Logo que chego em casa, ligo para Raissa. O telefone toca, toca e ninguém atende. Até que, por fim, a empregada fala comigo e diz que ela saiu de casa com Helena, que foram para o hospital São Gabriel.
Eu agradeço.
Vitor, que está no sofá, me observando, se levanta quando eu desligo o telefone pensativa. Fito o relógio da sala. Quatro horas da manhã. Agora é dormir um pouco e acordar cedo, ligarei então para Raissa e verificarei se ele ainda está no hospital.
Hospital ou em casa, não importa, amanhã irei visitá-lo!
— E agora? Vai se sentar e conversar comigo e me contar como tudo aconteceu?
Eu pisco e olho para ele.
— Não, eu estou cansada, Vitor.
— Tudo bem, amanhã você me conta tudo. Saiba que eu fiquei muito preocupado. Ficamos horas ali em pé esperando que tudo s
HassanEmbora eu esteja meio sonolento com a injeção que me aplicaram para baixar a febre e a dor, meu humor está azedo depois da cena que vi quando eles empurravam minha maca até a ambulância.Quem é aquele ibn iš-šarmuuta — “F.d.P” — que beijou Karina com tanto ardor?Isso me cheira mal, muito mal.Se não fosse o enfermeiro ter me segurado na maca e ter me aplicado um calmante, eu teria tirado aquilo a limpo. Eu prendo o ar em meus pulmões, me sentindo sufocado de forma esmagadora. Minhas emoções estão bagunçadas e sem controle algum.Sinto como se eu tivesse levado uma rasteira, meus sentimentos estão feridos. Eu deveria estar acostumado com as intempéries da vida. Mas a raiva e a dor que estou sentindo me fazem entender que eu nunca me acostumarei com isso.
KarinaUm gemido profundo e súbito me vem aos lábios quando percebo que acordei muito tarde, muito tarde mesmo. Sei, pela luminosidade do quarto, pelo posicionamento do sol. Viro na cama e procuro com os olhos o rádio relógio.Deus! Duas horas?É isso mesmo?Respiro como se estivesse em uma maratona.Minha mãe sabia que eu queria me levantar cedo!Preciso ver Hassan, ou pelo menos ligar para Raissa para saber dele.Eu me levanto apressada.Será que ele ainda está no hospital? Ou já está em casa?Afastando as cobertas, em um pulo saio da cama. Vou para o banheiro e tomo um banho rápido, coloco um roupão e abro meu guarda-roupa. Pego uma calça jeans escura e coloco uma blusa branca de mangas curtas. Então, pego uma jaqueta preta e botas d
Hassan toma meus lábios e me beija com ardor. O calor dos lábios dele é uma chama acesa, que aquece tudo dentro de mim. E, quase sem saber mais o que faço, colo-me mais ao seu corpo forte.Deus! Esse homem me deixa louca! Maluquinha…Sinto minha cabeça rodar. Seus lábios movem-se sobre os meus com uma suave carícia, fazendo meu coração bater como louco e meu corpo insatisfeito pedir mais.— Karina! — diz ele, bem junto de meus lábios. — Eu preciso de você…Deus! Não consigo resistir a Hassan. Tudo o que eu quero é corresponder, e meus suspiros são de prazer, e não de protesto.Com movimentos lentos, ele me beija no pescoço. Os lábios úmidos e quentes agora estão na minha boca. Então me mordiscam, se movem em uma carícia tão sensual, que me deixa insanamente
Depois que eu almoço, vou até a sala. Meu pai e Hassan estão conversando sobre assuntos da imobiliária da família, falam sobre aluguel e compra de imóveis. Meu pai parece menos austero com ele agora.Então ele me olha.Hum… é só impressão, seu olhar agora diz: “Depois que ele for embora, teremos uma conversa séria”.— Hassan, vamos até os fundos? Tem uma grande área com piscina e tudo. Quer conhecer?Hassan sorri para mim como um menino.— É claro, com sua licença — ele diz ao meu pai. Ele então se levanta, ecom certa dificuldade, por causa do braço imobilizado e nosso sofá, que você não senta, você literalmente afunda.Hassan me segue, no caminho me provocando com seus lábios no meu pescoço, e eu contenho uma risada alta.<
HassanPasso a tarde com Raissa, mas não consigo me abrir com ela. Quero que Karina esteja ao meu lado quando eu lhe contar a novidade.Não me anima Helena saber que estou emocionalmente envolvido por alguém e que finalmente penso em me casar. Ela, no fim, venceu.O mal venceu!Durante o resto do dia, recebo muitas ligações. Amigos, pessoas que frequentam o hotel, meu staff, todos querendo saber como eu estou. Atendi a todos cordialmente, agradecendo a preocupação e me alegrando por ser tão benquisto por todos.Agora estou na sala, tomei um banho e coloquei um Kandoora branco, uma roupa típica da minha terra, e uma sandália confortável nos pés. Embora eu esteja morrendo de dor no ombro, estou sentado no sofá com um sorriso nos lábios pensando em Karina. Já estou morrendo de saudades dela.Quando o tele
Dia seguinte…Hassan— Você irá sair? — Raissa me pergunta, em um volume muito alto.— Vou — digo, enfiando a camiseta no corpo com dificuldade.Eu já tinha tomado banho, já tinha colocado a calça jeans e calçado os tênis.— Hassan! Hoje é domingo. Nem esse dia você pode tirar para descansar? E você está todo costurado.Eu sorrio para ela.— Quem disse que não vou descansar?Ela funga.— Vai sair com alguma odalisca?Eu rio e a encaro.— Vou, mas ela não é uma odalisca, ela é minha futura noiva.Ela arregala os olhos.— O quê? — ele se aproxima de mim estudando meu rosto. — Você está falando sério?— Eu brinco com esses assuntos, por acaso?&md
Estávamos finalizando o almoço, quando a empregada se aproxima e fala algo no ouvido de Helena. Ela sorri, muito jovial.— Diga para ele me esperar lá fora — diz para a empregada, e depois nos encara. — Bem, boa tarde para vocês. Raissa, qualquer coisa me liga no celular.Raissa acena um sim. Hassan ofega, extremamente incomodado com a presença dela. Ele permanece de cabeça baixa, enquanto remexe a comida.Helena se levanta e se afasta. Hassan se recosta mais na cadeira e a procura com os olhos. Olha em sua direção com um ódio mortal que dá medo. Então limpa a boca no guardanapo e encara Raissa.— Raissa, esse cara já entrou aqui? — pergunta, entredentes.Ela ofega.— Não, ela sabe que você não permite.Hassan endurece mais o olhar.— Caso ele pôr os pés dentro desta casa,
HassanA tarde está agradável, um dia maravilhoso para se viver, mas Robert Sheller está morto.Aos redores do corpo todos estão chorando. O sacerdote que preside o enterro diz palavras bonitas, mas ainda assim nada ameniza a dor.Fotógrafos estão por perto, e fotos são tiradas.Sinto a onda hostil na minha direção. Muitos olhos me medem, muitas pessoas cochicham, mas eu me preparei para isso. Acho até natural. A dor tinha que ser descarregada em alguém.Por que não em mim, o criador dessa festa?Ainda mais agora que eles souberam que Tarif armou todo o roubo e que ele era um amigo meu, uma pessoa de minha confiança.Fora isso, eles me julgavam um covarde, pois eu não fiquei com eles até o fim.O sacerdote fecha lentamente a Bíblia e baixa a cabeça em um momento d