Ponto de Vista de MatildeEu estava deitada na cama de casal, com Ana adormecida ao meu lado. Acordei por volta das 5 da manhã, mas agora já eram 6. Passei a última hora observando Ana dormir, vendo suas suaves respirações, as pálpebras tremulando enquanto ela sonhava, e o jeito como ela abraçava seu ursinho de pelúcia. Aquilo derretia meu coração. Fiz uma promessa a mim mesma: assim que tivermos Ricardo de volta, vou observá-lo dormir também.Meu corpo estava em constante estado de estresse, o coração batendo mais rápido, e o desespero de tê-lo em meus braços estava gerando ataques de pânico que eu conseguia manter sob controle, mas apenas na privacidade do quarto. Olhei o relógio novamente: 6 da manhã. Será que era muito cedo para descer? Sempre me sinto estranha na casa de outra pessoa, andando por aí e me servindo das coisas. Mas não queria incomodar Bianca, e um chá verde me ajudaria a acordar para checar meus e-mails e ver se Gabriel tinha chegado à pedreira em segurança.Decidi
Eu me casei jovem, muito jovem. Queria fortalecer a Matilha dos meus pais, fazer minha parte. Quando cheguei, Danilo se ofereceu para vir e verificar as instalações. Como meu médico pessoal, ele nunca foi embora, e eu nunca pedi para ele ir. Ele foi o único amigo que tive em uma Matilha que era muito diferente da que cresci. Ana não está fazendo tanto barulho agora. Parou de alcançar as prateleiras de cima e está ouvindo atentamente. Eu continuo:— Ele tem sido minha luz nos meus dias mais sombrios. Meus filhos e Danilo me salvaram... Me mantiveram respirando. Ele é o melhor homem que conheço. Por favor, dê uma chance a ele.…..Assim que o relógio marca 7h, parece um horário mais razoável para começar a preparar o café da manhã. Ana desce e pede pão de queijo, que ela está fazendo com Bianca e Rafaela. Eu estou fritando um pouco de presunto e ajudando a preparar uma nova rodada de bebidas quentes.O cheiro de um ótimo café da manhã logo enche a cozinha, e Danilo, Diogo e Rebeca estão
Ponto de Vista de DiogoEu sabia que ele tinha enviado aquelas flores só para me irritar. Ele era um idiota. Se eu já não estivesse de mau humor por causa de Ana, que ficava chamando constantemente o Beta de "Papai" o tempo todo, agora estava pior por causa daquele maldito buquê de flores.De manhã, peguei Rebeca tentando subir na minha cama. Tive que expulsá-la. Sério, o que diabos estava acontecendo? As pessoas estavam deliberadamente tentando me frustrar?Saí da cozinha furioso. Aquelas flores foram a gota d'água. Mas, de qualquer forma, eu precisava ir para o treinamento, já que Guilherme estava fora do local.Maria estava lá, no meio disso tudo. Eu não podia recusar a entrada dela na Matilha, afinal, ela cresceu aqui e tinha família aqui. Mas droga, que péssimo timing! Ela sempre conseguia irritar Rebeca, o que geralmente me divertia, mas hoje não.Até Rafaela estava agindo de maneira estranha. E agora o Beta da Lua Crescente estava por perto, farejando tudo. O que diabos estava a
Eu a encaro com raiva e rosno:— Não.Ela ignora meu aviso e continua a fazer comentários sugestivos.— Deixando Matilde livre para reivindicar.— Não...— Por que não? Ela já é a mãe dos seus filhos, certo? — Ela levanta uma sobrancelha, desafiando-me.— Como você sabe?— Faço questão de saber. Então, ela te contou?Respondo com um tom grave, sentindo a raiva crescer dentro de mim.— Sim, ela me contou. Mas só porque não conseguiu manter meu filho seguro.Meu peito vibra com um rosnado profundo, mas ela não se deixa intimidar.— Isso não é justo, Diogo. Se ela estivesse no mesmo carro, estaria morta também.A ideia de Matilde morta me deixa frio por dentro. Lembro-me de vê-la ferida no armazém, uma visão que eu nunca gostaria de repetir. Preciso que Maria fique quieta sobre isso.— Mantenha isso para você mesma. — Ordeno, deixando meu lobo vir à tona, colocando mais aura no comando. Ela geme, mas se submete facilmente. Não tenho certeza se foi por causa da minha aura ou porque ela rea
Ponto de Vista de MatildeEu estava indecisa, mas Diogo me apressava:— Bem, você vai ou não? — Ele já estava saindo da casa do Alfa.— Eu dirijo! — O Alfa Pedro declarou, correndo à frente de Diogo em direção ao pátio. Nem sabia que ele estava por perto.Olhei para Danilo e Ana, meu coração apertado. Não podia simplesmente deixá-la de novo.— Mamãe, eu vou ficar bem, vá... Ricardo está esperando por você. — Ana não deu muita atenção ao fato de que eu estava prestes a sair, voltando sua atenção para o trabalho de matemática.— Vai, me mantenha informada. — Danilo se levantou e começou a sair da cozinha em direção ao pátio, com Otávio logo atrás.— Tá bom, querida, seja boazinha. Não vou demorar. — Coloquei um beijo no topo da cabeça dela e olhei para as outras mulheres na sala.Rafaela, Bianca e Maria me lançaram olhares gentis. Rebeca não estava lá, e se estivesse, eu teria pensado duas vezes antes de deixar Ana.— Eu sei... Eu fico. Eu prometo, vou mantê-la longe dela. — Maria, enten
Assim que Pedro e eu voltamos para o carro, decido sentar no banco da frente. Ainda vou ter que sentir o cheiro dele, mas pelo menos não vou precisar olhar para ele.— Ok, estamos a três milhas da vila agora. É uma vila humana, então não deve haver guardas por aqui. Mas talvez devêssemos esconder o carro e fazer o resto a pé ou na forma de lobo. Só para errar pelo lado da cautela? — Pedro sugere, e Diogo e eu concordamos.Ele não sabia muito sobre a verdadeira identidade do pai de Ricardo e que ele esteve no mesmo carro que ele pelas últimas quatro horas, mas eu estava muito grata por Pedro estar aqui. Ele ajudou a aliviar os silêncios constrangedores entre Diogo e eu, sua natural simpatia e humor eram contagiosos. Eu só não estava no estado de espírito certo para ser tão jovial quanto ele.Ele era corajoso, disso não tenho dúvidas. Eu teria escondido o carro em um campo ou numa área arborizada, mas não Pedro. Ele estacionou o carro na entrada de uma garagem. Acho que até Diogo ficou i
Ponto de Vista de MatildeEspero até que os dois lobos machos tenham corrido para longe antes de começar a me despir. Coloco minhas roupas na mochila do Pedro antes de me transformar na minha loba de cor marrom amarelada, quase areia. Fazia um tempo desde a última vez que me transformei. Não percebi o quanto até que ela toma um momento para esticar as costas. Com um gemido interno meu, ela pega a mochila com os dentes e persegue os dois machos Alfa à frente dela.Quando os alcanço, noto que o lobo do Diogo não consegue tirar os olhos de mim. Seus olhos azuis como o oceano agora são um azul marinho tempestuoso, como um mar agitado. Será que já nos transformamos na frente um do outro, permitindo que nossos lobos realmente se encontrassem? Sei que já vi seu lobo antes, mas não me lembro de termos nos encontrado. Minha loba parece gostar dos olhos dele sobre ela. Ela até balança o rabo antes que eu a repreenda internamente. O lobo do Pedro caminha em minha direção, tentando cheirar meu pes
Eu me levanto ligeiramente em uma posição de cócoras, me preparando antes de sentir o cheiro de um animal menor.— É só uma raposa. — Informo a Pedro, que depois de cheirar a área, concorda com um aceno.— Então, manter os filhos dele longe dele é uma forma de punição? — Mantendo-se abaixado, ele agora se junta a mim, sentando e descansando contra a árvore.Punição? Sobre o que ele estava falando?— Por atacar sua Matilha?— Você ouviu sobre isso? — Arqueio uma sobrancelha para ele.— Eu ouvi sobre o ataque, todas as Matilhas ouviram. Mas começaram a circular boatos de que foi Diogo quem o orquestrou... — Ele começa a rir, o que me irrita instantaneamente. Será que ele acharia engraçado encontrar os pais mortos e membros da Matilha queimando? Acho que não.— Você acha engraçado? — Falo entre dentes cerrados.— Não, claro que não... — Ele coloca a mão no peito, corrigindo sua postura. — Mas Diogo... fazendo tal coisa... acho isso risível.— Como assim? — Meu corpo enrijece, meus ouvidos