#Lucy
Manobro meu carro no estacionamento da biblioteca e escolho uma vaga perto do bosque, nos fundos do terreno. Estou furiosa... A última coisa em que consigo pensar é no projeto de Química.
Mattias está me esperando, encostado em sua moto. Tiro as chaves da ignição e grito para ele:
— Como você se atreve a me dar ordens? Minha vida está cheia de gente querendo me controlar: minha mãe...
Samuel... E agora você! Estou farta disso. — Se você pensa que pode me intimidar...
Sem uma palavra, Mattias se aproxima, pega as minhas chaves e se senta ao volante do meu BMW.
— Mattias, o que você pensa que está fazendo?
Ele aciona o motor. Oh, não, Mattias vai levar meu carro e m
#MattiasÉ a primeira vez que estamos tendo uma conversa civilizada. Agora preciso encontrar um jeito de derrubar essa muralha de defesa que ela ergueu entre nós. Ô cara... Preciso mostrar a ela que tenho sensibilidade. Se Lucy me vir como um cara sensível, e não como um idiota, talvez eu encontre um jeito de chegar até ela. Mas tenho de ser cuidadoso, pois Lucy é desconfiada. É bem capaz de dizer que estou com conversa mole para o lado dela... É bem capaz de não acreditar em mim.Não sei se estou pensando em agir assim por causa da aposta, do projeto de Química, ou por minha causa, mesmo. Na verdade, não estou a fim de analisar esse lado da questão.— Meu pai foi assassinado, na minha frente, quando eu tinha seis anos — digo a ela.Lucy arregala
#LucyO som da respiração pesada de Karla, ao meu lado, é a primeira coisa que ouço, nesta manhã. Vim ao quarto de minha irmã e me deitei perto dela, durante horas, velando seu sono tranquilo, antes de relaxar e adormecer. Quando eu era muito pequena, corria para cá, nas noites de tempestade... Não para proteger Karla, mas para que ela me protegesse e confortasse. Eu segurava em sua mão e, de algum modo, meus temores iam desaparecendo.Vendo minha irmã dormir assim, tão indefesa, não consigo acreditar que meus pais querem mandá-la embora de casa. Karla é uma parte importante de mim mesma; a ideia de viver sem ela me parece absurda... E muito errada.Às vezes sinto que Karla e eu temos uma ligação que poucas pessoas podem entender. Mesmo quando nossos pais não conseguem perceber o que Karla diz, ou quando não
#MattiasNa sexta-feira, quando Lucy entra na aula da Sra. Benson, ainda estou pensando em como vou lhe dar o troco por ela ter jogado minhas chaves no bosque. Levei quarenta e cinco minutos para encontrar a droga das chaves e, durante esse tempo, fiquei xingando Lucy. Ok, tenho de reconhecer que ela esteve à altura da situação e que sua vingança foi perfeita.Também não me esqueço de que devo a Lucy o fato de ter conseguido falar, depois de tanto tempo, sobre a morte do meu pai. Isso mexeu comigo, tanto que acabei ligando para uns caras antigos da Sangue e fiz umas perguntas sobre o caso. Vamos ver no que dá...Lucy ficou na defensiva, durante a semana inteira. Está esperando que eu apronte alguma, que me vingue por ela ter jogado minhas chaves no mato.Depois da aula, estou pegand
#LucyCheguei atrasada ao jogo de futebol. Depois que Mattias saiu, tirei a roupa e mergulhei na piscina para pegar minhas chaves. Graças a ele, fui rebaixada.Âmbar, a vice-líder da torcida, agora é, oficialmente, a nova líder. Levei meia hora para secar o cabelo e refazer a maquiagem, no vestiário. A Srta. Perida ficou furiosa com meu atraso; disse que eu deveria me sentir feliz por ter sido apenas rebaixada de posto, em vez de suspensa.Depois do jogo, fui para casa e me sentei no sofá da sala, com minha irmã. Meu cabelo ainda está com o cheiro do cloro da piscina, mas estou cansada demais para me importar com isso. Depois do jantar, enquanto assisto a um reality show, começo a sentir os olhos pesados...— Lu, acorde. Samuel está aqui — diz minha mãe, me sacudindo.Olho para Samuel, em pé, diante de mim.— Voc
#MattiasNa segunda-feira, tento não ficar muito ansioso com a aula de Química. Com certeza não é pela Benson que estou morrendo de vontade de assistir a aula... É por Lucy, que chega atrasada.— Oi — eu digo.— Oi — ela murmura, de volta. Nada de sorriso, nem de olhares brilhantes.Definitivamente, ela está aborrecida com alguma coisa.— Muito bem, classe — diz Benson. — Peguem seus lápis. Vamos ver o quanto vocês têm estudado.Xingo Benson, em silêncio. Bem que ela podia nos dar umas experiências para fazer; assim teríamos chance de conversar. Enquanto isso, lanço um olhar à minha parceira, que parece totalmente despreparada para uma provasurpresa.Tomado pelo impulso de proteger Lucy, mesmo sabendo que não tenho esse direito, levanto a mão.— Ultima
#LucyNão sinto vergonha da minha irmã, por ela ser deficiente. Mas não quero expor Karla a Mattias.Pois, se ele rir, eu não vou suportar. Eu me viro de repente e pergunto:— Você não é muito bom para seguir pistas, é?Ele sorri, como se dissesse: O que você acha? Sou membro de uma gangue...— Preciso ver como está minha irmã. Você se importaria...?— Quero ir com você. Assim, terei a oportunidade de conhecer sua irmã. Vamos, não seja tão desconfiada.Eu deveria mandá-lo embora, com suas tatuagens e tudo mais. Deveria, mas não mando. Sem mais uma palavra, levo Mattias até nossa biblioteca, um tanto sombria, com suas estantes de mogno.Karla está na cadeira de rodas, assistindo à tevê, com a cabeça desajeitadamente pendida para um lad
#MattiasEstou na aula de Cálculo, quando o segurança da escola bate porta da classe e diz ao professor que preciso ser retirado sala. Olho para o teto e suspiro, antes de pegar meus livros e dar ao cara a chance de fazer sua cena, me humilhando na frente de todo mundo.— O que foi, agora — pergunto. Ontem fui tirado da classe por ter começado uma guerra de comida, no pátio.Não fui eu quem começou. Posso ter participado, mas não provoquei nada.— Vamos dar um pequeno passeio até a quadra de basquete.Acompanho o cara.— Mattias, vandalismo em propriedade escolar é uma coisa muito séria.— Não cometi vandalismo nenhum — digo a ele.— Tenho u
#LucyParece que alguns de vocês não acham que minha matéria seja importante — diz a Sra. Benson entregando as provas que fizemos ontem.Enquanto ela caminha em direção à mesa que divido com Mattias, eu me afundo na banqueta. A última coisa de que preciso, agora, é levar uma bronca da professora.— Bom trabalho — ela diz, pondo a prova diante de mim, sobre a mesa. Então se volta para Mattias. — Para alguém que pretende ser professor de Química, tal como disse Lucy, ao apresentá-lo à classe, você está mostrando um péssimo aproveitamento. Começou mal, Sr. Belmonte. Se você continuar vindo à minha aula sem estudar, talvez eu pense duas vezes, antes de agir em sua defesa...Benson segura a prova com a ponta do polegar e do indicador, como se o papel estivesse imundo e ela temesse sujar