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Capítulo 1 - Último Desejo

Pela primeira vez em quase toda uma vida, Heloísa Chastel se sentia livre.

As luzes do baile brilhavam a seus olhos mais do que o belo show da torre de Paris um dia proporcionou.

Sequer as mais refinadas recepções da alta sociedade ou as festas de aniversário milionárias pareciam mais atrativas que aquela animada e barulhenta festa. As músicas indecentes e as pessoas se divertindo ao redor era o verdadeiro significado de proibido para ela. Talvez por isso tenha sido a vida toda criada como uma boneca de porcelana. Para jamais poder ser.

— Constância, você está ficando louca de vez, é isso? — A voz de Adele, sua melhor amiga desde a época do colegial, ecoava em seus ouvidos em meio à música alta do lugar. Ambas se esgueiravam entre as pessoas e Heloísa cumprimentava todas elas — Se quiser mesmo ficar e curtir o baile é melhor parar de dar pinta de patricinha. O pessoal daqui não curte esse tipo de coisa não!

— Adele, para de me chamar assim! — Sussurrou quando pararam em frente ao bar. Sentaram-se na alta banqueta uma de frente para a outra e Heloísa encarou os olhos azuis e límpidos da amiga com certa cautela — Meu nome é Heloísa, eu já disse!

— Na sua casa todos te chamam de Constância e eu acabo esquecendo... Fiquei lá por apenas três dias e já me acostumei, desculpa! — A garota de cabelos azuis sorriu diante da expressão de tédio da amiga — Constância é um belo nome, não acha? É diferente...

— Era o nome da minha avó, por isso meu pai colocou como nome do meio e todos me chamam assim, mas prefiro mil vezes Heloísa. É mais atual. — O barman se aproximou e perguntou-lhes o pedido — Oh... Desejo uma água com gás e talvez... Um champanhe? — Adele corou e encarou o garçom.

— Duas cervejas, por favor — O rapaz sorriu e assentiu de maneira engraçada após notar como Heloísa parecia deslocada naquele lugar — Heloísa, pelo amor. Você não está em uma festinha da "gran fina" com seus pais, garota! Se liga!

— Nunca bebi cerveja na vida. Você que ficou louca! — As duas riram.

— Que vida é essa que você leva, hein, gata? E ainda reclama de seus pais quererem te arruar um noivo para te fazer ainda mais rica. — O barman depositou as cervejas no balcão e as duas pegaram em seguida. Heloísa encarava a garrafa com estranhamento, mas bebeu um gole após Adele fazer o mesmo.

— Por favor, não me lembre desse detalhe agora! A última coisa que quero é lembrar que estou noiva de um cara que detesto e ferrou com a minha vida toda! — Suspirou desanimada e ainda estranhando o gosto amargo da cerveja.

— Te ferrou por quê? — Adele questionou um pouco mais alto, uma vez que a música era realmente o que tomava o ambiente — Sua mãe disse que vocês são prometidos há muito tempo...

— Exatamente. Mas aí ele decidiu quebrar o compromisso quando fugiu para a Europa com uma fulana que se apaixonou. Fiquei feliz, confesso. Estava prestes a noivar quando saísse do colégio, mas pude ir para o Canadá estudar ao invés de me casar — Heloísa sorriu ao se lembrar da experiência de poder se dedicar ao que amava. Estudou moda e empreendedorismo por quatro anos, até ser intimada a voltar pela família.

— Como assim? Ele te largou sem mais nem menos? — Adele parecia estarrecida e Heloísa negou.

— Nós não convivíamos. Apenas nos vimos algumas vezes durante a infância... — Explicou sem deixar de notar a surpresa no olhar da amiga — O fato é que por uns dois anos pensei estar livre dele e de toda essa história de casamento. Meu pai e o dele são primos de algum grau distante, tinham planos... Ele decepcionou toda a família e foi praticamente deserdado, mas agora, ao que parece, voltou arrependido e a família dele e meus pais me propuseram novamente essa história.

Heloísa abaixou o olhar. Sua empolgação diminuiu grandemente e Adele tocou sua mão com carinho. Arrependeu-se de ter tocado em um assunto tão delicado e que parecia mexer tanto com as emoções da amiga.

— Você não precisa se casar, Helô. Seus pais não colocaram uma arma na sua cabeça, pelo contrário! Tio Heitor e tia Flora são muito legais e eles te amam... — Heloísa a interrompeu.

— Tenho meus motivos, amiga. Ainda não posso te contar quais, mas os tenho. Um dia você vai entender. — Garantiu com lágrimas nos olhos — Mas não viemos para cá para falar disso, certo? Te pedi para me trazer no baile para me divertir, não para chorar...

— Claro, amiga. Estou com você para o que der e vier! — Heloísa secou algumas lágrimas abaixo de seus olhos escuros e perfeitamente maquiados — Qual vai ser?

Ajeitando o cabelo longo e escuro que descia até a cintura, Heloísa sorriu por trás da tristeza e suspirou aliviada. Ao menos momentaneamente.

— Eu quero um homem, Adele. Um homem para me fazer esquecer de vez todos os problemas — Adele teve de rir diante das palavras da amiga, que parecia decidida enquanto falava e muito voraz enquanto analizava bem o ambiente ao redor.

— Você está falando sério? — Franziu o cenho e Heloísa riu baixinho — Não era você que queria se guardar para o casamento e aquele papo todo?

— Quando pensei que poderia me casar com alguém que escolhesse, sim. Mas agora que terei de encarar Tiago Sampaio me recuso a casar virgem e intocada. Não vou dar esse gostinho a ele, depois de ter me feito acreditar que eu poderia ser livre e voltar atrás. — Adele não podia crer no que ouvia.

Heloísa Chastel, sempre recatada e invejavelmente inteligente, a única virgem de vinte e dois anos que conhecia, em nada se assemelhava com a garota machucada e tristonha que via a sua frente.

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