Meu coração ainda estava acelerado quando Hyun Choi se afastou, satisfeito com sua provocação. Eu permaneci imóvel, tentando processar o que acabara de acontecer. Ele tinha mesmo acabado de insinuar…?Sophie me cutucou com o cotovelo, o olhar brilhando de curiosidade.— Hanna, eu exijo explicações agora mesmo! — sussurrou, praticamente vibrando de animação.— Não sei do que você está falando. — Apertei os lábios, tentando soar indiferente, mas minha voz falhou no final.— Ah, não me venha com essa! Eu vi a forma como ele olhou para você! E essa coisa de "aventura noturna"?! O que foi isso?— Nada, Sophie! — cochichei em desespero, agarrando seu braço e arrastando-a para um canto mais afastado. — Não aconteceu nada demais, ok? Só… um piquenique.— Um piquenique? — Ela estreitou os olhos. — Você nunca teve um piquenique com nenhum homem antes.— E isso faz diferença por quê?— Porque o Sr. Choi não é qualquer homem, querida! — Ela cruzou os braços, me analisando com um olhar perspicaz.
Estava sentada no que só poderia ser descrito como uma cadeira de tortura medieval — aquelas cadeiras rígidas de madeira que parecem feitas especialmente para esmagar a alma de quem ousa encostar. O preceptor falava, ou melhor, declamava, uma ladainha sobre balanços e lucros, com a empolgação de quem narra o crescimento de uma planta.Eu tentava prestar atenção, juro. Mas, como sempre, minha mente vagava. O relógio dourado na parede, relíquia da escola, parecia mover seus ponteiros em câmera lenta, quase de propósito, como se conspirasse contra minha liberdade. Ao mesmo tempo, minha amiga Sophie, do lado de fora da janela, gesticulava freneticamente. Ela parecia uma mistura de pássaro desengonçado e bailarina em apuros, e eu me perguntava se aquilo era um sinal. Talvez o universo estivesse tentando me dizer algo.Finalmente, o relógio badalou. O som ecoou pelos corredores da escola como um hino à liberdade. Levantei-me tão rápido que derrubei minha pena (sim, ainda usamos penas aqui,
Capítulo 2 ✦✦✦ Depois da confusão na escola, Sophie e eu nos dirigimos para minha carruagem. Não era a mais moderna da época, mas servia bem para minhas necessidades. Meu pai a comprara de segunda mão, mas os estofados de veludo e o brasão discreto da nossa família na lateral ainda mantinham um ar de dignidade. — Finalmente, algo que não vai me decepcionar hoje, — murmurei, ajudando Sophie a subir. O cocheiro, um senhor idoso chamado Sr. Wicks, que trabalhava conosco há anos, ajeitou o chapéu e pegou as rédeas. — Para onde, senhoritas? — ele perguntou. — Para a confeitaria da Sra. Marley, por favor, — respondi, enquanto me acomodava no assento e fechava a porta da carruagem. A viagem começou tranquila, com o som das rodas nos paralelepípedos ecoando pelas ruas. Porém, a poucos quarteirões de distância, senti um solavanco estranho. — O que foi isso? — perguntei, inclinando-me para a janela. — Parece que uma das rodas não está em boa forma, senhorita, — disse o Sr. Wicks, para
— Ah, Hanna, pensando aqui , a sua amiga Ivy é uma criatura impossível! Ela sempre se interessa por todos os cavalheiros que cruzam o nosso caminho. Uma verdadeira víbora! — Sophie disse, com um tom de brincadeira, mas com um olhar preocupado.A verdade era que Ivy tinha um comportamento inusitado para a época. Conheci-a através do meu irmão, Ryan. Ela havia estado com ele, mas logo deixou-o de lado, envolvida com outros cavalheiros, sem se prender a ninguém.Quando Ivy se ofereceu para dividir a residência comigo, eu aceitei com certo receio, mas sabia que não teria outra escolha, pois a ajuda era necessária para lidar com as despesas. Viver em uma cidade pequena como Porto do Vale, onde nasci, não oferecia muitas oportunidades para uma moça como eu, que desejava se formar em uma disciplina prática, voltada para a administração de recursos, incluindo o estudo de economia doméstica e gestão de contas de família. A única instituição de ensino mais próxima era a Academia de Lincoln, ond
Ivy, como sempre, estava determinada a transformar a noite em um evento cheio de emoção e, como ela dizia com um sorriso travesso, "aventuras que desafiariam as convenções". Eu, por outro lado, só queria desfrutar de uma noite tranquila de chá e boas risadas, longe de complicações.Chegamos à sala de chá, um lugar frequentado por jovens damas e cavalheiros da cidade, onde conversas educadas e música de salão preenchiam o ambiente. As cadeiras estofadas e as porcelanas finas contrastavam com a agitação que eu sabia que Ivy carregava em seu coração.— Três xícaras de chá de jasmim, por favor. — Ivy pediu, dirigindo um sorriso encantador ao garçom, um jovem de aparência respeitável.— Meninas, lembrem-se, esta deve ser uma noite tranquila. Nada de aventuras hoje. — Sophie disse com um olhar sério, mas sempre gentil.— Oh, não se preocupe, Sophie. Estamos aqui para relaxar e desfrutar de um bom chá. — Respondi, tentando alinhar minha disposição com a dela.No entanto, Ivy parecia inquieta
Aquela voz grave e profunda me fez estremecer da cabeça aos pés. Olhei lentamente para o audaz cavalheiro à minha frente, que parecia estar convencido demais, acusando-me de estar procurando por ele? Ora, na verdade, estava, mas ele não deveria ter a audácia de perceber isso.Quando meus olhos se encontraram com os dele, quase duvidei de meus próprios sentidos.— Senhor Hyun Choi?— Olá outra vez, senhorita desastrada.Que impertinente! Ele estava a me seguir? Seria o destino que o colocava em meu caminho? Não sabia, mas uma vontade repentina de me levantar e fugir dele tomou conta de mim. Contudo, a quantidade de licor em meu sistema só me fez soltar uma gargalhada diante do "Oláoutra vez , senhorita desastrada". Dei-lhe um leve empurrão no ombro e, pela primeira vez, vi seu sorriso completo, tão encantador, tão perfeito... Ah, licor.Ele ficou ali, observando-me com um olhar travesso, mordendo o lábio. De repente, tive a irresistível vontade de morder aquele lábio. Será que o licor
— Ora, Ivy, o que está a fazer? — disse eu, encarando-a enquanto ela sorria com aquele ar travesso.— Sua atrevida, já está na hora de regressarmos a casa!Ela tomou minha mão e começou a puxar-me sem cerimônia. Olhei para trás e vi o senhor Hyun permanecendo imóvel, fitando-me com uma expressão impossível de decifrar.Quem Ivy pensa que é para interromper um momento tão mágico, tão intenso, tão maravilhoso? Agora, sinto um aperto no peito, quase como se fosse chorar. Céus, não devo estar em meu juízo perfeito!— Amiga, diga-me que estou a delirar! Você beijou o senhor Hyun! — exclamou Sophie, visivelmente escandalizada com a cena que acabara de presenciar.Eu apenas esbocei um sorriso débil, ainda sentindo os efeitos do vinho que havíamos tomado. Contudo, no fundo, eu queria chorar. Fiz um pequeno bico, olhando para elas com ar de desalento.— Perdoe-me, minha querida. — disse Sophie, ajeitando a luva de renda como quem tenta disfarçar a situação. — Desejava que nos divertíssemos mai
Salão de Reuniões do Lorde HarringtonEntramos eu e Sophie, claramente ansiosa, retorcendo o lenço entre os dedos, acompanhadas de outros três jovens de distintas salas , exceto o Gregory que já estava lá. O ambiente era austero, decorado com cortinas de veludo verde e um imponente relógio de pêndulo que marcava cada segundo de nossa expectativa.— Senhores, por favor, tomem seus lugares. — anunciou o mordomo com voz firme e postura impecável, indicando as cadeiras dispostas ao redor da longa mesa de mogno.Ele abriu um pergaminho e começou a leitura dos nomes:— Heitor Lee.— Sophie Will.— Claire Leblanc.— Gregory Rodrigues.— Hanna Young.Meu coração acelerou quando ouvi meu nome, e Sophie apertou minha mão por baixo da mesa.O Lorde Harrington, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos perfeitamente alinhados, se levantou com uma postura imponente. Sua voz ecoou pelo salão:— Meus parabéns aos presentes. Vocês foram cuidadosamente selecionados pelo prestigiado senhor Hyun Cho