SIGRID—O que é isso? Ah, não pode ser —bufei ao olhar o que tinha pego no meu apuro.Queria me dar tapas na cabeça.Eram planos para construir um artefato mágico que permitia entrar nos sonhos de alguém e deixar mensagens, ordens ou até mesmo provocar seus piores pesadelos.—O que faço com isso agora? Entro no sonho do Dave e o incomodo um pouco? —murmurei, pensativa, mas logo descartei a ideia, irritada.Tanto esforço para nada. Ele me deixava ler todos os seus livros, menos aquele, e a curiosidade estava me corroendo.O que tanto havia de proibido nesses escritos?Caminhei até o poço escondido no meio da floresta, sempre envolto por uma névoa escura. Quase ninguém ousava entrar ali, pois ficava nos limites do palácio.Alguns anos atrás, criei ali um feitiço que me permitia me transportar diretamente para as terras do meu pai.Vi alguns lírios negros, que minha mãe adorava, e comecei a colhê-los para ela.Com certeza, ela estava tomando chá da tarde com minha avó.Sorri, caminhando
SIGRIDO grito ficou preso na minha garganta, meus olhos quase saindo das órbitas e minhas mãos tremendo.Levantei aquela pobre criatura prestes a morrer.Toda sua pele pálida estava coberta de marcas negras horríveis, como padrões de maldições que até cobriam o rosto.Ele não chorava. Eu sentia seu pequeno coração fraco prestes a parar.Ele abriu os olhinhos, um de cada cor, e olhou para o rosto da cadela que o estava afogando no poço.—Minha senhora, aconteceu algo? —Estremeci ao ouvir uma voz atrás de mim. Eu não estava sozinha.Deusa, eu precisava disfarçar, me colocar no papel dessa desgraçada, porque, se me descobrissem, eu estaria morta.—Não aconteceu nada, Grimm. Terminarei rápido com isso. Vá preparar a carruagem.—Já está pronta.—Então vá de novo, ou está surdo? —gritei com todo o desprezo que consegui reunir, esperando que o tremor no fundo dessa voz, tão estranha para mim, não fosse percebido.Assim que ouvi seus passos se afastando, virei-me em meio a essa floresta estr
SIGRIDA carruagem parou, e ouvi Grimm cumprimentando alguns homens. Depois, o som de portões rangendo e voltamos a seguir em frente.Afastei a cortina com o dedo, onde um enorme anel de esmeralda brilhava, e imediatamente os guardas baixaram a cabeça em respeito.Passamos por muralhas imponentes que davam acesso a uma cidade cheia de vilas e casas de pedra e madeira.Ouvia-se o burburinho das ruas, o aroma de comida e os pregões das pessoas no mercado.Todos os campos cultivados e tudo dentro dessas muralhas pertenciam ao feudo da família de feiticeiras De La Croix.Três irmãs: a mais velha e atual chefe do castelo, Morgana De La Croix; a do meio, Drusilla De La Croix; e a mais nova, a mulher cuja consciência eu mantinha aprisionada enquanto ocupava seu corpo com meu espírito primordial: Electra De La Croix.—Quero descansar. Que ninguém me incomode.Dei ordens e segui em frente, conforme as lembranças, através do pátio externo onde paramos, atravessando as enormes portas de entrada
SIGRID—Sim, sim, eu sei, pela Deusa, como você é fria. Achei que, por ser a caçula, seria mais gentil —murmurou, falando apressadamente—. Agora entendo por que é a favorita da Morgana, quase parece que foi ela quem te pariu.—Vai passar a tarde falando bobagens ou já vai sair do meu quarto?—Estou indo, estou indo. Ufa, que mau humor. Fico te devendo uma.Ela finalmente saiu, deixando um rastro daquele perfume enjoativo que usava e os longos cabelos negros balançando nas costas.É bela, como quase todos os seres sobrenaturais, mas uma mulher que fala dos próprios filhos como objetos descartáveis só pode ter o ventre e o coração podres.Além disso, Morgana vai descobrir, não apenas porque Grimm é seu espião, mas porque Drusilla é péssima em tudo, até mesmo em mentir.Decido me sentar na cama para pensar na minha missão.Preciso traçar planos para sair daqui por conta própria.A Deusa, como sempre, falou em enigmas. Minha tarefa é encontrar um homem especial, extremamente belo, e salvá
SIGRIDNesse momento, eu estava extremamente grata pelos meus conhecimentos de magia negra.Ainda assim, apesar de todas as coisas estranhas que já tinha presenciado, observar o tronco daquela árvore se abrir, com um sangue escuro como piche escorrendo para o chão, enquanto o corpo daquele homem era "liberado", foi uma cena que ficaria gravada na minha memória.Metade do corpo dele caiu para fora do tronco.Sua pele, em carne viva, mal era reconhecível, sendo devorada aos poucos.Ele tentou se arrastar com a ajuda dos braços, mas não conseguia; suas pernas ainda estavam presas. Parecia que aquela árvore demoníaca não deixaria sua presa escapar tão facilmente.O escravo agarrava-se à vida.Nenhum som escapava de sua boca, apesar da dor excruciante que devia estar sentindo.Algo em mim despertou uma admiração por sua resistência.Coloquei o bebê na grama macia, longe daquela cena horrível, e caminhei até ele com determinação.—Vamos, não me faça desperdiçar meu tempo e meus feitiços à t
SIGRIDA noite avançava, e eu precisava agir rápido.Não era o mesmo levar um bebê transformada em névoa do que carregar um homem tão pesado. Eu precisava movê-lo para algum lugar mais próximo.—Consegue caminhar? Ei —inclinei-me ao seu lado, com a guarda alta, pensando que ele poderia me atacar de surpresa.Mas, ao tocar seu ombro com força, seu corpo caiu inerte para trás. Ele havia desmaiado.Pelos céus.Eu bufava de cansaço, mas qualquer pensamento desapareceu ao ver seu rosto descoberto agora que o cabelo sujo havia caído para o lado.Cerrei os punhos enquanto a raiva percorria meu corpo. Seu rosto estava destruído.Coberto de feridas horríveis e profundas, cicatrizes, e o pior de tudo: ao redor de seu olho direito, uma enorme marca negra, como uma queimadura, que se estendia pela bochecha e pela testa.Que tipo de feitiço amaldiçoado estavam experimentando neste infeliz?Cobri-o como pude com a capa e conjurei um feitiço de força. Isso consumiria muita magia, mas não havia outra
SIGRIDAquele homem se levantou e começou a me atacar com uma força descomunal, algo que eu nem sabia de onde vinha, considerando sua condição.—Estou... tirando... o selo —cravei minhas unhas em seus pulsos, resistindo à falta de oxigênio e olhando diretamente para aquele olho dourado que agora me encarava, nublado e errático.A loucura espreitava nas profundezas de seu olhar.—Não... me... toque... maldit4... —rosnou com um ódio que me fez arrepiar o corpo inteiro, tão visceral e profundo, tão sangrento.—Aaggrr —gemi, resistindo, enquanto lutávamos.As unhas negras de suas mãos penetravam cada vez mais dolorosamente em meu pescoço branco. A escuridão rondava minha visão, e minha cabeça girava de tontura.—Eu não sou... ela... tranqui... lize-se... não sou... Lucre... cia.Eu sabia que ele estava me confundindo, que o rancor que sentia por sua antiga dona impulsionava aquele último resquício de resistência em seu corpo.Eu teria que atacá-lo, já sentia isso. Mas não morreria pelos p
SIGRIDEle parecia um pouco perdido, olhando para a varanda.Tentou se levantar, mas caiu no chão com um baque surdo.Quis voltar para ajudá-lo. Não sabia por quê, mas ele me causava tanta pena.No entanto, eu não podia. Aqui, eu não era a princesa Sigrid, e sim Electra, a cruel bruxa.Por mais que eu o tivesse enfeitiçado, não deveria confiar em ninguém.Ele se arrastou pelo chão até a mesa, sem forças para sentar na cadeira, e puxou a toalha, fazendo toda a comida cair no chão com o tilintar dos pratos metálicos.Vi-o devorar a comida desesperado, quase sem mastigar, como um animal selvagem lutando para sobreviver.Pela primeira vez, apesar de todo o sofrimento que ele havia enfrentado desde que o conheci, vi lágrimas escorrendo do único olho que ainda funcionava, enquanto ele abaixava a cabeça.Deusa, como podes permitir tanta maldade contra seres que tanto te encantaram?Não foi por eles que quiseste descer para observar suas vidas de perto?Pela primeira vez, senti vergonha de pe