Hassan
Passo a tarde com Raissa, mas não consigo me abrir com ela. Quero que Karina esteja ao meu lado quando eu lhe contar a novidade.
Não me anima Helena saber que estou emocionalmente envolvido por alguém e que finalmente penso em me casar. Ela, no fim, venceu.
O mal venceu!
Durante o resto do dia, recebo muitas ligações. Amigos, pessoas que frequentam o hotel, meu staff, todos querendo saber como eu estou. Atendi a todos cordialmente, agradecendo a preocupação e me alegrando por ser tão benquisto por todos.
Agora estou na sala, tomei um banho e coloquei um Kandoora branco, uma roupa típica da minha terra, e uma sandália confortável nos pés. Embora eu esteja morrendo de dor no ombro, estou sentado no sofá com um sorriso nos lábios pensando em Karina. Já estou morrendo de saudades dela.
Quando o tele
Dia seguinte…Hassan— Você irá sair? — Raissa me pergunta, em um volume muito alto.— Vou — digo, enfiando a camiseta no corpo com dificuldade.Eu já tinha tomado banho, já tinha colocado a calça jeans e calçado os tênis.— Hassan! Hoje é domingo. Nem esse dia você pode tirar para descansar? E você está todo costurado.Eu sorrio para ela.— Quem disse que não vou descansar?Ela funga.— Vai sair com alguma odalisca?Eu rio e a encaro.— Vou, mas ela não é uma odalisca, ela é minha futura noiva.Ela arregala os olhos.— O quê? — ele se aproxima de mim estudando meu rosto. — Você está falando sério?— Eu brinco com esses assuntos, por acaso?&md
Estávamos finalizando o almoço, quando a empregada se aproxima e fala algo no ouvido de Helena. Ela sorri, muito jovial.— Diga para ele me esperar lá fora — diz para a empregada, e depois nos encara. — Bem, boa tarde para vocês. Raissa, qualquer coisa me liga no celular.Raissa acena um sim. Hassan ofega, extremamente incomodado com a presença dela. Ele permanece de cabeça baixa, enquanto remexe a comida.Helena se levanta e se afasta. Hassan se recosta mais na cadeira e a procura com os olhos. Olha em sua direção com um ódio mortal que dá medo. Então limpa a boca no guardanapo e encara Raissa.— Raissa, esse cara já entrou aqui? — pergunta, entredentes.Ela ofega.— Não, ela sabe que você não permite.Hassan endurece mais o olhar.— Caso ele pôr os pés dentro desta casa,
HassanA tarde está agradável, um dia maravilhoso para se viver, mas Robert Sheller está morto.Aos redores do corpo todos estão chorando. O sacerdote que preside o enterro diz palavras bonitas, mas ainda assim nada ameniza a dor.Fotógrafos estão por perto, e fotos são tiradas.Sinto a onda hostil na minha direção. Muitos olhos me medem, muitas pessoas cochicham, mas eu me preparei para isso. Acho até natural. A dor tinha que ser descarregada em alguém.Por que não em mim, o criador dessa festa?Ainda mais agora que eles souberam que Tarif armou todo o roubo e que ele era um amigo meu, uma pessoa de minha confiança.Fora isso, eles me julgavam um covarde, pois eu não fiquei com eles até o fim.O sacerdote fecha lentamente a Bíblia e baixa a cabeça em um momento d
KarinaAs segundas-feiras sempre são os dias mais parados para as vendedoras. As mulheres quase não saem para gastar nesse dia. Só que isso não vale para mim. Por causa da mudança de estação, estou atribulada, correndo atrás das criações da nova coleção outono-inverno.No final do dia estou só o pó de tão cansada. Nem almocei direito hoje.Despeço-me de todos e sigo até meu carro. Quando o conduzo para casa, a realidade me cai como um manto e meu coração bate acelerado no peito. Hassan pode estar à minha espera.Dou graças a Deus quando não vejo o carro dele estacionado perto de casa e tenho uma explicação para o meu alívio: eu trabalho com moda e preciso me vestir bem e ele não aprovaria nada o vestido que estou usando. Ele é tubinho mostarda que marca meu corpo e é b
Esse lado do hotel, eu não conhecia.O imponente Hotel Shams Sfaga parece uma obra de arte egípcia. Fiquei encantada com a majestade do lugar. Os jardins ao redor do hotel servem como inspiração para muitos paisagistas com as plantas típicas como acácias, tamareiras, palmeiras, juncos…Um vasto tapete de grama se estende até uma fonte de rochas no centro, seguido de um longo espelho d'água ao redor dela. Fora os canteiros cheios de plantas coloridas que embelezavam tudo ao nosso redor.Quando entrei no saguão, fiquei encantada com o tamanho do hotel, os tons bege e dourados das paredes e suas colunas com desenhos egípcios deixam tudo muito suntuoso. Lustresmajestosos pendem no teto, dando um ar extremamente luxuoso.Hassan e eu não passamos despercebidos conforme caminhamos até o elevador, eu podia sentir todos os olhares direcionados para mim.
HassanAllah! É difícil abrir certas portas, pois junto com elas vem aquele vento intruso que impregna a casa de sentimentos corrosivos, conturbados. Por isso eu evitofalar de mim. Minha mente e emoções estão exauridas agora. Eu me sinto velho e cansado.Saímos do quarto abraçados. No saguão, meu motorista logo nos vê, e se levanta do sofá em que está sentado esai, dirigindo-se ao carro.Observo Karina, de repente me dou conta de que não é só eu que estou calado, Karina também está muito quieta, muito pensativa.Sei que meu relato foi pesado, talvez ela ainda se pergunte o que eu estou fazendo com ela. A verdade é que Karina se tornou necessária em minha vida. Todas as mulheres que tive se tornaram uma memória distante…Karina não, ela é
Dia seguinte, terça-feira…HassanNo dia seguinte, tive um dia corrido. Além do meu trabalho do dia a dia, com a reforma do hotel em andamento, minhas preocupações dobraram. Lá pelas cinco horas da tarde, fui até a delegacia. Eu ainda não tinha pegado meu celular e nem as joias.Mas então me vem a surpresa. Karina já está em posse delas. Fico parado, anestesiado com essa informação. Aperto meu maxilar com força. Eu me sinto como se um punho gelado apertasse no fundo do meu peito, logo me vem uma sensação de vertigem súbita e meus olhos perdem o foco.Minha razão logo me condena dizendo que eu estou enganado com ela. Que Karina é dissimulada, igual às mulheres que conheci, apegada ao material, mas se passa por uma mulher simples.É aquele sentimento ruim de novo, aquela d
No dia seguinte, chego do trabalho tarde, a Ferrari vermelha de Hassan está estacionada do outro lado da rua. Pelo jeito seu ombro já está melhor.A emoção de vê-lo corre pelo meu corpo. O coração acelera, minha boca seca.Deus! Será que algum dia isso será natural para mim?No hall, antes de entrar em casa, dou uma olhada no espelho. Estou bem. Meus cabelos estão penteados, minha maquiagem não está borrada e meu vestido amarelo é lindo.Deus! Não se engane. Você está vestida ao contrário de tudo que Hassan gostaria de ver em uma mulher. A começar pela cor, fora o corte do vestido.Modela meu corpo.Acima dos joelhos no estilo tomara que caia.O que salva um pouco é esse lindo babado rendado preso na parte superior da mesma cor do vestido.Deus sabe que não me vesti para conte