Tiago bebericou a cerveja uma vez mais sem compreender o que de fato fazia ali.
Não gostava de festas, muito menos de bebedeira, mas naquela noite em especial sentia um imenso vazio em seu peito. Não era fácil lembrar todo desgosto que deu aos pais, principalmente por uma mulher que jamais valeu nada.
Manuela arrasou sua vida quando descobriu que tinha aberto mão de sua família por uma trambiqueira. Uma mulher que apenas fez enganá-lo.
— Você nunca desconfiou que ela queria te dar um golpe? — Era o que sempre perguntavam — Tudo era tão óbvio! — Diziam.
Não, ele jamais soube. Sequer podia pensar que aquela mulher tão sensual e vivaz era uma ex-garota de programa procurando um otário para enganar. Sentia-se péssimo pelo rombo que sua cegueira em relação a ela deixou nos cofres da família e da empresa Guimarães Sampaio e o que mais arrasava seus sentimentos era recordar a decepção nos olhos de Margot, sua mãe. Era o filho mais velho, afinal. O príncipe que seus pais tanto sonharam! O principal herdeiro da família.
Diego, seu irmão mais novo, não tinha juízo para os negócios, gostava de bagunça e festas, mas após sua presepada com Manuela passou a ser o centro das apostas da família. Brenda, sua irmãzinha caçula, ainda era uma menina para sequer pensar em assumir qualquer coisa. Cabia a ele a responsabilidade de reerguer a família e tirar da lama a empresa Sampaio.
Sabia, no entanto, que havia somente um caminho.
— E ela ao menos é gostosa como a outra era? — Pegou a conversa de seu irmão com Gabriel, um amigo que os acompanhava na tal festa.
— Quem? — Diego respondeu rindo enquanto bebiam.
— A herdeira dos Chastel... Como é mesmo o nome dela?
— Constância — Tiago respondeu prontamente, interrompendo a conversa atrás de si. Os dois se voltaram para ele e pararam ao seu lado na grade do mezanino. Tiago olhava em direção fixa para a pista de dança lá em baixo.
— Está ligado, hein, mano? — Diego bateu nas costas dele e Tiago seguiu bebendo sua cerveja em silêncio — Constância. Que nome feio! Já se percebe que a família não gosta muito dela.
— É isso que eu estou falando. Se ela for gostosa como a Manuela era, talvez valha a pena... Queria eu ter tomado um golpe daquela gata! — Gabriel não atraiu a atenção de Tiago.
Diego, por sua vez, queria ter dito que já tinha ido para a cama com Manuela, mas certamente arrumaria encrenca com o irmão. Preferiu manter tudo em silêncio.
— Para te falar a verdade sequer lembro do rosto dela... Faz tantos anos que sequer sei como ela é — Tiago seguia um tanto fixo na pista de dança com os outros dois ao lado.
— Se você cruzar com sua noiva sequer vai reconhecê-la? — Tiago deu de ombros e concordou — Que história mais louca... Eu que não me casaria com uma mulher que sequer me lembro do rosto!
— Sorte a minha ela ainda querer casar comigo... Depois de tudo que eu aprontei.
— Nós sabemos que ela não tem escolha, não é, Tiago? Está fazendo isso por interesse, assim como você — Diogo comentou tentando animá-lo — Você deveria sair dessa fossa por aquela vagabunda e aproveitar seus últimos momentos solteiro! Olha só o tanto de mulher que tem aí dando sopa e você pensando na Manuela, cara...
— Manuela não, mano... Na Constância — Corrigiu ainda em tom derrotado — Vou encontrar com ela ainda essa semana e sequer sei o que dizer para me redimir. Não quero começar um casamento com a carga negativa de tudo que fiz.
— Você só precisa casar. O resto se ajeita com o tempo — Diego tocou no ombro do irmão — É impressão minha ou aquela mina está te prendendo? Se não para de olhar, cara.
Tiago suspirou. Não era impressão dele, de fato. Desde que seu olhar cruzou com a tal moça do top rosa não conseguia parar de encará-la fixamente. Era como se algo o puxasse para ela, algo tão forte que desconfiava ser somente tesão. Era linda, mas não como as gostosas que estava acostumado... Era bela como uma princesa.
— Ela é linda, não é? — Comentou sem deixar de encará-la — Toda linda... Não tem defeito.
— É bonita, mas não faz seu tipo... Tipo Manuela, toda malhada... — A moça em questão era magra, alta e de cabelos longos e castanhos. Tinha uma beleza delicada e lindos e expressivos olhos escuros que voavam como asas de borboleta ao piscar.
— A última coisa que quero no mundo é alguém parecida com a Manuela — Encarou Diego um tanto severamente — Mas também vou me casar. Não posso pegar ninguém mais não.
— O que? Vai deixar passar? Pode ser sua última chance... — Diego incentivou animado.
De fato, tinha inveja do irmão. De fato, sempre queria colocá-lo em maus lençóis por isso. Tiago somente não percebia que Diego estava sempre por trás de seus problemas.
— Minha última chance foi há muito tempo, cara... Agora não tem mais volta — Tiago bateu na grade para sinalizar que aquilo era um assunto encerrado e deu as costas ao irmão e ao amigo sem pensar muito mais.
Ficar ali parado e admirando a beleza da linda garota que roubou sua atenção não era uma boa ideia agora. Precisava esfriar a cabeça e voltar sua atenção a assuntos extremamente necessários... A prioridade em sua vida naquele momento era como faria para convencer Constância Chastel a criar ao menos afeição por ele após ter dado tantos foras com ela e sua família ao fugir com outra. Sabia que Constância não o amava, mas não foi bem visto pelos Chastel depois de tal situação envolvendo a filha.
Estaria zangada? Sentindo-se rejeitada? Talvez odiasse a ideia de se casar tanto quanto ele e isso fosse ainda pior!
Não sabia nada sobre ela, apenas que precisava conquistar sua confiança para assim recuperar o prestígio e a fortuna de sua família.
— Por favor, me solta! — Saiu do banheiro masculino após lavar o rosto e ouviu uma voz vacilante e nervosa próxima ao banheiro feminino. Estreitou o olhar em direção ao som, porém tudo era muito escuro naquele lado do salão — Eu já disse que não, me deixa em paz!
A voz era de mulher e rapidamente Tiago olhou ao redor para ter certeza de que não havia nenhum segurança por perto. Aproximou-se do som e encontrou uma garota – a garota de top cor de rosa – espreitada contra a parede e um rapaz com os braços estendidos ao lado dela de modo a prendê-la contra parede. A expressão apavorada refletia no medo evidente exibido nos grandes olhos escuros que se encontraram com os de Tiago em seguida.
— Oi! — Heloísa disse a ele como se fossem conhecidos de longa data. Tiago hesitou, mas entrou na onda.
— Oi... Está tudo bem? — O rapaz rapidamente retirou os braços e se afastou dela. Parecia envergonhado pela maneira como Tiago e Heloísa se encaravam... De maneira cúmplice e familiar. Nenhum dos dois conseguia explicar tamanha sincronia.
— Porque você não me disse que estava acompanhada? — O rapaz questionou a Heloísa, que olhou para Tiago um tanto nervosa — Foi mal, cara... — Fez um sinal positivo em direção a Tiago e saiu de fininho de volta ao salão.
— Fala sério! Uma mulher precisa estar acompanhada para ser respeitada. É mesmo o fim do mundo! — Tiago comentou com a menina, que parecia tímida e muito desconcertada — Você está bem? Meu nome é Tiago.
Encantando pela beleza da garota, Tiago aguardou sua resposta. Seria a vida mostrando que precisava aproveitar sua última chance?
Ao ouvir o nome dele, Heloísa não conseguiu evitar um sorriso ao constatar a grande coincidência que se manifestava naquele instante.— Tiago? — Ela riu baixinho. Sentiu confiança pela colocação e postura respeitosa do rapaz, por isso resolveu apertar a mão que era estendia.— Achou meu nome engraçado? A maioria das pessoas gosta, acha bonito... É bíblico, sabia? — Brincou notando que ela ainda sorria com os olhos escuros reluzindo. Era ainda mais encantadora de perto, pôde notar.— Não, é só que... — Deteve-se ao encará-lo novamente — Deixa para lá. Sou Cons... Heloísa! — Corrigiu antes que fizesse a bobagem de se apresentar com seu nome do meio e o mais usado por todos. Ali era melhor ser informal e sempre se apresentava aos amigos como Heloísa — Helô.— Heloísa... — Repetiu ele de maneira encantada. A luz irradiada pelo sorriso da menina era quase tão contagiante quanto à beleza dos olhos de borboleta — Então está tudo bem? Aquele cara, por acaso...— Não, você chegou a tempo. Obri
— Heloísa Constância ou Constância Heloísa, eu sei lá! — Adele esbravejou após ouvir a amiga falar sobre o tal rapaz que a salvou no banheiro — Sabe onde se encontra um homem que fala bem sobre as mulheres hoje em dia? Na lua, minha filha! Não existe! Todos são uns babacas machistas... É melhor você ir lá pegar esse menino ou eu faço isso por você!— Pode parecer um príncipe, mas é claro que tem um detalhe para atrapalhar. Ele tem o mesmo nome do... — Fez cara de nojo — Meu noivo. Pode acreditar?— Ele se chama Tiago? — Adele gargalhou enquanto dançavam em meio a pista e Heloísa concordou — E se fosse realmente o Tiago?— Ah Adele! O que o Tiago filhinho de papai iria fazer aqui? Fala sério... A única louca sou eu! É mais fácil um raio cair na minha cabeça do que encontrar meu próprio noivo no baile. Seria azar demais, não acha? — Adele concordou e teve de rir.— A única coisa que eu sei é que você ficou noiva por uma carta e nem sequer um anel decora seu dedo ainda! Isso significa qu
— É complicado te explicar. Acho que você não entenderia — Suspirou — Me desculpe se te ofendi, mas...— Não, tudo bem. Eu também tenho a minha história bem louca que talvez você não entenda — Surpreso, Tiago tirou um grande peso dos ombros, assim como ela. O sorriso de ambos se alargou — Eu só queria esquecer tudo que eu tenho por um momento, sabe?— Sim — A resposta dele era contente. Heloísa sequer percebia como Tiago se identificava com exatamente cada palavra dita por ela — Eu também. Queria esquecer tudo que fiz, fui, sou e serei.— Cheguei aqui pensando que desejava alguém para esquecer por um momento, mas não tinha realmente coragem de procurar essa pessoa. Mas, ao que parece, o destino me trouxe você — Os olhos brilhantes e doces o encararam profundamente e Tiago se derreteu por tamanho encantamento provocado por ela — Primeiro quando me ajudou e agora, com o número quarenta e oito.Heloísa estendeu o número para ele e Tiago o pegou carinhosamente. Fez o mesmo com a sua fichi
- Constância Chastel? A noiva do Tiago? - Gabriel gargalhou pensando ser uma brincadeira, mas Diego manteve-se sério - Até parece que ela ia ser... - Diego assentiu positivamente enquanto assistia Tiago abrir a porta do carro para Heloísa entrar - É sério? Não pode ser... O que a Constância Chastel faria em um baile de periferia?- O que nós estamos fazendo em um baile de periferia? - Diego disse como se fosse obvio e Gabriel pensou silenciosamente - Viemos para cá para não sermos reconhecidos e ir parar em colunas sociais, ela deve ter pensado no mesmo! Muitos fazem isso.- Mas a mina disse que se chama Helô, você mesmo ouviu - Gabriel ainda não acreditava, porém, a segurança de Diego o fazia desconfiar. Realmente era um rosto conhecido.- Constância é um nome do meio, cara, mas quase ninguém sabe disso. Agora advinha qual é o primeiro nome da herdeira dos Chastel? - Gabriel deu de ombros e Diego falou como se anunciasse um prêmio - Heloísa!- Caramba... Como você sabe disso? - Diego
Heloísa sentia um frio estranho percorrendo sua espinha e sabia muito bem que em nada tinha a ver com a temperatura do ambiente.O carro de Tiago era um modelo do ano, deixando claro que ele não estava blefando em relação a sua situação financeira. Não era um mentiroso e realmente pertencia a alta sociedade e seguia o mesmo padrão de vida que ela. Perguntava-se, apenas, como nunca haviam se cruzado antes. Não quis entrar em detalhes sobre a vida pessoal e sequer falaram qualquer coisa. Nada além daquela noite importava, muito menos a maneira como cada um deles vivia. O trajeto percorrido de carro foi curto devido à ausência de transito e a empolgação de se beijarem a cada momento em que o semáforo fechava. Não se recordava de dizer nada, somente aproveitar a química e a intensidade dos sentimentos que descobria em secreto.- Onde nós estamos? - Heloísa perguntou assim que desceu do carro em um hotel simplório aos arredores de São Paulo.- É um hotel que sempre venho quando quero sumi
- Mas loucura ainda seria ir embora. - Virou-se para ele delicadamente e apertou os olhos com a sensação doce dos braços fortes rodeando sua cintura - Você promete que amanhã vai me esquecer?Tiago sorriu diante da inocência daquela pergunta e tocou o rosto de Heloísa com carinho. Beijou a ponta do nariz dela a fazendo sorrir.- Como te esquecer, menina? Uma coisa linda dessas, tão encantadora... Não tem mais mulher assim, não - O beijo de Tiago exalou sua verdade.Cada traço de Heloísa era lindo e doce. Desde os olhos em formato de borboleta até as mãos pequenas que o tocavam, nada passava despercebido diante de seu olhar apaixonado. Apaixonado seria muito para apenas algumas horas perto dela? Talvez fosse loucura, de fato, mas não sabia controlar.A única coisa real em sua alma era o sentimento de libertação por estar enfeitiçado por uma linda menina que em nada tinha a ver com Manuela. Podia amar de novo, podia desejar novamente e duvidava seriamente se a doce Heloísa não era mais
- Não, não... Espera - Empurrou-o com cuidado de modo a tirá-lo de cima dela. O rapaz a deixou sentar e ajeitou-se em frente a ela no colchão. Helô puxou a camisa dele jogada ao lado para cobrir os seios e o ato soou estranho para Tiago - Eu é que fiz algo errado.- Não, você está incrível e... - O olhar tímido de Heloísa e a maneira como ela mordiscava os lábios o fez parar - Desculpe. Você quer me dizer algo, não quer? - Helô concordou rapidamente - Então fala... - Segurou a mão dela com carinho - Pode confiar.A proximidade dele ainda a embriagava os sentidos e o fato de estarem com as faces a centímetros era suficiente para desejar retomar de onde pararam. Tiago se segurava ao máximo para não voar nela com todo seu tesão, mas demonstrava interesse em ouvi-la.- Você vai querer me matar e sei lá o que vai pensar de mim, mas não é justo esconder isso e... Eu nunca fiz isso - Tiago continuava na mesma postura.- Eu sei - Respondeu simplesmente.- Sabe?- Sei que você provavelmente nu
- Hannah! - Flora Chastel passou pela porta da sala de visitas da mansão como um furacão, deixando claro que procurava algo incansavelmente.- Sim senhora? - A filha mais velha do casal Chastel não se virou para responder a mãe. Seguiu parada com sua cadeira de rodas em frente ao piano dedilhando as teclas com a maestria e atenção de sempre.- Por acaso sabe onde está Constância? - Hannah seguiu tocando, mas com um pequeno sorriso desenhado nos lábios.- Está no quarto dela, mamãe, é claro! - Respondeu educadamente e com tom despreocupado.- Não, não está! - Esbravejou Flora caminhando até uma das grandes janelas e espiando por trás da cortina em direção ao jardim central - Ninguém sabe dela desde que saiu de casa ontem com a tal Adele. Constância sabe que não gosto daquela garota e ainda por cima some com ela... Céus!- Não gosta dela porque ela é pobre, mamãe, somente por isso? Adele é muito legal - Comentou em tom tranquilo. Flora olhou em direção a filha um pouco envergonhada.- C