Senti-me triste, triste por ter voltado, triste porque não acreditavam em mim, não achavam que eu fosse capaz. Minha tia saiu do quarto junto com minha avó, eu era prisioneira dentro de minha casa, isso não podia estar acontecendo Se eu soubesse que seria assim, não teria voltado. Eu entendia que estivessem me protegendo, mas a omissão do quem eu era também era uma forma de destruição. Aquilo que eu tinha feito a pouco tinha acontecido do nada... E se acontecesse um dia, enquanto eu estivesse na aula? E se Kaarl tivesse razão e eles viessem atrás de mim e destruíssem minha cidade?
Três dias se passaram, até que finalmente me permitiram sair de meu quarto para ir à escola. Porém, meu avô me levava e ia me buscar para ter certeza de que nada aconteceria no percurso. Ele também deixou todos meus professores avisados de que eu passava por uma crise de identidade e que não deveriam permitir que eu ficasse sozinha. Então, onde quer que eu fosse, eu tinha um guard
Assim que entrou no quarto, com cuidado, ele viu uma mulher não muito alta, parada de costas para a janela. Não era uma camponesa, não usava vestido, mas calças; tinha calçados de salto nos pés e postura elegante. Hermes tinha razão. Kaarl não a conhecia, e ao considerar suas roupas ela não devia ser do mundo dele, mas do mundo de Anna. - Eu gostava de ficar aqui, passava horas do dia observando a beleza do sol poente de vocês sem a fumaça das indústrias, apenas o verde das matas. Hely foi uma garota de sorte. A mulher falava sem se virar. Kaarl aproximou-se com cuidado. - Desculpe, mas quem é você? Ela sorriu de canto e então se virou. Seu rosto era familiar, ele conhecia, porém, não sabia quem era. - Hoje, quebrei uma promessa muito difícil de ser quebrada. Eu jurei nunca mais vir até aqui e olha só onde estou agora – Novamente, ela sorriu tristemente. – Sou Tarja, irmã mais velha de Hely, ou melhor, irmã de criação m
Aila andava apressada pelos corredores. - Aila, está tudo bem mesmo? - Na verdade, não, mas vamos entrar no quarto e eu lhe explico tudo. O quarto que tinha sido de Tiina não era o mesmo que eu tinha ocupado na vez passada. Era um quarto maior, tinha paredes amarelas e janelas grandes, era arejado e tinha dois espelhos gigantescos. - Tudo bem, estamos no quarto. Vai me contar o que está acontecendo. Por que ele está tão preocupado? - Bom, de acordo com as normas a seleção deve acontecer quando os bruxos ingressam na escola. Mas, é claro que, normalmente, as crianças que ingressam na escola já têm conhecimento em magia. Ou nasceram em famílias de bruxos ou se criaram no reino, e por isso conhecem tudo sobre a magia. Não é o seu caso, Kaarl está nervoso por que teme que isso possa assustá-la. E cá entre nós, acho que Jarkko fez isso de propósito, justamente com essa ideia. - E por que ele faria isso? E
Havia duas portas de madeira que levavam até o salão e eu fiquei parada atrás da segunda porta. Atrás da primeira porta estavam os novos alunos, com suas túnicas escuras e sem faixa. Atrás da segunda porta, eu tentava prestar atenção ao som da trombeta. Quando ela soasse, as portas se abririam e eu teria que entrar. Tudo bem, Anna, acalme-se, é só ouvir o som da trombeta. A cerimônia começou e eu podia ouvir o barulho dos passos dos alunos entrando no salão, seguidos por palmas. Eu não podia assistir a cerimonia de seleção deles e isso me deixou ainda mais angustiada, vê-los ser selecionados me daria um pouco mais de confiança, pelo menos eu saberia como seria. Assim que o aluno era selecionado, uma faixa de cor se formava em volta de sua cintura e ele era aceito em uma das classes dos elementos. Eu estava andando de um lado a outro, nervosa, quando a trombeta soou e despertou em mim o pânico. Disparei correndo de onde eu estava e surgi no corre
Eu olhei para ele apreensiva e então cerrei os olhos com medo. Tremendo dos pés à cabeça, pisei dentro do círculo. Alguns alunos se levantaram nas mesas para ver o que acontecia, mas nem o cálice, nem a Athame, tampouco a flor ou a vela, se moveram do lugar ou demonstraram qualquer mudança. Eu abri meus olhos para ver se algo acontecia, mas, nada... Não houve nada, logo as pessoas começaram a cochichar e se pode ouvir risos e piadas. “Ela não é uma bruxa”. “Não tem dom algum”. “Tirem ela daí, é só uma normal”... Assim como no meu mundo, o mundo de Kaarl também tinha seus preconceitos e nessa hora eu entendi que ser alguém sem magia em uma cidade mágica era como ser o patinho feio sem chances de ser cisne. Por que nada acontecia? O que estava havendo? Eu me virei para encarar Kaarl, que parecia perplexo. Jarkko se levantou e riu alto. - Vejam! Exatamente o que eu disse, ela não é uma de nós... É uma impostora.
Desci para jantar no horário de sempre; meus olhos procuraram pelos verdes efusivos de Kaarl, mas eu não o encontrei. Os guardiões estavam sentados na mesa principal, junto com alguns professores. Os Embaixadores tinham se retirado, nem todos tinham o costume de ficar para jantar no castelo. Quis me sentar em uma mesa, mas assim que sentei no banco vi os alunos se retirarem para o lado. Senti-me estranha, comi pouco; então, me levantei e os olhares me seguiram por todo o tempo, até que eu desapareci do salão e subi as escadas, indo para o meu quarto. Kaarl não veio me ver. Minha curiosidade de saber se eu devia ficar no castelo ou arrumar minhas coisas somente crescia. Eu queria saber, eu precisava saber se tinha dado tudo certo. A noite passou lenta demais, eu tinha vontade de procurar Kaarl, mas morria de medo do que ele fosse me dizer. Quando ouvi as primeiras batidas na porta, quase enlouqueci. Só podia ser ele! Saltei da cama e
Na manhã seguinte, resolvi quebrar o gelo e sai do quarto. Desci as escadas, sentei para tomar o café, recebi olhares, mas eu tinha decidido não me importar. Fui ao jardim, caminhei pelo bosque ali perto, fui até o lago e senti saudades de casa. Quando voltei ao castelo, tudo que eu queria era me deitar. Acabei não almoçando e fui direto para o quarto. A noite chegou rasteira e repentina. Eu tinha pegado o terceiro livro para ler; dessa vez comecei a ler sobre pedras, origem, família, poderes... Qual seria a pedra de minha família? Será que eu tinha alguma pedra? Será que Kaarl sabia qual era? O castelo estava em completo silêncio. Deve ter sido por isso que assim que o trinco da porta girou eu me assustei, pois não estava esperando por ninguém. Era Aila. - Desculpe senhorita, eu a assustei? - Um pouco, o que faz aqui essa hora da noite? - Encontrei algo que acho que a senhorita gostaria de ver. - Há essa hora? - Sim, temos
porta foi arrombada e eu caí para trás, arrastando-me até a janela ao perceber que Jarkko vinha ao meu encontro com a varinha apontada em minha direção. - Suas loucuras de bruxa foram longe demais, garota! Ele me segurou pelas roupas e me ergueu para cima como se eu fosse uma boneca. Nessa hora, o Embaixador entrou correndo no quarto seguido por uma menina desconhecida. - Solte-a imediatamente! - disse ele, com a varinha apontada para o professor. - Ela pôs a vida de alguém em risco, deve pagar com a vida por sua irresponsabilidade! O Embaixador se aproximou furioso de Jarkko. - Eu já disse para colocá-la no chão, isso não é um pedido, é uma ordem. Por acaso irá contestar a ordem de seu superior? Jarkko me soltou e eu caí de joelhos no chão, um pouco sem ar. Kaarl também entrou no quarto e correu ao meu encontro. - Você está bem? Assenti com a cabeça, mesmo não acreditando no que eu
Kaarl tinha dito que me daria aulas particulares antes de iniciar as aulas da escola de magia, porém até agora eu só tinha me encontrado com os outros guardiões, tudo bem que agora eu começaria a frequentar as aulas, mas ele não tinha cumprido com sua palavra, apressei o passo pelo corredor e me dirigi até o saguão buscando por ele, porém ele não estava por lá, busquei por ele no escritório e também na ala norte, estava cansada de andar pelo castelo quando encontrei duas alunas no corredor. - Oi, alguma de vocês viu o príncipe? Uma delas olhou para a outra e falou com tom de deboche. - Perdeu o seu brinquedinho herdeira? - O Príncipe não é meu brinquedo... Ah deixa pra lá! – Me retirei sem dar mais atenção a elas, não estava com paciência para iniciar uma discussão, subi as escadarias da ala lesta que ficava de frente para o meu quarto e com muita coragem bati na porta do quarto dele, eu sabia que ele não queria que eu viesse até ali, mas que mal deve