Coloco meu telefone ao meu lado e recosto minha cabeça na espreguiçadeira, aproveitando o assento luxuoso. Meus olhos ardem de cansaço. Muitas coisas aconteceram recentemente e muitas verdades foram reveladas por ambas as partes. Sinto formigamentos nos lábios que se movem para minha bochecha, atravessam até a orelha e o pescoço, voltando para minha boca.— Matilde, acorde. — A voz de Diogo soa contra meus lábios enquanto abro meus olhos, sonolenta, sentindo seus beijos pelo meu pescoço e clavícula.— Diogo... — Começo a protestar que ele me beijasse tão abertamente na frente das crianças, mas então me sento e vejo que os dois estão profundamente adormecidos na cama grande. Ricardo tem traços de lama no rosto, mas Diogo conseguiu colocá-lo para dormir sozinho. Não vou tirar o sorriso orgulhoso do rosto dele perguntando se Ricardo conseguiu escovar os dentes antes de dormir. A julgar pelas marcas no rosto dele, eu diria que não.— Ele apagou como uma luz.— Ele apagou? — Olho para Diogo
Ponto de Vista de MatildeEu toco o peito dele de forma brincalhona, enquanto digo:— Talvez não exatamente com essas palavras...A camisa dele estava tão suja de lama quanto o restante do corpo, com os joelhos e as canelas cobertos de barro. Garotos serão garotos, pensei. Não sabia se já era o momento de contar tudo para Ricardo e Ana. Sempre os protegi durante a infância. Estava pronta para revelar o que aconteceu entre Diogo e eu?Ricardo estava apenas começando a criar uma relação com Diogo, enquanto Ana parecia ter medo dele. Por mais que Diogo agisse de forma diferente comigo, ele ainda era o impiedoso Rei Alfa da Matilha Luar Vermelho. Acostumado a conseguir o que queria, e eu sabia, pelos dois anos de casamento e pelas reuniões de guerra que assisti, que o que ele queria, ele conseguia. Poucos ousavam dizer não a ele.Ele pode não ter sido o responsável pela morte dos meus pais, mas seu comportamento no passado me fazia acreditar que ele seria capaz disso. Talvez essa não foss
— Matilde, onde está o Gabriel? — A voz dele mudou completamente, ficando séria.— Por quê? — Franzi a testa, confusa.— Acho que se soubéssemos onde Gabriel está, Diogo poderia se sentir menos inclinado a ficar. Ele sabe que você está tramando algo, assim como eu.Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Menos inclinado a ficar? O que ele queria dizer com isso? Que, se Gabriel não estivesse em uma missão secreta para mim, Diogo não iria querer voltar? Que o beijo de ontem à noite não foi o laço de companheiros, mas algum tipo de trama para me manipular?— Não, Diogo não é assim. — Pensei. Ele sempre disse as coisas como são. Não diria?Eu não respondi de imediato. As palavras dele me feriram, e senti minhas costas se enrijecerem.— Ele está seguro e em contato regular comigo agora.— Regular? Quão regular? — Insistiu.— Ele está em uma cidade portuária ao norte. Ele descobriu que Rebeca tinha conexões com a cidade antes de se juntar à Matilha do companheiro dela.— Rebeca? Você o mand
Ponto de Vista de Matilde AlvesEstou casada, mas não sintonizada. Sou a esposa do Rei Alfa da Matilha Luar Vermelho. Sua esposa, mas não a Luna da Matilha. Mas isso é apenas uma questão de tecnicidade. Os membros da Matilha, nos últimos dois anos, me apoiaram como a esposa do Alfa e nunca me fizeram sentir menos do que uma Luna. A Matilha Luar Vermelho é a Matilha dominante de muitas outras, pois nossos guerreiros permanecem invictos em batalha. Oferecemos uma aliança forte a Matilhas menores que, em tempos de crise, podem chamar o Rei Alfa e seus guerreiros para ajudar a proteger e garantir suas terras.— Luna... cuidado. Me deixe fazer isso. — Maria Costa, uma das funcionárias da mansão do Alfa, me oferecia ajuda.Como a Luna em exercício, eu era responsável pelo planejamento e organização da Conferência da Lua do grupo anual da Matilha. Acabávamos de concluir o evento deste ano e, sendo a manhã seguinte, estava ajudando na limpeza. A equipe me disse para não me preocupar, que eu j
Ponto de Vista de MatildePor que ela estava aqui? O que ela estava fazendo aqui?Tento encontrar os olhos de Diogo para obter uma indicação de suas emoções com a chegada dela, mas os dele estão fixos na mulher que parece estar agitada com a minha interrupção. Seu cabelo preto brilhante, que era longo nas fotografias, agora estava cortado em um estiloso bob longo. Ela estava usando um top rosa brilhante que revelava bastante o decote, jeans brancos apertados e saltos rosa com pedras brilhantes. Suas roupas não eram nada parecidas com as minhas e me senti bastante feia com minha camiseta preta larga e calças de ginástica pretas.— Oh, você deve ser a Matilde! É um prazer finalmente a conhecer, sou como a irmãzinha do Diogo, eu sou...— Rebeca! Rebeca continua a segurar meu olhar até que ela me observa de cima a baixo, me avaliando. Se não estivesse olhando para ela, acho que ela teria zombado da minha aparência. Minha loba sentia uma maldade nela, uma frieza que ela nasceu com. Diogo é
Ponto de Vista de MatildeLevei Rebeca para fora, para a frente da mansão do Alfa. Queria verificar se ainda havia algo a ser arrumado e, sabendo que Maria e Bianca estavam nos fundos da casa, nossa conversa não deveria ser ouvida. Rebeca se virou para mim, uma aura fria emanando, que ela estava se esforçando para manter escondida, mas minha loba percebeu e choramingou em minha mente. Minha loba sabia que essa fêmea não era de confiança.– Fiquei surpresa de você ter os quartos de hóspedes da frente e que Diogo me deixou ficar nos quartos antigos dele. Com certeza deveria ser o contrário, não? – Ela riu de maneira debochada, minhas costas se enrijecendo com suas palavras. Talvez Danilo estivesse certo, talvez ela estivesse aqui com um motivo oculto. Não tinha tempo para jogos, abandonei minha Matilha familiar para me mudar para cá e trabalhei duro como Luna da Matilha Luar Vermelho nos últimos dois anos. Não ia deixar ela estragar isso. Eu tinha que lutar pelo que era meu.– Rebeca...
Ponto de Vista de MatildeNos dias seguintes, tentei ficar a sós com Diogo, mas Rebeca estava com ele a cada momento. Ela até se infiltrou nas reuniões de negócios da Matilha e ficou quieta ao lado. Ela observava Diogo como se estivesse maravilhada com sua liderança, mas ficava feliz em comentar quando ele pedia minha opinião como Luna.Eu não estava me sentindo bem. Os estágios iniciais da gravidez estavam tirando muita energia do meu corpo, além do estresse adicional de Rebeca estar aqui e saber suas intenções, me impedindo de dormir à noite.Danilo exigia me ver todos os dias. Ele conseguia perceber que eu estava estressada com algo, e as olheiras embaixo dos meus olhos informavam que não estava dormindo bem. Eu estava de volta ao consultório dele, onde ele estava medindo minha pressão arterial e verificando meu peso.– Você já perdeu peso, Matilde. Está tendo dificuldades com enjoo matinal? – Seus olhos me olham por cima dos óculos de aro dourado, ele também estava cansado. Provave
Ponto de Vista de MatildeMeus olhos se abrem sem reconhecer o teto acima de mim. Onde eu estava? Lembro de cair da escada... correção, de ser puxada escada abaixo por Rebeca. Onde estava Diogo, por que ele não estava aqui? Vejo Danilo parado ao pé da minha cama, digitando em seu notebook.– Danilo, onde está Diogo? – Pergunto, olhando ao redor do quarto e até tentando olhar para fora, para ver se ele estava conversando com algum membro da Matilha ali fora, mas ainda perto o suficiente para estar aqui para mim quando eu acordasse.– Tenho certeza de que ele estará aqui em breve.Meu coração afunda com a notícia... estará aqui em breve? Ele nem sequer veio me ver ainda? Ele queria estar com ela, a mulher que colocou a vida do nosso bebê em perigo, para roubar meu marido.– Ele já veio visitar? – Verifico, mas já sei a resposta.– Não, ainda não... – Danilo responde calmamente, tentando acalmar minha crise interna.A porta do quarto do hospital se abre com um estrondo, a aparente raiva d