Diogo gritou "Snap de novo!" bem quando a mão da Mamãe, Matilde Alves, estava prestes a pegar as cartas primeiro. Mamãe reclamou: — Diogo, isso não é justo... Ela arrancou o baralho das mãos dele. Diogo retrucou: — Você tem que dizer Snap também, querida... Elas são minhas. Mamãe riu enquanto puxava as cartas: — Não, às vezes pode ser um Snap silencioso... — Matilde Alves, você trapaceira! — Ele rosnou, de um jeito que parecia brincalhão, mas algo dentro de mim não gostou da forma como ele repreendeu a Mamãe.Um rosnado saiu involuntariamente da minha garganta, vibrando como se fosse uma tosse. Então meus olhos começaram a queimar, como se algo estivesse tentando tomar conta da minha visão, me empurrando para trás... — Ricardo? — Todos os olhares se voltaram para mim enquanto eu sacudia a cabeça, tentando parar aquela sensação estranha. O que estava acontecendo comigo?Ponto de Vista de DiogoOs olhos dele ficaram pretos, eu me lembro de como era. Mas ele é mais jovem
— Ana chama o Tio Danilo de papai... — Ricardo fala com cuidado, quase me testando. — Sim, já ouvi isso... — Respondo de forma neutra, não deixando transparecer nenhuma emoção. Ele é esperto, está tentando me pegar. — Eu sempre o chamei de Tio. Algo dentro de mim me impedia de chamá-lo de pai. Mamãe disse que nosso pai é muito importante e tinha coisas para fazer. Mas que quando fôssemos mais velhos, talvez tivéssemos a chance de conhecê-lo.Ela disse isso? Meu coração se parte com esse pensamento. Todo esse tempo, Matilde guardou tanto ódio por mim, pensando que eu era responsável pelas atrocidades contra os pais dela e a Matilha. E, no entanto, ela poderia ter estado disposta a me dar uma chance de conhecê-los, de saber quem eram. Ela era a alma mais pura que eu já conheci.— Ricardo, o Rafael está aqui. — Ouvimos a doce voz dela chamando de dentro da casa, anunciando a chegada do melhor amigo de Ricardo.Ricardo corre para dentro da casa, ansioso para encontrar Rafael antes d
Ponto de Vista de DaniloDiogo e Guilherme saíram silenciosamente cerca de uma hora atrás. Eles escaparam nas primeiras horas ao romper da aurora para evitar qualquer suspeita. Levaram seus guerreiros com eles, mas só porque Matilde insistiu. Diogo queria que eles ficassem, para agir como guardas, mas ela disse com razão que eles já estavam longe de sua Matilha e de sua família há tempo demais, e nossos guerreiros eram mais do que capazes. E eles eram, porque Gabriel e eu os treinamos pessoalmente.Ninguém mais estava acordado, apenas Matilde e eu para nos despedirmos deles. Eu estava preparando uma xícara de chá para ela enquanto ela estava sentada em silêncio no jardim, ouvindo o coro matinal dos pássaros e o nascer do sol. Caminhei até ela e entreguei o chá, interrompendo seu momento solitário pensativo.— Oh, obrigada. — Ela pegou a xícara quente de mim, colocando-a na mesa do pátio ao lado dela.Me sentei ao lado dela, aproveitando a mesma paisagem. Faz muito tempo desde que a
Pedro estava diante de mim, uma surpresa inesperada. Ele me olhou por um momento, e eu não sabia ao certo o que ele achava da minha reação.— Pedro, isso é uma surpresa...— Você está infeliz? — Ele perguntou, observando minha expressão.Eu achei que estava sorridente, então respondi.— Nunca ao te ver, mas algumas coisas agora fazem sentido.— Como o quê? — Ele quis saber.— Como a disposição de Diogo de levar seus guerreiros de volta.— Ah, ele só queria olhos extras por perto.Revirei os olhos, conduzindo Pedro para dentro da casa do Alfa.— Como conseguimos viver antes de Diogo entrar em nossas vidas?Ele se juntou a nós para o café da manhã, o que, no fim das contas, foi uma sorte. Qualquer um pensaria que ele e Diogo tinham planejado essa segurança extra. Não sabia se me sentia insultada ou agradecida pelo plano secreto de Diogo, mas ele jurou que nos manteria seguros. E eu vinha fazendo um bom trabalho nos últimos quatro anos. O único motivo para termos tido uma falha de seguran
Ponto de Vista de MatildeFoi o pânico cego e a culpa que alimentaram minhas pernas enquanto eu corria para a casa de Bruna e Gabriel. Eu me esforcei como não fazia há muito tempo para chegar até ela. Durante todo o caminho, rezei, pedindo à Deusa da Lua para que ela e o bebê estivessem bem.Antes mesmo de chegar à porta da frente, eu já podia ouvir os gritos de terror. Ela estava em agonia, e não havia como confundir seus gritos de dor. Não esperei. Arrombei a porta e a encontrei no pé da escada, com o pequeno Rafael chorando ao lado dela.— O que aconteceu? — Perguntei, meu coração acelerado.— Alfa, ajuda, ela caiu da escada. Foi minha culpa. — Rafael respondeu, desesperado, enquanto segurava a mão da mãe.Gritei por Danilo pela conexão mental, chamando-o com urgência, enquanto o sangue começava a manchar a saia de Bruna. Eu sabia que ele estava a caminho, mas ela estava em uma situação crítica.— Estou indo, estou indo. — Danilo respondeu pela mente, ofegante. Ele também estav
Eu observo Gabriel e penso: eu poderia transferi-lo para os rastreadores da Matilha Luar Vermelho... mas sua sugestão é estranha.— Eles estão perto? — Pergunto.— Ah, sim, eles não pararam de me rastrear. Ainda estão na ativa... — Responde ele.Droga, Diogo. Eu disse a ele que tinha tudo sob controle.— Não... Traga-o de volta aqui. Venda os olhos dele. Vou preparar para uma prisão domiciliar. Depressa, Gabriel, Bruna está com dor.Já se passaram algumas horas desde que liguei para Gabriel. Eu não perguntei onde ele estava, mas tenho a sensação de que levará algumas horas para ele voltar. Tenho mantido um olho atento em Bruna enquanto Danilo a mantém sob observação. Danilo conseguiu estancar o sangramento e, pelo ultrassom, o bebê parece estar bem, por enquanto. Mas Bruna quebrou o osso da pélvis e está repousando. Isso vai tornar o parto mais difícil, e ela terá que aumentar seu repouso até o bebê estar completamente desenvolvido.Rafael está pálido de preocupação; não há nada q
Ponto de Vista de DiogoSó permiti que meus guerreiros me acompanhassem no retorno do território da Matilha Pedra Preta porque sabia que Pedro e os guerreiros da Matilha Fúria Noturna chegariam logo após nossa saída.— Não gosto de pedir favores a Pedro. — Pensei. Nós tínhamos um histórico complicado. Mas eu sabia que ele não diria não se envolvesse Matilde. Ele parecia estar ansioso para se meter em nossas vidas.Minha vontade era não deixá-la. Ir embora ia contra tudo o que eu acreditava. Eu sentia falta dela e dos gêmeos, mais do que jamais imaginei que seria possível. Meu lobo, por sua vez, estava furioso comigo por ter partido sem eles. À noite, ele ficava ainda pior, e eu precisava me transformar logo nas primeiras horas da manhã para acalmá-lo. O brilho da lua parecia aliviar um pouco a ansiedade de estar longe da nossa companheira e dos filhotes.Assim que voltamos, Guilherme começou os treinamentos no dia seguinte, verificando a força dos nossos guerreiros, preparando-se p
Ponto de Vista de DiogoEu podia sentir os músculos do meu corpo relaxarem sob o vapor quente do fluxo constante de água enquanto usava o tempo no chuveiro para pensar em Matilde e nos gêmeos. Eu precisava disso, meus guerreiros vieram com tudo para cima de mim hoje, e eu estava coberto de lama e sangue deles... sangue deles, não meu.Quando saio do chuveiro e alcanço minha toalha, ouço meu celular começar a tocar no meu quarto principal. Enrolando a toalha felpuda firmemente ao redor da cintura, vou em direção ao meu telefone, que eu tinha deixado na cama. O desgraçado estava ligando.— Pedro? — Diogo... de volta tão cedo do treino? — Ele não consegue se segurar em tentar me irritar. Sem dúvida, ele gostava de treinar o dia todo, mas ele não tinha um grupo de Matilhas para administrar, então não tinha argumento. Ele sabia que eu era o macho superior.— O que foi? — Respondo ríspido, irritado com o comentário dele.— Acho que você deveria estar aqui... volte mais cedo do que o pro