O vento gélido atingiu o corpo de Eleanore como um golpe muito doloroso. Ela se encolheu, tentando se envolver no próprio calor corporal, mas ficava cada vez mais difícil.
Quando abriu os olhos, a claridade fez com que Ellie piscasse várias vezes. Assim que olhou para cima, tudo o que viu foi uma extensão tão branca quanto a neve que a rodeava, neve esta que também cobria parte de seu corpo, amontoando-se sobre suas roupas, o que havia as deixado ligeiramente úmidas, servindo apenas para intensificar ainda mais o frio.
Eleanore se sentou, afastando os flocos de cima dela. Seus músculos estavam enrijecidos e doloridos, provavelmente pela posição na qual dormira.
Olhou ao redor e tudo que viu foi o chão branco, a vários metros de distância estavam árvores, mas envolta de Eleanore não havia mais nada, como se tudo tivesse sido varrido e só sobrasse
Eleanore estava andando por sobre a neve, por entre as árvores, esfregando as mãos em seus braços em uma tentativa de se aquecer, nem que minimamente.Seu cabelo era uma confusão úmida de terra e galhos, armando-se em todas as direções.Tinha que comer alguma coisa, caso contrário, não andaria por muito mais tempo. Sua energia estava sendo gasta para manter seu corpo aquecido, mas não duraria para sempre.Mas onde acharia comida? As árvores estavam secas, não era época de frutos, estava nevando e as plantas estavam morrendo, não tinha ferramentas para que pudesse caçar e, francamente, tampouco tinha habilidades para tal.Seu estômago roncou alto e ela resmungou amargamente.Ao longe ouviu um grasnar, lembrou-se de Dimitri. Queria que ele dissesse algo inconveniente e que fosse seguido dos vários “calado, corvo!” dos habi
Bulaklak havia conseguido apanhar alguns pequenos peixinhos em um rio que corria ali perto. Eleanore, depois de muitas tentativas, conseguiu conjurar uma pequena fogueira, apesar de ter sido difícil encontrar galhos secos depois de muita neve.Três horas de caminhada depois, Ellie já estava faminta novamente. Ainda sentia muito frio e o corpo todo tremia em uma tentativa de manter seu calor corporal.Dimitri hora planava no céu sobre eles, hora se empoleirava sobre o ombro da menina, aconchegando-se por entre as mechas ruivas indomadas, como se aquilo fosse uma espécie de cobertor para poder aquecê-lo. Naquele instante, Dimitri estava praticamente apoiado contra o pescoço de Ellie, suas penas fazendo cócegas.– Pra onde exatamente estamos indo? – Eleanore perguntou.– Eu já lhe disse. Vamos encontrar alguém que possa te ensinar à usar seus dons, como u
O homem da cicatriz, passados os segundos de choque intenso, avançou na direção de Eleanore. Mas, antes que pudesse alcança-la, um cipó envolveu seu tornozelo e ele foi direto para o chão. Bulaklak saltou sobre ele e arrancou um tufo de seu cabelo, fazendo com que o homem berrasse. Depois, começou a acerta-lo com um cajado de madeira direto na cabeça.– Que porra é essa? – o rapaz esganiçou, colando as costas contra uma árvore, amedrontado.Bulaklak era rápido e, embora o cara da cicatriz tentasse apanha-lo, tudo o que conseguia era ter mais mechas de seu cabelo arrancadas e mais pauladas na cabeça.Ellie ficou em pé, mas não soube o que fazer, ainda estava atordoada. Olhou para as próprias mãos, imaginando se congelaria a próxima pessoa que tocasse.E, foi nesse instante de distração, que o rapaz, q
O que Bash pensou ser o som de uma vila, na verdade, era um agrupamento militar. Percebeu isso pelos uniformes, as tendas montadas em fileiras, as armas brancas e de fogo que alguns portavam. Havia um brasão em algumas tendas, era sempre o mesmo, um leão vermelho coroado, mas não era a águia negra a qual estava acostumado.– Um exército? Achei que não estivéssemos em guerra. – Magnolia questionou.– Sempre há guerras – Bash suspirou.Os três estavam no alto de um pequeno morro, a muitos metros de distância do agrupamento, protegidos pela vegetação do bosque.– Reconhece o brasão, Bash? – June quis saber.– Parece ser dos Habsburgo. Se for, estamos um pouco longe de casa. – Bash suspirou novamente – Merda. Devemos estar em território boêmio.– E o que va
Ouviu homens gritando, uma certa comoção vinda das tropas, as vozes estavam alteradas, demonstrando certo alarde. Bash não olhou para ver se era por causa dele, ele estava torcendo para ter acontecido uma invasão inimiga naquele exato instante. Mas sabia que sorte nunca fora seu ponto forte. Só esperava que a estranheza toda da situação pudesse retardar os soldados causando um espanto paralisante.Tinha saído da área das tendas, faltava pouquíssimos metros para adentrar o bosque, quando ouviu um disparo ecoar em um ímpeto doloroso contra seu tímpano e, logo em seguida, sentiu uma ardência na coxa que invadiu gradativamente o corpo todo.A cada passo, o ferimento na perna enviava um impulso excruciante por todo seu sistema nervoso. Estava difícil de superar a dor, mas ele tinha que continuar.Bash deu um salto e, no ar, transformou-se novamente em um gato, no exato in
Já era noite e Eleanore estava com toda a frente do vestido suja com o sangue de Bulaklak.Seguia a direção que ele apontara há horas, mas o duende havia desmaiado há um tempo. O frio ainda era um problema constante e, era por isso, que toda vez que um vento gelado batia contra a pele dela, Ellie segurava Bulaklak contra seu corpo com mais força.Não conseguia ver direito o caminho, embora sua visão já tivesse se adaptado ao escuro, continuava andando, tropeçando em galhos e raízes vez ou outra.Foi quando viu uma certa claridade e a seguiu, feito uma mariposa atraída pela luz.Metros à frente havia uma cabana singular, parecia quase fundida a natureza ao redor. O telhado era forrado de grama e flores, toda a estrutura era feita de madeira sem acabamento, como um tronco de árvore. Um caminho de pedras rodeado de margaridas levava até a porta da frente.
– Aqui está! – Amber anunciou, caminhando ao lado de Dante na forma de uma raposa.Diante de Dante havia um grande lago e isso era perfeito. Água era um excelente condutor de energia mágica, melhor do que isso, um grande volume de água parada armazenava magia, concentrando-a dia após dia, como um enorme tanque de energia mágica. Feiticeiros, de um modo geral, utilizavam água para fazer uso de feitiços que demandavam grande quantidade de magia como, por exemplo, teletransporte.– Vai funcionar? – Sam quis saber.– Veremos – Dante respondeu, tentando transparecer algum tipo de confiança.O aprendiz usou um feitiço térmico simples que mantinha seu calor corporal para que assim a água não o congelasse. Mesmo assim, quando a água estava na altura de suas canelas, ele sentiu o frio o rondando como uma brisa que lhe ar
As bochechas Ellie assumiram um tom perigosamente vermelho conforme ela entendia o que a bruxa estava querendo dizer.– N-não! Eu e Vincent nunca... – ela engoliu em seco, incapaz de terminar a frase – É que nós temos uma ligação. Uma ligação mágica.A bruxa uniu as duas mão e entoou palavras fortes e, ao fim do cântico, ela assoprou sobre o corpo de Bulaklak e uma bruma verde pairou sobre ele, cobrindo-o como um manto translucido de névoa colorida. Bulaklak soltou um suspiro, mas permaneceu desacordado.Niara alojou Bulaklak deitado no sofá, entre duas pilhas de tecidos, cobrindo seu frágil corpinho com uma manta, em seguida. Finalmente se voltou para Ellie, que percebeu que a mulher tinha olhos castanhos claros, quase em um tom mel.Espantou-se com o fato de esperar que a mãe de Vincent fosse uma pessoa mais parecida com ele, quem sab