A escola sem alunos, não parece uma escola. Por mais que a Escola Metódica se gabe em ser uma escola silenciosa e controlada, o que não é no dia a dia, sem os alunos correndo no corredor, sentados no chão, saindo e entrando das salas, passa a ser apenas um buraco vazio. Estou sentado no chão perto da porta da diretoria, minha mãe está com a diretora debatendo sobre o caso Davi. É estranho olhar para esse corredor e pensar que ele só sumiu para aparecer morto no dia seguinte, tento pensar em alguma coisa que me dê uma resposta, mas nada faz sentido. Deixo essa parte para minha mãe.
Minha mãe é advogada e se prontificou para defender a escola, ela acha a escola perfeita, pois, eu sempre estou amparado, posso procurar ajuda com minhas notas baixas ou fazer atividades diversas, não tem com o que se preocupar, meu pai, que também é advogado, está em Salvador ministrando um curso, só volta mês que vem, por isso minha mãe não quer que eu fique em casa sozinho, nem que eu vá as minhaEstou completamente surtada.Alexandre tira a faca da minha mão com calma e me encara.— Pode me explicar o que está acontecendo?Solto os papéis sobre a mesa, com todo o respeito, maldito Jorge Amado. Um dos nossos livros de leitura obrigatória é Capitães da Areia, como na biblioteca não tem exemplares suficientes para todos os terceiros anos, e eu e mais duas pessoas na minha sala tem o livro, resolvemos fazer cópias cobrando quatro reais, achei que as folhas que tinham iriam dar, porém, as folhas de ofício acabaram no meio da impressão, fui correndo comprar um maço novo, quando voltei para casa e fechei a porta, escutei um barulho de algo se quebrando vindo de um dos quartos. Eu estava sozinha em casa, foi o suficiente para pegar a primeira faca que vi, e ir correndo para o corredor, a porta do meu quarto estava aberta assim como a janela, mas eu as tinha deixado assim antes, sem soltar a faca e as folhas, procurei pelo quarto o invasor, mas não havia nenhum
Mal superamos um trauma e já temos outro, esse sábado tem tudo para ser sem graça.Estou voltando do encontro de jovens da minha igreja e claro, um dos assuntos mais comentados foram sobre o meu colégio. Me cercaram de perguntas e recomendações, pois, o mal sempre se esconde nas sombras, seguro minha bíblia com mais força, aparentemente ninguém se importou com a ameaça colada nas portas, mas ainda me deixa preocupada... Talvez eu esteja levando a sério de mais.Atravesso a rua, tentando focar em qualquer outra coisa.— Janaína!Me viro lentamente e encaro Pedro vindo até mim.— Oi?— É que... Eu vi você... Você andando por aqui... — Pedro esfrega as mãos, é a primeira vez que o vejo gaguejar— Eu sempre passo por aqui... — Tento entender que rumo essa conversa vai levar— Queria... — Ele respira — Eu queria me desculpar. Me desculpar sobre o dia do enterro do Davi. Por ter te chamado de assassina.Ok, Pedro pedindo descu
Ísis está ao meu lado mesmo depois do sinal tocar, ela aperta as mãos, nervosa, mas seu rosto não expressa um porque exato.— Eu não vou assumir esse problema por ele de novo. — Quebro o silêncio— De novo?— Eu posso ter até sido um péssimo estudante, ter sido incontrolável, mas o Alexandre sempre esteve um pouquinho a cima de mim. Eu assumi roubo da prova de história no primeiro ano, ele é meu amigo, não podia deixar ele se ferrar sozinho.— Você deveria deixar. — Ela não parece chocada — Ele está completamente errado, mas ainda sim, ele roubou as provas e alguém as roubou.— O Marco e depois o Alexandre? Qual é a lógica?— Eles dois podiam facilmente ter irritado alguém. Sabe, depois que a morte do Davi foi anunciada, o Alexandre foi para casa transar com a Fani. — Ísis fala calmamente — Uma morte não o abala, mas provas roubadas sim? E o caderno de matéria dele? Isso é tão absurdo.— E se não foram as provas... E se foi algo que e
Meu plano de ficar até tarde no laboratório de robótica foi por água a baixo depois que perdi meu posto de líder. Eu sei que as regras da escola são seguidas severamente, mas a diretora poderia ter me dado a cópia da chave, eu só queria terminar o meu projeto de robô e estudar um pouco, parece estranho, me concentraria muito melhor aqui do que indo para casa, o silêncio seria o mesmo, mas há algo nessa escola que move a minha dedicação. Eu adoro a Escola Metódica, me sinto bem e acolhida, é como uma segunda casa, as meninas riem de mim por pensar isso, pois, não conseguem entender o meu gosto, mesmo depois de um horário integral de permanecer na escola, e mesmo depois de tudo que aconteceu com o Davi aqui dentro, ainda não consigo apagar a imagem de lugar amável. Vejo algumas pessoas do segundo ano passarem pelo corredor e pergunto sobre o menino que fica com as chaves, todos dizem que já foi embora, uma menina até ri dizendo que ele já perdeu a chave e antes disso mal ficava na sal
Surto, é isso que se resume o começo da manhã. Choro, desespero, Márcia está morta e ninguém entende o porquê. Nos deixaram presos na sala, enquanto os professores se retiraram para conversar sobre como proceder, a maioria da turma chora, a wi-fi da escola foi desligada, poucos tem internet para ter uma notícia nova, os meninos tentam especular algo, mas quando Ísis joga a cadeira do meu lado e me encara, todos se assustam e se afastam, inicialmente eu e ela não falamos nada inicialmente, apenas nós encaramos de um jeito triste e tosco, mas quando Janaína também se junta limpando as lágrimas, Ísis abre a boca.— Não faz sentido, vão ter que parar as aulas até que esse assassino seja pego. A Márcia sempre foi tão normal...— Posso estar sendo insensível, mas até agora não tivemos nenhum sinal do assassino. Quem foi que contou para todo mundo mesmo? — Digo mordendo a ponta da tampa da caneta incansavelmente— A Gabi recebeu uma mensagem e começou a chorar. — Janaí
Estou sentada na quadra com Natan, ele tem uma bolsa de gelo sobre o olho esquerdo e uma careta, ainda não falamos nada, me lembro de termos sido amigos, mas acabou no mesmo momento que ele e Pedro se tornaram melhores amigos, era muito mais pelo futebol, pelas brincadeiras do que por serem compatíveis, era muito mais pelo amparo das más criações que eles se uniram, e como Pedro não perdeu a oportunidade fez minha caveira, mas com Natan consigo conviver melhor.— Você quer a fofoca completa?— É.— Acho que o Pedro está afim da Valéria... Mas aí eu disse para ele abrir o olho, principalmente sobre o Bruno.— Você sabe que eles são amigos, né?— Mas o problema é justamente esse, Bruno é puta cuzão, ele tem aquela cara de sonso, mas fala umas coisas... O Pedro é só burro mesmo.— Olha, sim. — Deixo escapar uma risada— Eu falei isso para ele e o Pedro já ficou todo irritado, mas estávamos de boa, só que ele tava no celular com a cara fe
Terça-feira Ainda não me levantei, posso escutar os barulhos de mamãe e Lav pela casa. Elas me levaram café na cama, e me deixaram a vontade o dia inteiro, Rafaela mandou mensagem logo depois do almoço, pois, vira aqui para casa, não quer ficar sozinha já que os pais dela trabalham o dia inteiro. A fofoca ainda é sobre a morte de Márcia, o corpo está sendo preparado e a mãe dela fez um post trágico, além das entrevistas, os jornais de televisão finalmente parecem notar a gravidade que as coisas estão indo, querem entrevistas, filmagens, matérias, a diretoria junto a advogada Adriana, mãe de Emanuel, fizeram uma mensagem recomendando que não dessemos muitas informações e que os pais permanecessem de olho em seus filhos.Mainha me chama para o almoço, dou uma ráp
Eu e Mateus estamos na sala da casa de Alexandre, jogando vídeo game. É um lugar legal e confortável, a mãe dele gosta bastante de nós, o pai de Ísis normalmente chega quando estamos saindo, então mal o conhecemos. Ísis não está em casa, a mãe dela está na cidade e segundo Alexandre, os ânimos estão pirados, as histórias que ele escutou a mãe de Ísis não é uma pessoa completamente legal e talvez um pouco culpada da personalidade da garota.Luciana estava a caminho, ela não queria ficar sozinha em casa, mas também não queria vir para a casa de Alexandre, ela o acha um saco, principalmente depois da traição que ele nega ter feito.— Cadê a Luci? Já tem mais de uma hora que você falou que ela vinha. — Alexandre reclama enquanto entrego o controle para ele— Eu é que devia estar preocupado, não?— É que todo mundo passou a me odiar sabe. A Fani não quer saber mais de mim, me bloqueou em todas as redes sociais, mandou que eu desaparecesse da vida dela.