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Cap 4. Uma esperança entre tantas decepções.

Depois que Luna saiu do apartamento, Luna começou a perambular pelas ruas, vestida com uma calça legg preta e uma camiseta cinza, nos pés um tênis surrado, mas era melhor que as roupas que era obrigada usar na boate.

Depois de horas caminhando ela se cansou, sentou em um canto escuro de uma movimentada rua da cidade.

— Meu Deus me ajuda.

Ela falava baixinho para si mesma, pedindo comida em um idioma que ninguém entendia. As pessoas passavam por ela, indiferentes, sem sequer notar sua presença.

O estômago de Luna roncava alto, mas ninguém parecia se importar. Ela sabia algumas palavras naquele idioma, mas todas elas estavam relacionadas a dinheiro. Ela tentava repetir as palavras que Vivian, havia ensinado, mas era em vão. As pessoas ao seu redor a olhavam com confusão e desinteresse.

Luna lembrava da época em que morava no orfanato, onde as coisas eram mais fáceis. Mas agora, depois de sair de lá, a vida se tornara cruel. Ser uma brasileira sem documentos, sem falar a língua e sem ter ninguém para ajudá-la era um verdadeiro inferno. Os mêses foram passando e tudo foi ficando um caos.

Seu passado havia sido de luta constante, mas nada se comparava com aqueles nove meses morando na rua, sem dúvidas foram os mais difíceis de todos. Ela dependia da generosidade de estranhos para se alimentar, comendo o que lhe era oferecido ou encontrando comida no lixo.

A humilhação que sofria constantemente a matava, o mal cheiro que inalava do seu corpo a destruía. Seu cabelo que era tão lindo hoje está todo sujo, embaraçado, sua pele clara coberta de terra e sujeira faz um com que as pessoas tivessem medo dela.

Um dia, durante a noite, Luna teve seu único par de tênis roubado enquanto dormia. Sentada na calçada fria, ela acariciou os pés descalços e machucados. Lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto sujo. Ela se sentia completamente sozinha e desesperada.

Luna suspirou, sentindo a impotência tomar conta de si. Ela estava perdida no meio de uma multidão, numa terra estranha, sem esperança de encontrar um lugar para chamar de lar. Com nojo de si própria sua vida era somente chorar.

Luna estava vagando pelas ruas escuras, sua barriga doia pela fome que a consumia, ela para na frente de um luxuoso restaurante, as pessoas sorriam, felizes com suas famílias, ela senta na calça esperando as sobras serem jogadas, até que uma jovem, seu nome é Kimberley, ela é uma modelo famosa de Los Angeles, assim que coloca os olhos em Luna ela sente um aperto no peito. Olhando em volta, percebe o quanto está lotado o restaurante. Levanta elegantemente e caminha ate fora do local e se aproxima de Luna.

— Vem comigo.— Kimberley fala com a voz doce, estendendo as mãos, Luna se encolhe de medo, pois já sofreu de tudo nas ruas e ver uma mulher tão rica estendendo as mãos para ela causou medo.— Eu não vou te machucar, vem, vou te dar algo para comer.— Luna se emociona com o que ouviu, essa seria a primeira refeição decente em mêses.

Luna hesita por um momento, olhando para as mãos estendidas de Kimberley. Seus olhos brilham de admiração, mas também há um medo profundo enraizado em sua expressão cansada. Ela não está acostumada com gestos gentis e generosos.

O garçom observa a cena do lado de dentro do restaurante, seus olhos cheios de julgamento e desdém. Ele se aproxima lentamente, erguendo a mão para impedir Luna de entrar. Mas antes que suas palavras de repreensão possam sair, Kimberley se coloca em sua frente, olhando para ele com um olhar intenso.

— Tudo bem eu saio da frente do restaurante.— Luna fala baixinho, quase sem forças para pronunciar as palavras. Ela não precisava ouvir o que ele tinha para dizer, para saber que não era bem vinda.

— Desculpe-me, senhor. Este é um momento privado. — diz Kimberley, sua voz calma e suave, mas firme. — Essa jovem está comigo, e eu gostaria que você respeitasse minha escolha de convida-la. Mas se ela não puder comer comigo, irei em outro restaurante.

O garçom, surpreso pela atitude de Kimberley, dá um passo para trás, claramente desconfortável com a situação. Ele balança a cabeça com desaprovação, mas não ousa dizer nada. Ele retornar ao interior do restaurante, deixando-as em paz.

Luna fica impressionada com a coragem de Kimberley em protegê-la. Lentamente, ela estende a mão trêmula e segura a mão da jovem modelo. Sentindo a gentileza e a força em seu toque, Luna toma coragem e se levanta, mas sua caminhada é desajeitada e lenta devido à fome extrema e à exaustão.

Guiada pela segurança oferecida por Kimberley, elas sentam, a jovem modelo pede tudo que Luna olhava para as outras mesas e pela primeira vez ela come sem medo, sem ser restos de alguém, Luna sente o cheiro delicioso da comida que é trazida para elas. Seus olhos brilham com gratidão enquanto ela devora cada garfada, finalmente saciando o vazio em seu estômago. Os clientes do restaurante começam a se incomodar com o mal cheiro que vinha dela, mas Kimberley não se importou, ela olhava com admiração a beleza escondida por trás da jovem.

As duas, conversam por longos minutos, enquanto Luna come, Kimberley compartilha sua história de vida, suas lutas e suas conquistas. Luna ouve atentamente, maravilhada com a determinação e a força de vontade de Kimberley, que conseguiu conquistar tanto apesar das adversidades.

— Obrigada senhora. Eu nunca poderei te agradecer como se deve.— Luna fala satisfeita.

Já fora do restaurante, Luna se despede e anda lentamente, seus pés estavam cortados pelo tempo que anda descalça. Mas a voz que soa atrás dela a faz parar.

— Venha morar comigo na minha casa, te dou um teto seguro, comida, roupas limpas em troca de sua companhia.

Luna vira sem acreditar no que está ouvindo, será verdade tudo isso? Ou é mais alguém querendo se aproveitar da sua ingenuidade.

— Senhora, agradeço por me alimentar, mas não posso aceitar.

— Por favor Luna, eu não tenho ninguém e não sei por que, eu vi que em você posso confiar minha vida.— Kimberley fala com sinceridade.

— Eu não sei... não me sentiria confortável em receber somente por fazer companhia.

— Então trabalhe pra mim, meu apartamento é grande e eu não confio ninguém para cuidar dele.

— Trabalhar... é tudo que eu mais preciso. Mas troco o dinheiro que diz que vai me pagar, pelas demais alternativas, eu só preciso de um lugar para ficar. Morar nas ruas é cruel.

— Combinado.— Kimberley com um sorriso no rosto estende a mão para selar seu acordo.

Luna olhava em volta do espaçoso apartamento de Kimberley. As paredes estavam decoradas com fotografias e pinturas coloridas, proporcionando uma sensação acolhedora, mas mesmo assim, a desconfiança persistia em sua mente. Ela sabia que precisava tentar confiar em alguém, mas o medo de ser usada novamente a assombrava.

Enquanto Kimberley entrava no banheiro e ligava o registro, Luna avaliava cada detalhe do ambiente. Ela percebia que a mulher parecia genuinamente preocupada com seu bem-estar, mas a cicatriz recente das traições passadas não podia ser ignorada.

A água começou a correr, preenchendo a banheira lentamente, Kimberley colocou vários sais de banho que perfumava o ambiente . Luna estremeceu por dentro, mas decidiu confiar em sua intuição. Ela tirou as roupas sujas e velhas, sentando-se cuidadosamente na água cristalina que logo ficou turva pela sujeira acumulada em seu corpo.

Kimberley que havia saído do banheiro, entrou novamente, carregando uma esponja macia e um sabonete suave. Sentou na beira da banheiro e lentamente começou a esfregar cuidadosamente as costas e o rosto de Luna, lavando seus longos cabelos emaranhados com dedicação e paciência. Seus movimentos eram delicados, como se ela soubesse que a confiança da ruiva estava incrivelmente frágil.

Luna se sentia constrangida por receber tanta atenção e cuidado de alguém que mal conhecia, mas algo na expressão afetuosa de Kimberley a fazia ficar em silêncio. Era como se a água suja estivesse levando consigo todas as mágoas e desconfianças do passado. Com toda sujeira fora do seu corpo, revelando uma beleza e delicadeza sem igual.

— Você é linda Luna, te garanto que nunca mais voltará a viver de forma tão miserável.

Enquanto a água escorria pelo ralo, levando consigo a sujeira acumulada, Luna olhou para Kimberley e finalmente encontrou coragem para falar.

— Eu não sei como agradecer por tudo isso. Meus últimos encontros com pessoas desconhecidas não foram nada agradáveis.— Sua voz estava repleta de vulnerabilidade e gratidão.

Kimberley sorriu gentilmente, passando uma toalha macia no corpo de Luna para secá-la.

— Não precisam agradecer, Luna. Eu entendo que você passou por momentos difíceis, mas eu prometo que estou aqui para ajudar. Acredite em mim quando digo que não estou te usando.

As palavras de Kimberley ressoaram nos ouvidos de Luna. Ela pensou nas ações da jovem, nos cuidados que ela lhe proporcionava, e aos poucos, percebeu que talvez estivesse julgando-a injustamente.

Enquanto Kimberley penteava os cabelos de Luna com delicadeza, a jovem decidiu dar um passo adiante.

— Você está certa. Eu não posso continuar a julgar todos com base nas ações de algumas pessoas. É hora de deixar meu passado para trás e me abrir para novas possibilidades.

Kimberley sorriu, feliz em ver Luna recuperando sua fé nas pessoas. Ela sabia que a reconstrução da confiança era um processo delicado, mas estava disposta a estar presente em cada passo.

—Eu estou aqui para te apoiar, Luna. Juntos, vamos superar tudo de ruim que já te aconteceu e construir um futuro melhor.— ela fala entregando peças de roupas quentes e confortável.

Luna sorriu timidamente, sentindo uma nova esperança florescer dentro de si. No calor do apartamento, ela abraçou Kimberley com gratidão, permitindo-se acreditar que, talvez, dessa vez, a bondade e o cuidado pudessem vencer sobre o passado sombrio que a assombrava.

E assim, uma amizade improvável nasce entre duas mulheres de mundos tão distintos. Uma amizade que mudaria para sempre a vida de Luna, abrindo seu coração para novas possibilidades e ajudando-a a encontrar a força dentro de si mesma para lutar por uma vida melhor. E tudo começou naquela noite, na escuridão das ruas, quando um encontro inesperado trouxe luz e esperança para a vida de Luna.

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