Após muitas horas sentado em frente ao seu computador, Jackson Ventura resolveu sair um pouco de sua casa; estava atordoado por seu grande esforço mental para progredir naquilo que ele considerava como o projeto de sua vida. Uau, que dor de cabeça terrível, dizia ele. Acabara de conversar com Chloe, que o aconselhou a dar uma volta pela cidade. Resolveu ir sozinho até a praça que frequentava com seus pais na infância. Aquele lugar trazia ótimas sensações a ele. Proporcionava-lhe uma paz que ele mesmo não sabia descrever. A imagem de crianças brincando, o cheiro das folhas das árvores e a brisa fresca o faziam sorrir. Jackson sentiu que naquele dia, tinha de esquecer de tudo e se concentrar apenas naquele momento, apenas em seus pensamentos. Deu duas voltas na praça a passos lentos e depois sentou-se em um banco para observar algumas crianças que jogavam bola. Desligou o seu celular e procurou relaxar. Não demorou muito e ele percebeu algo que o deixava incomodado. Um homem branco, apa
Depois do terremoto ter se acalmado, Jackson Ventura se recupera do grande esforço para manter Naiara Dominguez viva. A garota examina o braço do amigo para ver se não sofreu alguma luxação grave ou até mesmo se não quebrou algum osso. Jackson brinca para descontrair: - Quem diria que um dia eu sobreviveria a um desastre natural sem quebrar nenhum braço? - Eu jamais me perdoaria se você tivesse quebrado o braço! - respondeu Naiara. - Como assim? Eu estou muito feliz e agradecido a Deus por estarmos vivos, e ainda estaria mesmo se tivesse quebrado os dois braços! - É verdade... Nós somos testemunhas de um grande milagre!De repente, os dois sentiram um grande alívio quando ouviram a voz de Alexandre, que vinha com o grupo ao encontro deles: - Ei, vocês estão bem? Estão feridos? - Sim, estamos ótimos! - respondeu Naiara, com um sorriso. - Graças a Deus! - exclama Juliana - Quando vimos que vocês não estavam com a gente, tentamos voltar correndo, mas o terremoto estava muito inte
Naiara ficou estática ao saber o nome do jovem que cuidava dos feridos. Era o mesmo nome e sobrenome de seu avô. Após encara-lo por um tempo, ela pergunta: - Desculpe... como disse que é o seu nome? - Fernando Dominguez! Nós nos conhecemos? - Não, é só que... você tem o mesmo nome de uma pessoa muito querida para mim! - Sinto muito se isso te traz más lembranças! - responde Fernando. - Não, não! Na verdade, é muito pelo contrário!Neste momento, Alexandre intervém: - Acho melhor nos apressarmos, Naiara! Você e Fernando conseguem cuidar dos feridos? Juliana e eu iremos até o Lado Leste! - Sim, deixe conosco! Faremos o que pudermos! - É verdade! - exclama Fernando - Eu tenho poucos medicamentos, mas se juntar com os de Naiara, podemos ter bons resultados por aqui! - Você quer ficar com o meu rifle? - pergunta Alexandre. - Não será preciso! - responde Naiara, enquanto colocava bandagens em um ferido - Eu não sei usar armas e tudo o que precisamos está ao alcance de nossas mãos
Ninguém podia acreditar no que estava vendo, exceto Juliana e Alexandre, que já haviam estado antes no Lado Leste de Montserrat. Era um ambiente incrivelmente diferente de onde estavam. Uma grande paz parecia reinar naquele lugar; naquele momento, parecia fazer sentido Juliana e os outros não terem visto o primeiro terremoto, visto que não havia nenhum sinal de destruição naquele local. Pelo contrário: As plantas exalavam uma beleza sem igual, a grama parecia tingida com o mais belo tom de verde, e o canto dos passarinhos compunha uma orquestra inigualável. A família resgatada olhava para o ambiente e ficava encantada com o que apreciava. - Isso parece um sonho! - exclamou a mãe do bebê que Juliana carregava em seu colo. - Como pode existir um lugar assim em Montserrat? - indagou Abraham - Por que em todos esses anos nunca o encontramos? - Talvez, por se tratar de uma lenda, ninguém se interessou em atravessar a montanha para contestar a verdade - respondeu Alexandre. - Ninguém se
Naiara e Fernando permaneciam cuidando dos feridos do terremoto que abalou Montserrat. Eram ferimentos terríveis de se ver. Naiara não deixou de se impressionar com o carinho, a atenção e também com a frieza com que Fernando exercia sua tarefa. Conversava com cada pessoa, confortava a todos os que gemiam aflitos. Brincava com as crianças, arrancava sorrisos onde superabundavam lágrimas. A jovem enfermeira sentia-se inspirada a se doar por aquelas pessoas, se sentia na incumbência de diminuir ao máximo a dor dos moradores da vila. Após alguns momentos de extrema atenção, Naiara finalmente consegue novamente respirar um pouco aliviada e pergunta a Fernando:- Faz muito tempo que você mora aqui?- Não, eu não moro nessa vila! - responde o outro enfermeiro, também secando o suor do rosto - Na realidade, não sei como vim parar nesse lugar! Pra ser sincero, não me lembro de nada do que me aconteceu pelo menos nas últimas semanas! E quanto a você?- Também não me lembro de nada a não ser o a
Jackson Ventura não acreditava no que estava vendo: Aquela criança, de aproximadamente sete anos ou menos, que aparentava estar muito amedrontada em virtude de todos os acontecimentos recentes, virou-se para ele com uma expressão muito feroz. Ela vinha ao seu encontro, com um olhar vazio, o que era totalmente incomum vindo de uma menina. Galahad também não estava compreendendo, mas a única reação que ele foi capaz de ter foi alertar Jackson:- Para trás! Algo está acontecendo com essa menina!O jovem, seguindo a recomendação do cavaleiro, mantém certa distância da criança. No entanto, ela continua se aproximando, sem medo algum... Parecia completamente obcecada:- Me responda! Onde está o Tesouro de Deus?Galahad intervém:- Garota, pare de brincar com essas coisas! Afaste-se, temos uma tarefa a cumprir!- Vocês não vão lugar algum! Me digam onde está o Tesouro de Deus!- Ela não parece estar brincando, pessoal! - Exclama Jackson, afastando-se ainda mais - É melhor tomarmos cuidado!-
A paz que reinava no interior da casa de Felipe foi substituída por uma grande euforia. Jackson Ventura e os cavaleiros de Galahad chegaram afoitos com uma criança desacordada em seu colo. Rapidamente, o sofá foi desocupado e a menina foi deitada com muito cuidado. Incrivelmente, ela não adotava mais a expressão agressiva de outrora; agora, parecia que ela estava com seu interior tranquilo. Seu rosto estava com a pele calma e uma luz de bondade, que antes não era possível de enxergar, emanava de seu ser. Felipe finalmente levantou-se de sua cadeira e com muita dificuldade, caminhou até onde estava a menina. Todos abriram caminho para que ele pudesse passar. Permanecendo em silêncio, ele observou atentamente a criança. Parecia estar analisando cada traço do seu rosto que pudesse estar contaminado. Juliana, Alexandre e os moradores da vila olhavam com espanto. Então, após alguns minutos, Felipe retorna à sua posição e diz a todos:— Ela está bem! Realmente estava sob domínio das Trevas
A manhã estava chuvosa e fria. O quarto de Juliana Mazato estava com um ar ainda mais gélido. Não necessariamente pelo clima do lado de fora, mas pela sensação de abandono e solidão. Estava prestes a fazer uma longa viagem contra a sua vontade. Não que ela não gostasse da avó. Pelo contrário, ela o amava. Porém, as circunstâncias da viagem é que não agradavam Juliana. Seus pais não queriam que ela suspeitasse o objetivo do projeto no qual eles estavam intensamente concentrados. Juliana considerava aquele projeto uma maldição que destruiu por completo a união de sua família. Queria deixar claro para seus pais que não estava nem um pouco interessada naquele trabalho, mas eles pareciam tão obcecados com o sigilo que compraram secretamente as passagens aéreas para Sydney sem se preocupar com a opinião da filha. Para Juliana, aquele foi o maior ato de covardia que seus pais poderiam ter com ela. Não conseguia conter suas lágrimas. Sua única companhia era a obra de Júlio Verne, Viagem ao Ce