Naquela semana a lanchonete estava menos movimentada do que de costume, o que era bom, já que Lena estava tensa com a notícia de Kevin e principalmente com o que acontecera a Alejandro. Contar à equipe sobre sua partida tinha sido tarefa de João. Todos ficaram abismados com os acontecimentos sequenciais e um clima estranho se instalou ali.– O que esse garoto fez me desestabilizou – Lena comentou comigo.O som no salão estava mais alto do que de costume, e nós podíamos ouvir de onde estávamos, uma canção um tanto romântica que me fazia lembrar o cara mais sexy que eu já tinha visto:“Foi um sonho de verão,Numa praia,Quatro semanas de amorEm noites de luar,Sob a luz das estrelas,Eu e vocêO seu nome eu escreviNa areiaA onda do mar apagouEm cada pôr de solA saudade incendeiaMeu coração(...)[1]”Acabei prestando atenção demais na música e deixando Lena falando sozinha. É incrível como, quando estamos apaixonados, todas as músicas românticas parecem fazer sentido.– Martinha!–
Lena passou a mão pelos meus cabelos, e depois me encarou. Havia um sorriso enigmático em seus lábios tingidos de marrom.– O que foi? – perguntei.– Um corte novo combinaria muito com esse vestido que comprou.Nós ainda estávamos no shopping, e tínhamos parado para tomar um sorvete de casquinha no McDonald’s.– Você acha?Ela assentiu com a cabeça.– Cabelos mais curtos estão em alta. Eles têm mais movimento, mais elegância.Cogitei a possibilidade de ela estar me chamando de deselegante.– Está ruim como está?– Nada disso. Eu que sou entusiasta de tesouras.Já fazia algum tempo que eu desejava cortar minhas madeixas, mas não tinha coragem de ver meus fios negros sendo varridos por algum cabeleireiro.– Se você quiser, posso te levar a um salão que fica aqui mesmo no shopping.Pensei um pouco e, corajosamente, respondi que:– Tudo bem, eu topo!**Voltando para casa, encontrei Kevin na sala, jogando vídeo game. Os dias dele eram assim: jogos, academia, piscina, praia e passeios mist
Cheguei em casa e subi para minha suíte, mas antes disso topei com Lena e José vendo TV no sofá. Eles formavam um casal tão bonitinho, assim como minha irmã e Peter. Senti saudades dela e dele também. Se Ester estivesse ali comigo, seria minha confidente, mas eu não tinha a cara de pau de usar o telefone da casa com muita frequência, pois não queria parecer espaçosa, assim sendo, nossas conversas se resumiam a simples atualizações sobre meu dia a dia (atualizações essas que omitiam certos acontecimentos).Eu tinha que enviar um cartão postal para ela, mas sempre procrastinava a compra de um e também a ida ao correio.– Como foi a peça? – perguntou Lena.Menti dizendo que tinha sido boa, quando na verdade fora uma produção equivocada e mal dirigida (e mesmo eu, leiga, percebera isso). Shakespeare deve ter se revirado no túmulo.Será que Lena sabia que Kevin tinha arrumado um emprego de garçom no clube do qual eles faziam parte? Foi o que me perguntei.O “Dani California” era um local p
Era impossível negar que eu estava apaixonada por Kevin. Meu desejo era conhecer não só seu corpo, mas seus desejos e sonhos. E ser desbravada também. A biblioteca era um lugar propício para isso.Meu mauricinho de Beverly Hills era um ponto fora da curva. Ele era diferente dos outros mauricinhos que eu havia conhecido ali, e as coisas estavam caminhando para algo que eu não sabia o que era, e que me assustava ao mesmo tempo em que me fascinava. Um playboy intelectual era um misto de dois estereótipos que, combinados, criara a criatura mais sexy que eu já havia conhecido.Queria desvendá-lo, abri-lo como um leitor abre um livro, e mergulhar em suas entrelinhas. Era isso que ele era, um belo livro, do gênero romance com nuances de erotismo.– Quero te fazer uma pergunta – disse ele quebrando o silêncio do alívio. Suas palavras não eram incômodas, mas eu gostava da ausência de sons na biblioteca. Entretanto, um segundo barulho nos retirou daquele momento. A sensação de calmaria invad
A carta para minha irmã levou meia hora para ser escrita e três páginas do caderno que eu levara para anotar as frases novas que aprendia em inglês. Acabei me empolgando na narrativa, mas conforme já disse, poupei Ester de detalhes íntimos demais. Eles eram segredo entre Kevin e eu.Três batidas na porta dele: foi o que fiz pela manhã. Uma ousadia tentar adentrar um ambiente até então desconhecido? Talvez, mas nós já tínhamos intimidade o bastante para que eu conhecesse seu quarto, afinal tinha visto coisas bem mais... íntimas. E estou falando da biblioteca, que fique claro.Kevin abriu com os olhos semicerrados, sem camisa e vestindo uma cueca samba canção que deixava seu membro marcado. Uma combinação que poderia ser explosiva se eu não estivesse tão disposta a ser uma boa garota. Ou ótima. E isso eu fazia bem, pois o tinha sido durante toda a vida. Será que ele acordava com tesão? Foi o que me perguntei, mas não expressei essa dúvida.– Bom dia! – ele me deu um selinho que me pegou
Desta vez, foi à porta do escritório de Lena que bati. Eu precisava conversar com ela depois da noite anterior. Era meu dever moral me explicar, embora soubesse que não havia muita explicação para o que eu tinha feito, mesmo que ela apoiasse minha... relação com Kevin. Era estranho pensar nisso como uma relação.Eu havia refletido muito sobre o assunto após as coisas que dissera.– Entre! – ouvi sua voz dizer.E foi o que fiz.– Vim conversar com você.– Claro! Sente-se – ela levantou o olhar de uma folha de papel que parecia analisar cautelosamente, como sempre fazia.Eu obedeci, me sentando na cadeira de frente para ela. Seu escritório era simples, com decoração minimalista e elegante como sua própria personalidade.– Bem... – fiz uma pausa para procurar as palavras certas. – sobre ontem, eu até poderia dizer que não tem nada a ver.– E eu não acreditaria – ela admitiu com um sorriso.– Pois é. Então sendo sincera: Kevin e eu estamos nos conhecendo.Essa foi a melhor expressão que e
Pela manhã, fomos pegos de surpresa por João e Lena apoiando suas malas de rodinhas.– Faz frio na Escócia – disse ela. – Estou levando vários casacões e eles ocupam bastante espaço.– Está levando sua máquina de fotografia, mãe? – Kevin perguntou.– Claro! Faz tanto tempo que não tiro férias que vou fotografar até a tampa da privada do hotel.– Só a palavra “férias” já está fazendo bem ao seu senso de humor – constatou ele.Eu não esperava que a viagem fosse tão imediata. Significava que a partir de agora eu tinha uma incumbência especial. Uau! Isso me colocava em uma velocidade vertiginosa, como se estivesse em uma montanha russa.– Vou levá-los ao aeroporto.– Não precisa, filho. Vamos de táxi. Você não pode se atrasar para o seu primeiro dia – ela deu um tapa em suas costas. – Responsabilidades em primeiro lugar.Foi assim que fomos deixados para trás com uma mansão e um estabelecimento comercial nas mãos. Parecia uma pegadinha como as dos programas de TV que passavam no salão da
Foi só quando chegamos em casa que me dei conta de que nós ficaríamos sozinhos ali durante todo o tempo de viagem de Lena e João. Até então, tivera coisas demais para pensar (como de que forma chefiar a equipe de uma grande lanchonete em um bairro nobre dos EUA, lugar onde até dois meses atrás eu nunca havia pisado), e agora via que seriam semanas bastante... exóticas era a palavra?– Eu diria diferentes.A propriedade era grande demais, e nos dava uma infinidade de cômodos a desbravar. Mas não! Eu não estava disposta a jogar a vergonha da minha cara (leia-se dignidade) em alguma das lixeiras de inox que ficavam pela casa. E eu disse exóticas, não eróticas. Uma letrinha faz toda a diferença. Portanto, nada de pegação. Nada de beijar a boca gostosa de Kevin ou seu abdome, nem mesmo segurar seus cabelos enquanto... deixa pra lá!Os pais dele tinham confiado em mim, e isso tornava minha obrigação respeitá-los. Eu teria que resistir ao corpinho sedutor do herdeiro.– Nem tente nada – pedi