Assim que Pedro e eu voltamos para o carro, decido sentar no banco da frente. Ainda vou ter que sentir o cheiro dele, mas pelo menos não vou precisar olhar para ele.— Ok, estamos a três milhas da vila agora. É uma vila humana, então não deve haver guardas por aqui. Mas talvez devêssemos esconder o carro e fazer o resto a pé ou na forma de lobo. Só para errar pelo lado da cautela? — Pedro sugere, e Diogo e eu concordamos.Ele não sabia muito sobre a verdadeira identidade do pai de Ricardo e que ele esteve no mesmo carro que ele pelas últimas quatro horas, mas eu estava muito grata por Pedro estar aqui. Ele ajudou a aliviar os silêncios constrangedores entre Diogo e eu, sua natural simpatia e humor eram contagiosos. Eu só não estava no estado de espírito certo para ser tão jovial quanto ele.Ele era corajoso, disso não tenho dúvidas. Eu teria escondido o carro em um campo ou numa área arborizada, mas não Pedro. Ele estacionou o carro na entrada de uma garagem. Acho que até Diogo ficou i
Ponto de Vista de MatildeEspero até que os dois lobos machos tenham corrido para longe antes de começar a me despir. Coloco minhas roupas na mochila do Pedro antes de me transformar na minha loba de cor marrom amarelada, quase areia. Fazia um tempo desde a última vez que me transformei. Não percebi o quanto até que ela toma um momento para esticar as costas. Com um gemido interno meu, ela pega a mochila com os dentes e persegue os dois machos Alfa à frente dela.Quando os alcanço, noto que o lobo do Diogo não consegue tirar os olhos de mim. Seus olhos azuis como o oceano agora são um azul marinho tempestuoso, como um mar agitado. Será que já nos transformamos na frente um do outro, permitindo que nossos lobos realmente se encontrassem? Sei que já vi seu lobo antes, mas não me lembro de termos nos encontrado. Minha loba parece gostar dos olhos dele sobre ela. Ela até balança o rabo antes que eu a repreenda internamente. O lobo do Pedro caminha em minha direção, tentando cheirar meu pes
Eu me levanto ligeiramente em uma posição de cócoras, me preparando antes de sentir o cheiro de um animal menor.— É só uma raposa. — Informo a Pedro, que depois de cheirar a área, concorda com um aceno.— Então, manter os filhos dele longe dele é uma forma de punição? — Mantendo-se abaixado, ele agora se junta a mim, sentando e descansando contra a árvore.Punição? Sobre o que ele estava falando?— Por atacar sua Matilha?— Você ouviu sobre isso? — Arqueio uma sobrancelha para ele.— Eu ouvi sobre o ataque, todas as Matilhas ouviram. Mas começaram a circular boatos de que foi Diogo quem o orquestrou... — Ele começa a rir, o que me irrita instantaneamente. Será que ele acharia engraçado encontrar os pais mortos e membros da Matilha queimando? Acho que não.— Você acha engraçado? — Falo entre dentes cerrados.— Não, claro que não... — Ele coloca a mão no peito, corrigindo sua postura. — Mas Diogo... fazendo tal coisa... acho isso risível.— Como assim? — Meu corpo enrijece, meus ouvidos
Ponto de Vista de MatildeRespiro fundo e solto o ar lentamente.— Olhe para mim desse jeito o quanto quiser, Matilde, mas ele estar vivo coloca Ricardo em ainda mais perigo. — Diogo diz com frieza.— Pare de me chamar de Matilde! — Rosno em resposta.Pedro, percebendo a tensão crescente entre nós, tenta intervir:— Onde estão seus homens?Diogo guarda o telefone no bolso enquanto o corpo do homem morto permanece estirado no chão da floresta.— Gabriel está esperando minhas ordens. Eles estavam posicionados no pub. — Respondo, virando-me de costas para Diogo, que, desrespeitosamente, revira os bolsos do homem.— Ok, vamos até eles. Diogo... o que você está fazendo? — Pedro suspira com impaciência ao ver Diogo ainda investigando o corpo.— Procurando pistas. Já peguei o telefone dele. O chamador não quis falar, mas tudo bem, meus homens podem hackear o telefone para obter informações. Eles vão desejar nunca ter feito aquela ligação.— O pub, Diogo, esse é o nosso destino, certo? — Pedro
Eu me conecto através da conexão mental com Guilherme enquanto saímos pelo cemitério, permanecendo cobertos pelos túmulos e arbustos.— Pronto? — Pergunto, mantendo-me em silêncio.— Quando chegarmos no ponto de ônibus, teremos que agir rápido. Está muito aberto. — Ordeno, enquanto nos escondemos no último local coberto antes da abertura da estrada à frente.— Entendi, Alfa. — Responde Guilherme. Ele conhece suas ordens, e eu sei meu alvo: trazer Ricardo de volta para os braços de sua mãe.Dou o sinal para Guilherme para que possamos nos mover. Ambos somos rápidos, correndo pela estrada sem sermos vistos.Guilherme vai para os fundos do pub, enquanto eu vou para a entrada da frente.Mantendo-me baixo, empurro a porta e descubro que está trancada por dentro. Usando o cotovelo, quebro o vidro e alcanço o interior para desbloquear as trancas de segurança.Quando empurro a porta e entro, piso sobre o vidro espalhado cobrindo o carpete úmido que tem um forte cheiro de martini velho e cigarr
Ponto de Vista de RicardoO homem alto e magro foi designado para ficar do lado de fora do meu quarto o dia todo. Eu podia ouvi-lo andando para frente e para trás constantemente, o que, mesmo para mim, uma criança de quatro anos, era irritante. Eu nem sabia onde estávamos. Não sei o número do celular da Mamãe para ligá-la. Como eu iria escapar e fugir? Idiotas!No início da tarde, algo os assustou novamente e eu realmente não queria ser movido. Este lugar era horrível, mas pelo menos era um pouco mais confortável do que o barracão de metal... um pouco.O lobisomem gordo e baixo tinha subido as escadas alarmado pelos homens de plantão não atenderem os seus celulares. Aparentemente, eles tinham um sistema para se comunicar a cada hora, o que significava que não eram membros da mesma Matilha porque não podiam usar uma conexão mental.— Estou com fome. Vá ver se há alguma comida lá embaixo. — Ordenou o homem gordo, deixando sua barriga controlar sua vida.— Eu estou vigiando o garoto. Vá
— Você está bem? Está ferido? — Ele perguntou, preocupado. Eu me perguntei por que ele estava preocupado comigo; não era a Mamãe a rival dele? Eu não sabia muita coisa, então tentei descobrir o que pude espionando um pouco ao redor da Matilha Pedra Preta. Eu sabia que o Rei Alfa tinha grupos, assim como nós, e a Mamãe parecia querer romper esse vínculo da Matilha.— Estou bem — respondi, dando um pequeno sorriso.— Você é muito corajosa — Ele disse enquanto se levantava e dava um tapinha no topo da minha cabeça.— Eu sou? — Perguntei, surpresa. Para o Rei Alfa dizer isso, deveria ser verdade.— Oh sim, Ana tem me contado como ela podia sentir sua força através do seu vínculo — Ele continuou.— Você conheceu a Ana? — Eu perguntei, curiosa.— Sim, ela está no meu grupo com seu Pai — Ele respondeu.— Seu Pai… — Comecei a dizer, pensando em como a situação se complicava.— Quer dizer o Tio Danilo? — Ele completou.Eu notei que suas sobrancelhas se franziram, mas ele parecia formar um peque
Ponto de Vista de DiogoM*rda, o que eu estava fazendo? Ouvi o tiro e soube que não poderia atingir Matilde. Algo dentro de mim tomou controle enquanto eu corria em direção a ela, meu corpo sendo empurrado além dos seus limites enquanto me movia mais rápido do que eu nunca havia me movido na minha vida. Ela havia empurrado o garoto para fora do caminho, deixando-se para receber o impacto da bala. Mas o atirador não desviou sua mira para Ricardo, ele a manteve nela. Por que ela agora era o alvo?Seus olhos se encontram com os meus enquanto eu me jogo em cima dela, derrubando-nos no chão. Seus olhos estavam arregalados, não com medo de encontrarmos nosso criador, mas com surpresa por eu estar bloqueando-a da bala. Eu grunho quando a bala me atinge nas costas, dói, mas nada que me mantenha no chão. Não entendo, o que uma bala faria a um lobisomem adulto? E então eu sinto. Foi envenenado com a m*rda de acônito. Eu podia sentir a queimação se espalhando pela ferida e entrando na minha corre