POV ALICE.O ar no interior do templo vibrava com uma energia antiga e indomável, carregado de um peso que parecia atravessar o tempo. As chamas das velas tremulavam, projetando sombras dançantes nas paredes cobertas de inscrições em um idioma esquecido. Meus sentidos estavam aguçados ao extremo, cada batida do meu coração ecoava como o tambor.Darius permaneceu ao meu lado, sua presença era minha âncora em meio ao desconhecido. O calor de sua pele contrastava com o frio cortante do ambiente, um lembrete de que eu não estava sozinha. Lulu, com seu olhar enigmático e cintilante, caminhava em círculos ao redor do altar, sua cauda oscilando no ar com a precisão de um ponteiro marcando o tempo. Algo estava prestes a acontecer. Eu podia sentir.Uma luz prateada começou a emanar do centro do altar, expandindo-se lentamente, envolvendo as oferendas dispostas sobre a pedra negra. O sangue de Darius e o meu haviam sido absorvidos pelo símbolo entalhado na superfície fria, e agora ele brilhava
POV DARIUS.Baltazar estava adorando carregar Alice em suas costas. Apesar do medo, ela parecia estar gostando da experiência. Quando chegamos ao templo, pude sentir uma energia poderosa naquele lugar esquecido e abandonado. Eugênia fez um bom trabalho ao apagar tudo sobre esse local.Mesmo tomado pela natureza e pelo tempo, o poder da deusa ainda impregnava cada pedra, cada sombra. Esse lugar era nossa herança. Assim que tudo estivesse resolvido em relação à maldição, mandaria reconstruí-lo. Minha alcateia e o reino precisavam conhecer essa parte da história apagada por Eugênia.No interior do templo, a energia era ainda mais intensa. Senti Alice hesitar, seu corpo tremia levemente. Quando realizamos o ritual e a deusa Lua surgiu, fomos invadidos por uma força sufocante. Mas, apesar da pressão avassaladora, eu estava esperançoso. A deusa nos ouviu e veio até nós. Agora finalmente saberíamos como acabar com a maldição. No entanto, nada poderia me preparar para a revelação que seguiu.
POV DARIUS.Alice piscou algumas vezes, ainda assimilando tudo que havia sido revelado. Seu olhar alternava entre mim e a deusa Lua, e eu podia sentir a confusão em seu coração.— Então, Necro continua com Darius… Mas como um ser? O que mudou? — perguntou ela, a voz carregada de hesitação. A deusa nos olhou com paciência, como se esperasse essa pergunta. E responder:— O que mudou, minha filha, é que antes Necro era um ser descontrolado e não reconhecido que vivia dentro de Darius e tomava o controle, deixando Darius adormecido. Necro era movido pela raiva, ódio, treva e maldade. Ele era uma punição, um ser aprisionado em Darius pela maldição. Agora, ele foi liberto e reconhecido. Necro é uma extensão de Darius, assim como Baltazar. Não há mais uma força tentando dominá-lo, não há mais o risco de perder o controle. Necro agora faz parte de Darius, mas sob sua vontade, não contra ela. Você, Alice, acalmou Necro e o libertou da maldição e da treva que o dominava. Agora, ele está tranqui
POV ALICE.A Deusa Lua me olhava com pesar e tristeza. Sua voz ecoou pelo ambiente, serena, mas carregada de um peso que eu não compreendia totalmente. Ela parecia estar sofrendo com o que diria.— Alice, minha filha, você sempre carregou um fardo pesado no coração: o ciúme. — Falou. Meu coração apertou com aquelas palavras. Como assim? Ciúme? O que ela queria dizer com isso? Permaneci em silêncio, aguardando que continuasse, mas minha mente já fervilhava.— Você observava com amargura crescente o amor e a atenção que eu destinava aos humanos e às criaturas desse mundo. Enquanto meus protegidos recebiam minha benevolência, você se sentia abandonada às sombras. Isso a corroía por dentro, plantando lentamente uma semente de ódio. Você se perguntava por que aqueles mortais frágeis mereciam mais carinho do que você, minha própria filha. Tive que ter acesso às suas memórias para saber o que você pensava e sentia. E sinto muito por não ter lhe dado mais atenção, minha filha — disse a deusa.
POV ALICE.O mundo ao meu redor parecia desmoronar. O olhar de Darius, carregado de ódio e ressentimento, queimava minha pele como brasas incandescentes. Cada palavra que ele lançava contra mim era uma lâmina afiada, cortando-me sem piedade. A culpa me envolvia como uma sombra sufocante, esmagando-me com o peso da verdade. Eu queria fugir, desaparecer, mas minhas pernas estavam presas no chão, como se fossem feitas de pedra.— Você me condenou! — O rosnado de Darius fez meu corpo inteiro tremer. — Você é a razão para tudo que sofremos! Para tudo que eu sofri! — acusou, os olhos brilhando de dor e fúria.Eu queria dizer que não, que não podia ser verdade. Mas meu coração sabia que era. Eu não conseguia respirar. A dor em seu olhar me dilacerava, e uma parte de mim sabia que nunca conseguiria reparar o estrago que causei.— Eu não sou aquela pessoa! Eu nem me lembro de quem eu era! — minha voz saiu trêmula, sufocada pelo desespero. — Eu não sabia! A Deusa apagou tudo, me jogou neste mun
POV DARIUS.Eu estava destruído. Cada parte de mim parecia despedaçada por dentro, me sentia como se o chão tivesse sido arrancado dos meus pés e eu estivesse caindo em um abismo sem fim. O que Alice fez… O que a outra Alice, a do passado, fez… era imperdoável. Eu olhava para seus olhos que me fitavam cheios de lágrimas. Entreguei minha alma e coração para ela. Mas agora, eu não sabia mais quem ela era. Eu não sabia mais quem eu era. Tudo que eu sentia nesse momento era ódio, decepção e dor. Dentro de mim, Baltazar chorava, um uivo de dor ecoou na minha mente.— Isso não pode estar acontecendo… — sua voz era um lamento, pesada, arrastada pelo peso da angústia.— Mas está. — Minha resposta mental saiu seca, amarga, como fel.— Darius… Nós a amamos. Esperávamos por ela! — Baltazar insistiu, sua dor refletindo a minha. Necro, no entanto, permaneceu em silêncio por um longo tempo, como se estivesse somente observando, esperando.— Você sabia. — acusei, sentindo minha ira crescer como uma
POV DARIUS.A ira queimava dentro de mim como brasas incandescentes. Meus punhos estavam cerrados, as unhas cravadas na carne, mas a dor física era insignificante diante do que consumia minha alma. A traição, a mentira, o destino cruel que me fora imposto. Baltazar rugia dentro de mim, sua voz como um trovão em minha mente.— Você precisa trazê-la de volta, Darius! — ele exigiu, sua voz grave e urgente em minha mente. — Você sabe que precisa dela. Seu corpo, sua alma… Tudo em você clama por Alice! — disse.— Cale-se, Baltazar! — rosnei em pensamento, o ódio pulsando. — Eu não a quero aqui! Ela me enganou, brincou com a minha vida! Me fez acreditar que era outra pessoa! — Falei, rosnando em resposta, sentindo meu corpo enrijecer.— Ela não te enganou. Alice nem sabia quem era. A meu ver, ela foi uma vítima também. A mãe dela é a culpada. Estou sofrendo com essa revelação, mas não posso odiar Alice. — disse Baltazar, nervoso.— Ela é sua companheira! — Necro interveio, sua voz gélida co
POV DARIUS.Ignorei ambos e voltei a falar com meu pai. Olhando em seus olhos, respondi:— Vou superar essa dor e a esquecerei. — Falei firme, ignorando a agonia que já começava a se enraizar dentro de mim só de pensar nessa possibilidade.— Vai mesmo, mas a que preço? — Meu pai rebateu. — Sem uma companheira, você fica enfraquecido. E lembre-se de que não é mais imortal. Assim que seus inimigos descobrirem, virão para cima de você com tudo. Você sabe que esse era o plano deles e agora está fazendo exatamente o que eles queriam. Você é um Rei Alfa Supremo, tem uma obrigação com a alcateia e com o reino. Então, não tome decisões que coloquem todos em risco. — Alertou ele.Eu não o respondi, pois sabia que ele estava certo. Seus olhos brilharam com determinação antes de se aproximar e me puxar para um abraço apertado. Congelei por um momento antes de lentamente relaxar nos braços dele. Meu pai sempre se manteve a uma certa distância. Sei que a culpa o deixava afastado e incapaz de demo