O grito cortou o silêncio da sala de cinema como uma lâmina afiada.Jacob despertou sobressaltado, sentindo o corpo enrijecer com o susto. Seu coração disparou enquanto seus olhos ainda sonolentos tentavam se ajustar à cena à sua frente. Joshua se mexeu ao seu lado, piscando repetidamente, confuso com a súbita interrupção. Valentina, assustada, agarrou-se ao cobertor, com os seus olhinhos azuis arregalados de medo.Samantha estava parada na porta, os cabelos desgrenhados, o rosto contorcido de fúria e incredulidade. Seus olhos saltavam entre Jacob e a menina deitada ao lado dele, seu cérebro se recusava em acreditar no que estava vendo.— Samantha? — a voz de Jacob saiu rouca e grave, ainda carregada de sono.— De quem é essa menina?! — ela gritou, com a voz embargada e os olhos queimando com uma mistura de choque e raiva.Jacob sentou-se lentamente, protegendo instintivamente as crianças ao seu lado. Joshua olhava para a mãe confuso e Valentina apertava os lábios, claramente assustad
Mia estava sentada na beira da cama, observando Valentina e Joshua, os dois sentados lado a lado, inquietos e ansiosos. Os olhinhos atentos das crianças refletiam a confusão que sentiam depois de tudo o que haviam presenciado. O peito de Mia estava pesado, um turbilhão de emoções se misturava dentro dela, oscilando entre a ternura e a fúria.Ela respirou fundo, tentando controlar a ira fervente dentro de si. Tudo o que queria era encontrar Samantha e dar-lhe uma boa lição por ter causado tanto tumulto, mas os pequenos eram mais importantes naquele momento. Nada poderia ser mais urgente do que garantir que eles se sentissem seguros, amados.Joshua segurava um dos travesseiros com força, os dedinhos pequenos se agarrando ao tecido como se aquilo o confortasse. Ele mordia o lábio inferior, claramente nervoso. Mia notou o olhar que ele lançava a Valentina de tempos em tempos, como se buscasse uma resposta que nem ele sabia formular.Já Valentina torcia os dedinhos sobre o colo, uma mania
Jacob caminhava de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos em puro desespero. Sentia-se sufocado, angustiado e aquela discussão parecia que não teria fim. Reunindo todas as suas forças, suspirou fundo e de olhos fechados disse:— Samantha, pelo amor de Deus! — exclamou, com a voz cansada. — Você está completamente desequilibrada! A Valentina é apenas uma criança, uma amiga do nosso filho! Você precisa parar com essas paranoias, antes que faça algo da qual vá se arrepender!Samantha, com o olhar inflamado pelo ciúme e pela obsessão, cruzou os braços e soltou uma risada amarga.— Pare de me tratar como se eu fosse louca, Jacob! — Samantha gesticulava apontando para a porta. — Eu sei que sua irmã arma para mim, sempre jogando mulheres para cima de você, sempre desejando dar fim ao nosso casamento! Agora ela foi além, arrumou uma vagabunda que tem filho! Jacob fechou os olhos por um segundo, respirando fundo para conter a raiva que crescia dentro dele. Quando voltou a encará-
Jacob chegou ao hospital em estado de choque. Seus passos eram apressados, quase trôpegos, enquanto atravessava os corredores frios, sentia o coração martelar descompassado. O cheiro de álcool e desinfetante impregnava suas narinas, intensificando a náusea que se formava em seu estômago. Seu peito doía como se estivesse sendo esmagado por um peso insuportável. Ao se aproximar da recepção, sua voz saiu trêmula:— Samantha Lancaster… acidente de carro… onde ela está?A atendente olhou para ele com um misto de pena e profissionalismo, digitando rapidamente no computador.— Ela está na ala de emergência. O neurologista está avaliando a situação.Jacob passou as mãos pelos cabelos, puxando-os com força, como se a dor física pudesse distraí-lo da culpa insuportável que corroía seu peito. Ele não podia negar que uma parte dele sabia que aquele acidente tinha sido provocado pelo desespero de Samantha… e ele era a causa disso.Sem pensar duas vezes, pegou o celular e discou o número dos pais.
Mia caminhava de um lado para o outro, os pés descalços deslizando ansiosos pelo piso frio da sala em seu apartamento. O celular estava pressionado contra a orelha, suas mãos trêmulas pelo nervosismo. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto esperava que Luna atendesse. Seu coração batia acelerado, como se pudesse saltar de seu peito a qualquer momento. Quando a voz sonolenta da amiga surgiu do outro lado da linha, trêmula pelo sono interrompido, Mia não conseguiu conter o desespero:— Luna… aconteceu uma coisa terrível…Do outro lado, Luna sentiu o estômago se revirar. O tom de Mia, carregado de angústia, fez sua pele arrepiar de imediato.— Mia, Valentina está bem? O que foi? O que aconteceu?Mia respirou fundo, tentando conter a emoção, mas sua voz saiu embargada:— Valentina e Joshua estão bem. Não é nada com eles — um alívio surgiu em seu peito. — A Samantha sofreu um acidente. Jacob está desesperado, eu preciso ir até o hospital… mas não posso deixar o Joshua e a Valentina
Dois dias depois, Samantha abriu os olhos.A claridade do hospital fez seus cílios tremerem e ela piscou algumas vezes até que sua visão se ajustasse. Sua cabeça latejava, uma dor surda pulsava em suas têmporas, mas o primeiro rosto que viu foi o de Jacob, sentado ao lado da cama.— Jacob… — sua voz saiu rouca, trêmula, como se carregasse um peso invisível.Ele se endireitou na cadeira, o olhar fixo nela, um misto de alívio e tensão estampado em sua expressão. Sophie, que também estava no quarto, sorriu emocionada e segurou a mão da filha com ternura.— Oh, minha querida, graças a Deus você acordou!Samantha não pareceu registrar a presença da mãe. Seu olhar permanece fixo em Jacob, como se ele fosse a única coisa que importava.— Você está aqui… — murmurou com seus olhos cheios de lágrimas.Jacob assentiu, mas não sorriu.Ele estava ali. Sempre esteve. Tentou ser o marido perfeito, o homem que ela queria que ele fosse, mesmo quando isso ia contra tudo o que ele sentia, mas naquele mom
Três dias haviam se passado desde o acidente e Luna sentia o coração aquecido ao ver que Valentina e Joshua pareciam bem. Todos os dias, Mia telefonava para dar notícias de Samantha e Luna orava todas as noites pedindo que ela despertasse. Todas as noites, Joshua se aninhava nos braços de Luna e oravam juntos, para sua mamãe. Luna sentia o peito doer ao ver a dor estampada em seus lindos olhos azuis e Valentina sempre dava força para o irmão, mesmo não compreendendo direito o que acontecia.Irmão…Luna se atormentava todos os dias quando lembrava que sim, eles eram irmãos e esse era um segredo que estava cada vez mais perto de ser revelado. Estava no banheiro organizando os dois, quando Valentina disse com sua voz doce: — Mamãe, o pai do Joshua é muito legal. Ele brinca com a gente e chama a gente de campeão e de princesa. Ele é tão bonzinho!Luna sorriu suavemente, mas seu coração doía. Não conseguia imaginar a dor que ele estava sentindo, queria poder confortá-lo diante tudo o qu
Jacob não conseguia desviar o olhar de Luna. O tempo entre eles parecia ter se dissolvido, como se aquela noite, seis anos atrás, nunca tivesse acabado e o que veio depois não passasse de um borrão distante. Vê-la novamente, trouxe um novo sentido a tudo.— Jacob, eu… — Luna tentou dizer, mas a voz falhou.Jacob sorriu de canto, aquele mesmo sorriso que um dia fez Luna se perder por completo.— Você ainda está mais linda do que me lembrava…Luna levou a mão ao peito, tentando acalmar as batidas desenfreadas de seu coração. “Como ele ainda conseguia afetá-la daquele jeito?” O olhar de Jacob era intenso, queimava sua pele como fogo, espremendo a saudade e algo mais… algo que ela não sabia nomear, mas foi isso que a fez perguntar, mesmo sabendo que a resposta poderia doer.— Como está sua mulher?A pergunta trouxe Jacob de volta à realidade como um soco no estômago. Ele não tinha mais 24 anos. Não era mais o jovem impulsivo que largou tudo sem olhar para trás. Ele era um homem feito,