Alicia PamukNão esperava por um domingo como esse, algo assim sequer tinha passado pela minha cabeça. Estar sentada na pequena mesa após me servir da comida, que fiz questão de ajudar a preparar, não que eu tenha ajudado muito, já que Dona Angela parece não confiar muito em mim para me permitir picar a salada sem sua supervisão. Aparentemente, Pablo está tão envergonhado quanto eu, já que fez questão de não olhar na minha direção, sem contar o fato de ele ter ficado pálido ao saber que eu ficaria para o almoço. Brenda não parou de falar enquanto ficamos na cozinha e acabou me confidenciando muitas coisas sobra ela e sua família.Seus avós tinham vindo do México quando o pai deles ainda era criança e depois tiveram mais três filhos. Dois deles estavam em Chicago e o outro vivia em Nova York. Brenda deixou claro que não suporta os tios, pois eles nunca apoiaram o fato de os avós cuidarem dela e de Pablo após a morte do pai deles. Uma atitude um tanto cruel, devo dizer. Percebi que
Pablo RodriguézA chuva não dá trégua, tanto que preciso deixar Alicia em seu prédio pelo estacionamento subterrâneo, para que não se molhe ainda mais e acabe pegando um resfriado.Assim que abro a porta do carro, a bola de pelos se torna uma grande sinfonia de latidos finos e salta de seu colo direto para o chão, colocando as patas minúsculas no meu tênis.— Acho que ele gostou de mim — falo orgulhoso, me abaixando para pegá-lo.Ele ainda está molhado, assim como eu. Aproximo-o do meu rosto e ganho várias lambidas. Sim, ele realmente gostou de mim!Agora, mais de perto, confirmo a cor de seu pelo, é realmente branco e suas manchas são em um tom de marrom, também constato que é um macho. Não está mais com aquela carinha de assustado, e sim com uma carinha de sapeca, como se soubesse que tirou a sorte grande.— Você é uma coisinha muito fofa — digo sacudindo seu corpinho, arrancando alguns latidos finos e muito fofos.— Não balance ele assim — Alicia me repreende.— Ele parece estar
Pablo RodriguézAlicia me fita, arqueando a sobrancelha. — Não gosto do Tony Stark — Morde o lábio e revira os olhos —, prefiro o Capitão América.Dou risada do absurdo que ela acaba de dizer.— Quem, em sã consciência, prefere o Capitão América? — Eu? — Dá de ombros, abrindo as duas mãos.— Deve ser porque o Chris Evans é bonitão — bufo com a constatação.— Não acho o Chris Evans tudo isso, mas não gosto do Tony Stark porque ele não passa de um riquinho mimado e arrogante. — Cruza os braços.Não contenho a gargalhada.Ela acabou de se descrever ao falar do herói da Marvel: riquinha, mimada e arrogante. Talvez não tão arrogante e mimada, mas riquinha, isso ela com toda certeza é. Alicia está com um vinco entre as sobrancelhas, sinal de que está irritada. E por que raios estou achando ela tão linda assim? — Qual é a graça? — Nenhuma. — Levanto as mãos em rendição, ainda rindo, e ela bufa, revirando os olhos.— Me diz qual é a graça, Pablo! — Empina aquele nariz bonito, imponente
Pablo RodriguézAperto as têmporas, na esperança de isso ajudar a diminuir minha dor de cabeça. Tentar não pensar em Alicia é mais difícil do que imaginava, é como se o rosto dela, junto com seu corpo e o gosto de seus lábios estivesse impregnado em mim. Não posso nem fechar os olhos sem enxergá-la.Cheguei em casa e fui direto para o banho, não quis dar espaço para meus avós falarem sobre Alicia , pelo menos não hoje.Eles estão fascinados por ela e, talvez, eu também esteja. Droga!Sorrio, lembrando dela debaixo da chuva fria, resgatando Stark, do seu olhar de ternura e seu cuidado com o filhote. Ele é um cachorrinho muito sortudo.Imagino como ela está lidando com ele agora, acho que o filhote vai dar um pouco de trabalho e, com certeza, vai bagunçar aquele apartamento perfeito. Aquela carinha fofa não me engana. Só não queria que meu coração batesse tão forte quando ela está por perto...Apoio a cabeça em meus braços, buscando uma posição confortável na cama de solteiro, enquan
Alicia PamukAcordei mais cedo do que de costume, com Stark lambendo meu rosto e, já que fiz a besteira de colocá-lo para dormir comigo, agora meus lençóis estão molhados de xixi.Pelo menos consegui dormir a noite toda. Stark tem uma energia e tanto, de nada lembra aquele cãozinho assustado tremendo de frio no meio da pista, o espertinho me acordou para brincar com ele.Maria quase teve um ataque do coração quando abriu a porta da sala e me viu toda descabelada e brincando com o cachorro no tapete imundo, mas também amou a ideia de ter a companhia de Stark enquanto eu estivesse na empresa, até se ofereceu para dar banho no filhotinho. Essa coisa fofa conquistou todo mundo. Aproveitei que ele estava com Maria para tomar banho e me arrumar antes de levá-lo ao veterinário e depois seguir para a empresa.Escolhi um terninho preto para não correr o risco de me sujar, já que tenho que levar Stark no colo e parece que o único banho que ele tomou foi o de chuva, pobrezinho.Termino de me
Pablo RodriguézAlicia está estranha e mais grossa do que o normal, não é uma grosseria qualquer, parece que ela está com raiva de mim e isso começou na clínica veterinária. Até tentei ignorar sua presença, provando para mim mesmo que não sinto nada por ela, mas é nítido que fracassei. Ela nem esperou que eu abrisse a porta do carro quando chegamos na empresa, saiu com seu nariz mais empinado do que o normal, se é que isso é possível, e ainda fechou a porta do elevador na minha cara. Sim, ela está furiosa. Tento buscar na mente algo que eu possa ter feito de errado: ela ficou assim na clínica, depois que a veterinária nos atendeu, mas não... não é possível. Dou uma risada, saindo do elevador, porque a possibilidade de ela ter ficado com ciúmes da médica é tão remota quanto é cômica. Mas e se ela realmente estiver com ciúmes? — O que você fez? — Mili pergunta, apertando os olhos, assim que chego no Hall. — Bom dia, Mili, como vai? — O que está acontecendo com essas mulheres hoj
Pablo RodriguézPermaneço parado, tentando entender o que tinha acabado de rolar, enquanto Alicia e Donna somem pelo corredor.O convite de Donna foi um pouco fora do normal, sem falar a cara que Alicia fez ao ouvir a amiga. Ela parecia confusa e apavorada, o convite da amiga foi uma grande surpresa para ela também.Ao menos Alicia não parecia estar com tanta raiva como antes.Donna estava com um sorrisinho cínico nos lábios, deixando evidente que estava adorando toda a situação.Olho para o lado e Mili me encara com os braços cruzados, batendo com o coturno chão, aparentemente mais brava do que quando cheguei.Ela me obrigou a contar o que aconteceu e em como Alicia foi parar na minha casa. Poupei o máximo de detalhes possíveis, jamais contaria sobre o que está acontecendo comigo ou como me sinto em relação a nossa chefe.— Tem alguma coisa acontecendo e você não está me contando — afirma.— Do que você está falando? — Acho uma merda o fato de Mili ser tão esperta.— Eu sou muito boa
Pablo RodriguézDepois de sair da empresa, levei Alicia até um salão de beleza, no qual ela não demorou como imaginava.Fiquei atento ao que ela teria mudado ao sair, mas percebi que apenas a cor de suas unhas estava diferente, antes estavam pintadas de branco perolado, e agora está em um tom de rosa fechado. Sim, eu presto atenção em cada detalhe dela. Talvez eu esteja cansado de fingir para mim mesmo que não me importo, talvez eu esteja levando ao pé da letra as palavras de Clarice, ou seja porque estou morrendo de ciúmes, prestes a ter um colapso só de imaginá-la voltando para aquele babaca.Me sinto um idiota por me sentir assim, por pensar em alguém como ela desse jeito. Sei que ela não me vê dessa forma e a certeza disso vem com a lembrança de ela me dizendo que tínhamos cometido um erro quando nos beijamos. Me pergunto se ela teria dito a mesma coisa se Brenda não tivesse entrado no quarto.Ajeito o retrovisor propositalmente, para ter uma melhor visão de Alicia no banco de