Aila andava apressada pelos corredores.
- Aila, está tudo bem mesmo?
- Na verdade, não, mas vamos entrar no quarto e eu lhe explico tudo.
O quarto que tinha sido de Tiina não era o mesmo que eu tinha ocupado na vez passada. Era um quarto maior, tinha paredes amarelas e janelas grandes, era arejado e tinha dois espelhos gigantescos.
- Tudo bem, estamos no quarto. Vai me contar o que está acontecendo. Por que ele está tão preocupado?
- Bom, de acordo com as normas a seleção deve acontecer quando os bruxos ingressam na escola. Mas, é claro que, normalmente, as crianças que ingressam na escola já têm conhecimento em magia. Ou nasceram em famílias de bruxos ou se criaram no reino, e por isso conhecem tudo sobre a magia. Não é o seu caso, Kaarl está nervoso por que teme que isso possa assustá-la. E cá entre nós, acho que Jarkko fez isso de propósito, justamente com essa ideia.
- E por que ele faria isso? E
Havia duas portas de madeira que levavam até o salão e eu fiquei parada atrás da segunda porta. Atrás da primeira porta estavam os novos alunos, com suas túnicas escuras e sem faixa. Atrás da segunda porta, eu tentava prestar atenção ao som da trombeta. Quando ela soasse, as portas se abririam e eu teria que entrar. Tudo bem, Anna, acalme-se, é só ouvir o som da trombeta. A cerimônia começou e eu podia ouvir o barulho dos passos dos alunos entrando no salão, seguidos por palmas. Eu não podia assistir a cerimonia de seleção deles e isso me deixou ainda mais angustiada, vê-los ser selecionados me daria um pouco mais de confiança, pelo menos eu saberia como seria. Assim que o aluno era selecionado, uma faixa de cor se formava em volta de sua cintura e ele era aceito em uma das classes dos elementos. Eu estava andando de um lado a outro, nervosa, quando a trombeta soou e despertou em mim o pânico. Disparei correndo de onde eu estava e surgi no corre
Eu olhei para ele apreensiva e então cerrei os olhos com medo. Tremendo dos pés à cabeça, pisei dentro do círculo. Alguns alunos se levantaram nas mesas para ver o que acontecia, mas nem o cálice, nem a Athame, tampouco a flor ou a vela, se moveram do lugar ou demonstraram qualquer mudança. Eu abri meus olhos para ver se algo acontecia, mas, nada... Não houve nada, logo as pessoas começaram a cochichar e se pode ouvir risos e piadas. “Ela não é uma bruxa”. “Não tem dom algum”. “Tirem ela daí, é só uma normal”... Assim como no meu mundo, o mundo de Kaarl também tinha seus preconceitos e nessa hora eu entendi que ser alguém sem magia em uma cidade mágica era como ser o patinho feio sem chances de ser cisne. Por que nada acontecia? O que estava havendo? Eu me virei para encarar Kaarl, que parecia perplexo. Jarkko se levantou e riu alto. - Vejam! Exatamente o que eu disse, ela não é uma de nós... É uma impostora.
Desci para jantar no horário de sempre; meus olhos procuraram pelos verdes efusivos de Kaarl, mas eu não o encontrei. Os guardiões estavam sentados na mesa principal, junto com alguns professores. Os Embaixadores tinham se retirado, nem todos tinham o costume de ficar para jantar no castelo. Quis me sentar em uma mesa, mas assim que sentei no banco vi os alunos se retirarem para o lado. Senti-me estranha, comi pouco; então, me levantei e os olhares me seguiram por todo o tempo, até que eu desapareci do salão e subi as escadas, indo para o meu quarto. Kaarl não veio me ver. Minha curiosidade de saber se eu devia ficar no castelo ou arrumar minhas coisas somente crescia. Eu queria saber, eu precisava saber se tinha dado tudo certo. A noite passou lenta demais, eu tinha vontade de procurar Kaarl, mas morria de medo do que ele fosse me dizer. Quando ouvi as primeiras batidas na porta, quase enlouqueci. Só podia ser ele! Saltei da cama e
Na manhã seguinte, resolvi quebrar o gelo e sai do quarto. Desci as escadas, sentei para tomar o café, recebi olhares, mas eu tinha decidido não me importar. Fui ao jardim, caminhei pelo bosque ali perto, fui até o lago e senti saudades de casa. Quando voltei ao castelo, tudo que eu queria era me deitar. Acabei não almoçando e fui direto para o quarto. A noite chegou rasteira e repentina. Eu tinha pegado o terceiro livro para ler; dessa vez comecei a ler sobre pedras, origem, família, poderes... Qual seria a pedra de minha família? Será que eu tinha alguma pedra? Será que Kaarl sabia qual era? O castelo estava em completo silêncio. Deve ter sido por isso que assim que o trinco da porta girou eu me assustei, pois não estava esperando por ninguém. Era Aila. - Desculpe senhorita, eu a assustei? - Um pouco, o que faz aqui essa hora da noite? - Encontrei algo que acho que a senhorita gostaria de ver. - Há essa hora? - Sim, temos
porta foi arrombada e eu caí para trás, arrastando-me até a janela ao perceber que Jarkko vinha ao meu encontro com a varinha apontada em minha direção. - Suas loucuras de bruxa foram longe demais, garota! Ele me segurou pelas roupas e me ergueu para cima como se eu fosse uma boneca. Nessa hora, o Embaixador entrou correndo no quarto seguido por uma menina desconhecida. - Solte-a imediatamente! - disse ele, com a varinha apontada para o professor. - Ela pôs a vida de alguém em risco, deve pagar com a vida por sua irresponsabilidade! O Embaixador se aproximou furioso de Jarkko. - Eu já disse para colocá-la no chão, isso não é um pedido, é uma ordem. Por acaso irá contestar a ordem de seu superior? Jarkko me soltou e eu caí de joelhos no chão, um pouco sem ar. Kaarl também entrou no quarto e correu ao meu encontro. - Você está bem? Assenti com a cabeça, mesmo não acreditando no que eu
Kaarl tinha dito que me daria aulas particulares antes de iniciar as aulas da escola de magia, porém até agora eu só tinha me encontrado com os outros guardiões, tudo bem que agora eu começaria a frequentar as aulas, mas ele não tinha cumprido com sua palavra, apressei o passo pelo corredor e me dirigi até o saguão buscando por ele, porém ele não estava por lá, busquei por ele no escritório e também na ala norte, estava cansada de andar pelo castelo quando encontrei duas alunas no corredor. - Oi, alguma de vocês viu o príncipe? Uma delas olhou para a outra e falou com tom de deboche. - Perdeu o seu brinquedinho herdeira? - O Príncipe não é meu brinquedo... Ah deixa pra lá! – Me retirei sem dar mais atenção a elas, não estava com paciência para iniciar uma discussão, subi as escadarias da ala lesta que ficava de frente para o meu quarto e com muita coragem bati na porta do quarto dele, eu sabia que ele não queria que eu viesse até ali, mas que mal deve
Durante a noite eu jantei e me dirigi até a biblioteca onde Kaarl me aguardava. Assim que entrei percebi que não estaríamos sozinhos havia muitos alunos estudando no local. - Não podemos mesmo ficar a sós? - Desculpe Anna, é para o seu bem, mesmo sendo um príncipe eu ainda devo respeitar as regras. Eu apenas suspirei e me sentei na mesa de estudos, alguns alunos olharam para nós e então Kaarl também se sentou de frente para mim. - O que queria falar? - Aila me contou sua história, sobre ela ser uma serviçal por não ser uma bruxa e sobre ter nascido em boa família, fiquei intrigada com algumas coisas, porém, por que o elemento fogo é tão adorado em Taika? Por que é o mais caro? Como funcionam os dotes? Ele suspirou. - Isso não será importante se você não estiver pensando em se casar Anna, não entendo por que quer saber disso agora. Cruzei os braços firme. - Bom, talvez eu queira me casar oras, tenho 16 an
No dia seguinte eu caminhei decidida pelos corredores até a aula, mesmo sob alguns comentários eu não podia me deixar abater, adentrei na sala de aula como um furacão e sentei-me ao lado de Parvii, ninguém ousaria mexer comigo perto dela, afinal ela era filha do Embaixador da magia. - Agora sim eu senti você firme, é assim que tem que se comportar Anna, não pode se dar por vencida se não eles vão se aproveitar da sua fragilidade. - Você não tem ideia do esforço que estou fazendo, algumas garotas fizeram piadas sobre mim no caminho por causa do príncipe. - Besteira, só estão com ciúmes por que o príncipe dá atenção a você e não a elas. - Na verdade ele dá bastante atenção a elas, nunca o vi ser antipático com nenhuma delas pelo menos. - Ele pode até ser simpático, está sendo o que esperam que ele seja, mas ele não as defende como defende você, todos viram no dia da seleção como ele correu para protegê-la, ninguém ousaria se por na sua frente.