Felipe As Terras do PassadoQuando finalmente entramos na fazenda, com os carros passando pelos portões antigos e o campo se estendendo à nossa frente, o ar parecia mais leve. Eu respirei fundo, tentando acomodar todas as sensações que borbulhavam dentro de mim. A felicidade de estar em casa, com minha família, e ao mesmo tempo a saudade apertando no peito. Quando olhei para Helena ao meu lado, pude ver que ela também estava absorvendo tudo com um misto de gratidão e melancolia. Ela estava feliz, eu podia ver isso, mas ao mesmo tempo sentia que sua mente ainda estava em algum lugar, mexendo com as lembranças da vida que deixamos para trás.A sensação de liberdade, porém, era inegável. Aqui, nesta fazenda onde passei minha infância, as coisas eram mais simples, e mais importantes ainda, estavam distantes os horrores de uma vida marcada pela violência e pelas mentiras. Cada passo dado agora era uma chance de recomeçar. Ao meu lado, Helena olhava para os campos, seus olhos fixos na i
Felipe As Terras do PassadoA estrada de terra se estendia diante de nós, serpenteando pelas colinas que cercam a Fazenda Santo Antônio. O sol da tarde tingia o céu de dourado, e o ar quente fazia a paisagem tremular no horizonte. Meu coração batia acelerado conforme nos aproximávamos, cada metro percorrido me trazendo memórias que eu havia guardado num canto escondido da mente.Segurando firme o volante, respirei fundo, sentindo a poeira fina se erguer ao redor do carro. Olhei pelo retrovisor e vi o segundo veículo logo atrás, conduzido por Camila. Lá dentro, sua irmã Valentina e Júlia estavam ansiosas para chegar.Helena percebeu minha tensão e tocou meu braço suavemente.— Está tudo bem?Tentei sorrir, mas o nó na garganta era difícil de ignorar.— Sim. Só... É estranho estar de volta depois de tanto tempo.Ela apertou minha mão.— Você não está sozinho, Felipe. Estamos aqui com você.Seus olhos refletiam uma compreensão silenciosa, e aquilo me deu forças.As crianças, por outr
Felipe O Passado Diante de Nós O vento quente da fazenda soprou contra meu rosto enquanto eu observava meus filhos correndo pela grama, rindo alto diante da imensidão ao redor. O som dos pássaros se misturava às suas gargalhadas infantis. E por um instante, senti meu coração se aquecer. Depois de tanto tempo longe, finalmente estava de volta! Mas essa sensação de pertencimento durou apenas até eu ouvir passos leves vindo da varanda da casa principal. Levantei o olhar, e então a vi. Uma menina de cabelos longos e olhos profundos nos observava com curiosidade. Pequena, delicada, mas com um olhar que parecia conter mais do que simples inocência. Ela não se aproximou de imediato, como se tentasse nos entender antes de dar qualquer passo. Meu coração acelerou. Eu conhecia aquele olhar! Foi então que senti Helena ao meu lado enrijecer. — Felipe…Sua voz saiu quase inaudível, um sussurro embargado. Me virei para ela e vi o sangue escoar de seu rosto. Seus olhos estavam a
O Reencontro que Ninguém EsperavaA casa da fazenda estava silenciosa, mas havia uma tensão palpável no ar. Meus olhos ainda estavam fixos em Helena, que estava agachada no chão, os braços envoltos em torno de Clara, como se a pequena fosse um sonho, algo que ela temia que pudesse desaparecer a qualquer momento. O rosto de Helena estava molhado pelas lágrimas, seus olhos tão incrivelmente preenchidos com uma emoção crua que eu quase não conseguia processar o que estava acontecendo diante de nós.A casa parecia um reflexo do caos interno que se desenrolava ali. O vento frio que soprava pela janela estava de alguma forma em sintonia com o turbilhão de sentimentos que se chocava dentro de todos nós. Eu via Maria, com o rosto tão suavemente marcado pela idade e pela dor do tempo, mas com um brilho inegável de esperança, como se o reencontro com Helena fosse algo impossível e agora diante de seus olhos, tinha se tornado realidade.O que havia acontecido, o que havia quebrado o mundo de
Felipe A Verdade EscondidaO silêncio na sala era denso. A tensão que se formou entre nós, ao testemunharmos o reencontro de Helena e Clara, ainda pairava no ar como uma nuvem carregada. Mas agora, uma nova tempestade estava prestes a se formar.Helena, ainda com Clara nos braços, parecia um pouco mais tranquila. A emoção da descoberta, do reencontro, estava aos poucos se transformando em uma necessidade de entender, de fazer sentido de tudo o que havia acontecido. E isso, sem dúvida, envolvia as perguntas não feitas, os mistérios que pairavam em torno de Clara, da fuga de Maria, e de tudo o que Salvatore havia causado.Antônio se aproximou, como se sentisse o peso da história que precisava ser compartilhada. Ele olhou para Maria antes de dar um passo à frente, e sua expressão já dizia muito sobre o peso daquela conversa. Era uma história que ele temia contar, uma história que, até então, havia sido mantida em segredo, guardada nas sombras do passado. Agora, no entanto, não havi
MariaAntônio e Maria trocaram olhares, e foi Maria quem respondeu, com a voz ainda carregada de emoção.— Quando Salvatore deu a ordem para matar Clara, eu sabia que não podia deixar isso acontecer. Eu… eu não tinha nada planejado, porém seu parto foi muito difícil e você perdeu a consciência e isso foi naquele momento uma provisão divina.–Eu sabia que você não ficaria longe da Clara pois era o fruto de seu amor por Felipe que estava desaparecido naquela época.–Então eu implorei a Antônio que não fizesse aqui e me ajudasse a fugir da ilha que nunca mais ele me veria–E graças a Deus Antônio me ouviu, me deu suas economias e me aconselhou a ir o mais longe possível com a criança para que Salvatore não me encontrasse.–Assim eu fiz, até que vim parar aqui na fazenda Santo Antônio e aqui não somente eu mais d.Hilda, Seu Alfredo e Luiz todos nós juntos criamos a Clara.–Mas, antes de tudo, eu precisei te proteger também, Salvatore tinha que acreditar que a criança estava morta Helena.
O Reencontro com Meus Avós Após toda a confusão e emoção da chegada, me dirijo ao canto preferido de minha avó, me recordo dela sentada alí fazendo tricô para o inverno ou simplesmente lendo para mim enquanto estava chovendo lá fora. Olho e a vejo olhando para mim seus olhos atentos a minha imagem —Felipe você cresceu e está tão bonito meu neto! Ao ouvir aquelas palavras, meu coração disparou. A voz do meu avó, suave, apesar da idade, carregava o mesmo tom acolhedor que eu guardava na memória. Meu avô Alfredo estava sentado ao lado dela, ele veio na nossa frente não queria provocar nenhuma emoção mais forte, queria apoiá-la, segurando a mão de Hilda com carinho. Sua expressão era uma mistura de alívio e emoção, como se estivesse vendo um pedaço do passado retornar diante dela. Mas foi minha avó quem capturou toda a minha atenção. Hilda estava sentada, seu rosto marcado pelo tempo e pela doença, mas seus olhos… Ah, seus olhos. Eles ainda brilhavam como antes, cheios de amor,
Felipe Enquanto segurava a mão da minha avó, sentindo sua fragilidade e ao mesmo tempo sua imensa força, senti um leve puxão na minha camisa. Olhei para baixo e vi Clara me encarando com seus grandes olhos cheios de curiosidade. — Felipe…Ela chamou meu nome com hesitação, mordendo o lábio inferior. — Sim, pequena? Me abaixei um pouco para ficar mais próximo dela. Clara olhou para Hilda e depois para mim, franzindo a testa. — A vovó Hilda… ela também é sua avó? A pergunta pegou a todos de surpresa. O silêncio que se instalou na sala foi preenchido apenas pela respiração emocionada de Hilda e pelo olhar atento de Maria. Eu sorri para Clara, sentindo uma ternura enorme crescer dentro de mim. — Sim, Clarinha, ela também é minha avó. Os olhos da menina se arregalaram em surpresa. — Mas… ela é minha avó também! — Sim, é! Confirmei, vendo a mente dela trabalhando para entender o que isso significava. Ela franziu ainda mais a testa, como se estivesse tentando juntar todas as peça