#Lucy
Quem é Mattias? — Esta é a primeira coisa que minha mãe diz, quando chego do aeroporto com meu pai.
— É um colega de escola. Somos parceiros no projeto de Química. — respondo, devagar. — Ei, espere um pouco... Como você sabe do Mattias?
— Ele esteve aqui, depois que você saiu. Eu o mandei embora.
A realidade me atinge, como se meu cérebro estivesse em plena sinapse. Oh, não!
Esqueci completamente de que deveria me encontrar com Mattias, hoje de manhã. Penso nele me esperando, na biblioteca, e me sinto culpada. Achei que ele não fosse comparecer e, no final eu é que falhei. Mattias deve estar furioso... E eu estou péssima.
— Não quero ver aquele rapaz por aqui &mdash
#MattiasEstou no velho armazém onde os membros da Sangue Latino se encontram, todas as noites. Acabei de fumar meu segundo ou terceiro cigarro... Já parei de contar.— Tome uma cerveja e trate de melhorar essa cara — diz Noah, jogando uma Corona para mim.Contei a ele que Lucy me deixou na mão, hoje de manhã. E tudo o que Noah fez foi balançar a cabeça, censurando a minha atitude impensada de ir até a zona norte.Consigo pegar a lata com uma só mão, mas atiro-a de volta para Noah.— Não, obrigado.— Ei, o que há? Esta cerveja não é boa o suficiente para você? — diz Ruan, provavelmente o mais estúpido membro da Sangue Latino.O corno acha que pode
#LucyConsegui convencer Nala, Gastón, Samuel, Max e Âmbar a ir ao Club Mystique nesta noite, o lugar de que Megan me falou. O Mystique fica em Highland Grove. Como Samuel não gosta de dançar, acabei dançando com o resto da turma e também com um cara chamado Daniel, que dança muito bem. Acho até que aprendi uns movimentos novos, que pretendo adaptar para a turma da torcida organizada.Agora, estamos na casa de Nala. De outro modo, como justificar para os pais dela que Nala não voltou para casa, naquela noite em que esteve em Jim? Minha mãe sabe que vou dormir na casa de Nala, hoje. Portanto, não tenho que me preocupar com telefonemas ou broncas. Enquanto Nala e eu estendemos mantas na areia, na praia privativa, atrás da casa, Âmbar se retarda... Fica para trás, com os rapazes que estão descarregando as cervejas e garrafas de vinho, escondidas no
#MattiasOlho para o vômito, no meu sapato:— Já passei por coisas piores...Lucy se endireita e eu solto seus cabelos, que consegui manter afastados de seu rosto, enquanto ela vomitava.Tento não pensar na sensação desses cabelos deslizando entre meus dedos, como fios de seda.Imagino que sou um pirata, sequestrando e levando Lucy para o meu navio. Acontece que não sou um pirata e ela não é minha princesa raptada. Somos apenas dois adolescentes que se odeiam. Ok, eu realmente não odeio essa garota.Tiro o lenço da Sangue Latino que trago na cabeça e dou para ela:— Tome, limpe o rosto.Ela pega o lenço como se pegasse um guardanapo, num restaurante de primeira classe... Enxuga os cantos da boca, enquanto lavo meu sapato nas águas geladas do Lago Michigan. Não sei o que dizer ou fazer. Aqui estou,
#LucyEstou tendo um pesadelo... milhares de pigmeus invadiram minha cabeça e estão martelando meu cérebro.Abro os olhos e me deparo com uma luz muito forte. Estremeço. Mesmo estando acordada, os pigmeus continuam aqui dentro.— Você está de ressaca — diz uma voz, que deve ser de uma garota. Quando olho para o lado, descubro que essa garota é Jim.Estamos no que parece ser um pequeno quarto, com paredes pintadas em tom pastel, amarelo. O vento entra pelas janelas abertas, fazendo esvoaçar as cortinas, também amarelas, combinando com as paredes.Não estou em minha casa... Certamente não, pois lá em casa nunca abrimos as janelas. Sempre usamos o sistema de ar condicionado ou a calefação, dependendo do clima.
#MattiasEla me ligou. Se não fosse pelo pedaço de papel rasgado, com o nome e número de Lucy rabiscado com a letra de Leon, meu irmão, eu não acreditaria que ela realmente telefonou. Dar uma bronca em Leon não vai adiantar nada, porque o moleque tem uma cabeça de pulga e quase nunca se lembra, quando atende uma ligação. A única informação que consegui arrancar dele foi que Lucy pediu que eu telefonasse de volta. Mas isso aconteceu ontem à tarde, antes que ela vomitasse no meu sapato e desmaiasse nos meus braços.Quando eu disse a Lucy para ser verdadeira, vi o pavor nos seus olhos. Mas do que será que ela tem medo?Preciso penetrar suas defesas, derrubar a fachada de “perfeição” que ela criou para si.Agora sei que Lucy é bem mais que uma loura fatal, com um corpo de tirar o fôlego. Ela gua
#LucyManobro meu carro no estacionamento da biblioteca e escolho uma vaga perto do bosque, nos fundos do terreno. Estou furiosa... A última coisa em que consigo pensar é no projeto de Química.Mattias está me esperando, encostado em sua moto. Tiro as chaves da ignição e grito para ele:— Como você se atreve a me dar ordens? Minha vida está cheia de gente querendo me controlar: minha mãe...Samuel... E agora você! Estou farta disso. — Se você pensa que pode me intimidar...Sem uma palavra, Mattias se aproxima, pega as minhas chaves e se senta ao volante do meu BMW.— Mattias, o que você pensa que está fazendo?Ele aciona o motor. Oh, não, Mattias vai levar meu carro e m
#MattiasÉ a primeira vez que estamos tendo uma conversa civilizada. Agora preciso encontrar um jeito de derrubar essa muralha de defesa que ela ergueu entre nós. Ô cara... Preciso mostrar a ela que tenho sensibilidade. Se Lucy me vir como um cara sensível, e não como um idiota, talvez eu encontre um jeito de chegar até ela. Mas tenho de ser cuidadoso, pois Lucy é desconfiada. É bem capaz de dizer que estou com conversa mole para o lado dela... É bem capaz de não acreditar em mim.Não sei se estou pensando em agir assim por causa da aposta, do projeto de Química, ou por minha causa, mesmo. Na verdade, não estou a fim de analisar esse lado da questão.— Meu pai foi assassinado, na minha frente, quando eu tinha seis anos — digo a ela.Lucy arregala
#LucyO som da respiração pesada de Karla, ao meu lado, é a primeira coisa que ouço, nesta manhã. Vim ao quarto de minha irmã e me deitei perto dela, durante horas, velando seu sono tranquilo, antes de relaxar e adormecer. Quando eu era muito pequena, corria para cá, nas noites de tempestade... Não para proteger Karla, mas para que ela me protegesse e confortasse. Eu segurava em sua mão e, de algum modo, meus temores iam desaparecendo.Vendo minha irmã dormir assim, tão indefesa, não consigo acreditar que meus pais querem mandá-la embora de casa. Karla é uma parte importante de mim mesma; a ideia de viver sem ela me parece absurda... E muito errada.Às vezes sinto que Karla e eu temos uma ligação que poucas pessoas podem entender. Mesmo quando nossos pais não conseguem perceber o que Karla diz, ou quando não