Eu tinha negócios em Miami que o cartel El Lobo atrapalhava, e vinha buscando uma solução há bom tempo quando o caso de Diego chegou às minhas mãos, achei que a sorte tinha resolvido sorrir para o meu lado. O garoto podia saber algo útil que eu pudesse usar para tirar o cartel do caminho. Minha ideia era ajudá-lo a fugir até entender tudo o que poderia aproveitar. Mas as coisas se complicaram. Por um momento, quando Castillo avisou que Diego não ia fugir, mas sim tentar resgatar a namorada, eu desisti. Acreditei que ele ia acabar se matando. Afinal, quais eram as chances? Mas então Castillo me ligou dizendo que Diego teve êxito. Mais que isso: ele trouxe a esposa do chefão, Maria. Eu conhecia Maria… ou achava que conhecia. Já tinha visto a ficha dela, fotos tiradas ao longo dos anos, tiradas por detetives que adorariam acabar com Marcus e os outros chefões. Era uma mulher triste, mas bonita. Muito bonita. Dava para entender por que era mulher de Marcus. Quando a v
Conforme os dias passavam, uma rotina foi se desenvolvendo. Viver preso dentro de uma casa, onde nem as janelas eram abertas, era sufocante, por isso era necessário ocupar o tempo ao longo do dia para manter a mente distraída. Maria costumava cozinhar, geralmente no fim da tarde, já que, pela manhã, ficava trancada no quarto com Gabriel, contando detalhes de tudo que viu ao longo dos anos. Eu dava aulas de artes para Marquinho, que demonstrava interesse por muitos assuntos e se mostrava inteligente, tinha pedido para Gabriel trazer livros, já que não tinha internet disponível. Maria o ensinou a ler e escrever, pois ele só frequentou a escola por um curto período de tempo, quando moraram por alguns meses em Chicago, e ela me contou que ele havia adorado a experiência. Diego tentava se entreter, mas sua mente estava sempre ocupada com os problemas. Eu fazia o possível para que ele não se afundasse em um mar de desesperança, principalmente depois que Gabriel explicou que
dia seguinte, me levantei cedo, com a impressão de que não tinha dormido. No espelho do banheiro, pude ver as olheiras em meu rosto. Diego também parecia acabado, assim como os outros. Logo cedo, Gabriel começou a conversar com os seguranças e com Diego sobre os planos para nossa transferência de casa. Havia muitos perigos envolvidos, e eles tentavam prever todos os problemas que poderiam acontecer. Maria me chamou na cozinha pedindo ajuda. Achei estranho, pois, durante todos esses dias, ela nunca tinha me pedido nada. Imaginei que queria conversar a sós sobre algum assunto importante.— Queria agradecer por tudo o que vocês fizeram pelo Marquinho — ela sussurrou, sem querer que os outros ouvissem.— Tudo bem. Ele é um menino muito esperto, apesar de que acho que prefere o Gabriel.— Eu sei. Espero que ele não fique muito chateado quando essa aproximação acabar. Mas queria falar com você sobre outra coisa.Maria torcia um pano de prato, como se tentasse encontrar as
Eu tinha pedido Elle em casamento em um momento de paixão e impulso. Agora, estava em dúvida se deveria ter feito isso. Olhar para ela ainda era o melhor momento do meu dia, e eu queria me casar e construir uma família, mas, segundo Gabriel, meu caso ainda continuava sem solução. Ele voltou a comentar que a fuga talvez fosse a única saída. As prisões iam acontecer. Provavelmente conseguiriam até mesmo prender os chefões do cartel. Alguns dias antes, eu teria ficado feliz com essa notícia, mas agora ela não me trazia nada, nenhum sentimento. No fim, eu não teria minha libertação, e um futuro com Elle estava cada vez mais distante. Gabriel, mais uma vez, tinha dormido na sala. Ele não conseguia mais disfarçar o quanto estava envolvido com Maria e com Marquinho, ainda que soubesse que, para eles, também não haveria um final feliz. Em breve, ela iria embora para um local desconhecido com o filho.— Tudo bem? — perguntou Elle, observando meu silêncio. Eu queria dizer
Um instinto me dizia que algo ia dar errado. Quando Gabriel avisou que eu seria transferida com meu filho naquele mesmo dia, senti que não ia ser tão fácil, mesmo que casa estivesse cercada de seguranças. Mas, ao mesmo tempo, calei meus instintos, insistindo que talvez fosse só o medo falando mais alto. O primeiro tiro foi disparado quando ainda estávamos no meio do caminho para chegar ao carro, e, naquele instante, tive certeza de que era o fim. Sempre soube que nunca conseguiria escapar de Marcus.— Abaixa! — gritou Gabriel, se jogando em cima de mim e do Marquinhos.Senti meu braço arranhar no chão de cascalho e abracei meu filho com força. Tiros e gritos ecoavam ao nosso redor. Mantive a cabeça abaixada e rezei.— Leva eles para dentro! — ouvi Gabriel gritar novamente. Uma mão forte me puxou, e fui praticamente arrastada de volta para a casa. Eu e Marquinho fomos empurrados para dentro. Ainda sem coragem de olhar ao redor, fui puxada por Diego, que mandou que e
Os tiros soavam sem parar. Quando entrei no quarto, fechei a porta imediatamente e a tranquei. Marquinho estava agarrado à minha cintura. A ideia de Maria era que eu abrisse a janela e fugisse pelos fundos, mas percebi que que não ia dar para fazer isso ao ver uma sombra passando do lado de fora. Não sabia se era amigo ou inimigo. Abaixei-me, abraçada a Marquinho, atrás de uma cômoda, e ficamos ali em silêncio, ouvindo os gritos e os tiros, sem saber o que fazer, esperando por um milagre. Lágrimas desceram pelo meu rosto ao imaginar o que tinha acontecido com Diego e o que poderia acontecer com Maria se Marcus entrasse na casa.Não sei quanto tempo ficamos ali esperando. Quando ouvi uma batida na porta, me assustei. Não sabia o que esperar. Até aquele momento, a impressão era de que estávamos perdendo. De alguma forma, Marcus tinha encontrado Maria, e não havia segurança em lugar nenhum.— Elle, você está aí? Sou eu! — gritou Diego do outro lado da porta . Me levantei de
Fomos todos para a delegacia, e a partir desse momento tudo se passou como um borrão. Como previsto, Diego foi preso, sou interrogada por horas e Gabriel é obrigado a sair do hospital para resolver a situação. Não podemos falar sobre a investigação envolvendo os membros da delegacia, então passo horas explicando qual é minha relação com Maria, o que leva a muitas perguntas, já que minha família não informou à polícia que fui sequestrada. Meu pai, que já me esperava com uma equipe de advogados, explicou que o assunto foi tratado de forma interna. Muito dinheiro, contatos e, no fim do dia, fui liberada para ir para casa, onde teria uma equipe de segurança 24 horas por dia. Mesmo com Marcus morto, ainda havia outras pessoas atrás de Maria, que estava no hospital lutando pela vida. Eu queria ir até o hospital, mas Gabriel me garantiu que não havia nada que eu pudesse fazer no momento. Para ficar com Marquinho, precisei usar todos os advogados e a influência da família, po
A noite foi difícil. Dormi mal e, assim que amanheceu, mandei uma mensagem para o Gabriel. Tinha pedido à minha irmã que conseguisse um celular novo. Marquinho também acordou cedo, já perguntando pela mãe. Eu ainda não tinha notícias, mas Gabriel garantiu que ela continuava lutando pela vida. Sabia que precisava descer para o café da manhã, então preparei o Marquinho e o avisei de que era melhor ele ficar na cozinha com a cozinheira. Aquele menino não precisava ouvir os desaforos que, com certeza, minha avó soltaria. Minha intenção era entender como estava o clima na família e depois correr para o hospital, saber do estado da Maria e falar com Gabriel sobre o processo do Diego. Quando enfim cheguei à sala, todos já estavam à mesa. Ninguém sabia ao certo como se dirigir a mim. Pelo olhar da minha mãe, pude imaginar que Grace tinha contado tudo o que eu disse e ela, claramente, não aprovava a situação, provavelmente estava morrendo de medo da minha avó, com toda a