Leonardo chegou à escola para o trabalho social. Tinha tanto charme pessoal que, mesmo com o ocorrido com Jéssica e Hugo, conseguiu manter o plano e continuar frequentando a escola. A única questão era que não poderia se aproximar de Breno novamente, sob o risco de acabar com tudo. Achou a condição injusta, mas, enfim, preferia vê-lo de longe do que não vê-lo.
Caminhava para a sala que receberia a turma nova e viu um aluno na turma de educação. Breno estava entre eles, jogando basquete de maneira incrível. O homem olhava com orgulho, vendo que o filho herdara as habilidades dele para os esportes. Leonardo teve que se controlar muito para não ir até lá e jogar com o menino.
— Professor, já estamos prontos. — Uma aluna o chamou para a sala de música, retirando-o do momento de pai coruja.
— Ok. Vamos lá... Quero saber oJéssica recebeu a ligação da escola e atendeu de imediato.— Olá, dona Jéssica, aqui é a Fabiana, secretária da escola. Está tudo bem com as crianças, mas a diretora gostaria de falar com você. Pode atender agora?— Claro. Pode passar. — Jéssica se acalmou ao saber que os filhos estavam bem.— Boa tarde, senhora Jéssica. Preciso falar sobre o Caio. Ele veio até a secretaria hoje e manifestou o desejo de fazer as aulas de música com o senhor Leonardo. — A diretora foi direto ao ponto.— Olha, já dissemos a ele que não queremos que ele tenha contato com o Leonardo e que não poderá fazer as aulas.— Sei, mas acontece que ele questionou a escola dizendo que tem direito de participar, como todos os outros alunos. E, de fato, Jéssica, nós não podemos proib
Jéssica foi buscar os filhos com cara de poucos amigos. Breno e Caio saíram de mãos dadas, meio que tentando esconder um ao outro, como se pudessem se proteger. Sabiam que a mãe não estaria nada feliz com o que haviam feito. Os adultos às vezes não entendiam muito bem certas coisas da vida.— Em casa vamos conversar direitinho sobre o que você fez, Caio — Jéssica estreitou o olhar na direção do menino.— Ele não fez nada, mãe. Foi tudo culpa minha. Eu que fui falar com o professor, porque meu irmão tem todo direito de fazer a aula — Breno correu para defender o irmão.— O que aconteceu? — Maria, que havia almoçado com as amigas, não sabia do ocorrido.— Você foi falar com o Leonardo, filho? Depois de tudo o que ele fez? Sabe que deve ficar longe dele.Breno baixou a cabeça, enve
Leonardo entrou em casa assobiando baixinho, com um sorriso solto no rosto. A alegria era rara, mas naquele dia ele estava leve. O telefonema de Jéssica mexeu com ele mais do que gostaria de admitir. Talvez devesse mandar uma mensagem de boa noite. Uma mensagem simples, despretensiosa. Só para manter o fio do contato aceso.Clara apareceu na sala com passos suaves, vestida em um robe de seda bege que fazia questão de parecer casual, mas era calculadamente provocante.— Chegou animado, hein? — Ela sorriu, se aproximando para lhe dar um beijo cheio de intenção. — Vai me contar o motivo desse bom humor?Leonardo se deixou envolver e, com uma risada, contou.— Nada demais… o projeto social. Está dando certo, sabe? Eles estão fazendo aquilo com amor. Dá pra ver no jeito que tocam, no brilho nos olhos. Estão ali pela música.— Que lindo isso… — Clara forçou um sorriso, mas o maxilar tenso denunciava sua irritação. — E você pretende continua
Leonardo chegou à escola com a expectativa nas alturas. Imaginou que Caio não apareceria para a aula, acreditando que Jéssica tinha dado um jeito de fazer com que o menino desistisse de vez.Ele próprio estava muito inclinado a aceitar a proposta da turnê. A possibilidade de dividir o palco com seu maior ídolo mexia profundamente com sua alma. Seria a consagração do seu momento, a realização de um sonho acalentado desde a infância em Pedra Branca. Um daqueles acontecimentos que pareciam pertencer apenas aos filmes.Seu coração ainda batalhava internamente, tentando decidir se deveria ou não aceitar, quando a turma de Caio chegou à sala.A atenção do músico foi imediatamente capturada. Para sua surpresa, o menino estava ali. E mais do que presente — estava concentrado, verdadeiramente focado nos exercícios.— Bom, garotos e garotas... vamos ver o quanto vocês sabem de música. Escolham seus instrumentos — disse Leonardo, com um gesto amplo, in
Leonardo chegou em casa profundamente tocado, ainda sob o efeito do tempo que passou com Caio. O menino tinha um talento puro — uma daquelas raridades que emocionam só de ver.— Olha, essa turma está mesmo mexendo com você. É o segundo dia que chega assim tão feliz — disse Clara, aproximando-se com um belo sorriso. Sua insatisfação com a alegria dele por estar naquela cidade — perto demais da própria família — era enorme, mas ela disfarçava impecavelmente.Ele se aproximou e lhe deu um beijo satisfeito.— Hoje eu encontrei um aluno que, francamente... não se vê todo dia. O menino tem um talento nato, e é tão sensível. Foi uma das melhores aulas que tive até hoje na escola.Leonardo se deu conta de que Caio era filho de Clara e a olhou com curiosidade. Será que ela teria algum talento para a
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem
Leonardo olha a notificação no celular com expressão neutra. Manter Clara por perto tem suas vantagens e desvantagens. Ele observa o vestido que tem nas mãos com atenção, lembrando das curvas de sua esposa. Precisa agradar a Jéssica hoje.Sabe que passou do limite, pois a vizinha veio reclamar da barulheira de bêbado que ele fez. Foi muito gentil com a vizinha, pediu um milhão de desculpas e prometeu que nunca mais iria acontecer.Não é que ele sinta arrependimento pelas suas ações. Acontece que precisa criar uma boa imagem pública, pois será uma estrela do rock algum dia. Leonardo jamais deixa qualquer coisa ao acaso. Sempre faz tudo projetando o futuro que deseja para si mesmo.Conferiu todo o cenário que montou para esposa. Se tinha flores o suficiente, se os doces estavam bem atrativos, se o cheiro traria boas lembranças. Precisava seduzir para ter o que queria. O perdão da esposa. Pediu pra mãe ficar com Breno durante a noite. Queria que a surpresa fosse completa e planejou leva