Aléssio Romano,
— Sabe, Bianca, eu entendo sua dor — respondi, com um tom mais suave, deixando que a minha própria história saísse aos poucos. — Sabe por que te entendo?— Por quê? — Ela continuou com sua cabeça deitada em meu ombro, os olhos ainda ligeiramente úmidos.Dei um breve suspiro, lembrando de uma dor que eu guardava só para mim, mas que naquele momento parecia certo compartilhar.— Porque também experimentei a dor da perda. — Passei a mão suavemente pelo cabelo dela. — Eu tinha uma sobrinha… uma menininha, tão pequena e inocente. Eu cuidei dela como se fosse o pai que ela nunca teve, fazia tudo para vê-la bem, para que ela tivesse uma chance de crescer, de ter uma vida feliz. Mas o maldito câncer a tirou de nós. E eu… o que eu podia fazer? Nada.Bianca levantou a cabeça e me fitou, o rosto ainda tocado pela tristeza, mas com um brilho de empatia e surpresa.— Sinto muito, Aléssio. Eu… não sabia que tinha perdido aAléssio Romano, Levantei da cadeira com um sorriso bobo nos lábios, e caminhei até o meu escritório. Vito já estava lá, sentado na poltrona de couro, com um copo de uísque na mão e o celular na outra. Assim que entrei, ele deixou o aparelho de lado e me observou, seu olhar sério me dizendo que algo muito ruim havia acontecido.— Que assunto é tão sério assim? — perguntei, me sentando atrás da minha mesa. — Sua cara não é das melhores.Vito respirou fundo, desviando o olhar por um instante, como se estivesse tentando encontrar a melhor forma de me contar.— Aléssio, a tia de Bianca… ela foi assassinada.As palavras dele ecoaram pelo escritório, pesadas e impossíveis de ignorar. Fiquei imóvel por um segundo, digerindo o que acabara de ouvir, e então me levantei de uma vez, passando as mãos pelos cabelos em uma tentativa de organizar a confusão em minha cabeça.— Como assim, ela foi assassinada? — perguntei, tentando manter a
Bianca Santoro, Desci as escadas com cuidado, uma mão levemente apoiada no corrimão, o coração acelerado com a expectativa da noite. Minha formatura. O grande dia finalmente havia chegado, e o peso desse momento parecia fazer cada passo mais intenso. Usava um vestido longo de um azul profundo, com um leve brilho acetinado que captava a luz a cada movimento. O decote discreto em V e as alças finas destacavam meus ombros, e o tecido caía de forma elegante, marcando minha cintura e desenhando minhas curvas de uma forma sutil. Uma fina camada de tule sobre o vestido criava uma leveza que fazia com que ele parecesse flutuar enquanto eu andava. Meus cabelos estavam soltos, caindo em ondas suaves pelos ombros, e tinha escolhido uma maquiagem simples, que realçava meus olhos e deixava meus lábios com um tom rosado.Ao chegar ao pé da escada, Aléssio me aguardava. Ele me olhou por um longo momento, o olhar sério suavizado por um sorriso de admiração. Quando finalmente
Aléssio Romano,Era impossível desviar o olhar de Bianca enquanto ela circulava pelo salão, radiante em seu vestido azul profundo. Ela estava divinamente linda, e era difícil conter o orgulho que eu sentia por essa conquista dela. Essa era mais do que uma celebração de formatura; era a prova do quanto ela havia crescido e se tornado uma mulher forte e determinada. Olhava para ela e via uma nova Bianca, alguém que havia superado tantas barreiras para chegar ali.Observava-a de longe, vendo como ela conversava animadamente com os colegas e professores. Cada sorriso, cada risada, fazia meu coração bater mais rápido. E, embora fosse tolice, admito que senti uma pontada de ciúmes ao vê-la sorrindo daquele jeito para outras pessoas. Aquele sorriso, tão lindo e sincero, era algo que eu considerava meu, um pedaço de Bianca que eu queria só para mim. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que essa noite era dela, e não tinha o direito de interferir ou deixar que meu lado posses
Bianca Santoro,Aléssio me segurava firme enquanto saíamos do salão, e eu sentia o calor das lágrimas escorrendo pelo meu rosto, misturando-se com a dor que parecia rasgar meu peito. A humilhação ainda estava cravada em minha mente, as palavras cruéis de Helen ecoando como um golpe que eu nunca esperaria dela. Nunca imaginei que ela pudesse me expor daquela forma, diante de todos, sem sequer me dar uma chance de explicar. Aquilo foi pior que o tapa que ela me deu. Saímos do prédio, e o ar fresco da noite tocou meu rosto, acalmando o calor da vergonha e do desespero que havia tomado conta de mim. Sentia-me vazia, como se tudo o que eu tinha construído, todo o meu esforço, tivesse sido reduzido a nada.Assim que consegui me soltar dos braços de Aléssio, saí correndo, tentando afastar a confusão que me sufocava. As palavras de Helen ainda ecoavam na minha mente, como farpas que se recusavam a sair. Passei pelos portões do salão de festas e con
Aléssio Romano,Entramos no carro e pegamos a estrada, o silêncio confortável de sempre entre nós, com Bianca ao meu lado, a cabeça apoiada no banco e os olhos distraídos, ainda pensando em tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Eu queria lhe trazer um pouco de leveza, algo que a ajudasse a sentir-se especial e valorizada, mesmo em meio ao caos das últimas horas.Dirigi por alguns minutos, e então, sem desviar o olhar da estrada, puxei assunto:— Tenho uma surpresa para você. Está no porta-luvas.Ela me lançou um olhar curioso e imediatamente se animou, um sorriso brincalhão surgindo em seu rosto.— Surpresa? Adoro.Ela abriu o porta-luvas e encontrou duas pequenas caixas de veludo. Eu a observei de relance enquanto ela pegava as caixas, e seu rosto iluminado ao abrir cada uma delas me trouxe uma sensação de paz. Dentro da primeira, uma aliança que eu tinha escolhido com cuidado, simples, mas elegante, com uma pequen
Aléssio Romano,Assim que entrei no carro, fechei a porta com um baque forte e puxei meu celular, ativando o rastreador que havia instalado no colar que dei a Bianca. Localizei o carro deles em segundos. Eles não estavam longe, mas cada segundo contava. Não havia margem para erro, e eu sabia que a única chance de salvar Bianca dependia da minha rapidez. Enviei a localização para Vito e imediatamente pisei no acelerador, sem hesitar. Mesmo ferido, eu queria salvar ela.O carro rugiu quando ultrapassei o primeiro sinal vermelho, mas nada disso importava. A dor latejante no meu ombro, o sangue que escorria pela camisa aos poucos, era tudo insignificante perto do que eu estava sentindo. A raiva e a fúria me cegavam, mas me mantinham focado. Lembrava das palavras que prometi a Bianca inúmeras vezes: que sempre estaria ao lado dela, que nunca permitiria que alguém a machucasse. E, naquele momento, cada uma dessas promessas queimava como fogo em mim. Enquanto dirigia, recebi uma mensagem d
Bianca Santoro, Assim que vi o sangue escorrendo pelo ombro de Aléssio, meu coração disparou. Nunca senti tanto medo na minha vida. Tudo o que tínhamos acabado de passar, todos os momentos de pavor durante o sequestro, nada parecia tão assustador quanto ver Aléssio ferido, ali, diante de mim. Tentei me manter firme enquanto ele insistia em dirigir, mas logo percebi que o ferimento era muito mais grave do que eu imaginava. Tomada pelo instinto, não hesitei em trocar de lugar com ele e conduzi-lo o mais rápido que pude ao hospital. Agora, enquanto ele estava na mesa de cirurgia, eu caminhava pelos corredores frios do hospital, de um lado para o outro, sentindo como se cada minuto fosse uma eternidade. A imagem do sangue encharcando a camisa dele não saía da minha mente. Ele tentou me proteger a todo custo, mesmo que isso significasse colocar a própria vida em risco. Ver a dor em seu rosto enquanto dirigíamos até aqui, ver o modo como ele tentou disfarçar a gravidade do ferimento para
Bianca Santoro, Sem perceber, acabei adormecendo, agarrada ao braço de Aléssio. Mesmo com o sedativo que o mantinha adormecido, seu calor era reconfortante e me trazia um pouco de paz. Estava exausta, mas a certeza de que ele estava ao meu lado me deu forças para resistir a noite e à espera. Enquanto dormíamos, seu celular começou a vibrar em silêncio sobre a mesinha ao lado da cama, trazendo-me de volta à consciência.A vibração insistente foi o suficiente para me despertar. Olhei para o visor e vi várias mensagens e chamadas não atendidas. A maioria delas era de um contato salvo como “Mãe.” O relógio marcava 2 da manhã, e percebi que as ligações começaram havia algumas horas. Por um momento, considerei responder para tranquilizá-la, mas o celular de Aléssio estava bloqueado por senha, e não me parecia certo tentar mexer sem sua permissão.“Ela deve estar preocupada,” pensei, imaginando o que eu poderia dizer para tranquilizar alguém que, talvez, nem mesmo soubesse que Aléssio estav