O som dos golpes e dos ossos se partindo puderam ser ouvido da entrada do beco. Totalmente dominado, Arthur mal se mantinha consciente. O monstro o ergueu, cobrindo todo o seu rosto com sua mão, e grunhiu pronto para encerrar a dor do garoto:
– Agoraaaaa que cumpriu ssssua parte teráááá sua rápidaaaaa morteeeeee.
O corpo do garoto já pendia entregue, como um boneco sem vida erguido pela enorme mão do monstro. Ele estava prestes a terminar sua tarefa quando um estampido seco ecoou pelo beco. Um tiro que atingiu em cheio o braço do monstro, fazendo-o soltar o garoto em reflexo. A criatura se virou, encarando o agente Kron que adentrava o beco com a arma em punho.
– Vocêêêê! Sabe que eles deveeem morreeeeer. Somosss os culpadoooossss... É culpa nossaaaaaaa! – Reverberou a criatura.
Ainda avançando o agente disparou outras três vezes at
Anarina recostou a cabeça junto ao peito de sua irmã, Bia. Os olhinhos atentos e os lábios selados, num silêncio absoluto. O ouvido colado permitiu que a menina ouvisse um som único que a encantou. Ela sentiu um calor preencher seu próprio peito enquanto um “Tum-dum” ecoava repetidamente. Aquela era a primeira vez que a pequena menina ouvia o som de um coração. Um som que continuou a ecoar durante anos em sua memória. Que criou um laço entre as duas irmãs. Mas isso foi há muitos anos. E permaneceu por anos esquecido, até que sua traiçoeira e impiedosa memória decidira desenterrar aquele nostálgico som enterrado no fundo obscuro do seu subconsciente. E inadvertidamente despejou lembranças de uma doce e alegre infância no pior momento possível.***A sala do necrotério ficava em anexo à delegacia. Um lugar frio, escu
Era quase madrugada quando o Rolls-Royce do governador Juscelino Valadares parou diante do Hospital Dr. Quaresma. Uma pequena multidão, contida por um cerco de policiais, ameaçava invadir o hospital em busca de respostas ante a destruição que deixou mortos e feridos. A interdição policial que impedia o acesso dos parentes das vítimas tornava a situação extremamente tensa, bastando uma fagulha para eclodir um confronto civil.Este foi o cenário que levou o delegado Pretórios a solicitar uma reunião de emergência com o governador e o chefe de imprensa do jornal de Ouro Preto. Eles sabiam que se esperasse até a manhã seguinte os efeitos das especulações e dos noticiários descontrolados seriam catastróficos. A breve reunião havia acabado de acontecer, onde a história fora planejada para, em seguida, o governador dirigir-se imediatamente
Após dirigirem por alguns minutos, Kron e Santos chegaram à Redação do Jornal de Ouro Fundo, uma antiga mansão reestruturada para comportar a pequena equipe e seu equipamento de produção. Tão logo entraram e cruzaram a sala da recepção, se dirigiram até um enorme salão onde alguns funcionários movimentavam os maquinários. Assim que percebeu a entrada de Santos, o editor chefe do jornal, Sr. Roberto Mendonça, dirigiu-se ao seu encontro.Enquanto andava pela sala parecia gingar com certa dificuldade, dada a sua obesidade. A camiseta de um xadrez em tons de azul estava amarrotada, como de costume. A calça jeans surrada era constantemente puxada para cima, pela ausência do cinto que ele sempre dizia ter esquecido.– Santos! Onde estão as fotos, homem? O jornal precisa ir pra prensa! – Retirou os óculos, permitindo que caísse
Com cuidado, Kron retirou o baú do buraco oculto no chão, colocando-o do seu lado. Encarou, na parte superior, o símbolo talhado que formava um TD. Kron abriu a pasta e espalhou as fotos pelo chão até encontrar a do baú, observando-a para ter certeza de que se tratava do mesmo. Percebeu que estava trancado e, enquanto tentava abrir, apertou o botão do fone sem fio em sua orelha, fazendo com que seu celular discasse para seu contato. Após ser atendido e se apresentar ele foi direto, dispensando as cerimônias:– TD – Kron proferiu apenas estas duas letras e aguardou a resposta.– “Tempus Dominus” – respondeu o homem do outro lado da linha. – Estudei sobre essa organização. Extremamente poderosos, foram a maior ameaça que já enfrentamos. Mas foram extintos na Guerra T.– Então me explique como eles estão aqui
A vitória é obtida antes mesmo de se iniciar a disputa. Um estrategista observa o campo de batalha e traça seu triunfante plano. Tais planos podem assumir quaisquer formas quando o único objetivo é vencer a qualquer custo. Por vezes a história classificou alguns vitoriosos, erroneamente, como covardes. Mas não seria tal acusação a miopia daqueles que são incapazes de empenhar desmedidos esforços em prol da conquista? Quando o objetivo é nobre, o maior dos homens está disposto a corromper sua própria alma; o sacrifício máximo de quem escreveu com seu sangue a história para que ainda houvesse alguma história a ser contada. E que objetivo seria mais nobre que a autopreservação? Ajoelhado sobre o assoalho do pequeno quarto, Kron envolvia em suas mãos o baú rec&ea
Após uma longa caminhada cruzando o lado sul da cidade, Anarina e Choco finalmente chegaram ao exuberante portão de grades da mansão do governador. E tão logo fitaram as grades, tiveram plena consciência do iminente perigo que estavam prestes a correr, pois bem no meio do portão as grandes envergadas deixavam uma enorme abertura no meio, tornando evidente que algo grande as havia entortado ao passar por lá. Os dois se entreolharam assustados, mas antes que Choco pudesse dizer algo, Anarina arqueou as sobrancelhas em uma expressão séria e proferiu em tom decidido: – Nem se atreva a falar sobre desistir! Nós vamos entrar. A garota atravessou em meio das grades retorcidas, seguida pelo relutant
Do alto da ribanceira, Anarina e Choco observavam o silencioso acampamento circense, iluminado pelos últimos raios prateados da madrugada que logo se renderia ao sol dourado da manhã que a se aproximar. Os longos cabelos da ruiva esvoaçaram com uma brisa passageira, assim como seu vestido pincelado em tons rubros como labaredas de fogo. As madeixas avermelhadas descobriram o alvo rosto e os brilhantes olhos verdes que fitavam penetrantes seu objetivo. Em suas costas a mochila de Filipe, repleta do quanto conseguiram carregar de equipamentos. Eles não tinham certeza do que os aguardava, mas por certo sabiam que seria o maior desafio que já haviam enfrentado. A aventura mais perigosa que já tinham embarcado, mas estavam prontos e não voltariam atrás.Ao seu lado Choco mantinha em suas mãos a tão almejada arma criada por Filipe: A bazuca de luz, que ele segurava como um soldado a postos. Sua calça, de u
Respire. Sinta o ar enchendo seus pulmões. Saboreie o doce aroma da vida. Porque ela escoa pelas mãos como as areias na ampulheta do tempo, enquanto você sobrevive fingindo viver desperdiçando cada pôr do sol ignorado sobre sua cabeça. Tentando lembrar o que você fez de bom que não fosse apenas para você. Alguns tentam deixar sua marca na história, mas só importa a marca que deixamos nos outros ao nosso redor. Porque quando a vida terminar de passar você será apenas um eco que já se calou. Mas se você ainda está vivo permita-se viver. Permita-se errar se tentando acertar. Permita-se permitir, mesmo que alguns não entendam seus feitos. E acima de tudo permita-se tocar a vida de alguém. Encare o mundo vestindo sua verdade. Encante o mundo despido da vaidade. Ou, ao final da vida, só restará que se encarem as mentiras que você escondeu por tr&aacut