A pequena cena feita pela princesa gerou burburinhos e a monarca se viu envergonhada em seu primeiro dia no castelo do príncipe de Kent. Como ela iria saber que aquele era o cachorro dele? E como ele deixara uma fera mal educada a solta? Esses eram os pensamentos que permeavam sua mente enquanto Aggie esfregava furiosamente um pano úmido em sua saia. Era estranho estar num local tão diferente de sua casa, mas era pelo bem de seu lar e por um vantajoso casamento, então, certamente, valeria a pena, teria de se acostumar. Ficar em seu país significaria casar-se com um nobre local e jamais estar na posição em que queria. Seu irmão iria assumir o trono e, para ela, restaria um casamento com um duque ou algo assim, mas Aggie sempre almejou mais, sua mãe a criou para ser uma rainha e era isso o que ela queria, ser uma rainha.Se não fosse de seu reino, seria de outro, o local pouco importava.Sua criada se aproximou dela com delicadeza, tocando seus ombros com certo carinho. Se conheciam d
“— A mais nova pouco me importa! Levem-na para onde desejarem! — gritou o Griffin, com um sorriso perverso, para seus capangas. Charlotte era arrastada por ele com tamanha brutalidade que, a essa altura, seus joelhos já sangravam por estarem em contato direto com o chão e sua saia estava completamente enlameada. Brista estava tonta, havia recebido uma pancada na cabeça no mesmo instante em que uma das criadas foi morta bem diante de seus olhos, depois disso, não conseguiu raciocinar muita coisa, seus sentidos estavam embaralhados e seu corpo letárgico. Mas algo lhe trouxe de volta à terra enquanto era arrastada por um dos capangas de Griffin o grito de Chelsea, desesperado e sofrido, enquanto três homens lhe amarravam as mãos e lhe puxavam a delicada saia de seu vestido, bem como a fita bonita que prendia seus cabelos. Isso a fez voltar a si. Por um instante, sem saber de onde tirara tamanha força, moveu suas mãos e deu um impulso com seus pés. Primeiro, acertou o rosto do homem qu
Relembrar os horrores vividos nas mãos de Willian Griffin fizeram o peito de Brista se apertar, sua respiração tornou-se um pouco irregular e seus lábios ficaram pálidos. Apenas pensar na cabana na floresta, nas palavras daquele homem sem escrúpulos e no medo que sentiu bastava para que Brista se sentisse mal. Mas, diferente dos dias anteriores, quando enfrentava seus demônios sozinha por medo de mostrar fraqueza para as pessoas ao seu redor, ela sentiu as mãos quentes de Maya envolverem as suas, apertando levemente seus dedos de modo a mostrar-lhe apoio. — Sequer posso mensurar seu sofrimento, minha amiga — sussurrou a jovem, encarando a loira com carinho —, mas posso afirmar que estarei aqui para apoiá-la no que precisar e se for melhorar seus ares, irei convidá-la para passar alguns meses comigo em meu país, será bom mudar o cenário. A loira sorriu, sentindo seu coração aquecido pelas palavras da amiga e assentindo, de fato, quando a temporada acabasse, não faria mal fazer uma v
Os olhos afiados de Elenor a analisaram com atenção enquanto, discretamente, um vinco se formava em sua testa. “Nas cartas ela parecia ser mais bonita”, pensou a rainha, um pouco insatisfeita, mas não permitiu que tal insatisfação lhe transparecesse no rosto, Aggie era uma princesa e isso bastava, sua beleza era apenas um detalhe que certamente suas maneiras tratariam de superar.As damas de companhia que acompanhavam Elanor se afastaram, dando espaço para que a rainha e sua futura nora conversassem sem ouvidos atentos a suas palavras. Assim que a princesa se curvou, a rainha lhe tomou as mãos, apertando seus dedos enluvados aos da moça com um carinho ensaiado. — Oh, querida! Estou tão feliz com sua chegada — falou a monarca, com um sorriso gentil. — Espero que esteja satisfeita com nossas acomodações, afinal, em breve, essa será sua nova casa. A fala de Elanor iluminou o rosto da ruiva, que sorriu abertamente sentindo-se mais segura com aquelas palavras. — Majestade, estou mais q
Quando as moças encheram o salão, os criados começaram a servir o chá e os doces que foram preparados, havia uma bela mesa com bolos, frutas e diversos docinhos, todos favoritos da rainha. O falatório feminino era geral e os músicos enchiam o ambiente com uma melodia tranquila para tentar acalmar a empolgação das moças, mas isso em nada adiantou. Havia risos altos e conversas afoitas, todas tentavam ter para si um pouco da atenção da rainha e de sua convidada, mas, diferente de Elanor, que tinha um ótimo manejo social e era gentil com todas as moças, Aggie não conseguia tal coisa se mostrando uma jovem cada vez mais antipática. Respondia aos cumprimentos com acenos de cabeça, mantinha o nariz erguido e uma postura ereta de superioridade que em nada agradou as demais convidadas. Sentia-se desconfortável entre tantas mulheres, para a princesa, algumas delas não tinham o mínimo de educação, falavam muito alto, sorriam demais ou eram feias o suficiente para que não as olhasse diretament
— Oh, não, minha mãe convida apenas a realeza — sua fala veio acompanhada por um tom de desgosto ao passo que seus olhos deslizaram pelas moças que conversavam perto delas, mas que claramente prestavam atenção no diálogo das três. — Acredito que cada lugar guarda seus costumes — Brista falou, comendo o docinho tranquilamente. — Decerto que sim, mas alguns são mais exóticos que outros — Aggie comentou, olhando diretamente para Maya. — Seu país é muito distante, me surpreenda que consiga chegar até aqui… A morena uniu as sobrancelhas, sentindo um incômodo acertar-lhe o coração, mas manteve a fachada gentil, apertando levemente o braço de Brista, que também ficou em alerta. — Cheguei da mesma forma que você, senhorita, também temos um mar na Índia, então sabemos velejar — a fala, apesar de ter um teor levemente ácido, foi dita com extrema simpatia. — E certamente chegou mais rápido, afinal, estava aqui para ver o fiasco… digo, sua chegada princesa — Brista alfinetou, sentindo o peit
— Brista tem razão, ela não passa de uma estúpida, não sabe de nada sobre seu país e sua família! — disse Anika, por mais que ela mesma não conhecesse muito sobre Maya. — Exatamente, não se deixe afetar por isso! Aproveitemos a temporada, logo essa indesejada irá embora! — Katherina completou, tentando animar a jovem. Maya ainda sentia o coração ofendido, mas aceitou o consolo das amigas que a apoiaram e, longe dali, os olhos de Elanor capturaram a cena. A rainha sentiu-se irritada, como uma princesa poderia causar tamanha má impressão em absolutamente todas as jovens de um reino? Começava a sentir-se cada vez mais insegura quanto a Aggie, mas tentava não demonstrar, pois, mesmo que soubesse que a jovem não era tudo o que lhe foi descrito nas cartas, não queria dar o braço a torcer. Longe dali, em meio a densa floresta, um grande grupo de cavaleiros bem armados com mosquetes e munição, acompanhados por cachorros que farejava por todo lado, caçavam algo para aliviar o tédio. Aquel
Apesar do falatório dos demais cavalheiros atrás dele, Jonathan se mantinha em silêncio. O assunto sobre o casamento havia, visivelmente, o desagradado e logo foi esquecido à medida que o príncipe se distanciava do grupo e guiava seu cavalo em direção à entrada do palácio. Não podia negar que as palavras de Ewin lhe acertaram precisamente. Brista era, de fato, encantadora e ele sabia, agora mais que nunca, que não era o único que notava tal coisa. Quando o castelo despontou no horizonte e eles finalmente passaram pelos grandes umbrais que demarcavam o início do jardim real, suas vistas foram agraciadas com o passeio noturno das damas, que gostavam de apreciar as estrelas antes do jantar. Os jardins estavam enfeitados com as mais belas flores juvenis, moças que ansiavam por uma boa temporada, algumas que já haviam debutado e sonhavam em encontrar um bom pretendente durante aqueles meses, outras que ainda não o fizeram e esbanjam seus ares infantis correndo por aqui e por ali enquanto