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Um encontro no trabalho

Destiny

Eu observei o menino em meu colo sem saber o que fazer com ele. Suponho que eu deva conversar com ele.

— Aloha Ragazzino¹ — Eu murmurei não obtendo resposta — Você deveria falar algo.

O menino continuou em silêncio.

— Você sabe falar, Danny? Quanto anos você tem?

Ele ergueu a mão me mostrando três dedos com certa dificuldade.

— Ótimo, você me entende, isso é um bom começo — Eu revirei os olhos enquanto caminhava até uma poltrona vazia no saguão do hotel.

Eu me sentei ali, colocando o menino no chão antes de me livrar da minha bolsa para pegar o protetor solar na dele.

— Eu devia ter feito Tim carregar minhas coisas — Eu murmurei lendo as instruções do protetor — Eu tenho que passar isso em você a cada duas horas? Sério?

Ele confirmou com a cabeça.

— Pelo menos você não é uma praga — Eu dei de ombros enquanto tirava a camisa do menino, o deixando apenas com a bermuda que usava, espalhando o protetor de forma adequada em sua pele.

Assim que terminei minha tarefa, eu peguei as duas bolsas, a mão do menino e o guiei com cuidado em direção a praia. Eu me sentei em uma espreguiçadeira e acomodei o menino que permanecia calado na minha frente.

— Vamos, você deve saber falar algo. Você sabe falar? — Eu questionei — Você precisa falar, porque eu não pretendo ficar presa por horas com alguém que não fala nada, já não basta o voo de ontem.

O menino continuou me observando sem abrir a boca.

— Oi... Você consegue dizer isso? Oooi — Eu repeti devagar, pegando um brinquedo de borracha em sua bolsa e aproximando de seu rosto.

O menino se limitou a pegar o brinquedo e se distrair com ele, aumentando minha frustração. Eu joguei meu corpo para trás, me deitando de uma forma desconfortável na espreguiçadeira, escondendo meu rosto com as mãos.

Ele não podia ser uma peste hiperativa como uma criança normal? Pelo menos eu teria o que fazer. Eu me endireitei alcançando a câmera em minha bolsa, Danny permanecia distraído com o brinquedo, o que me rendeu algumas boas fotos, mas logo o tédio voltou a me acometer.

— Será que esqueceram de me avisar alguma coisa sobre você, baixinho? — Eu o observei. — Por favor, fale comigo.

Silêncio.

— Tudo bem, pelo menos brinque na areia como uma criança normal — Eu murmurei, o tirando da espreguiçadeira — Vamos, pode comer um pouco também, eu não me importo.

Com sorte o toque do meu celular acabou atraindo minha atenção, me distraindo um pouco.

— Aloha Makua² — Eu sorri observando o menino.

— Eu já te falei que não é porque você está morando no Hawaii que precisa falar dessa forma — Vito reclamou.

— Faz tempo que você não me liga — Eu ignorei sua queixa.

— Eu apenas quero saber como foi sua viagem — Ele desconversou.

— Foi a mesma coisa de sempre.

— Ela tentou te convencer a voltar? — Ele perguntou.

— É claro que sim, fazer uma faculdade, ter um objetivo na vida — Eu sorri, olhando para o céu.

— Você não acha que ela pode ter razão? — Ele questionou depois de um momento em silêncio

— Ela te ligou, não foi? — Eu gemi — Qual é, achei que você me apoiasse nisso, Papà.

— Eu apoiava quando pensava que você queria passar alguns meses de férias no Hawaii — Ele murmurou — Ela me disse que você está passeando com cachorros em troca de dinheiro.

— Eu faço muito mais do que isso — Eu reclamei.

— Eu apoiei tudo isso, até desocupei a casa para você, Dess, mas se você quer viver uma vida de festas não poderia fazer isso em uma grande cidade ou vir morar em Milano comigo? — Ele sugeriu — Você não precisa trabalhar, apenas se forme em administração, e vamos seguir a vida.

— Eu estou seguindo minha vida, e estou feliz com a forma que as coisas estão — Eu apontei — Eu não preciso de um diploma.

— Um dia você vai herdar tudo o que eu tenho, não acha que deveria saber administrar?

— Eu cansei desse assunto — Eu o cortei.

— Tudo bem, me diga como foi o voo — Ele desistiu.

— Foi interessante, apesar de eu ter que ficar importunando um cara ao meu lado pra que ele não me deixasse falando sozinha — Eu reclamei.

— As pessoas nem sempre gostam de conversar com desconhecidos, Destiny.

— Pai, quem não gostaria de conversar comigo? — Não pude evitar de gargalhar antes de me lembrar do pequeno Danny que permanecia sentado no mesmo lugar que eu o coloquei antes.

— Tenho certeza que um homem acabaria criando algum interesse — Eu quase podia vê-lo revirar os olhos.

— Foi mais difícil do que eu esperava, e no fim só consegui descobrir o nome dele — Eu reclamei — O que foi um desperdício.

— Destiny, por mais que eu te ame, a sua vida sexual não me interessa nem um pouco, na verdade eu ainda prefiro imaginar que ela seja inexistente — Ele reclamou.

— Quando você vem me visitar, Papà? — Eu questionei, sentindo uma pontada de esperança começar a crescer em mim.

— No natal — Ele prometeu — Eu tenho alguns problemas pra resolver, estou atolado e..

— Nós estamos em Julho, Vito — Eu o cortei — Faltam meses para o natal!

— Você poderia vir me visitar, você sempre visita a sua mãe — Ele reclamou.

— Eu vou desligar, eu estou cuidando de um bebe hoje e ele precisa de mim — Eu o cortei — Aloha.

— Eu tentarei aparecer antes, Principessa. Apenas seja paciente com seu velho pai.

— Sempre fui — murmurei antes de encerrar a chamada.

Eu passei alguns momentos observando o menino enterrando o brinquedo na areia antes de decidir guardar meu celular e voltar para o hotel com ele.

— Ele sempre promete a mesma coisa — Eu confessei a Danny — Ele sempre vai aparecer no natal, ou na páscoa, ou no meu aniversário e no fim...

Recolhi suas coisas antes de pegá-lo no colo para me mover com mais agilidade. Nós tivemos uma manhã mais ou menos interessante, eu o levei em cada atração infantil disponível antes do almoço, e tentei arrancar uma palavra do menino de qualquer forma, mas foi tudo em vão.

Quando enfim nos sentamos no restaurante, eu me sentia exausta. Porque ele não fala comigo? Eu sou tão ruim com crianças?

Pelo menos está vivo!

Eu chequei sua lista de restrições alimentares antes de fazer seu pedido, será que ele sabe comer sozinho? Ou terei que alimentá-lo?

Assim que o garçom se afastou algo chamou minha atenção. Em uma mesa em um dos cantos mais escondidos do restaurante estava ele. Ethan.

Na noite anterior não pude apreciar de forma adequada sua beleza, mas agora... Aquele ar cansado havia desaparecido, dando lugar a uma expressão segura e determinada. Seus cabelos bem arrumados e seu terno, que parecia ter sido feito sob medida, fazia toda aquela curiosidade da noite anterior voltar a tomar conta de mim. Ele segurava um tipo de arquivo e lia com atenção o que quer que estivesse escrito ali, enquanto comia.

Ao me lembrar das fotos que imprimi mais cedo, abri minha bolsa depressa, pegando as duas, escolhendo por fim a que ele estava sorrindo.

— Eu sei que deveria deixá-lo em paz, mas eu não quero — Confidenciei ao pequeno Danny — Você entende?

Saquei uma caneta perdida de dentro da bolsa, escrevendo um pequeno bilhete atrás da fotografia.

"Por favor, me diga que você trouxe algo além de roupas sociais. Nós estamos no Hawaii, pelo amor de Deus!!

Como eu disse, você deveria sorrir mais vezes. Combina mais com você, Sr Publicitário."

Eu chamei o garçom de volta, pedindo para que entregasse a foto para Ethan, sentindo a ansiedade começar a tomar conta de mim a cada passo que o rapaz dava, se aproximando da mesa.

— Isso foi uma loucura, não foi? — Eu sorri para Danny, com a chegada de nossos sucos.

— Sim — Ele permitiu pela primeira vez que eu ouvisse sua voz.

Eu o encarei atônita por alguns momentos, esquecendo o que tinha acabado de fazer. Depois de horas, ele finalmente falou comigo?

Ou estou alucinando pela solidão?

— Você fala! — Eu exclamei — Não acredito, o que mais você sabe falar?

Ele voltou a me encarar em silêncio, me dando vontade de gritar.

— Ok Danny, vamos treinar — Eu pedi com o máximo de paciência que encontrei — Fale Aloha.

Silêncio.

— Cazzo³! — Eu exclamei irritada.

Ele tinha que falar alguma coisa, qualquer coisa...

— Cazzo — Ele repetiu me observando.

Ok, qualquer coisa menos isso!

— Ahhh sabia, você fala! — Foi minha primeira reação — Mas você é um menino educado, não deve falar isso.

— Cazzo — Ele insistiu.

— Aloha — Eu tentei — Diga Aloha.

— Cazzo...

— Esquece essa palavra, Danny — Eu pedi.

— Cazzo...

— Então, quando você falou sobre pai ausente ontem, você estava se referindo ao pai do seu filho? — uma bela voz masculina surgiu atrás de mim.

— Hey, Sr Publicitário — Eu abri o meu melhor sorriso ao me virar e encontrá-lo em pé atrás de mim.

— Você está me seguindo? — Ele ergueu uma sobrancelha, fazendo com que eu prendesse a respiração por um segundo.

Ele tem ideia de como fica sexy fazendo isso?

— Eu sou inocente — Ofereci meu melhor sorriso.

— Cazzo — O menino repetiu, fazendo com que eu respirasse fundo.

— Danny, agora não — Eu pedi.

— Danny... — Ele observou o menino sem muita reação — E quanto a parte do inocente, eu duvido muito.

— Eu estou aqui trabalhando, Ethan — Meu sorriso aumentou ao notar seu olhar em meu decote, como permaneci sentada, ele tinha uma visão privilegiada daquela área. — Sinto lhe decepcionar.

— Trabalhando?

— Sim, conheça Danny — Eu apontei — Ou como eu gosto de chamá-lo, quinhentos dólares fáceis de hoje.

— Eu não entendi — Ele alternou o olhar entre nós dois parecendo confuso.

— Eu sou a babá dele hoje — Eu expliquei — Você quer sentar?

— Não — Ele franziu o cenho — Eu vou voltar para minha mesa, tenho trabalho a fazer.

— Ohh — Eu fiz um pequeno beicinho, me sentindo um pouco desapontada.

— Talvez você queira ficar com isso, já que gostou tanto do meu sorriso — Ele colocou a fotografia em cima da mesa antes de se afastar, me irritando um pouco com aquele gesto.

Ele pensa mesmo que vai fugir assim?

Nossa comida chegou e eu acabei me dividindo entre alimentar Danny e observar o homem sentado em sua mesa, fingindo estar concentrado em seu trabalho, apesar de seu olhar se encontrar com o meu de tempos em tempos.

Eu voltei a pegar a caneta complementando o bilhete de antes.

"Não se preocupe, eu posso imprimir uma cópia dessa foto. Quando você se cansar de ser tão rabugento e repelir qualquer um que se aproxima, perceberá que acabou sozinho, Ethan."

Eu peguei Danny no colo, fazendo questão de passar por sua mesa para sair do restaurante, sentindo seu olhar acompanhar meus movimentos. Eu deixei a foto novamente em sua mesa, oferecendo um sorriso a ele antes de sair.

Minha única tarefa agora é fazer esse menino falar alguma outra coisa.

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¹ menininho em italiano

² Olá pai em havaiano.

³ caralho em italiano

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