Gosto de lembrar-me da rua onde cresci com a imagem dos meus amigos de infância jogando bola e brincando de pique pega, polícia e ladrão e de tudo o que podíamos inventar no dia. As ruas eram largas, o vento sempre chegava pra trazer um ar mais fresco e levava embora a fadiga do cansaço e o desgaste decorrente do tanto que usamos a energia que a juventude nos deu. Não havia muito movimento de pessoas e carros naquela região, nem havia muita preocupação com a presença de estranhos e tumultos comuns nos bairros adjacentes ao meu. Alguns bairros, vizinhos nosso, possuíam por características o comercio de massas. Onde moro é significativo o número de residências.
Eram horas de corre pra cá, corre pra lá. Uma parada pra um lanche e assistir o programa da tarde no canal preferido junto de nosso principal colega e com um copo de achocolatado gelado na mão junto
A FendaUma grande mão magra, escaravelha, marcada pela pele como couro seco que cobria toda sua extensão, terminada por pontiagudas unhas escuras, duras como se a muito existente, mas agudas como fio de navalha, afiadas pelo tempo e pelo plano que a ela foi destinado, apareceu nos céus do Rio de Janeiro. Ninguém a viu e nem de que maneira surgiu no grande azul da atmosfera local, apenas estava lá, naquele determinado local e determinado tempo.Lá embaixo tudo gira como se tem ocorrido por milênios na normalidade terrena. Pessoas vão e voltam enquanto outras nunca mais retornam. Umas vivem, mas outras arrebatam a vida dos outros. Algumas sonham e diversas outras tem pesadelos. Em determinadas corredeiras passam águas, em outras rios de sangue. Umas são sãs, porém, em sua grande maioria, as pessoas encontram-se perdidas em seus próprios devaneios.
Remanso, Bahia, 1972. 17 dias. Como se saísse de dentro das profundezas de um estado de hibernação, desta vez Rita está acordada. Perdida totalmente em relação ao tempo e onde estava exatamente. São muitos dias dentro de um buraco escuro, isolado deste mundo, que não a permitia crescer como os outros, ser normal como todas as crianças. — Mãe! — Grita a menina. Seu medo de estar sozinha sempre estava presente, afinal até que tudo se ponha no lugar o que se apresenta a ela é aquele momento, o momento em que desperta.— Meu Deus minha filha, você acordou finalmente.A mãe correu já com lágrimas nos olhos e abra&
A menina, de pele morena e cabelos encaracolados, saiu pela porta principal de sua casa. Seguia seu irmão, meio desorientada, pois se sentia deslocada depois de tantos dias fora de sintonia. Caminhava arrastando seus pés descalços até a varanda. Sentia o piso queimado avermelhado sob seus pés, daquele feito de concreto e argamassa, finalizado com uma boa mão habilidosa de nivelamento com a colher de um pedreiro. Algo barato, característico das casas de interior. Rita, com seus olhos escuros, pela primeira vez desde que acordou, via a luz do dia por completo. Seu quintal continuava o mesmo. As plantas estavam luminosas e refletiam a luz do sol. Tudo típico da estação mais quente do ano. Não gostava muito da temperatura abrasando sua pele. A fadiga era sempre presente nessa época quando a umidade estava presente em potencial na atmosfera e o suor grudado no corpo torna-se uma característica do t
Salvador, Bahia.— Senhora. Infelizmente as causas dessa síndrome em sua filha são desconhecidas. Há poucos casos no mundo e poucos estudos sobre ele. Sabemos que a maior parte das pessoas que apresentaram os sintomas são homens jovens, porém isso não é uma regra exata.— Seu doutor. — Respondeu Elizabeth aflita. — Eu quero uma cura pra minha filha. Já gasto o que não tenho vindo até a capital do estado e quando chego aqui vocês nunca tem uma resposta certa e uma solução do problema da minha pobre menina. Por favor, ajude ela. Ela está perdendo toda a juventude.Estavam sentadas em duas cadeiras de ferro desconfortáveis de um pequeno consultório que prestava serviços ao sistema de saúde público local. Conversavam com o pediatra de Rita, que a acompanhava desde seu primeiro episódio de longo sono. Ele e
Rita estava na beira de um grande rio cristalino e calmo. De inicio pensou estar às margens do grande São Francisco, que cortava sua cidade, todavia ao olhar em volta, não reconheceu nada. Correu nas areias e pisava as pequenas plantas mortas da restinga arenosa. Não importava o quão mais rápido corria, percebeu que sempre voltava para o local de sua partida. Â sua volta as árvores eram retorcidas e de aparência carbonosa. Como se estivessem secas e queimadas há muito tempo, mesmo ao lado do rio cristalino. Não eram muitas. O terreno era composto de pedras pontiagudas e pequenas, diferente daquelas comuns, de borda arredondada, de beiras de córregos e cursos d’água. Não havia animais naquela vasta paisagem. Mesmo no longínquo horizonte não se via uma única cabeça de gado, ou um único urubu sobrevoando
Tudo esteve tranquilo durante cerca de um ano na vida da menina do sono profundo. O episódio de longas noites não se repetia há algum tempo. As noites estavam sendo aparentemente mais tranquilas. Mas algo era de se notar. A mudança constante de comportamento da menina de cabeços encaracolados tornou-se um fato. Ela a cada dia que passava estava mais retraída e introvertida. Preferia o interior de sua casa ao calor do sol do mundo exterior. — Querida, você já comeu alguma coisa hoje? — Oi mãe. Não estou com fome. Obrigada. — Mas você precisa se alimentar meu bem. — Não quero! Eu já disse pra não me incomodar! Prefiro ficar quieta no meu qua
Capítulo 13O rio corre vermelhoO céu cai em sua cabeçaOutra morte à frenteA queda do oesteEu te darei o meu ódio ao invés deBanho de sangue e alémO rio corre vermelhoBem vindo ao fimBloodbath está em toda parteNo reino do terrorO ódio da terra(Soulfly)Capítulo 14 Sentada em uma mesa estava sozinha, porém à sua volta haviam pessoas que ela nunca tinha visto. O ambiente era hospitalar. O chão encerado, as paredes brancas, as janelas estavam fechadas e em locais altos. Reparou que
Remanso, Bahia, 1974. Envolta em cobertas, despertava em sua cama. Espreguiçava-se esticando os músculos ainda deitada. Tinha preguiça de se levantar. Rolou para um lado, minutos depois para o outro. Não conseguia mais alcançar o sono. Quando abriu seus olhos Rita estava em seu quarto. Vestida com uma camisola rosa claro de um tecido que imitava a textura de seda. A cor azulada, trazida pela luz refletida da cortina de tal tonalidade, trazia um sentimento de calmaria ao ambiente. Colocou seus chinelos, arrastou seus pés ao banheiro e foi fazer sua higiene matutina.Fez um rabo de cavalo em seus e amarrou os cabelos com um elástico preto. Saiu para o café da manhã. Sabia que ainda era cedo. Não fazia tanto calor e os pássaros cantavam lá fora, como costumeiramente nesse horário. Não demorou muito est