O doutor Félix fica em silêncio. Pode perceber, pela maneira como seu amigo se comporta, que embora não reconheça, Camelia entrou em seu coração. Não lhe diz nada, apenas espera que desta vez seja um amor verdadeiro e puro que o ajude a sair de onde se encontra.
—Você tem razão —aceitou Félix, retomando sua atitude profissional de médico ao lembrar de sua paciente—. Acho que você precisa levá-la a um psicólogo, insisto que ela tem um trauma subjacente. Porque agora mesmo, se é como você me disse que ela anda atrás de você grudada desse jeito, pode ser que sinta que só você vai salvá-la e vai acreditar que está em dívida com você, e que te deve algo.—Vai acreditar não! Já acredita! Ela me disse! —exclamou Ariel e acrescentou—. Quando ela me ligou, não me pediO médico entra no quarto onde Ariel tenta fazê-la dormir novamente. Félix volta a injetá-la, desta vez com uma dose mais forte. Quando ela adormece, eles saem levando o telefone.—Isto é mais sério do que imaginávamos, Ariel. Esse cara não vai deixá-la em paz. Eu conheço esse tipo, você precisa fazer algo ou ela será mais uma vítima —a seriedade no tom de voz de Félix faz Ariel estremecer.Ariel não fala, pega o telefone e liga para seu chefe de segurança, que lhe garante que Leandro não poderia ter enviado aquela mensagem para Camelia, porque onde estava não havia telefones. Oliver, o advogado, o havia prendido por alguns delitos pendentes. Garantiu que investigaria quem poderia ser o outro, quase certamente Manuel, o companheiro de Leandro.Félix vai embora depois de se certificar que Camelia está bem ado
Camélia ficou em silêncio olhando para Nádia. Limpou as lágrimas que ainda rolavam por suas faces enquanto negava com a cabeça diante dos olhares dos seus amigos, que não entendiam sua atitude.—Não, Nádia, o senhor Ariel me respondeu, quando eu estava prometendo coisas, que já pensaria em algo para cobrar o "favor" —disse num sussurro envergonhada.—Como você é tola! —gritou Nádia, mas parou ao ver como Camélia estava convencida do que dizia. Isso não era importante agora. A única coisa que lhe interessava era que talvez essa fosse a maneira de impedi-la de voltar à aldeia junto aos seus pais; iria falar com Ariel para que não permitisse—. Não importa, fique ao lado dele até pagar os benditos favores, que pelo caminho que vai, precisará da vida inteira para pagar.—Eu sei, minha amiga, eu sei —assentiu e suspirou Camélia, sentindo-se encurralada por todos os lados.Nádia abraçou-a novamente, sentindo pena de sua melhor amiga. Camélia era uma boa pessoa desde que nasceu; não entendia
Ricardo observa as duas jovens de mãos dadas que o olham com ansiedade. Ele não pode negar que se amam como irmãs. Sempre foi assim desde que conheceu e iniciou um relacionamento com Nadia. Ela deixou muito claro que jamais deixaria Camelia sozinha; inclusive, queria que vivessem juntas. Se não fosse porque a própria Camelia se negou, elas teriam feito isso.Na verdade, ao conhecer Camelia, isso não o incomodou. Ela era tão nobre, boa, compreensiva e ingênua que ele tinha certeza de que faria tudo o que eles dissessem. Por isso, ele a aceitou, começou a amá-la e a protegê-la como sua esposa fazia. Principalmente porque, apesar de ser tão extrovertida, Nadia só tinha uma melhor amiga que amava e defendia como se fossem irmãs, e essa era Camelia.—Concordou em al
Ela os vê partir e volta a fechar a porta com chave. Seu telefone avisa sobre uma mensagem. É um número desconhecido; ela se assusta e o desliga sem abrir. Continua trabalhando até sentir que a porta que conecta os escritórios se abre.—Cami, por que você não me atende? —pergunta Ariel, preocupado.—Me ligou? Desculpe, senhor, estou com o telefone desligado. Pode me ligar no da oficina —pede a ele e ao mesmo tempo pergunta—. Para que me ligou?—Venha comigo, vamos a um psicólogo —diz Ariel, entrando e caminhando em direção a ela, que pergunta com um fio de voz.—Um psicólogo? —pergunta, assustada.&
A família Oduarte era uma das mais importantes na pequena aldeia onde residiam, a poucos quilômetros da capital. Todos se conheciam, se ajudavam e conviviam. Pedro Oduarte era filho único; seu pai havia falecido, mas sua mãe, Gisela, vivia no extremo oposto da aldeia. Casado com Mariela, uma mulher que havia sido educada para ser dona de casa e obedecer ao marido em tudo.Um ano após o casamento, herdaram, com a morte do pai, a velha fábrica de cerâmica. Desde o início, Pedro decidiu que teriam apenas um filho, como eles. Com o objetivo de dar tudo, assim não haveria problemas com os herdeiros. Foram muito felizes quando nasceu Marilyn; não era o menino que esperavam, mas se conformaram. Era uma bela menina, muito vivaz e alegre, que logo percebeu que era o centro do universo naquela família. Marilyn se sentiu tão frustrada porque sua irmã havia conseguido o que ela não, que fez com que seu pai lhe comprasse um lindo vestido, mais bonito que o da irmã, para acompanhá-la na formatura e participar do baile. E lá foram todos, como acontece nas pequenas aldeias: a família inteira vai às festas de formatura. O anúncio do melhor aluno era o último a ser feito antes de iniciar o baile.—E agora tenho a honra de chamar o melhor aluno da escola —falava o diretor, um velho que também atuava como prefeito—, por favor, Camelia Oduarte, suba ao palco.Um silêncio se seguiu, ao contrário do que se pode esperar diante desse anúncio, apenas interrompido pelos aplausos de Nadia, seus pais e os professores. Camelia subiu, sem conseguir desviar os olhos d74. SALVO PELA AVÓ
Ariel não havia respondido à pergunta de Camelia, embora quisesse garantir que a protegeria por toda a vida. Ele não o fez, porque nem ele mesmo sabia se conseguiria cumprir isso com tantos problemas que tinha que resolver em sua vida. Dedicou-se a ajudá-la a entrar no carro e se dirigiram à clínica de psicologia que Félix havia indicado.Camelia ficou em silêncio, recriminando-se por ter perguntado isso. O que mais esperava de seu chefe? A viagem foi passada a cada um em seus pensamentos. Ao chegarem, Ariel esperou que os guardas se posicionassem antes de deixar Camelia sair, que olhou aterrorizada ao redor. Pareceu-lhe ver alguém parecido com Leandro; suspirou ao perceber que estava enganada.Entraram na clínica com passos firmes. Ariel segurou a mão dela, não se importan
A semana passou sem que Camelia percebesse. Depois do ocorrido, ela não se separou um instante de Ariel. Embora ele tivesse garantido que não veria mais Leandro, ela ainda tinha medo de ir para casa. Portanto, aceitou com muito gosto que ficassem na casa branca. Tanto era seu medo que até fez Ariel acompanhá-la até sua casa para buscar suas roupas e o que pudessem precisar. No entanto, ele propôs ficar; mal conseguiu dormir, e quando o fez, acordou gritando por causa dos pesadelos de ver Leandro entrar pela sua varanda.Ariel, ao ver aquilo, levantou-se, pegou todas as coisas de madrugada e voltou para sua casa branca. Era mais longe do trabalho, então tinham que acordar mais cedo. Mas ela se sentia mais segura, por ter todas as janelas gradeadas. Apesar de levá-la ao psicólogo, Camelia não se abriu com ele, e tinha pavor de que Ariel a deixasse sozinha. Tentaram ir com Nadia, mas ela continuou sem fazê-