Ficamos abraçados em silêncio por um longo tempo, minha cabeça apoiada em seu peito e nossas pernas entrelaçadas embaixo das cobertas. Apenas sentindo a presença um do outro depois de tanto tempo.
- Você esteve com outras pessoas, não é? – Max perguntou, tentando soar casual.
- Não me leve a mal. – eu precisava ser sincero – Mas, sim.
- Eu não levo. – ele podia sentir ciúmes ao imaginar isso, mas verdadeiramente não me condenava nem um pouco.
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Naquela noite não conseguir prestar atenção em nada. Julian me contou alguns casos da escola, mas tudo que eu conseguia era acenar com a cabeça enquanto tentava imaginar como Max estaria se saindo na conversa com Amélia. Quando meu menino começou a cochilar, decidi leva-lo até a cama, onde rapidamente começou a se aninhar entre as cobertas. - Pai? – me chamou de olhos fechados, puxando a coberta até o queixo. - O que foi? – sussurrei me aproximando novamente. - Eu
Max não voltou, mas recebi uma visita inesperada. Quando escutei as palmas na rua, apenas fui atender, sem jamais imaginar que a veria ali, parada e de queixo erguido. Completamente perfeita como há quinze anos, me olhando de cima para baixo, mesmo que eu fosse mais alto. - Resolvi descobrir para onde meu marido tinha ido. – falou abrindo o portão sem que eu convidasse – Queria saber quem era a mulher que estava tentando destruir meu casamento. Seus saltos fizeram um ruido contra o chão da varanda, onde eu permanecia completamente quieto. A conversa não tinha ido bem, dava para perceber.<
Deixar a casa, sob o olhar das pessoas nas janelas, não foi tão ruim como eu tinha esperado. Havia um certo alívio em encerrar aquela fase da vida. Olhei ao redor, flagrando várias cortinas afastadas, e então beijei Max ali na rua. Ele pareceu surpreso, mas não me repeliu. - O que foi isso? – perguntou quando nos acomodamos no carro. - A cena final. – dei de ombros, imaginando o quanto os vizinhos teriam ficado chocados. Durante todo o caminho, pensei na minha família. Já fazi
Eu estava certo, e aconteceu muito antes do que eu poderia sonhar. Cinco anos após nossa mudança para o hotel, num dia de sol, quando eu estava atrás do balcão vendo uma porção de papéis, uma garota atravessou a porta com passos decididos. Sua postura e feição entregaram quem era, por mais que os cabelos fossem mais claros e os olhos do tom azul exato de Max. Havia certa arrogância em sua aura que me remetia ainda mais à Amélia, e me deixou apreensivo. - Você é Oliver. – não era uma pergunta. Ela me encarava de queixo erguido.<
Na semana seguinte, Amélia chegou no hotel. Estava muito pior do que eu imaginava. Tão magra que todos os seus ossos apareciam sobre a pele fina e translúcida, apoiando em Annie como se mal tivesse forças para se locomover. Ela não olhou na minha direção enquanto Max e seus filhos a acompanhavam até um quarto no primeiro andar – não sei como ela conseguiu subir as escadas -, e eu apenas observei de longe, imaginando se me sentiria mal por tê-la por perto. - Ela está muito pior do que eu tinha pensado. – Max desceu as escadas pouco depois com uma express
Mas certamente a vida não segue o roteiro que a gente deseja escrever. Tudo aconteceu tão rápido que nunca consegui processar direito. Em um momento era a vida seguindo, no outro o caos completo tinha se instalado e a dor me tomou tanto que pensei que jamais poderia sair vivo daquilo. Na noite em que Julian completou vinte anos fizemos um jantar em família, apenas Max, eu e nossos filhos. Colocamos uma mesa do lado de fora do hotel, na grama, e tudo foi completamente animado. Annie estava feliz por ter feito um bolo, sozinha, para o irmão postiço, João estava animado porque acreditava que Ju
Meu pai morreu pouco depois e, com grande receio, retornei para minha vila com meus três filhos, sem saber como seria recebido. Mamãe parecia me querer muito por lá, mas Rebeca nunca mais tinha entrado em contato comigo. Nosso reencontro aconteceu diretamente no cemitério, mas, enquanto minha mãe me abraçava e chorava, Rebeca não me dirigiu nem um olhar. Eu esperava que ela ignorasse Annie e João, mas não esperava que sua frieza se estendesse a Julian. Felizmente ninguém parecia se importar muito com ela. Meus três filhos apenas me observavam, espreitando a possibilidade daquele evento voltar a me abalar profundamente. Mas não aconteceu, eu sentia apenas u
Tivemos relativa calmaria até o nascimento de Munique. Minha neta encantava quem quer que fosse, desde nós, membros da família, até cada pessoa que colocava os pés no hotel. Todo mundo sorria e pedia para ter alguns momentos com ela no colo. Felizmente Sara era muito tranquila a esse respeito. Foi interessante ver meus traços reproduzidos. Munique decididamente seria a cara de Julian, e eu amei cada detalhe daquilo mais do que poderia ter sonhado, assim como Sara, que parecia amar meu filho com uma delicadeza silenciosa. Não muito tempo depois foi a vez de Annie.&nb