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O Escolhido
O Escolhido
Por: Thiago Pacheco
1 - Uma Luz Em Meio À Escuridão

O Escolhido

Sempre tem um começo...

Para Cláudia,

Para Thaís,

Para Yonne,

Para Ingrid.

Capítulo I

Uma Luz Em Meio À Escuridão

            Já era meia-noite na capital do reino de Ismir, a Cidade do Dragão.

            Ismir era um reino no litoral do Marcopolo Sul, um dos quatro continentes, governado pelo rei Eldon, filho do rei Odin e da Rainha Sybilla. Para os que não sabem, o mundo era dividido em Marcopolos, os continentes. Havia o Marcopolo Sul, o Marcopolo Norte, o Marcopolo Leste e o Marcopolo Oeste.

            O Marcopolo Norte era pouco habitado, o local mais frio do planeta. Poucas tribos viviam lá. Na língua élfica, é conhecido como Ishnor Senterin, ou Continente Gelado. Suas terras são improdutivas e o sol aparece apenas em cinco meses no ano. Os outros meses, o continente fica mergulhado num inverno rigoroso.

            O Marcopolo Oeste, conhecido também como Ishnor Sin Niryon, ou Continente de Fogo. Tem grande concentração de vulcões e é ligado ao Marcopolo Leste pelo Estreito de Bering. A classe mais comum no continente são os bárbaros. Possui o maior deserto do mundo e algumas poucas terras são boas para a produtividade.

            O Marcopolo Leste é conhecido como Selenty Limies, ou Terra Fértil, ou ainda chamado de Ishnor Rutril, o Continente Desenvolvido. É um continente rico, com grandes reservas de Dragões, Unicórnios e Redutos de Elfos, Duendes e Gnomos. Muito desenvolvido magicamente e tecnologicamente, principalmente o segundo citado, em relação ao mundo. Liga-se ao Marcopolo Oeste pelo Estreito de Bering, mas recusa totalmente “a desgraça do mundo”, segundo os reis do Marcopolo Leste.

            O Marcopolo Sul é um reino dependente muito da magia. Mais desenvolvido magicamente, embora a população seja mais rural. Tem diversas culturas. Possui uma região árida ao norte, perto da Caucácia, a Terra do Sol Eterno. É chamado de Selenty Sin Wenthyman, a Terra da Magia. A magia é mais forte e poderosa ali. Principalmente em Ismir, o grande centro da magia do continente ao sul.

Ismir se situava numa região montanhosa, com bosques, uma enorme floresta e um deserto, embora os estudiosos digam ser apenas dunas. O reino é semelhante a uma península. É banhado pelo Oceano Nebuloso, a sudeste do Mar Central.

Na Cidade do Dragão, assim como em Ismir, há uma única escola de magia, a Escola de Magia de Ismir. Importante e influente, sempre tinha vez na Suprema Corte dos Magos, sendo representada pelo diretor ou diretora nas reuniões.

E é, nos arredores da Escola de Magia de Ismir, que a história a ser contada se inicia.

Num beco, atrás da Escola de Magia, nada se podia ver muito bem. A única luz de toda a rua vinha de um candeeiro e essa luz era muito fraca. A visão do local era difícil.

            De repente, virando a esquina, vieram dois Guardas das Sombras.

            Guardas das Sombras eram os guardas do Senhor das Trevas.

O Senhor das Trevas era o mal em pessoa, um mago que pertenceu à Suprema Corte dos Magos e se uniu às trevas, tentando conquistar o reino de Ismir. A Suprema Corte dos Magos é o conselho de magos, magas, feiticeiros e feiticeiras de Ismir. Tudo relacionado à magia era discutido nestes conselhos e cada reino tinha o seu próprio. O Senhor das Trevas pertenceu à Suprema Corte dos Magos, mas foi banido depois de tentar converter todos os integrantes ao seu poder, às trevas. Tentou duas vezes conquistar o reino de Ismir. Sorte que sua ambição se limitou a apenas este reino, até então, já que não conseguira dominar os reinos vizinhos.

Em sua primeira tentativa ele falhou, porém, em sua segunda tentativa, ele construiu secretamente uma fortaleza numa área esquecida de Ismir e, conseguindo mais poder, destronou Endon, conquistando todo o reino de Ismir. Quando digo destronou é simplesmente “conseguiu um exército extremamente maior e tomou Ismir em seu controle”.

Ele reuniu aliados em todo o continente, pensava já em dominar outros reinos, mas estas suas idéias haviam chegado não só aos reinos vizinhos como ao Córnego, a grande autoridade mundial, que fez de todo o possível para impedir que seu domínio se propagasse.

Guardas foram até o final do beco fazendo sua ronda diária.

-Não sei pra que fazemos isto! - reclamou um dos Guardas das Sombras.

-Cale-se, seu tolo! Nosso Senhor pode nos escutar. Você conhece suas extensões. E agora, nesta época, as coisas precisam ser feitas. Há uma ameaça, seu idiota!

Suas presenças intimidariam muitas pessoas, aterrorizariam outras, assustariam todos. Apesar de serem humanos, morriam de forma diferente, agiam de forma diferente. Os sábios diriam que apenas a origem dos Guardas das Sombras é humana: o resto de suas vidas miseráveis era apenas uma coisa: trevas.

Quando saíram do beco, rapidamente, uma menina e um bebê saíram de um pequeno portão de ferro que dava para a Escola de Magia e se esconderam. Um dos Guardas olhou para trás, mas a menina estava atrás de uma pequena entrada para a porta de uma taberna, fechada. Quando os guardas avançaram para longe do beco, a menina começou a correr, saiu do beco e entrando numa rua, os guardas a notaram e correram atrás dela.

A menina corria, mas tinha medo de acordar o bebê. Os guardas seguiram a menina virando numa avenida, entrando num pátio e murmuraram algo muito estranho. Logo um relampejo de luz verde atravessou o pátio e atingiu a menina.

Ela caiu e junto o bebê acordou, começando a chorar. Pelo feitiço, os Guardas não a queriam morta.

Os Guardas das Sombras se aproximaram dela, flutuando. Um deles, sob o capuz negro, esboçou um sorriso maléfico. A menina disse umas palavras inaudíveis para os guardas e algo semelhante a ondas atingiu os guardas, que ficaram atordoados.

-Wentai-Cherami-Iluminaty. - disse a garota, que desapareceu na escuridão.

Era um porão sujo e pegajoso. Nada havia nas paredes daquele redondo cômodo inferior da casa, apenas, no centro, uma bola de cristal numa mesa. A dona daquele casebre na Cidade do Dragão estava com a bola de cristal nas mãos, erguendo-a para o teto. Seus cabelos eram sebosos, encaracolados e com fios grossos. Seu rosto poderia ser bonito, mas estava maltratado por falta de interesse. Seus olhos estavam brancos totalmente. Havia mais dois homens ali. Um era um Guarda das Sombras, o outro trajava vestes semelhantes à dos Guardas, mas parecia ter um toque maior de nobreza e estava sem o capuz.

-E então? -perguntou o homem nobre. A mulher não respondeu. Com raiva, ele enfiou a mão no bolso e tirou duas pedras, uma roxa e outra verde. - FALE BRUXA!

-Hoje foi o dia. Do ventre da feiticeira rejeitada, vem ele pela alvorada! Hoje foi o dia. Hoje é o dia! Hoje é o dia! ARRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR! - gritou, ao ser ela interrompida por um feitiço lançado pelo Guarda das Sombras. A bruxa fora jogada contra a parede e agora estava caída no chão.

-Pare de dizer baboseiras! VÁ AO QUE EU QUERO! O QUE ISTO SIGNIFICA? - berrou o nobre.

-Quer dizer que suas suspeitas estão corretas. – brandiu. – Morgany deu à luz de manhã à criança que causará a ruína de seu lorde. Mas ela já não está aqui na capital.

-Muito bem, vadia. Apodreça neste lugar! – ao redor da bruxa emergiram pilastras de pedra do chão. O Guarda olhou para o nobre e ele lhe deu suas ordens. – Avise o Senhor das Trevas de que uma garota, como você viu, levou o bebê da Cidade do Dragão. E rastreie Morgany, pois o Senhor das Trevas pode querê-la.

-E esta bruxa?

-Deixe-a aí.

-NÃÃÃÃÃÃÃÃO! -berrou a bruxa. - Eu amaldiçôo você, seu rato asqueroso! Que você queime no fogo de Slayr, seu mestiço vagabundo!

Ele caminhou até ela, diante daquela ameaça e enfiou sua espada em seu peito. Não era ato da bruxa, mas aparentemente sua maldição funcionara, uma vez que o corpo do homem irrompeu em chamas. Os Guardas das Sombras estavam espantados, mas continuaram seu caminho.

Há aproximadamente muitos quilômetros dali, no Condado de Nassau, Hippunt, o chefe dos duendes esperava ansiosamente em frente de sua casa, uma pequena residência, junto de um homem velho, de barba grande, um chapéu e um olhar misterioso. Seu chapéu pontudo, suas vestes de cores cinza e marrom, seus cabelos mal tratados por dias de trabalho e estudo não demonstravam a sua grande magnitude e poder que possuía. Era Merlim, o grande mago de Ismir.

O duende parecia ansioso. Seu cabelo lembrava uma pequena juba.

De repente, uma luz se aproximou e aumentou, fazendo os olhos de Merlim e do duende brilhar. “Finalmente chegaram!”. Depois explodiu, onde apareceu a garota e o bebê. A mesma garota que fugira dos guardas na Cidade do Dragão, agora estava presente no Condado de Nassau.

-Boa noite Merlim, boa noite Hippunt. - saudou a garota. Estava cansada e mal conseguia andar, sendo amparada por Merlim.

-Boa noite, Samarah! Vamos entrar. Falar de assuntos assim em locais em que não se tem confiança é o cúmulo da burrice. - pediu Merlim

Eles entraram na casa de Hippunt, que tinha, na cozinha, uma mesa com quatro cadeiras e um armário onde tinha muitas porcelanas. Ao entrar na cozinha, Merlim bateu de cara com o pequeno lustre do local. As cadeiras eram pequenas para Samarah e Merlim, mas mesmo assim eles se ajeitaram. A casa era confortável e aconchegante. Transmitia uma comodidade inimaginável.     

Samarah se sentou na cadeira perto da porta, Hippunt ficou em pé e Merlim sentou-se na cadeira do canto.

-Aqui está a criança. - disse Samarah entregando o bebê.

-Ela ficará aqui até completar treze anos, - falou Merlim, em tom de ordem. - Até lá, ele irá aprender todas as magias com você e Hippunt. Depois ele estará pronto e deverá ir a Ilha dos Elfos, o único lugar protegido do Senhor das Trevas, para lá poder pegar o Cristal de Anfritnit e poder destruir o Senhor das Trevas, como diz a profecia. – Merlim pegou um pergaminho e leu.

“O Escolhido nasceu do mal,

No Escolhido está a chave do cristal.

O mal vai buscar o que deseja,

O poder sobre a coroa real.

Mas, O Escolhido com o cristal,

Treze nós de carvalho sem igual,

Revelado será o poder magistral,

E assim será ele destruído, o mal”.

Se você não sabe, o cristal de Anfritnit é um rubi criado e forjado pela antiga Imperatriz de Ismir, Katrina Amdala Anfritnit. Segundo a visão dela, o cristal, junto do Escolhido e da profecia dita por ela aniquilariam o Senhor das Trevas.

-Todos nós sabemos a história deles e não vou contá-la novamente. – declarou Merlim. – Você se arriscou muito, Samarah. Mas eu não poderia ter ido. Sabe, o Senhor das Trevas ainda está na Cidade do Dragão. Logo irá para sua Fortaleza, mas ainda não foi...

-Temos de tomar cuidado, ninguém pode saber da profecia, muito menos o Senhor das Trevas. - argumentou Hippunt, mudando de assunto.

-Receio que ele já saiba. Uns Guardas das Sombras me seguiram. Ou o Senhor das Trevas já sabe ou os guardas irão lhe contar. - disse Samarah. Ela abaixou a cabeça.

-Pelo menos ele não sabe onde o bebê está, tomara que isso continue em sigilo - disse Merlim, levantando-se da cadeira e dirigindo-se à porta. - Tenho que ir Samarah. Adeus Hippunt, adeus Samarah, nos vemos na Suprema Corte dos Magos. Lembrem-se, criem este jovem como se fosse uma pessoa normal e aprendendo magia, só lhe contem seu destino aos treze anos. Entregue este cordão místico para ele quando ele souber da verdade. Não se esqueça Samarah, escolhi você por ser perita em magia. Evitem os Guardas e sigam em paz até a profecia se cumprir. Aci Sana Terëduin Istaron! - despediu-se Merlim, na língua élfica, o equivalente a “Até outro momento”.

Merlim saiu da casa e sumiu, realizando gestos iguais ao que Samarah utilizara.

Agora o destino, não só de Ismir, como do mundo, depende daquele garoto destinado a salvar todo o povo.

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