KarevA noite estava mais densa agora. O ar frio roçava minha pele enquanto eu caminhava em meio à vegetação alta, cada passo cuidadoso para evitar fazer barulho desnecessário. Depois de sair daquele buraco miserável, meu corpo ainda pulsava com a irritação. O tempo perdido ali dentro poderia ter custado minha vantagem.Mas agora eu estava livre.E precisava encontrar a porra da minha prova antes do amanhecer.Meus olhos varreram a floresta, atentos a qualquer sinal de movimento. Eu já havia aprendido que nada aqui acontecia por acaso. Essa floresta estava viva, cheia de presenças ocultas, observando, esperando. Meu lobo vibrava sob minha pele, inquieto, querendo emergir e lidar com isso de um jeito mais direto.Mas eu não podia me transformar.Isso fazia parte do teste.A lógica do torneio era clara: antes de provar que eu podia liderar outros lobos, eu precisava provar que podia controlar o meu próprio.Eu me abaixei atrás de uma formação de pedras, minha respiração estabilizando en
MalloryO som da água cortada pelos nadadores se misturava ao burburinho das arquibancadas, mas minha mente estava em qualquer lugar, menos na competição. Meu estômago revirava, meu peito apertava, e a tensão que pairava sobre mim desde que Karev descobriu a verdade tornava impossível ignorar o peso do momento.Ele sabia.Sabia que Gabriel Dixon era seu pai biológico.O que ele não sabia... era que eu já sabia disso muito antes dele.Tentei me concentrar na piscina, mas era inútil. Meus olhos o buscavam entre os atletas. Karev Khalid. O prodígio da natação. O garoto indomável que, de alguma forma, conseguiu fazer com que eu, Mallory Reynolds, baixasse a guarda.E agora ele me odiava.— Lory, para de apertar os braços assim, você vai acabar se machucando. — A voz de Cameron, minha irmã trigêmea, me trouxe de volta.Soltei o ar lentamente, relaxando os dedos contra a pele. Eu nem tinha percebido que estava me abraçando tão forte.— Desculpa — murmurei.Cameron me olhou de lado, sua expr
KarevO silêncio dentro do carro era ensurdecedor.Dirigia sem rumo, as mãos firmes no volante, a mente girando como um furacão."Você não é só humano. Você é um lobo."As palavras de Mallory ainda ecoavam nos meus ouvidos.Ridículo.Absurdo.Impossível.Então por que minha pele estava quente, como se algo se movesse sob ela?Meu peito subia e descia rápido, cada respiração mais pesada que a anterior. O maxilar travado, os dedos apertando o volante até os nós ficarem brancos.Era raiva.Era confusão.Era medo.E era algo mais. Algo primitivo. Algo que eu não sabia nomear.Desde que pisei em Denver, senti que havia algo diferente nesse lugar. Algo que fazia meu corpo reagir de formas que eu não entendia. Não foi só a merda da revelação sobre meu pai.Foi outra coisa.Palavras soltas que ouvi aqui e ali.Alfa. Beta. Alcateia.Eu não sabia o que significavam, mas algo dentro de mim sabia. Algo dentro de mim reconhecia essas palavras.E toda vez que as ouvia, aquela inquietação dentro de
MalloryO sol já havia nascido há algumas horas, mas o peso da noite ainda estava sobre mim.Eu não dormi.Passei a madrugada inteira rolando na cama, minha mente inquieta, os pensamentos presos em um único nome.Desde que ele descobriu a verdade, nada foi mais o mesmo. Eu sentia a presença dele em cada parte do meu corpo, como se o vínculo entre nós estivesse crescendo, mesmo que ele ainda não soubesse disso.E agora ele estava aqui.Na propriedade de Ragnar.Andando como um predador, o corpo rígido, a raiva pulsando em cada movimento. Ele estava indo direto para o espaço de treinamento.Meu coração disparou.Ele não estava apenas aceitando o que era.Ele queria lutar.— Lory, não vá até lá.A voz de Cameron carregava uma firmeza incomum.Ela não estava apenas pedindo. Ela estava me alertando.Mas nem mesmo minha irmã conseguiria me impedir de fazer o que precisava ser feito.Eu sabia que Karev era intenso, mas agora ele parecia algo além disso. Cada fibra do seu corpo irradiava uma
KarevO rosnado escapou do meu peito antes que eu pudesse contê-lo.Alto. Grave. Possessivo.Meus olhos estavam fixos em Gabriel, meu corpo inteiro tenso, pronto para atacar, como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir.Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços, a expressão completamente relaxada. Sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. E, pior, sabia que eu não fazia ideia de como lidar com aquilo.Eu sentia Mallory ao meu lado, sua respiração ainda acelerada depois da nossa luta no ringue. Meu lobo rugia dentro de mim, irritado pela presença de outro macho tão perto dela. Não importava que fosse meu pai. Não importava que ele não fosse uma ameaça.Meu instinto berrava uma única coisa: afaste-o.E, sem pensar, minha mão deslizou pela cintura de Mallory e a puxei para perto.O choque em seus olhos durou apenas um segundo antes de desaparecer. Ela não recuou, nem tentou se afastar. Pelo contrário, sua respiração pareceu prender por um instante, e seu cheiro s
KarevMeus dedos ainda estavam enterrados no pelo quente e macio do lobo à minha frente. Ou melhor, de Mallory.Minha mente recusava-se a aceitar o que meus olhos viam, o que minha pele sentia. Meu coração batia forte contra as costelas, como se tentasse romper a barreira entre lógica e instinto. O ar dentro do galpão parecia pesado, denso, como se o próprio universo estivesse me empurrando para aceitar o impossível.Ela era real. O lobo diante de mim era ela.Minha respiração ficou presa no peito. Minha garganta secou. E a única coisa que eu conseguia ouvir era o eco ensurdecedor da minha própria pulsação."Essa também sou eu."A voz dela soou dentro da minha cabeça. Não pela minha audição, mas como um pensamento impresso diretamente em minha mente.Minha reação foi imediata. Um palavrão escapou dos meus lábios, e eu soltei a mão rapidamente, me afastando.O lobo branco e marrom inclinou a cabeça de leve, como se me estudasse. Mallory não parecia preocupada, nem ofendida. Ela apenas
KarevAceitar.A palavra martelava em minha mente, pesada como chumbo, enquanto eu tentava ignorar o calor pulsante que percorria cada centímetro do meu corpo.Mallory estava ali, me observando, a expressão séria, os olhos azuis fixos nos meus. Sua mão quente ainda pressionava meu peito momentos antes, como se quisesse me ancorar à realidade. Mas que realidade era essa? A que eu conhecia desde sempre ou essa nova que se desenrolava diante de mim?Minha pele ainda formigava. Meu peito subia e descia rapidamente, como se meus pulmões estivessem tentando acompanhar o ritmo frenético da minha mente. Era como se meu próprio corpo estivesse sendo puxado em duas direções opostas, uma luta silenciosa entre o que eu pensava ser e o que, aparentemente, eu realmente era.— Levanta. — A voz de Gabriel quebrou o silêncio.Meu olhar encontrou o dele. O homem que eu deveria chamar de pai estava parado, os braços cruzados, a expressão impassível. Ele parecia inabalável, como se nada naquele momento f
MalloryCada golpe acertado reverberava através de mim como se fosse em meu próprio corpo. O som dos impactos, os grunhidos abafados e a respiração irregular de Karev enchiam o espaço, tornando o ar pesado. Eu sabia que isso era necessário, que Gabriel não estava apenas ensinando, mas testando os limites dele. Era cruel, talvez, mas essencial.Karev precisava despertar.Um lobo trancado por quase duas décadas não surgiria simplesmente como se sempre tivesse existido. Ele poderia emergir feroz, incontrolável, uma força indomável que não reconheceria limites. Ou poderia ser algo que ninguém esperava. Gabriel não estava disposto a esperar para descobrir. Ele queria ter certeza antes que Ragnar percebesse o quão instável Karev poderia ser.O suor escorria pelo corpo dele, misturando-se ao sangue de pequenos cortes e hematomas. Os músculos rígidos denunciavam seu cansaço, mas o fogo em seus olhos dizia que ele ainda não havia desistido. Seu orgulho não o permitiria.Eu conhecia bem esse ol