Era impossível negar que eu estava apaixonada por Kevin. Meu desejo era conhecer não só seu corpo, mas seus desejos e sonhos. E ser desbravada também. A biblioteca era um lugar propício para isso.Meu mauricinho de Beverly Hills era um ponto fora da curva. Ele era diferente dos outros mauricinhos que eu havia conhecido ali, e as coisas estavam caminhando para algo que eu não sabia o que era, e que me assustava ao mesmo tempo em que me fascinava. Um playboy intelectual era um misto de dois estereótipos que, combinados, criara a criatura mais sexy que eu já havia conhecido.Queria desvendá-lo, abri-lo como um leitor abre um livro, e mergulhar em suas entrelinhas. Era isso que ele era, um belo livro, do gênero romance com nuances de erotismo.– Quero te fazer uma pergunta – disse ele quebrando o silêncio do alívio. Suas palavras não eram incômodas, mas eu gostava da ausência de sons na biblioteca. Entretanto, um segundo barulho nos retirou daquele momento. A sensação de calmaria invad
A carta para minha irmã levou meia hora para ser escrita e três páginas do caderno que eu levara para anotar as frases novas que aprendia em inglês. Acabei me empolgando na narrativa, mas conforme já disse, poupei Ester de detalhes íntimos demais. Eles eram segredo entre Kevin e eu.Três batidas na porta dele: foi o que fiz pela manhã. Uma ousadia tentar adentrar um ambiente até então desconhecido? Talvez, mas nós já tínhamos intimidade o bastante para que eu conhecesse seu quarto, afinal tinha visto coisas bem mais... íntimas. E estou falando da biblioteca, que fique claro.Kevin abriu com os olhos semicerrados, sem camisa e vestindo uma cueca samba canção que deixava seu membro marcado. Uma combinação que poderia ser explosiva se eu não estivesse tão disposta a ser uma boa garota. Ou ótima. E isso eu fazia bem, pois o tinha sido durante toda a vida. Será que ele acordava com tesão? Foi o que me perguntei, mas não expressei essa dúvida.– Bom dia! – ele me deu um selinho que me pegou
Desta vez, foi à porta do escritório de Lena que bati. Eu precisava conversar com ela depois da noite anterior. Era meu dever moral me explicar, embora soubesse que não havia muita explicação para o que eu tinha feito, mesmo que ela apoiasse minha... relação com Kevin. Era estranho pensar nisso como uma relação.Eu havia refletido muito sobre o assunto após as coisas que dissera.– Entre! – ouvi sua voz dizer.E foi o que fiz.– Vim conversar com você.– Claro! Sente-se – ela levantou o olhar de uma folha de papel que parecia analisar cautelosamente, como sempre fazia.Eu obedeci, me sentando na cadeira de frente para ela. Seu escritório era simples, com decoração minimalista e elegante como sua própria personalidade.– Bem... – fiz uma pausa para procurar as palavras certas. – sobre ontem, eu até poderia dizer que não tem nada a ver.– E eu não acreditaria – ela admitiu com um sorriso.– Pois é. Então sendo sincera: Kevin e eu estamos nos conhecendo.Essa foi a melhor expressão que e
Pela manhã, fomos pegos de surpresa por João e Lena apoiando suas malas de rodinhas.– Faz frio na Escócia – disse ela. – Estou levando vários casacões e eles ocupam bastante espaço.– Está levando sua máquina de fotografia, mãe? – Kevin perguntou.– Claro! Faz tanto tempo que não tiro férias que vou fotografar até a tampa da privada do hotel.– Só a palavra “férias” já está fazendo bem ao seu senso de humor – constatou ele.Eu não esperava que a viagem fosse tão imediata. Significava que a partir de agora eu tinha uma incumbência especial. Uau! Isso me colocava em uma velocidade vertiginosa, como se estivesse em uma montanha russa.– Vou levá-los ao aeroporto.– Não precisa, filho. Vamos de táxi. Você não pode se atrasar para o seu primeiro dia – ela deu um tapa em suas costas. – Responsabilidades em primeiro lugar.Foi assim que fomos deixados para trás com uma mansão e um estabelecimento comercial nas mãos. Parecia uma pegadinha como as dos programas de TV que passavam no salão da
Foi só quando chegamos em casa que me dei conta de que nós ficaríamos sozinhos ali durante todo o tempo de viagem de Lena e João. Até então, tivera coisas demais para pensar (como de que forma chefiar a equipe de uma grande lanchonete em um bairro nobre dos EUA, lugar onde até dois meses atrás eu nunca havia pisado), e agora via que seriam semanas bastante... exóticas era a palavra?– Eu diria diferentes.A propriedade era grande demais, e nos dava uma infinidade de cômodos a desbravar. Mas não! Eu não estava disposta a jogar a vergonha da minha cara (leia-se dignidade) em alguma das lixeiras de inox que ficavam pela casa. E eu disse exóticas, não eróticas. Uma letrinha faz toda a diferença. Portanto, nada de pegação. Nada de beijar a boca gostosa de Kevin ou seu abdome, nem mesmo segurar seus cabelos enquanto... deixa pra lá!Os pais dele tinham confiado em mim, e isso tornava minha obrigação respeitá-los. Eu teria que resistir ao corpinho sedutor do herdeiro.– Nem tente nada – pedi
Enquanto eu cumpria minhas tarefas naquele final de manhã na lanchonete, fui chamada ao salão. – Tem alguém querendo falar com você – disse Kevin. Fui até lá fora curiosa para descobrir quem era, e me deparei com Daniel, o namorado de Alejandro.– Marta! – ele exclamou com um sorriso.– Oi! – eu o abracei.Daniel estava sem barba, o que o deixava diferente das outras vezes em que eu o vira.– Você tem um minuto?Assenti com a cabeça e o levei até lá fora, sentando-me ao seu lado em uma das muretas. Ali, notei quão familiar aquele ambiente tinha se tornado para mim.– Como você está? – perguntei. – Vou levando. Alejandro faz falta. Nós viemos para cá praticamente juntos, dividíamos tudo. Estou com saudades dele e assustado com tudo isso. Ele não foi o único a ser agredido. – Estou sabendo! Isso também me assusta. Vê se toma cuidado – pedi com sinceridade.Eu temia por ele e por qualquer outra pessoa que pudesse sofrer nas mãos do agressor misterioso. Já fazia algum tempo que eu nã
O clima entre nós estava estranho quando chegamos em casa naquela noite. Havia uma atmosfera de dúvida no ar, como se as questões tivessem saído de nossas cabeças e ganhado um lugar comum, tornando-se mais reais. Mas importava saber do futuro? Eu, que sempre me preocupara com isso, agora via que nesse caso o melhor a fazer era pensar no presente – nos dois sentidos dessa palavra na língua portuguesa –, afinal ele estava embrulhado e adornado com um belo laço.Era difícil não sorrir para Kevin, pois ele próprio me provocava sorrisos instantâneos como fotos de polaroide, que faziam eu me sentir uma idiota apaixonada, e foi isso que fiz quando ele me desejou uma boa noite. Então pulei em seu colo e o abracei com toda a força como se o segurando, eu estivesse impedindo o verão de ir embora. Senti-lo me segurar de volta com tanta firmeza fazia o medo se dissipar, não levando consigo os problemas, mas tornando-os menos importantes, quase insignificantes.Ester diria que era eu quem os esta
Apesar de adorar a companhia de Kevin, eu sentia falta da minha própria companhia. Sair por aí sem rumo, sozinha, era uma das coisas que eu pretendia fazer em Los Angeles quando chegara lá.Precisava falar com minha irmã, ouvir sua voz, e comprei algumas fichas para ligar para ela. Eu havia pedido que ela não ligasse para mim, para que não incomodasse a família alugando seu telefone. Não queria parecer espaçosa. Já minha mãe, ligava todos os dias, e como eu sabia o horário, estava sempre a postos para atendê-la. Essa era sua condição para me “deixar” viajar. Eu esquecera de lhe dizer que agora ela podia ligar à vontade.– Ester – exclamei.– Aí está você, desnaturada.– Não sou tão desnaturada assim, te mandei uma carta e logo você vai recebê-la.– Uma carta? Que bonitinha. Bem à moda antiga.Mal sabia ela que seu conteúdo não era tão à moda antiga assim. Era bem moderninho, na verdade.– Mas e aí, me conta todas as novidades. Eu quase estava ligando pra embaixada para saber de você!