Maria Os Primeiros SinaisO tempo passou, e Hilda começou a apresentar sinais de cansaço e fraqueza. Maria percebeu que algo não estava certo.Certa manhã, enquanto preparavam o café, Hilda deixou cair uma xícara.— Hilda, você está bem? Perguntou Maria, preocupada.A mulher sorriu, tentando minimizar a situação.— Só um pouco tonta, querida. Deve ser o calor.Mas Maria sabia que era mais do que isso. Com o passar dos dias, Hilda parecia cada vez mais frágil.Alfredo também notou a mudança.— Acho que está na hora de chamarmos um médico, Hilda.Ela suspirou.— Eu não quero preocupar vocês...Maria segurou sua mão.— Você faz parte da nossa família. Se algo está errado, queremos estar ao seu lado.Hilda assentiu, emocionada.— Obrigada, Maria.Mas a preocupação no olhar de Alfredo deixava claro que o problema podia ser mais sério do que imaginavam.Os dias seguintes foram marcados por um silêncio estranho, uma sombra que pairava sobre todos nós. Hilda, com seu sorriso gentil e sua e
Felipe Entre o Amor e o Silêncio: Antônio e o Passado Nunca Esquecido A casa estava em um silêncio acolhedor naquela noite. O som suave das crianças adormecendo, o crepitar das madeiras na lareira, e o toque das sombras projetadas pelas velas refletiam a paz que, por tanto tempo, foi ausente da nossa rotina. Helena estava sentada à mesa, com uma xícara de chá nas mãos, observando o fogo com um olhar tranquilo, enquanto eu, no canto da sala, revisava alguns papéis sobre a organização. No fundo, eu sabia que havia algo mais a se resolver, algo que nem mesmo minha atenção concentrada nos negócios conseguiria apagar: o passado de Antônio. Antônio sempre foi mais do que apenas um protetor para a nossa família. Ele era um amigo próximo, alguém que nos acompanhava em cada passo, nas vitórias e nas dificuldades. Com ele, tínhamos um refúgio de confiança inabalável. Sua presença na nossa casa não se limitava à proteção, mas a um vínculo profundo, silencioso, que preenchia o ar. Eu via em
Antônio. — E mais ainda, é que Maria, com todo seu amor, sentia que não poderia salvar Clara. Ela sentia que, por mais que tentasse, não tinha como proteger Helena e sua filha, e que a única maneira de garantir a segurança de ambas era afastá-las. —Maria partiu desesperada por abandonar Helena naquelas condições. Mas tinha que tentar salvar a Clara a sua filha —por sentir que não poderia fazer mais nada. Ela me pediu para dizer a Helena que ela havia partido por vergonha de não ter conseguido salvar a Clara. Havia tantas camadas de sofrimento nisso, que parecia que minha alma estava sendo despedaçada a cada palavra que eu dizia. Maria, a mulher que eu amava com toda a força do meu ser, havia me deixado, e eu sabia se ela havia feito isso por desespero. O que me consumia, no entanto, era o fato de que, ao mentir para Helena, eu estava traindo a confiança dela, uma mulher que, até hoje, sente falta da filha e da babá que a criou como mãe! Felipe olhou para mim, um olhar p
Maria A Chamada Os dias seguintes pareceram intermináveis. Cada momento era pesado, carregado de uma expectativa sombria que pairava no ar. O diagnóstico de Hilda havia alterado tudo. Era como se, de repente, o mundo que eu conhecia tivesse perdido um pouco de sua cor. A farmácia, o campo, até mesmo o som das risadas de Clara... tudo parecia ter um tom mais pálido. O peso da realidade estava sobre nós, e, embora tentássemos manter a rotina, cada gesto, cada palavra, era uma tentativa de escapar da verdade que estava se aproximando. Alfredo, como sempre, foi o mais sereno entre nós. Ele parecia estar em paz, mas eu sabia que o coração dele estava quebrado, da mesma forma que o meu. Ele havia feito o que era necessário. Entrou em contato com o médico, seguiu as recomendações, mas agora havia uma nova decisão a ser tomada. Ele sabia que não poderia mais carregar isso sozinho. Hilda precisava de Felipe. Eu sabia que a relação entre Alfredo e Felipe era forte, mas havia algo
Felipe O Retorno de FelipeFelipe estava no meio de uma reunião tensa com Vicenzo quando o telefone começou a vibrar. Seu olhar se fixou no aparelho, sentindo um arrepio estranho percorrer sua espinha. Ele sabia da onde era essa ligação.O telefone tocou, e um arrepio percorreu minha espinha. Eu sabia, antes mesmo de olhar para o visor, quem estava ligando. O coração deu um salto no meu peito. Quando eu vi o número, minha garganta se apertou. A voz de meu avô nunca soava tão grave. Não era apenas o peso das palavras, mas o silêncio entre elas, o peso daquilo que ele estava prestes a dizer.— É meu avô! Murmurou, antes de atender.— Alô?— Felipe... é sua avó. Ela não está bem.A voz de Alfredo veio do outro lado da linha, mais pesada do que Felipe se lembrava.— Felipe... é sua avó. Ela não está bem.O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O coração de Felipe acelerou, e ele apertou o telefone contra o ouvido.— O que está acontecendo, vô?Alfredo suspirou.— Ela está doente, f
Felipe O Caminho de VoltaO motor do carro ronronava suavemente enquanto seguíamos pela estrada. O céu, tingido por tons alaranjados do amanhecer, trazia consigo um misto de tranquilidade e inquietação. Minhas mãos apertavam o volante, mas minha mente estava longe dali.Hilda.Minha avó sempre foi a fortaleza da nossa família. Desde pequeno, eu a via como alguém inabalável, uma força da natureza. Agora, porém, eu estava a caminho da fazenda com um aperto no peito. O que me esperava lá? Como eu a encontraria? Será que ainda havia tempo para retribuir tudo o que ela fez por mim?Soltei um suspiro pesado, tentando afastar os pensamentos. Meus olhos se desviaram rapidamente para o banco do passageiro. Helena me observava, a expressão serena, mas o olhar atento.— Quer parar um pouco? Ela perguntou, sua voz suave preenchendo o silêncio do carro.Balancei a cabeça.— Não. Quero chegar o quanto antes.Ela assentiu, mas sua mão pousou sobre minha coxa, um gesto pequeno, mas reconfortante.N
Felipe Estrada para o PassadoO sol ainda não havia nascido completamente quando saímos da cidade. A estrada se estendia à nossa frente, longa e deserta, enquanto os faróis do carro cortavam a escuridão da madrugada. Eu dirigia em silêncio, sentindo o peso da viagem não apenas no corpo, mas na alma.No banco do passageiro, Helena observava a paisagem que começava a despertar sob a luz suave do amanhecer. No banco de trás, Antônio estava entre as cadeirinhas de Enzo e Valentina, os dois ainda sonolentos, mas animados com a aventura.No segundo carro, que nos seguia de perto, estavam Camila, sua irmã Valentina e Júlia. As três eram inseparáveis desde o resgate de Valentina e Júlia daquele maldito cativeiro. Júlia nunca encontrou o irmão, que se tornara um andarilho, e isso a consumia, mas Camila e sua irmã fizeram de tudo para que ela se sentisse parte da nossa família.A viagem era longa, e a cada quilômetro que passava, meus pensamentos se voltavam para Hilda. Minha avó sempre fora
Felipe As Terras do PassadoQuando finalmente entramos na fazenda, com os carros passando pelos portões antigos e o campo se estendendo à nossa frente, o ar parecia mais leve. Eu respirei fundo, tentando acomodar todas as sensações que borbulhavam dentro de mim. A felicidade de estar em casa, com minha família, e ao mesmo tempo a saudade apertando no peito. Quando olhei para Helena ao meu lado, pude ver que ela também estava absorvendo tudo com um misto de gratidão e melancolia. Ela estava feliz, eu podia ver isso, mas ao mesmo tempo sentia que sua mente ainda estava em algum lugar, mexendo com as lembranças da vida que deixamos para trás.A sensação de liberdade, porém, era inegável. Aqui, nesta fazenda onde passei minha infância, as coisas eram mais simples, e mais importantes ainda, estavam distantes os horrores de uma vida marcada pela violência e pelas mentiras. Cada passo dado agora era uma chance de recomeçar. Ao meu lado, Helena olhava para os campos, seus olhos fixos na i