo Zelner e finalmente havia conseguido um trabalho significativo. Eu estava liderando a equipe que cuidaria do lançamento de uma nova marca de Rum. Nós conseguimos um acordo com um resort em Kauai para fazer a festa de lançamento, e durante a semana a única marca utilizada em qualquer coquetel seria a Deep Ocean.

— Sr Publicitário então — Ela brincou bocejando. — Você está vindo de onde?

— Boston.

— Eu estava lá perto, Pennsylvania — Ela se aninhou um pouco mais na poltrona — Não via a hora de voltar para Kauai.

Voltar? Ela costuma frequentar a ilha? Talvez venha todos os anos para as férias, será que ela vai se hospedar no mesmo hotel que eu?

— Suponho que não seja sua primeira vez no Hawaii então — Eu tentei descobrir mais.

— Definitivamente não é — Ela fechou os olhos — é a sua?

— Sim — Eu a observei deitada ali de olhos fechados.

— Você vai adorar aquele lugar — Ela garantiu sem abri-los.

Depois disso, decidi deixá-la descansar, voltando a me concentrar em meu livro pelo resto da viagem, estranhando um pouco o silêncio que o seu sono proporcionava.

Já era de madrugada quando o avião pousou no aeroporto de Lihue, a garota havia sido acordada por uma comissária para o pouso, mas ainda parecia um pouco perdida quando deixei a aeronave. Após conseguir minha mala, eu saí do aeroporto à procura de um táxi.

O lugar estava deserto, as pessoas que desembarcaram comigo pareciam ter contratado um transporte particular até o hotel, coisa que minha assistente não pensou em fazer.

Eu voltei para o saguão do aeroporto, procurando algum lugar onde eu pudesse alugar um carro, aquela não era uma opção viável para mim, já que não planejava sair do hotel, mas não via outra alternativa.

— Está perdido, Sr Publicitário? — Ouvi a voz feminina atrás de mim enquanto eu buscava informações sobre o aluguel de carros.

— Não me chame assim — Eu observei a mulher, que tinha os cabelos levemente despenteados e uma expressão de sono.

— Desculpe então, Sr desconhecido — Ela piscou — Está perdido?

— Não me chame de desconhecido — Eu revirei os olhos.

— Eu não sei o seu nome, como eu devo te chamar então? — Ela cruzou os braços me lançando um olhar desafiador.

— Ethan Roberts — Estendi minha mão, notando pela primeira vez que não havia me apresentado e tampouco sabia seu nome.

— Destiny De Ângelis — Sua pequena mão sumiu entre a minha.

— Destiny, como… o destino? — eu franzi o cenho, estranhando aquele nome.

— Ah, como se eu nunca tivesse ouvido essa cantada antes. Mas sim, você pode me chamar de "o seu destino" — ela piscou para mim, ainda sorrindo.

— Não foi uma cantada, eu apenas achei seu nome… diferente.

Eu me contive antes de falar que seu nome era estranho para mim.

— Não é a primeira vez que ouço isso também — ela riu — acho que meus pais estavam em uma onda meio hippie quando eu nasci, ou algo do tipo. Mas você pode me chamar de Dess, é melhor.

Eu aceitei sua sugestão com um pequeno aceno afirmativo com a cabeça.

— E então, está perdido?

— Eu não encontrei um Táxi.

— Táxi a essa hora? Está brincando, não é? — Ela zombou — Você não contratou o serviço de transporte do hotel?

— Minha assistente não pensou nisso — Eu expliquei — Você sabe onde eu posso alugar um carro?

— Você pretende dirigir de madrugada pela ilha sem sequer conhecer o lugar?

— Eu não tenho muitas alternativas, você sabe onde fica ou não?

— Vamos — Ela revirou os olhos sorrindo, como se eu estivesse sendo ridículo.

Ela começou a caminhar, arrastando sua mala de rodinhas atrás de si enquanto equilibrava a mala menor em seu ombro, sem sequer confirmar se eu a estava seguindo, eu logo me pus em movimento, a alcançando com facilidade.

— Onde estamos indo? — Eu questionei.

— Em qual hotel você se hospedou? — Ela perguntou.

Talvez ela tenha contratado o serviço de transporte e consiga me incluir.

— O St Regis.

— Perfeito — Ela sorriu parando em um quiosque de doces que tinha ali.

O atendente logo se aproximou a cumprimentando com um sorriso enquanto ela se inclinava para escolher os doces.

— Eu quero três tortinhas, três Butter Mochi e dois cupcakes de abacaxi invertido — Ela pediu antes de se virar para mim — Você quer algo?

— Não — Ela não pode apenas me falar para onde eu devo ir?

— Tem certeza? — Ela se endireitou — Você que vai pagar.

— Eu vou pagar? — Eu me surpreendi.

— Mais dois cupcakes — Ela decidiu.

— Por que eu pagaria por seus doces? — Eu respirei fundo.

— Você não espera que eu te leve até o hotel de graça, espera? — Ela arqueou as sobrancelhas enquanto o rapaz separava o pedido.

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