Acordei com os primeiros raios de sol entrando pela janela do meu quarto. Não sei exatamente como eu consegui dormir esta noite, porque tudo se resumiu a uma mistura de emoções e sonhos confusos. A aparição de Ryan mexeu comigo de maneiras que eu não esperava. Durante o turno no restaurante, tentei manter a concentração nas tarefas, mas minha mente estava constantemente voltando para a nossa conversa. Eu não fui capaz de prever nada do que aconteceu depois que eu decidi partir. Não esperava que fosse acontecer algo depois do nosso desfecho. Apesar de Ryan ser um pensamento recorrente, eu tinha aceitado que a história já havia acabado. Era impossível afastar as palavras dele da minha cabeça, especialmente a declaração de que ele estava apaixonado por mim.Sentei-me na cama e acariciei minha barriga. Sussurrei para ela, dizendo que tudo ficaria bem, tentando convencer a mim mesma tanto quanto a ela. Tomei um banho demorado, tentando organizar meus pensamentos e me preparar para o que es
Minha surpresa ia além da aparição inesperada. Seus cabelos grisalhos estavam perfeitamente penteados para trás, revelando uma testa alta e imponente. Eu me lembrava dele como um homem menos polido, mais relaxado, mas o tempo parecia tê-lo refinado. Também vestia um terno impecavelmente ajustado que parecia muito caro. Ele poderia passar por um grande homem bem-sucedido, em contraste com sua personalidade real. Havia mais marcas do tempo em seu rosto desde que o vira pela última vez há cerca de três anos. Estava sempre ocupado demais para receber ou visitar a filha mais velha. E por mais que tentasse não me importar com isso, eu sempre acabava me sentindo como uma menininha que só precisava da atenção do pai. E isso fazia com que eu me odiasse, por querer a atenção e o amor de um homem que nitidamente não se importava tanto assim comigo. Eu ainda estava paralisada enquanto seus olhos varriam a entrada, avaliando tudo ao redor com um olhar de desprezo disfarçado de curiosidade.- Pai?
A batida na porta era urgente. O susto com o som ecoando atrás de mim fez com que eu despertasse da angústia que eu estava sentindo. Eu me lembrava vagamente da ligação que o trouxe até aqui. Meus dedos simplesmente escolheram o seu contato. Ele havia murmurado algumas perguntas, mas eu apenas pedi que viesse. Abri a porta e fui recebida por seus olhos ansiosos, cheios de preocupação. Ele entrou sem hesitar e me envolveu em um abraço acolhedor, como se soubesse exatamente o quanto eu precisava daquele gesto.- Bianca, o que aconteceu? - sua voz suave e reconfortante contrastava com a tormenta dentro de mim.- Ryan, eu… As palavras saíram em um turbilhão, sem filtro, enquanto eu tentava relatar cada detalhe. Ele me conduzia ao sofá enquanto contava sobre a aparição do meu pai, sua tentativa descarada de manipulação, e a ameaça sutil, mas contundente, envolvendo Sophia. Minhas memórias do passado se misturaram aos acontecimentos recentes, e as emoções reprimidas por anos vieram à tona.
Quando abri os olhos novamente, a luz intensa do dia já preenchia o quarto. O braço de Ryan ainda estava debaixo da minha cabeça, e ele continuava ao meu lado, com os olhos fechados. Nós acabamos voltando a dormir depois de todo aquele momento constrangedor e reconfortante. Eu estava cada vez mais sensível a tudo o que vinha nos acontecendo conosco. Mas chorar tudo o que chorei fez meu coração ficar um pouco menos pesado, mesmo que eu soubesse que minha vida ainda estaria uma confusão. Ou talvez fosse apenas por saber que o Ryan ainda estava ao meu lado. Com cuidado, me levantei, tentando não acordá-lo. Sentia uma estranha mistura de alívio e nervosismo enquanto me dirigia para a cozinha. Eu não sabia o quanto esse momento poderia afetar a nossa convivência. Mas eu estaria mentindo se negasse que não apreciei o conforto de estar em seus braços novamente. E eu precisava me recriminar por isso. Usar esse recurso outra vez com certeza complicaria os sentimentos dele. Talvez até os meus
O tempo passou rápido demais enquanto eu me preparava para deixar a Itália. Os dias que antecederam minha mudança para Londres passaram em um borrão, repletos de trabalho, preparativos e despedidas. Manon esteve presente me ajudando a organizar tudo, mesmo que a nossa separação fosse um destino inevitável. Se seria ou não permanente, não era possível saber. Contudo, prometemos incessantemente que manteríamos contato, mas o vazio que ela deixaria era impossível de ignorar. Mesmo que eu tenha ficado algum tempo em Londres da última vez, desta vez era diferente. Cada dia que ficava mais perto da minha partida tornava nossa convivência mais melancólica. Apesar disso, eu não conseguia evitar de desabafar minhas preocupações. Ryan havia feito um grande esforço para me buscar, mas partiu, deixando-me confusa e insegura. E eu est
A atmosfera no carro continuava densa. Mesmo que houvesse o barulho do trânsito, o silêncio parecia ecoar e amplificar o peso da minha decisão. Ryan não disse nada, mas era visível que ele estava preocupado. Eu sabia que ele estava refletindo sobre a conversa com a rainha, mas havia algo mais, algo que o estava corroendo por dentro, e eu não conseguia decifrar o que era. Isso era apenas uma coisa a mais para processar. A ideia de um jantar com a família real me deixava ansiosa, mas eu não podia recuar agora. Eu tinha tomado uma decisão, e precisava seguir adiante. Eu também tinha muito a pensar. O olhar da Rainha, tão impassível, escondia algo mais sombrio sobre suas intenções? Tudo havia corrido melhor do que o esperado, mas, em vez de me tranquilizar, isso agora me inquietava. A reação do Ryan colaborava para meu medo crescente. Ele sempre foi genuíno em seu desejo de nos proteger, mas ele estava com medo. Toda a confiança que ele tinha ao me convencer a voltar havia desaparecido.
Não se passaram muitos dias e mesmo assim eles se arrastavam lentamente, e a sensação de inércia me desgastava mais a cada minuto. A gravidez avançava, e com ela se intensificaram todos os incômodos físicos e mentais. Meu corpo estava cansado, e meu coração, ansioso. Eu sabia que a espera fazia parte do processo, mas a incerteza quanto ao futuro me deixava à beira de um colapso. Quanto mais os dias avançavam, mais eu me questionava se tinha feito a escolha certa. A espera pelo nascimento da nossa filha também era uma preocupação constante. Imaginava se uma nova fuga seria possível, mas algo dentro de mim terminava descartando essa ideia. O que eu deveria fazer? Era como se, por mais que tentássemos planejar, o caos nos alcançasse de qualquer maneira.Ryan e eu conversávamos sobre o jantar com a família real e o nascimento de nossa filha. Ele tentava me preparar para o que estava por vir, mas parecia que, por mais que falássemos sobre nossas expectativas, algo sempre poderia sair do co
A chegada do meu pai ao banquete continuava a me corroer por dentro, e cada minuto naquele salão parecia uma eternidade. Eu não conseguia entender qual era o seu propósito ali, mas o simples fato de vê-lo alimentava a minha desconfiança. Senti meu coração apertar e minha respiração acelerar, como se todo o peso da situação estivesse, de repente, desabando sobre mim. Precisava de ar. De espaço. Algo que me ajudasse a colocar os pensamentos no lugar. Pedi licença à princesa e me dirigi da maneira mais discreta possível até o banheiro mais próximo, deixando o tumulto do salão para trás.Quando entrei no pequeno e requintado banheiro do palácio, fechei a porta de uma das cabines com cuidado e apoiei minhas costas na parede fria. Por um momento, o silênci