Bem, ao menos era um quarto com duas camas, uma ao lado da outra. Poderia ser pior, e ao invés delas, uma única cama de casal que me colocaria em uma situação ainda mais complicada e embaraçosa. Ah, a tentação. Se eu fosse mais descarada, diria que poderia ser “melhor”, ao invés de pior. Deitar ao lado de Kevin, compartilhar do mesmo lençol que ele... ainda bem que não precisava ser tão tentador.Estava bastante constrangida com a situação, e senti uma pontada de arrependimento de ter viajado. Mentira! Eu não senti. Era estranho, sim, tamanha intimidade, porém, estava longe de ser o bastante para que eu me arrependesse. Na verdade, eu percorreria novamente cada quilômetro de estrada.– Qual cama você quer? – ele perguntou.Dei de ombros, para mim tanto fazia uma quanto a outra.– Pode ser a da esquerda.Kevin colocou suas coisas em um canto, e eu coloquei as minhas em outro.Então Kevin se deitou na cama da direita e perguntou se eu gostaria de tomar banho antes dele.Assenti com a ca
Expirei todo o ar de meus pulmões enquanto a sensação de êxtase se dissipava, causando em mim uma outra quase aliviadora.– Minha alma saiu do corpo – eu teria exclamado se conseguisse dizer alguma coisa.Kevin beijou minhas coxas e me olhou nos olhos, depois subiu novamente, encarando meu rosto e me beijando agora com calma, mas não sem urgência.De onde eu estava, observei as estrelas que cravejavam o céu como cristais cravejavam um vestido de noiva.Lembrei-me de uma canção que ouvira no rádio de pilha da minha avó, ainda na infância. Droga! Não me lembrava, e ainda não me lembro o nome dela, mas seus acordes estavam em minha cabeça.Eu ainda estava desnorteada, tamanho o impacto da língua dele em mim.Então nós caímos juntos em uma risada. Eu não podia acreditar que aquilo tinha acabado de acontecer; havia me desfeito, sim, me desfeito, na língua de Kevin segundos atrás.E agora só o que restava de mim era uma sensação deliciosa de alívio misturada à minha respiração ainda ofegant
Ao chegar para mais um dia de expediente, não avistei Alejandro.Minhas energias estavam elevadas por causa da viagem, e eu estava feliz de voltar ao trabalho. Queria contar a ele sobre Monterey, mas é claro que omitiria os fatos mais indiscretos: incluindo a discussão familiar que eu presenciara ao voltar a Beverly Hills.Ele costumava chegar meia hora antes de mim, e também sair meia hora antes, e já estava bastante atrasado quando:– Estranho – disse Lena. – Alejandro não costuma se atrasar.Ela parecia a mesma chefe tranquila e simpática de sempre, embora eu soubesse que, por dentro, estava cheia de angústia pela decisão de Kevin.– Imprevistos acontecem – foi a resposta de João.Eu estava com pena dos meus chefes, que pareciam estar sentindo o controle da vida do filho se esvair pelas mãos.Ela esperou algum tempo para ligar para a casa dele, e Daniel, seu noivo, atendeu dizendo que ele já tinha saído para trabalhar há algum tempo.– Estou preocupada! – Lena exclamou.Eu não sabi
Naquela semana a lanchonete estava menos movimentada do que de costume, o que era bom, já que Lena estava tensa com a notícia de Kevin e principalmente com o que acontecera a Alejandro. Contar à equipe sobre sua partida tinha sido tarefa de João. Todos ficaram abismados com os acontecimentos sequenciais e um clima estranho se instalou ali.– O que esse garoto fez me desestabilizou – Lena comentou comigo.O som no salão estava mais alto do que de costume, e nós podíamos ouvir de onde estávamos, uma canção um tanto romântica que me fazia lembrar o cara mais sexy que eu já tinha visto:“Foi um sonho de verão,Numa praia,Quatro semanas de amorEm noites de luar,Sob a luz das estrelas,Eu e vocêO seu nome eu escreviNa areiaA onda do mar apagouEm cada pôr de solA saudade incendeiaMeu coração(...)[1]”Acabei prestando atenção demais na música e deixando Lena falando sozinha. É incrível como, quando estamos apaixonados, todas as músicas românticas parecem fazer sentido.– Martinha!–
Lena passou a mão pelos meus cabelos, e depois me encarou. Havia um sorriso enigmático em seus lábios tingidos de marrom.– O que foi? – perguntei.– Um corte novo combinaria muito com esse vestido que comprou.Nós ainda estávamos no shopping, e tínhamos parado para tomar um sorvete de casquinha no McDonald’s.– Você acha?Ela assentiu com a cabeça.– Cabelos mais curtos estão em alta. Eles têm mais movimento, mais elegância.Cogitei a possibilidade de ela estar me chamando de deselegante.– Está ruim como está?– Nada disso. Eu que sou entusiasta de tesouras.Já fazia algum tempo que eu desejava cortar minhas madeixas, mas não tinha coragem de ver meus fios negros sendo varridos por algum cabeleireiro.– Se você quiser, posso te levar a um salão que fica aqui mesmo no shopping.Pensei um pouco e, corajosamente, respondi que:– Tudo bem, eu topo!**Voltando para casa, encontrei Kevin na sala, jogando vídeo game. Os dias dele eram assim: jogos, academia, piscina, praia e passeios mist
Cheguei em casa e subi para minha suíte, mas antes disso topei com Lena e José vendo TV no sofá. Eles formavam um casal tão bonitinho, assim como minha irmã e Peter. Senti saudades dela e dele também. Se Ester estivesse ali comigo, seria minha confidente, mas eu não tinha a cara de pau de usar o telefone da casa com muita frequência, pois não queria parecer espaçosa, assim sendo, nossas conversas se resumiam a simples atualizações sobre meu dia a dia (atualizações essas que omitiam certos acontecimentos).Eu tinha que enviar um cartão postal para ela, mas sempre procrastinava a compra de um e também a ida ao correio.– Como foi a peça? – perguntou Lena.Menti dizendo que tinha sido boa, quando na verdade fora uma produção equivocada e mal dirigida (e mesmo eu, leiga, percebera isso). Shakespeare deve ter se revirado no túmulo.Será que Lena sabia que Kevin tinha arrumado um emprego de garçom no clube do qual eles faziam parte? Foi o que me perguntei.O “Dani California” era um local p
Era impossível negar que eu estava apaixonada por Kevin. Meu desejo era conhecer não só seu corpo, mas seus desejos e sonhos. E ser desbravada também. A biblioteca era um lugar propício para isso.Meu mauricinho de Beverly Hills era um ponto fora da curva. Ele era diferente dos outros mauricinhos que eu havia conhecido ali, e as coisas estavam caminhando para algo que eu não sabia o que era, e que me assustava ao mesmo tempo em que me fascinava. Um playboy intelectual era um misto de dois estereótipos que, combinados, criara a criatura mais sexy que eu já havia conhecido.Queria desvendá-lo, abri-lo como um leitor abre um livro, e mergulhar em suas entrelinhas. Era isso que ele era, um belo livro, do gênero romance com nuances de erotismo.– Quero te fazer uma pergunta – disse ele quebrando o silêncio do alívio. Suas palavras não eram incômodas, mas eu gostava da ausência de sons na biblioteca. Entretanto, um segundo barulho nos retirou daquele momento. A sensação de calmaria invad
A carta para minha irmã levou meia hora para ser escrita e três páginas do caderno que eu levara para anotar as frases novas que aprendia em inglês. Acabei me empolgando na narrativa, mas conforme já disse, poupei Ester de detalhes íntimos demais. Eles eram segredo entre Kevin e eu.Três batidas na porta dele: foi o que fiz pela manhã. Uma ousadia tentar adentrar um ambiente até então desconhecido? Talvez, mas nós já tínhamos intimidade o bastante para que eu conhecesse seu quarto, afinal tinha visto coisas bem mais... íntimas. E estou falando da biblioteca, que fique claro.Kevin abriu com os olhos semicerrados, sem camisa e vestindo uma cueca samba canção que deixava seu membro marcado. Uma combinação que poderia ser explosiva se eu não estivesse tão disposta a ser uma boa garota. Ou ótima. E isso eu fazia bem, pois o tinha sido durante toda a vida. Será que ele acordava com tesão? Foi o que me perguntei, mas não expressei essa dúvida.– Bom dia! – ele me deu um selinho que me pegou