#Mattias
Olho para o vômito, no meu sapato:
— Já passei por coisas piores...
Lucy se endireita e eu solto seus cabelos, que consegui manter afastados de seu rosto, enquanto ela vomitava.
Tento não pensar na sensação desses cabelos deslizando entre meus dedos, como fios de seda.
Imagino que sou um pirata, sequestrando e levando Lucy para o meu navio. Acontece que não sou um pirata e ela não é minha princesa raptada. Somos apenas dois adolescentes que se odeiam. Ok, eu realmente não odeio essa garota.
Tiro o lenço da Sangue Latino que trago na cabeça e dou para ela:
— Tome, limpe o rosto.
Ela pega o lenço como se pegasse um guardanapo, num restaurante de primeira classe... Enxuga os cantos da boca, enquanto lavo meu sapato nas águas geladas do Lago Michigan. Não sei o que dizer ou fazer. Aqui estou,
#LucyEstou tendo um pesadelo... milhares de pigmeus invadiram minha cabeça e estão martelando meu cérebro.Abro os olhos e me deparo com uma luz muito forte. Estremeço. Mesmo estando acordada, os pigmeus continuam aqui dentro.— Você está de ressaca — diz uma voz, que deve ser de uma garota. Quando olho para o lado, descubro que essa garota é Jim.Estamos no que parece ser um pequeno quarto, com paredes pintadas em tom pastel, amarelo. O vento entra pelas janelas abertas, fazendo esvoaçar as cortinas, também amarelas, combinando com as paredes.Não estou em minha casa... Certamente não, pois lá em casa nunca abrimos as janelas. Sempre usamos o sistema de ar condicionado ou a calefação, dependendo do clima.
#MattiasEla me ligou. Se não fosse pelo pedaço de papel rasgado, com o nome e número de Lucy rabiscado com a letra de Leon, meu irmão, eu não acreditaria que ela realmente telefonou. Dar uma bronca em Leon não vai adiantar nada, porque o moleque tem uma cabeça de pulga e quase nunca se lembra, quando atende uma ligação. A única informação que consegui arrancar dele foi que Lucy pediu que eu telefonasse de volta. Mas isso aconteceu ontem à tarde, antes que ela vomitasse no meu sapato e desmaiasse nos meus braços.Quando eu disse a Lucy para ser verdadeira, vi o pavor nos seus olhos. Mas do que será que ela tem medo?Preciso penetrar suas defesas, derrubar a fachada de “perfeição” que ela criou para si.Agora sei que Lucy é bem mais que uma loura fatal, com um corpo de tirar o fôlego. Ela gua
#LucyManobro meu carro no estacionamento da biblioteca e escolho uma vaga perto do bosque, nos fundos do terreno. Estou furiosa... A última coisa em que consigo pensar é no projeto de Química.Mattias está me esperando, encostado em sua moto. Tiro as chaves da ignição e grito para ele:— Como você se atreve a me dar ordens? Minha vida está cheia de gente querendo me controlar: minha mãe...Samuel... E agora você! Estou farta disso. — Se você pensa que pode me intimidar...Sem uma palavra, Mattias se aproxima, pega as minhas chaves e se senta ao volante do meu BMW.— Mattias, o que você pensa que está fazendo?Ele aciona o motor. Oh, não, Mattias vai levar meu carro e m
#MattiasÉ a primeira vez que estamos tendo uma conversa civilizada. Agora preciso encontrar um jeito de derrubar essa muralha de defesa que ela ergueu entre nós. Ô cara... Preciso mostrar a ela que tenho sensibilidade. Se Lucy me vir como um cara sensível, e não como um idiota, talvez eu encontre um jeito de chegar até ela. Mas tenho de ser cuidadoso, pois Lucy é desconfiada. É bem capaz de dizer que estou com conversa mole para o lado dela... É bem capaz de não acreditar em mim.Não sei se estou pensando em agir assim por causa da aposta, do projeto de Química, ou por minha causa, mesmo. Na verdade, não estou a fim de analisar esse lado da questão.— Meu pai foi assassinado, na minha frente, quando eu tinha seis anos — digo a ela.Lucy arregala
#LucyO som da respiração pesada de Karla, ao meu lado, é a primeira coisa que ouço, nesta manhã. Vim ao quarto de minha irmã e me deitei perto dela, durante horas, velando seu sono tranquilo, antes de relaxar e adormecer. Quando eu era muito pequena, corria para cá, nas noites de tempestade... Não para proteger Karla, mas para que ela me protegesse e confortasse. Eu segurava em sua mão e, de algum modo, meus temores iam desaparecendo.Vendo minha irmã dormir assim, tão indefesa, não consigo acreditar que meus pais querem mandá-la embora de casa. Karla é uma parte importante de mim mesma; a ideia de viver sem ela me parece absurda... E muito errada.Às vezes sinto que Karla e eu temos uma ligação que poucas pessoas podem entender. Mesmo quando nossos pais não conseguem perceber o que Karla diz, ou quando não
#MattiasNa sexta-feira, quando Lucy entra na aula da Sra. Benson, ainda estou pensando em como vou lhe dar o troco por ela ter jogado minhas chaves no bosque. Levei quarenta e cinco minutos para encontrar a droga das chaves e, durante esse tempo, fiquei xingando Lucy. Ok, tenho de reconhecer que ela esteve à altura da situação e que sua vingança foi perfeita.Também não me esqueço de que devo a Lucy o fato de ter conseguido falar, depois de tanto tempo, sobre a morte do meu pai. Isso mexeu comigo, tanto que acabei ligando para uns caras antigos da Sangue e fiz umas perguntas sobre o caso. Vamos ver no que dá...Lucy ficou na defensiva, durante a semana inteira. Está esperando que eu apronte alguma, que me vingue por ela ter jogado minhas chaves no mato.Depois da aula, estou pegand
#LucyCheguei atrasada ao jogo de futebol. Depois que Mattias saiu, tirei a roupa e mergulhei na piscina para pegar minhas chaves. Graças a ele, fui rebaixada.Âmbar, a vice-líder da torcida, agora é, oficialmente, a nova líder. Levei meia hora para secar o cabelo e refazer a maquiagem, no vestiário. A Srta. Perida ficou furiosa com meu atraso; disse que eu deveria me sentir feliz por ter sido apenas rebaixada de posto, em vez de suspensa.Depois do jogo, fui para casa e me sentei no sofá da sala, com minha irmã. Meu cabelo ainda está com o cheiro do cloro da piscina, mas estou cansada demais para me importar com isso. Depois do jantar, enquanto assisto a um reality show, começo a sentir os olhos pesados...— Lu, acorde. Samuel está aqui — diz minha mãe, me sacudindo.Olho para Samuel, em pé, diante de mim.— Voc
#MattiasNa segunda-feira, tento não ficar muito ansioso com a aula de Química. Com certeza não é pela Benson que estou morrendo de vontade de assistir a aula... É por Lucy, que chega atrasada.— Oi — eu digo.— Oi — ela murmura, de volta. Nada de sorriso, nem de olhares brilhantes.Definitivamente, ela está aborrecida com alguma coisa.— Muito bem, classe — diz Benson. — Peguem seus lápis. Vamos ver o quanto vocês têm estudado.Xingo Benson, em silêncio. Bem que ela podia nos dar umas experiências para fazer; assim teríamos chance de conversar. Enquanto isso, lanço um olhar à minha parceira, que parece totalmente despreparada para uma provasurpresa.Tomado pelo impulso de proteger Lucy, mesmo sabendo que não tenho esse direito, levanto a mão.— Ultima